quarta-feira, 5 de maio de 2021

Tragédia humanitária no Mediterrâneo: quase 600 migrantes já morreram este ano

# Publicado em português do Brasil

O jornal Libération desta segunda-feira (3) destaca a tragédia dos migrantes que tentam chegar às costas europeias vindos da África. As últimas semanas foram particularmente difíceis para as associações de ajuda aos migrantes no Mediterrâneo, que denunciam uma "estratégia mortífera" da União Europeia e de sua agência de segurança das fronteiras, a Frontex. Quase 600 pessoas morreram afogadas desde o começo deste ano, segundo ONGs citadas na reportagem.

A imagem de um homem morto em um naufrágio nas costas da Líbia boiando próximo a um barco, agarrado a uma boia, emocionou o papa Francisco. "São pessoas. São vidas humanas que, durante dias inteiros, imploraram por ajuda em vão", disse o sumo pontífice, afirmando que este era um "momento da vergonha". No mesmo naufrágio morreram 130 pessoas, segundo a ONG francesa SOS Mediterrâneo, citada na reportagem de Libération.

Um relatório publicado pela ONG Alarm Phone logo após a tragédia afirma que as mortes não são um acidente e que os responsáveis são as autoridades de Malta e da Líbia que, segundo a organização, não cumpriram o dever de resgate. O documento aponta também para a responsabilidade da União Europeia, que poderia ter alertado os navios que transitavam na área para que prestassem socorro. Além disso, um avião da Frontex foi enviado à zona do naufrágio somente sete horas após o acidente, tarde demais, segundo a ONG. 

De acordo com o jornal, a falta de reação e salvamento dos migrantes gerou indignação em toda a Europa. Deputados europeus expressaram seu descontentamento através de ameaças de corte no orçamento da Frontex, afirmando que o papel da agência não é claro. Segundo Libération, o órgão também é suspeito de expulsões forçadas de migrantes.

As ONGs que trabalham no Mediterrâneo, mar que liga o norte da África ao continente europeu, pedem que seja constituída uma frota de salvamento comum da Europa, para evitar mais tragédias humanitárias. De acordo com o jornal, esta não é a prioridade no momento. Bem ao contrário: acordos foram concluídos entre União Europeia, Líbia e Turquia para reforçar a fiscalização nas fronteiras.

Medo de migrantes

O jornal traz também uma entrevista com o escritor italiano Roberto Saviano, conhecido por seu livro Gomorra, sobre a máfia. O escritor investigou sobre as rotas da droga e do tráfico humano do crime organizado, tema de seu livro lançado em abril, na França, En mer, pas de taxis (“No mar não tem táxis”, em tradução livre). A obra traz fotos e entrevistas contundentes sobre a imigração no Mediterrâneo.

Na entrevista, Saviano afirma que a Europa está morrendo, "paralisada por seu medo dos imigrantes" e denuncia os ataques às ONGs. Para ele, a crise dos migrantes "ilustra todas as políticas ruins da Europa".  

RFI

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