#Publicado em português do Brasil
Da ocupação mongol, no século XIII, à luta contra o nazismo, país se forjou em longa tradição militar e de resistência a invasores. Putin a evoca, quando responde a Biden – e pode não ser boa ideia à “civilizada” Otan provocá-lo…
Pepe Escobar, publicado em Others News |
Moscou está dolorosamente consciente de que a “estratégia” dos EUA/OTAN de contenção da Rússia já está alcançando seu paroxismo. Outra vez.
Em fevereiro, numa importantíssima reunião com o conselho do Serviço Federal de Segurança, o presidente Putin expôs a situação em termos inequívocos:
“Nós enfrentamos a chamada política de contenção da Rússia. Não se trata de competição, que é algo natural nas relações internacionais. Trata-se de uma política consistente e muito agressiva destinada a interromper nosso desenvolvimento, desacelerá-lo, para criar problemas no perímetro exterior, desencadear instabilidade interna, minar os valores que unem a sociedade russa e, em última instância, debilitar a Rússia e colocá-la sob controle externo. É isso que estamos testemunhando em alguns países do espaço pós-soviético”.
Não sem uma ponta de maldade, Putin acrescentou que não era um exagero:
“De fato, não é necessário que estejam convencidos disso, já que vocês mesmo o sabem perfeitamente, talvez melhor que ninguém”.
O Kremlin é muito consciente de que a “contenção” da Rússia está centrada em seu perímetro: Ucrânia, Geórgia e Ásia Central. E o objetivo final continua sendo a mudança de regime.
As declarações de Putin também podem ser interpretadas como uma resposta indireta a uma parte do discurso do presidente Biden na Conferência de Segurança de Munique.
Segundo os roteiristas de Biden, Putin busca debilitar o projeto europeu e a aliança da OTAN porque é muito mais fácil para o Kremlin intimidar países individualmente do que negociar com a comunidade transatlântica unida… As autoridades russas querem que os outros pensem que nosso sistema é também corrupto ou até mais.
Um ataque pessoal, direto e torpe contra o chefe de Estado de uma grande potência nuclear não pode ser qualificado exatamente como uma diplomacia sofisticada. Ao menos mostra claramente como a confiança entre Washington e Moscou se reduz, agora, a menos que nada. Por mais que os patrões do Estado Profundo (Deep State) de Biden neguem-se a encarar Putin como um negociador digno, o Kremlin e o Ministério das Relações Exteriores já descartaram Washington pela “incapacidade de chegar a um acordo”.
Mais uma vez, trata-se de soberania. A “atitude hostil à Rússia”, como definiu Putin, se estende a “outros centros independentes e soberanos de desenvolvimento mundial”. Leia-se: principalmente, à China e ao Irã. Estes três Estados soberanos estão classificados pela Estratégia de Segurança Nacional dos EUA como as principais “ameaças”.
No entanto, a Rússia é o verdadeiro pesadelo dos excepcionalistas, pois são cristãos ortodoxos, fazendo referência, assim, às franjas do Ocidente; está consolidada como a maior potência euro-asiática; é uma superpotência militar hipersônica; e tem habilidades diplomáticas inigualáveis, apreciadas em todo o Sul global.
Por isso, não restam muitos argumentos ao Estado Profundo a não ser demonizar sem cessar, tanto a Rússia como a China, para justificar uma acumulação militar ocidental. “Lógica” incorporada a um novo conceito estratégico chamado “OTAN 2030: Unidos por uma nova era”.
Os especialistas que estão por trás do conceito o aclamaram como uma resposta “implícita” à declaração do presidente francês, Emmanuel Macron, que qualificou a OTAN como uma instituição com “morte cerebral”.
Bom, ao menos o conceito prova que Macron tinha razão.