O BCE defende que a situação requer "vigilância" e vai reforçar a supervisão dos bancos para ver se estão protegidos face a este risco.
É um dos riscos que os bancos
enfrentam para 2022-
"Sinais de exuberância do mercado exigem vigilância contínua", alertaram ontem responsáveis do BCE, que assinam um artigo publicado no site da instituição relativo às conclusões do relatório. No artigo, Andrea Enria, presidente do Conselho de Supervisão do BCE, e Mario Quagliariello, diretor de Estratégia de Supervisão e Risco, salientam que "os níveis sem precedentes de apoio público prolongaram o ambiente de taxas de juro baixas e aumentaram significativamente a liquidez do sistema. Isso tem levado os participantes do mercado a adotarem uma atitude complacente, que está a tornar-se cada vez mais evidente". Frisam que "as condições de financiamento são benignas, os spreads soberanos e corporativos são baixos e os diferenciais de spread estão mais comprimidos do que antes da pandemia", além de que "as avaliações de ações também são altas".
Estes responsáveis do BCE alertam que "a busca por rendimento levou a avaliações "esticadas" em vários segmentos de mercado, às vezes desconectadas dos fundamentos económicos". Esse fator "também alimentou o apetite dos bancos por ativos mais arriscados, inclusive durante 2020 e 2021, contribuindo para o acumular de riscos nos mercados de crédito alavancados e derivados de ações". Os bancos também viram aumentar "as exposições a contrapartes mais arriscadas, em particular instituições financeiras não-bancárias, num ambiente caracterizado por uma insuficiente transparência".
O BCE avisa que, "embora seja difícil prever como é que os eventos se vão desenrolar, esta situação pode exacerbar ainda mais a probabilidade de um repricing (ajuste dos preços) nos mercados de dívida ou de ações". E frisa ainda que "um ajuste repentino nos rendimentos, desencadeado pela mudança das expectativas dos investidores sobre a inflação e as taxas de juro, pode causar correções nos preços dos ativos".
"Também estamos preocupados com as possíveis interligações entre os riscos de crédito, de mercado e de contraparte e as repercussões para o setor bancário de choques que atingem as entidades não-bancárias", frisam os responsáveis.
O BCE está a "monitorizar de perto esta situação, especialmente considerando a sensibilidade dos bancos a alguns dos fatores de risco correspondentes e, em particular, as taxas de juro e spreads de crédito. Para garantir que os bancos estão adequadamente preparados para suportar tais choques de mercado, aumentaremos a nossa atenção de supervisão aos riscos representados pela busca excessiva por rendimento". O BCE adianta que as suas "equipas de supervisão conjunta irão monitorizar a acumulação de riscos não mitigados na área das finanças alavancadas e a adesão estrita dos bancos às expectativas de supervisão estabelecidas nas orientações do BCE relacionadas". Quanto às inspeções locais, "também examinarão como os bancos estão a gerir o risco de crédito da contraparte, incluindo em corretagem de primeira linha e negócios de empréstimos alavancados, com foco nos padrões de subscrição, alinhamento com o apetite de risco e impacto sobre o capital".
Ativos dos bancos preocupam
O relatório do BCE destaca que os bancos sob sua supervisão conseguiram navegar a tempestade provocada na economia pelas medidas adotadas no âmbito da gestão da epidemia do novo coronavírus. Frisa que "a melhoria nas condições macroeconómicas, em comparação com a situação no ano passado, reduziu alguns dos riscos para o setor bancário. Mas as perspetivas económicas permanecem incertas, sensíveis à evolução da pandemia e aos condicionamentos mais recentes da cadeia de abastecimento". O relatório salienta que, "embora as medidas de apoio extraordinárias tenham ajudado a prevenir um aumento de falências e do crédito malparado, a qualidade dos ativos dos bancos continua a ser uma área de preocupação". Esta preocupação foi também partilhada anteontem pela Moody"s. O BCE avisa que o impacto total da crise "só pode materializar-se no médio prazo, após a retirada da maior parte do apoio público de emergência".
Elisabete Tavares | Dinheiro Vivo
Imagem: Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu. © EPA
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