quarta-feira, 4 de agosto de 2021

O sistema partidário anula a cidadania

Octávio Serrano* | opinião

Como qualquer um de nós pode constatar, seja do lado que for, o país está repleto de casos políticos, relacionados com maus governos e com governantes com poucos ou nenhuns princípios éticos; uma casta, que vive instalada num sistema de influências, que entre si se protege; entre si se promove; entre si partilha, uma massa de privilégios! Um sistema partidário, dito de muito progressista, mas que estilhaçou a sociedade portuguesa em facções; cada uma com os seus apaniguados, que defendem denodadamente a sua própria façcão; atribuindo sempre, as culpas do que vai acontecendo aos “outros”; sem nenhum sentido critico objectivo no que dizem ou escrevem; procuram apenas denegrir os adversários, por puro revanchismo politico!

Mas paradoxalmente, todas estas elites politicas que governam os respectivos partidos, e consequentemente orientam a seu jeito as correntes ideológicas de cada um a seu favor, têm entre si, um pacto de estabilidade, de modo que independentemente de quem esteja no poder, o sistema se auto-proteja a seu favor; o facto de aparentemente, existirem diferentes aparências, estilos, tem mais a ver com a necessidade de fazer corresponder, a cada corrente uma relação estreita com o seu próprio e fiel eleitorado, do que com outra coisa qualquer; a prioridade é sempre a de preservar e ganhar eleitores; esse é o passaporte, que garante estar-se presente na partilha de privilégios ligados ao exercício do poder politico, ou ligado ao estatuto, igualmente privilegiado até certo ponto de se ser oposição!

O voto maioritário garante o exercício do poder à corrente ganhadora; o voto minoritário e suficiente garante o exercício de oposição; o problema, é que o papel institucional do cidadão termina aqui; após cada escolha eleitoral, o partido ou os partidos maioritários assumem o poder discricionário; escolhem entre as elites politicas que lhe estão ligadas, a “massa” de dirigentes políticos que entram no privilégio do exercício do poder politico; com base precisamente, no sistema de influências, amiguismos, e ligações maçónicas; e quem controla efectivamente esta massa de gente politica? Ninguém!

O exercício do poder politico só se consegue controlar até certo ponto, com contra-poder; à partida, estará mais ou menos consagrado, ser a oposição, dita de democrática e alternativa; mas essas oposições estão presas ao conluio; estão limitadas, porque também têm “telhados de vidro”; elas próprias, estão presas a interesses que não podem ser colocados em causa; então assiste-se a uma “teatrada continua”; a fogo de vista de oposição, muita vez exuberante, mas sem qualquer substância; propostas de leis, que se fazem hoje e se esquecem amanhã; denuncias circunstanciais; pedidos de demissão contínuos; tudo aparente; para eleitor ouvir e alienar...

O outro contra-poder garantido, será o do dito jornalismo independente; aquele que supostamente tem o dever de publicar toda a verdade; de informar e formar uma cidadania critica e soberana; mas o que se constata, é que muito desse jornalismo é tendencioso; informa, mas de modo a formar a opinião publica, que interesse ao sistema estabelecido; a preservá-lo; a mantê-lo; e quando se socorre dos chamados comentadores, escolhe-os de modo, a que os próprios comentadores façam parte da rede de influências estabelecida; e não é preciso ir mais longe; basta ver qualquer os telejornais das principais cadeias televisivas...

Acima de tudo, e de todos, deveria estar o poder judicial; mas o que se há-se pensar de um sistema judicial enfeudado a interesses? Pois as respectivas carreiras se devem a promoções politicas directas, impostas pelo poder executivo!

Deveria existir ainda outro contra-poder; o da cidadania verdadeiramente independente; mas essa é cilindrada na origem; descriminada no financiamento politico; boicotada nas iniciativas legislativas do cidadão; anulada no acesso a referendos; restam alguns movimentos; quantas das vezes promovidas apenas por correntes ideológicas, que desse modo pretendem alargar bases de influências...

Assim vai a colónia de Portugal...manda quem pode, obedece quem “deve”!

*Octavio Serrano-Pagina de Analise Politica | Facebook 

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