Paula Ferreira* | Jornal de Notícias | opinião
Circular em excesso de velocidade constitui uma infração grave. Por colocar em risco vidas de terceiros, alheios a esse procedimento perigoso, e a vida dos próprios.
Nem por isso, porém, os limites de velocidade são cumpridos nas nossas estradas. O acidente envolvendo o carro onde seguia o ministro da Administração Interna, de que resultou a morte de um trabalhador, veio mostrar, se alguma dúvida houvesse, a prática dessa conduta irresponsável por titulares de cargos públicos. Algo conhecido de todos, tido até como normal, justificado pela necessidade de cumprir agendas carregadas e apertadas.
Ainda não tinha assentado a poeira a envolver Eduardo Cabrita e eis que o automóvel onde seguia o ministro do Ambiente foi apanhado na autoestrada a 200 quilómetros/hora, onde a velocidade máxima não pode exceder os 120. E ainda mais surpreendente: o velocímetro registaria 160 quilómetros/hora na estrada nacional de acesso à via rápida, onde não deveria ultrapassar os 90.
Não há agenda a justificar tal desrespeitos pelas regras. Este comportamento reprovável apenas revela quão distantes se sentem estas pessoas dos cidadãos que representam, como se as regras mais elementares não lhes fossem aplicadas. Ou, para sermos mais claros, estão acima da lei - uma vez que a lei é clara.
No caso do ministro do Ambiente, aplica-se com propriedade a expressão popular "bem prega frei Tomás". Havemos de descobrir qual a dramaturgia que Matos Fernandes anda a representar dia após dia, sessão pública após sessão pública. O ministro da descarbonização, o homem que trabalha para o país se libertar paulatinamente dos combustíveis fósseis, é conduzido num BMW a gasóleo. É caso para dizer: podia recorrer ao fundo ambiental e investir num veículo elétrico ou, pelo menos, híbrido.
* Editora-executiva-adjunta
Imagem extraída do vídeo reportagem TVI em Autoportal (ver vídeo)
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