A UNITA condenou o uso abusivo da contratação simplificada pelo Governo angolano. Para o economista Rosado de Carvalho, "quando a exceção se torna regra, é porque há interesses escondidos", podendo levar à corrupção.
O uso abusivo da contratação simplificada por parte do Governo angolano "permite enormes desvios de fundos do Estado", segundo o maior partido da oposição, a UNITA.
O partido alegou recentemente, por via de um comunicado, que o MPLA, partido no poder, está a promover o "financiamento antecipado da campanha eleitoral" prevista para o próximo ano.
A DW África conversou com o economista angolano Carlos Rosado de Carvalho que diz que há um risco na contração de empresas sem concurso público, podendo facilitar a corrupção.
DW África: Como é que esse abuso da contração simplificada prejudica os cofres do Estado angolano?
Carlos Rosado de Carvalho (CRC): A contratação simplificada implica que não é preciso fazer concurso nem consultas, por isso o risco de se contratar empresas acima do preço é muito elevado. E é também elevado o risco de, eventualmente, essas empresas prometerem os bens e serviços que prestam e esses não serem da melhor qualidade. Há riscos enormes e por isso é que a lei considera essa contratação excecional. Efetivamente a melhor forma de contratação é através de concurso público.
A contratação simplificada justifica-se quando há uma urgência, quando há essas razões ponderosas. De outra maneira, quando é feita as pessoas ficam sempre desconfiadas. É o caso, por exemplo, da contratação das empresas para as eleições ser feita através da contração simplificada e recair sempre sobre os mesmos fornecedores.
DW África: Seria então um meio de desviar fundos do Estado para quem?
CRC: Quem contrata e quem faz os concursos tem sempre a possibilidade de concertar com o fornecedor e, portanto, contratando tem essa possibilidade de depois ficar com uma parte dos fundos que são colocados à disposição da empresa e que são pagos ao fornecedor. É um tipo de concurso que, quando a exceção se torna regra, é porque há alguns interesses escondidos que normalmente estão relacionados até com corrupção.
DW África: E quem é que mais beneficia desse desvio de fundos?
CRC: Sabemos quem perde,
sabemos que é o Estado, mas quem ganha sabemos
DW África: Além dos ganhos financeiros, que outros benefícios para a elite política e empresarial poderíamos apontar como esse abuso da contratação simplificada?
CRC: Os custos são custos de eficiência, por exemplo. Porque se nós estamos a contratar bens e serviços em regime de contratação simplificada, a probabilidade de entregar o fornecimento desses bens e serviços a empresas que não são capazes aumenta e isso, naturalmente, além do custo financeiro propriamente dito, tem também custos de eficiência.
Quem faz as contratações e quem tem o poder de decisão, em muitos casos, são as elites. Portanto, elas provavelmente - sem poder nomear alguém - são naturalmente as principais beneficiadas com a contratação simplificada.
DW África: Será o abuso desse regime de contração mais comum conforme se vai aproximando o período eleitoral em Angola?
CRC: O que nós sabemos é que quando se aproximam as eleições, normalmente quem está no Governo tem muito mais pressa. Ao ter pressa de contratar – porque é preciso acabar obras, por exemplo – admito que possa, em períodos eleitorais, e por motivos eleitorais, eventualmente a contratação simplificada aumentar.
Thiago Melo | Deutsche Welle
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