EUA, o império que deixa rasto de guerra por todo o mundo

Bom dia este é o seu Expresso Curto

47ºC à sombra

Cristina Peres | Expresso

Poderia ser um bom tema para se ir escrevendo até 11 do próximo mês de setembro, daqui a um mês, quando em 2021 passarem 20 anos sobre o ataque às torres gémeas de Nova Iorque. Mas a impressionante velocidade a que os talibãs têm avançado pelo território nos últimos dias, tudo tomando à sua passagem (nove das 34 capitais de província), prenuncia desgraça. Antes que o último marine norte-americano saia do Afeganistão no dia 31 de agosto, conforme previsto, o ministro do Interior afegão avançava ontem com um plano para obrigar os talibãs a recuar.

O Governo afegão está a planear armar grupos locais como parte de um plano em três fases para tentar conter o avanço dos talibãs. Segundo o General Abdul Sattar Mirzakwal, o objetivo é assegurar que as principais cidades, as maiores auto-estradas e as passagens de fronteira fiquem nas mãos do Governo, segundo declarou o ministro à Al-Jazeera.

Já houve confrontos em Kandahar, a segunda maior cidade do país, e um porta-voz do Governo afegão, interrogado na Casa Branca sobre a capacidade de as forças governamentais controlarem a situação, respondeu que a verdadeira questão era “se havia a vontade política para ripostar”.

Um relatório dos serviços de informação americanos é pouco otimista ao calcular que a capital afegã, Cabul, pode cair em mãos inimigas dentro de apenas 90 dias. O cálculo tem em conta o facto de o grupo armado ter capturado, sem encontrar resistência, mais de um quarto das capitais provinciais em menos de uma semana. Desde sexta-feira passada, capturaram Faizabad, Farah, Pul-e-Khumri, Sar-e-Pul, Sheberghan, Aybak, Kunduz, Taluqan e Zaranj. Além destes pontos urbanos e logísticos fundamentais, os talibãs conquistaram vastas extensões rurais desde que lançaram uma série de ofensivas em maio, coincidindo com o início da saída das forças lideradas pelos Estados Unidos após 20 anos de presença no país.

A situação dos deslocados internos vai piorando, empurrados para zonas onde não dispõem de mais do que um lençol para inventar uma sombra sob temperaturas que chegam aos 47ºC. Vêm de zonas de conflito, abandonam as cidades tomadas pelos talibãs e só quem pode consegue obter um passaporte para abandonar o país. (Um visto para a Turquia custava normalmente 150 euros. Hoje pode custar mais de 5.000).

Para quem possa achar estes assuntos longínquos recordem-se os Budas de Bamiyan explodidos pelos talibã no vale com o mesmo nome (centro do Afeganistão) como prenúncio das proibições que seriam a partir dali impostas no país. E no mundo. Há 20 anos, era fácil viajar para todo o lado, a vida era menos controlada e o combate ao terrorismo não se contava entre as justificações para o constrangimento das liberdades civis. Leia aqui a crónica da Clara Ferreira Alves sobre o Afeganistão intitulada “Acabará em Lágrimas”.

OUTRAS NOTÍCIAS
As eleições alemãs não são só dos alemães. Vai ser eleito o futuro governo da maior economia da Europa, por isso os escrutínios dizem respeito à União Europeia e ao mundo. Até 26 de setembro, vai ser interessante assistir aos leading media a esforçarem-se por escrever para lá da economia, da economia, da economia e da economia.

Armin Laschet, o candidato a chanceler dos democratas-cristãos está com o nível de popularidade à beira de um só dígito e se a eleição fosse hoje, a CDU não obteria mais de 23% dos votos, contra os 30% da semana passada. Verdes e SPD (sociais-democratas) andam pelos 19% e 18%, respetivamente. Má aposta para tentar substituir Angela Merkel.

O Governo da Polónia deu mais um passo para tentar silenciar os seus opositores. O Parlamento aprovou ontem por 228 a favor e 216 contra uma lei controversa que pode levar a que o único canal independente de TV perca a licença de emissão. Manifestações de protesto tomaram conta das principais cidades do país, o Executivo vacila ao perder o parceiro de coligação por… discordar desta lei.

Jacinda Arden vai manter as fronteiras da Nova Zelândia encerradas até 2022 continuando a abordagem “covid zero”. A primeira-ministra deixou aberta a hipótese de pessoas vacinadas vindas de países de risco baixo de contágio poderem começar a não ser obrigadas a fazer quarentena a partir do início do próximo ano.

Da Rússia, sem amor. O novo briefing da Amnistia Internacional que foi lançado esta madrugada junta provas para concluir que a Rússia é um no go para manifestações e quem paga são os manifestantes. “Russia - No place for protest” documenta como a repressão das manifestações pacíficas, que começou em 2004 com a Lei federal sobre reuniões, acelerou nos últimos anos através de uma sucessão de modificações legislativas.

O pessoal da Google na América que escolher trabalhar a partir de casa para sempre pode ver os seus salários reduzidos. O gigante de Silicon Valley declarou que vai começar a calcular os salários de acordo com a zona onde os trabalhadores vivem e não com a localização da empresa. A Microsoft, o Facebook e o Twitter já pagam menos a trabalhadores que vivam em zonas mais baratas.

Kathy Hochul vai ser a primeira mulher governadora de Nova Iorque substituindo Andrew Cuomo. Este foi forçado a demitir-se devido às alegações de envolvimento em escândalos de abuso sexual. Um pico de investigações, processos e acusações de má conduta a partir de 2017 levou a que mais de 200 homens poderosos perdessem o emprego nos Estados Unidos.

A Sicília registou a temperatura mais alta alguma vez registada na Europa com 48,8ºC. A onda de calor deve-se a um anticiclone vindo de África e espera-se que vá cozer outras partes de Itália nos próximos dias.

Onde já vi isto? A China começou a desenvolver um módulo para levar astronautas à Lua. O satélite natural da Terra poderá assistir a um duelo já na próxima década.

Peseta. Rui Moreira, Moedas e Isaltino são os que mais gastam na campanha para as autárquicas. 31 milhões é quanto vai custar a campanha este ano. Menos quatro milhões que na última votação.

O emprego regressa a níveis pré-pandemia, a covid-19 mantém 475 mil a trabalhar a partir de casa. Porém, a retoma do emprego não chegou ainda aos jovens nem aos trabalhadores precários, escreve o Público na manchete de hoje. O jornal i refere a praga de marcações falsas que assola os restaurantes. O JN destaca o crescimento do discurso de ódio nas redes sociais e o encerramento de mais de um milhão de grupos pelo Facebook. A comunidade “Apoiantes do Chega” foi banida por incitamento ao racismo.

Covi-19. Depois da Alemanha, Portugal admite deixar de financiar os testes de deteção do vírus a quem não é vacinado no final deste mês. Os motivos são diferentes: a decisão de Merkel pretende estimular a vacinação no país, em Portugal deve-se ao facto de já cerca de 75% da população elegível ter o esquema vacinal completo. A vacinação dos maiores de 12 anos começa já a 21 de agosto. Desce a incidência de internamentos: 12 mortos, 2948 novas infeções e 2000 recuperados, veja aqui em pormenor.

Cinco distritos de Portugal vão estar em alerta laranja durante o fim de semana devido ao risco de incêndio: Beja, Coimbra, Évora, Leiria, Lisboa, Santarém, Setúbal, Vila Real e Viseu.

Paris-Saint-Messi. 627 golos depois, do Barcelona para o PSG.

Estrelas. A famosa chuva de meteoros das Perseidas de agosto atinge o pico esta noite. O melhor momento para assistir a olho nu é às 21h30, mas vai haver espetáculo das 20h às 23h.

FRASES
“A maior parte dos jovens será vacinada quer pela vacina, que é controlada, segura e eficaz, quer pelo vírus que não é controlado, não é seguro e é perigoso. Entre estas duas opções um ser humano racional segue pela opção mais segura, mais eficaz e mais disponível até em tempo”, vice-almirante Henrique de Gouveia e Melo, em entrevista ai DN

“Quem estuda o terrorismo sabe que o sítio mais pacífico do mundo pode a qualquer momento transformar-se num inferno”, Boaz Ganor, fundador do Instituto Internacional para o Contra-Terrorismo ao DN de hoje

O QUE ANDO A VER
Não perco cada novo episódio de “100 Foot Wave”/“A Grande Onda da Nazaré”, a série em streaming de que a HBO vem a libertar novo episódio todas as segundas-feiras, já vai no quarto. O surfista de grande ondas Garrett MacNamara pôs a Nazaré no mapa-mundo com a corrida atrás da onda de 30 metros. Já ganhou o recorde mundial, já o perdeu para um dos seus mais devotos acólitos, o brasileiro Rodrigo Koxa, mas o que há a reter na série é mesmo a sua essência: estes homens fazem qualquer coisa para repetir vezes sem conta o chuto de adrenalina a que dá direito sobreviver às ondas. A onda de 30 metros passou a ser a obsessão de MacNamara a partir de certa altura e uma meia-dúzia de personagens da Nazaré trabalharam para que as pontas se juntassem, produzindo acontecimentos que viajaram pelo planeta inteiro. É notável!

O feito pioneiro transformou a vida de MacNamara, transformou a modalidade e transformou a vila piscatória da Nazaré, que é um prazer imenso ver aparecer nas imagens de drone, helicóptero ou goPro. No fundo, e apesar de nunca ter sonhado nem desejado praticar surf, o “acesso” ao oceano que estas imagens dão é demasiado incrível para se resistir a segui-lo em todos os ângulos possíveis. É provavelmente o guião menos variado do mundo, aquele em que os entrevistados mais repetem a mesma coisa, porém a verdade é que tal como não há duas ondas iguais, a mesma frase dita em situações diferentes tem um sentido diferente. Os peritos podem dizer: “Ela não percebe nada disto!”. Percebo o desafio, o entusiasmo, a adição, a ingenuidade, a competência, percebo aquilo que todos podem perceber e é imenso.

That’s all folks! Tenha um ótimo dia a acompanhar o que fazemos e atualizamos para si 24/7 em expresso.pt.

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