quarta-feira, 31 de março de 2021

O que se passa em Cabo Delgado?

João Melo* | Diário de Notícias | opinião

A pandemia que mantém o mundo quase paralisado há mais de um ano parece ter-nos feito esquecer de que, apesar de tudo, a vida continua, com os seus momentos de normalidade e, por momentos, as suas pequenas alegrias, mas - sobretudo isso - com as suas iniquidades e os seus horrores. Um desses horrores é o conflito em Cabo Delgado, Moçambique.

Confesso: também estou incluído entre aqueles que, sabendo da existência desse conflito num país que nos habituámos a considerar irmão, pouco ou nada sabem quer da sua natureza quer dos seus verdadeiros contornos. O que se julga saber é que o fundamentalismo islâmico estará por detrás do que se passa hoje em Cabo Delgado. É pouco.

Repugna-me observar, neste momento, os jornalistas ocidentais, incluindo portugueses, a acusarem as autoridades moçambicanas por sempre terem olhado com indiferença para os acontecimentos que há mais de três anos começaram a germinar naquela região. A verdade é que, para a imprensa mundial, compreendendo, portanto, não apenas a dos países ocidentais, mas também, por exemplo, a imprensa africana, Cabo Delgado sempre foi apenas uma nota de rodapé.

No caso da imprensa portuguesa, o que espoletou a cobertura unânime e o sinal de alerta a que temos assistido nos últimos dias foi o ataque dos terroristas à cidade de Palma, na semana passada, onde um cidadão português foi gravemente ferido. Isso diz tudo sobre as motivações da imprensa portuguesa em geral.

Moçambique | Nyusi minimiza ataque em Palma: "Não foi maior do que outros"

Uma semana depois do ataque terrorista em Palma, na província de Cabo Delgado, o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, quebrou o silêncio. Analistas exigem ao Governo que peça ajuda externa para combater os insurgentes.

O chefe de Estado moçambicano falou pela primeira vez publicamente sobre o ataque terrorista à vila sede do distrito de Palma, há uma semana. Filipe Nyusi minimizou o sucedido.

"Foi mais um ataque. Não foi maior do que tantos outros que tivemos, mas tem esse impacto por ter sido na periferia dos projetos em curso naquela província", afirmou o estadista esta quarta-feira (31.03) no posto de administrativo da Ponta d'Ouro, onde inaugurava a delegação distrital do Instituto Nacional de Segurança Social (INSS).

O chefe de Estado apelou à calma e serenidade dos moçambicanos, depois do ataque que ceifou a vida de dezenas de pessoas na sede do distrito de Palma. E pediu união para que o país continue no rumo do desenvolvimento.

"Não percamos o foco, não fiquemos atrapalhados. Vamos abordar o inimigo como temos estado a abordar, com alguma contundência, como as Forças de Defesa e Segurança estão a fazer, porque a falta de concentração é o que os nossos inimigos internos e externos querem. Nós temos que nos concentrar, abraçarmo-nos e avançarmos. Temos estado, segundo a segundo, a seguir o trabalho que os jovens no terreno estão a fazer."

Exército moçambicano sem controlo de Palma uma semana após ataque

Forças Armadas de Moçambique admitiram que ainda não retomaram o controlo de Palma, na província de Cabo Delgado, onde um ataque terrorista realizado há uma semana causou dezenas de mortes e milhares de desalojados.

O vice-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas de Moçambique, Bertolino Jeremias Capitine, disse esta terça-feira (30.03) a um grupo de jornalistas em Afungi, perto de Palma, que soldados de várias especialidades estão a tentar acabar com os pontos de resistência jihadista que ainda persistem na cidade.

O exército está a postos e espera que a população deslocada por causa da violência possa em breve regressar à cidade, disse ainda Capitine.

"Eram centenas, vindos de vários lados da cidade, e tivemos de fugir porque havia apenas mais ou menos 35 soldados no posto militar", relatou um dos militares feridos no ataque, em declarações à Agência Efe.

Feridos e sem transporte, resolveram esconder-se nas florestas de Palma, onde sobreviveram até serem resgatados no sábado pelo exército, contou o mesmo soldado. Foram depois levados para as instalações da companhia petrolífera francesa Total em Afungi, de onde foram transportados para um hospital, embora um civil tenha morrido no voo.

Outro soldado ouvido pela Efe descreveu o ataque como "um massacre". Segundo o militar, foi preciso sair à pressa de um posto de intervenção rápida, onde haviam recebido armas e munições recentemente.

Depois de ter dado prioridade aos quase dois mil trabalhadores e subcontratados do multimilionário Projeto LNG da Total, as equipas de resgate começaram a retirar os habitantes de Palma.

Alemanha prepara-se para restituir Bronzes do Benim?

Há uma mudança no discurso político na Alemanha em relação à restituição de obras de arte roubadas, afirma a historiadora Bénédicte Savoy.

A Cidade do Benim, situada no sudoeste da Nigéria, foi em tempos um centro de comércio próspero. É de lá que vêm os chamados "Bronzes do Benim", que podem ser encontrados nas exposições de muitos museus europeus. São um legado do antigo Reino do Benim.

No final do ano, o recém-criado Fórum Humboldt, em Berlim, deverá exibir alguns deles – mas a exposição reavivou também antigas questões sobre a restituição de obras de arte no contexto do colonialismo.

Hoje em dia, na Cidade do Benim, com 2,5 milhões de habitantes, o bronze continua a ser fundido na velha tradição, tal como há 700 anos. É uma arte que tem passado de geração em geração.

Osarugue Okundaye nasceu na rua Igun, famosa pelos trabalhos de fundição de bronze ali realizados. Aprendeu o ofício com o pai. Mas o facto de as obras dos seus antepassados estarem fora da Nigéria entristece-o profundamente.

"Os bronzes são muito importantes para o nosso povo, porque simbolizam dignidade e realeza. Ansiamos pelo dia em que esses artefactos roubados do palácio do Benim sejam restituídos."

A sua esperança é pouca – ao longo dos anos, foram muitos os governos que prometeram a restituição das peças. Contudo, isso nunca aconteceu, lamenta Okundaye.

"O Governo britânico continua a prometer devolvê-los. Mas não foram capazes de trazê-los de volta. Disseram que alguns destes artefactos são muito frágeis e que seria difícil transportá-los; disseram também que não temos um bom local para os guardar. Essas foram sempre as desculpas usadas."

Vários militares detidos após tentativa de golpe de Estado no Níger

Vários militares foram presos no Níger após uma alegada tentativa de golpe de Estado, esta madrugada, a poucos dias da tomada de posse do novo Presidente, Mohamed Bazoum.

Segundo fonte de segurança, o incidente começou com um tiroteio esta madrugada na capital do Níger, perto do palácio presidencial, numa alegada tentativa de golpe de Estado. 

O tiroteio começou por volta das 03:00 locais e prolongou-se por mais de 15 minutos, disseram residentes de Niamey, mas a calma regressou à cidade depois. 

"Houve detenções entre os poucos elementos do exército que estão por detrás desta tentativa de golpe. Este grupo de soldados não pôde aproximar-se do palácio presidencial quando a Guarda Presidencial voltou a disparar", disse a fonte, acrescentando que a situação estava "sob controlo".

A Embaixada dos EUA em Niamey lançou um alerta de segurança dizendo que seria encerrada na quarta-feira "devido a tiros ouvidos" na zona onde se situa a representação diplomática. "Todo o pessoal é encorajado a ficar em casa até nova ordem", disse a fonte da embaixada.

O falecido presidente da Tanzânia, Magufuli: 'Negação da Ciência' ou Ameaça ao Império?

#Publicado em português do Brasil

Whitney Webb* | TheAltWorld

Embora suas políticas COVID-19 tenham dominado a cobertura da mídia em relação ao seu desaparecimento e morte suspeita, John Magufuli da Tanzânia foi odiado pelas elites ocidentais por muito mais do que sua repreensão aos bloqueios e mandatos de máscara. Em particular, seus esforços para nacionalizar a riqueza mineral do país ameaçaram privar o Ocidente do controle sobre os recursos considerados essenciais para a nova economia verde.

Jeremy Loffredo & Whitney Webb - Há menos de 2 semanas, o vice-presidente da Tanzânia, Samia Suluhu Hassan, deu a  notícia de  que o presidente de seu país, John Pombe Magufuli, morrera de insuficiência cardíaca. O presidente Magufuli foi  descrito como desaparecido  desde o final de fevereiro, com vários partidos antigovernamentais divulgando histórias de que ele adoeceu com COVID-19. Durante a sua presidência, Magufuli desafiou sistematicamente o neocolonialismo na Tanzânia, quer se manifestasse através da exploração dos recursos naturais do seu país por multinacionais predatórias ou da influência do Ocidente sobre o abastecimento alimentar do seu país.

Nos meses que antecederam sua morte, Magufuli se tornou mais conhecido e particularmente demonizado no Ocidente por se opor à autoridade de organizações internacionais como a Organização Mundial da Saúde (OMS) em determinar a resposta de seu governo à crise do COVID-19. No entanto, Magufuli rejeitou muitos dos mesmos interesses e organizações irritados com sua resposta ao COVID durante anos, tendo expulsado testes financiados por Bill Gates de safras geneticamente modificadas e, mais recentemente, irritando algumas das empresas de mineração mais poderosas do Ocidente vinculado ao Fórum Econômico Mundial e aos esforços do Fórum para orientar os rumos da 4ª  revolução industrial.

Na verdade, mais ameaçadora do que suas recentes controvérsias COVID foi a ameaça que Magufuli representou para o controle estrangeiro sobre o maior depósito de níquel pronto para desenvolver do mundo, um metal essencial para baterias de carros elétricos e, portanto, o esforço atual para inaugurar um veículo elétrico autônomo revolução. Por exemplo, apenas um mês antes de desaparecer, Magufuli assinou um acordo para começar a desenvolver aquele depósito de níquel, um depósito que havia sido co-propriedade da Barrick Gold e da Glencore, a gigante de commodities profundamente ligada ao Mossad de Israel, até que Magufuli revogou seu licenças para o projeto em 2018.

Entrando em conflito com os cartéis corporativos e bancários mais poderosos, seguido pelo misterioso início de uma mudança repentina de regime, normalmente receberia uma cobertura considerável da mídia independente anti-imperialista, que recentemente cobriu eventos semelhantes na Bolívia que levaram à remoção de Evo Morales do poder . No entanto, os próprios meios de comunicação que cobriram extensivamente os esforços de mudança de regime apoiados pelo Ocidente durante anos ficaram totalmente silenciosos sobre a morte muito conveniente de Magufuli. Presumivelmente, o silêncio deles está relacionado ao desprezo de Magufuli da ortodoxia narrativa do COVID-19, já que esses mesmos veículos promoveram amplamente a narrativa oficial da pandemia.

No entanto, independentemente de alguém concordar com a resposta de Magufuli ao COVID, sua saída repentina e a nova liderança da Tanzânia é uma derrota para um movimento doméstico amplamente popular que buscou mitigar e reverter a exploração de séculos da Tanzânia pelo Ocidente. Agora, com o longo desaparecimento de Magufuli seguido por sua aparente morte súbita de insuficiência cardíaca, o futuro do país está definido para ser determinado por políticos tanzanianos com laços profundos com as Nações Unidas e o Fórum Econômico Mundial.

Em contraste com Magufuli, que rotineiramente enfrentava corporações predatórias e desígnios imperialistas em seu país, Samia Suhulhu e o político da oposição tanzaniano Tundu Lissu estão prontos para oferecer os recursos de seu país e sua população no altar da elite ocidental 4 ª  revolução industrial.

Bandeiras voadoras para mísseis nucleares

#Publicado em português do Brasil

Brian Cloughley*

Londres está usando seu dinheiro para comprar aeronaves tecnicamente desastrosas e mísseis nucleares inúteis, enquanto incentiva o hasteamento de bandeiras em edifícios públicos.

O Reino Unido está em uma condição péssima, social e economicamente, e assim como outros países, tem uma grande crise em suas mãos, tendo que lutar para conter a epidemia de Covid 19, que causou cerca de 126.000 mortes registradas. Este é o número mais altoper capita no mundo. Com uma população de cerca de 66 milhões, o Reino Unido é o quinto na lista global, com os EUA (população 330 milhões) no primeiro lugar, seguidos pelo Brasil (212 milhões), México (128 milhões) e Índia (1,3 bilhão). Certamente o Reino Unido tem sido enérgico e de fato bem-sucedido em providenciar a vacinação do vírus, mas isso é um exemplo de fechar a porta tarde demais, como testemunhariam parentes e amigos enlutados de 126 mil pessoas mortas. Infelizmente, porém, a tragédia não afetou a campanha do governo para estimular o fervor nacionalista, que convenceu muitos eleitores de que o registro de mortes é culpa de todos, exceto do Reino Unido.

Nesta nova era da “Grã-Bretanha Global”, que gerou exibições doentias e marcadamente imaturas de orgulho nacional artificial, a ênfase do governo está no esforço para despertar e inflamar o entusiasmo patriótico por tantas causas quanto possa imaginar. Tudo isso traz à mente o ditado do escritor, ensaísta e literato inglês Doutor Samuel Johnson que observou há cerca de 250 anos que “o patriotismo é o último refúgio de um canalha” com o qual pretendia criticar os “falsos patriotas” que agiam hipocritamente em prossecução de seus objetivos duvidosos. E seria fascinante saber o que ele pensaria dos vulgares fandangos dos pseudo-patriotas de hoje que parecem estar se reproduzindo rapidamente.

Um dos exemplos mais recentes de patriotismo manufaturado é a decisão do governo de Westminster de fazer com que a bandeira nacional, a Union Jack, seja hasteada em prédios públicos todos os dias, porque isso funcionará como “um lembrete orgulhoso de nossa história e dos laços que nos unem nós ”, afirma um dos muitos ministros do absurdamente denominado“ Departamento do Digital, Cultura, Mídia e Esporte ”. Foi explicado no comunicado de imprensa do departamento que “a bandeira da nossa nação é um símbolo de liberdade, unidade e liberdade que cria um sentimento comum de orgulho cívico”, e que “o Governo também reduziu a burocracia para permitir a bandeira dupla - onde duas bandeiras pode voar em um mastro. Quando as organizações têm dois mastros de bandeira, podem hastear a bandeira da União ao lado de outra. ”

Brasil | A perigosa cartada do desespero

#Publicado em português do Brasil

Bolsonaro sofre nova derrota: fracassou sua tentativa de assumir, por baixo do pano, controle das PMs. Enfraquecido, isolado e impopular, presidente acena para a força bruta. Às vésperas de um 31 de março, é preciso alerta máximo

Gilberto Maringoni* | Outras Palavras |  Imagem: Gabriela Biló

1. A maior ameaça à democracia das últimas horas não partiu da Esplanada dos ministérios com sua frenética dança das cadeiras. O perigo morava nas imediações do Farol da Barra, em Salvador, e do uso que hordas bolsonaristas queriam fazer do delírio suicida do soldado Wesley Soares. Este abriu fogo de fuzil em praça pública na noite de domingo, depois de se paramentar como boina verde de filme da Marvel.

2. Qual era a ideia? A de Soares morreu com ele. A do bolsonarismo era previsível. A inacreditável Bia Kicis, com a habilidade de um capitão de mega cargueiro no canal de Suez, deu o tom. “Morreu porque se recusou a prender trabalhadores. Disse não às ordens ilegais do governador Rui Costa da Bahia. Esse soldado é um herói. Agora a PM da Bahia parou. Chega de cumprir ordem ilegal!”. Era a senha para um motim, logo engrossada pelo siderado Soldado Prisco, ex-PM e atual deputado estadual. Seriam imprevisíveis as repercussões nas forças policiais de outros estados, base fértil do bolsonarismo.

3. Deu tudo errado e o isolamento da crise foi imediato. Dezesseis governadores lançaram nota conjunta e até gente da direita – como Rodrigo Maia – foi para cima da infeliz presidenta da Comissão de Constituição e Justiça. A extrema-direita perdeu. Voltou à carga na tarde de terça-feira, novamente de modo velhaco e mais uma vez sem sucesso. A pretexto de enfrentar “emergências na Saúde”, o líder do PSL na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO) tentou entuchar na pauta de votações o projeto de um “estado de mobilização”. Era uma forma disfarçada de Estado de Defesa, para cuja decretação seria necessária apenas maioria simples no Congresso. Dava à governo federal comando sobre as Políticas Militares. A proposta foi repelida: o projeto não entrará em pauta. Mas a tática está revelada. Um Bolsonaro baixo, sem coragem para o debate público, tentará aprovar pela porta dos fundos projetos que lhe deem condições de constranger a população, os movimentos sociais e as oposições com base em força bruta.

Oposição no Brasil fala de "golpe" após demissão dos chefes das Forças Armadas

Comandantes do Exército, Marinha e Força Aérea saem em solidariedade com o ministro Azevedo e Silva, um general demitido na véspera por Bolsonaro por se recusar a apoiar estado de exceção no país.

m dia depois de ter demitido o ministro da defesa, Jair Bolsonaro busca agora substitutos para os comandantes dos três ramos das Forças Armadas, que saíram em solidariedade com o ministro Azevedo e Silva, um general considerado da "ala moderada".

Azevedo caíra por, entre outras razões, não ter acolhido a ideia de Bolsonaro de decretar estado de sítio no Brasil, que suspende garantias individuais e dá plenos poderes ao presidente.

Brasil | Novo ministro da Defesa defende celebração do golpe de 1964

Em primeira manifestação pública no cargo, general Braga Netto diz que tomada do poder pelas Forças Armadas serviu para "pacificar o país", sem mencionar ditadura e repressão que se seguiram e distorcendo contexto.

O novo ministro da Defesa, Walter Souza Braga Netto, divulgou nesta terça-feira (30/03) uma ordem do dia na qual defende que se compreenda e se celebre o golpe militar de 1964, que instaurou uma ditadura de 21 anos no país. A publicação do texto foi a primeira manifestação pública do general, que assumiu a pasta após Fernando Azevedo e Silva deixar o governo do presidente Jair Bolsonaro no dia anterior.

Sem fazer qualquer menção à ditadura que se instalou após o golpe e à dura repressão ocorrida neste período, onde reinou a censura e perseguição política, Braga Netto afirma no texto que o golpe de 1964 deve ser entendido "a partir do contexto da época".

O documento, no entanto, omite e distorce fatos. Ao alegar que "a Guerra Fria envolveu a América Latina, trazendo ao Brasil um cenário de inseguranças com grave instabilidade política, social e econômica" e que "havia ameaça real à paz e à democracia", Braga Netto ignora as ditaduras, apoiadas ou toleradas pelos Estados Unidos, que se instauram em vários países latino-americanos sob a alegação desta suposta ameaça.

O texto diz ainda que os brasileiros saíram às ruas, apoiados pela imprensa, lideranças políticas e empresariais e pela igreja, o que teria resultado no que ele chamou de "movimento de 31 de março de 1964". Braga Netto alega então que as Forças Armadas teriam supostamente assumido "a responsabilidade de pacificar o país" para "garantir as liberdades democráticas".

O texto pula de 1964 para 1979, ignorando o período entre essas duas datas, e ressalta a aprovação da Lei da Anistia, que teria consolidado um "amplo pacto de pacificação a partir das convergências próprias da democracia".

Braga Netto cita ainda como desafios atuais do país "questões ambientais, ameaças cibernéticas, segurança alimentar e pandemias" e alega que as Forças Armadas estariam "na linha de frente, protegendo a população".

"A Marinha, o Exército e a Força Aérea acompanham as mudanças, conscientes de sua missão constitucional de defender a Pátria, garantir os Poderes constitucionais, e seguros de que a harmonia e o equilíbrio entre esses Poderes preservarão a paz e a estabilidade em nosso país", acrescenta o general.

Portugal | Apostar forte no emprego

Manuel Carvalho Da Silva* | Jornal de Notícias | opinião

Entramos num tempo em que toda a ação política, a definição das opções económicas, das estratégias de investimento, da utilização dos recursos públicos, da capacitação do Estado e da Administração Pública têm de colocar o emprego no centro das atenções e decisões. A quantidade e a qualidade do emprego que vamos ter, por muitos anos, será determinada por escolhas que estão em preparação.

Na atual crise económica, o desemprego não foi - e espera-se que não seja - utilizado como instrumento para a desvalorização salarial. As orientações comunitárias, a intervenção do Banco Central Europeu e, em concreto, as medidas de apoio às empresas e de proteção ao emprego (temerosas) adotadas pelo Governo contiveram a explosão do desemprego e mitigaram sacrifícios de muitos milhares de famílias. Exige-se uma boa gestão destas políticas protecionistas: parte delas continua imprescindível; outras têm de ir sendo ajustadas; e o seu desarmar progressivo terá de ser cuidadoso. O recurso a moratórias era necessário, mas se o processo agora for mal gerido, os seus impactos provocarão graves problemas no setor financeiro e na habitação, tornarão num inferno a vida de centenas de milhares de famílias, matarão muitas empresas.

Portugueses estão satisfeitos com o prolongamento do teletrabalho?

Os dados do estudo revelam que 56% dos inquiridos considera a medida muito positiva para a economia do país, 65% muito positiva para as empresas e 40% muito positivo para a saúde mental dos trabalhadores.

Um estudo divulgado esta quarta-feira pela Fixando revela que 63% dos portugueses estão satisfeitos com o prolongamento do teletrabalho até ao final do ano, uma medida que mereceu a promulgação do Presidente da República

Os dados do estudo revelam que 56% dos inquiridos considera a medida muito positiva para a economia do país, 65% muito positiva para as empresas e 40% muito positivo para a saúde mental dos trabalhadores.

Foi também revelado que 9% da amostra assumiu não estar autorizado a ficar em teletrabalho pela entidade patronal.

Além disso, apenas 5% recebe uma compensação da sua entidade patronal para cobrir os custos associados ao teletrabalho.

O inquérito da Fixando, sublinhe-se, realizou-se entre os dias 25 e 29 de março a 13.660 profissionais e utilizadores da plataforma. 41% da amostra estava em teletrabalho.

Notícias ao Minuto | Imagem: © shutterstock

Leia em Notícias ao Minuto: 

Teletrabalho sem acordo do empregador deve ser alargado ao Estado

Portugal | O papel da luta

A pandemia trouxe problemas de extrema gravidade e serviu de cortina de fumo para o agravamento da precariedade, a destruição de postos de trabalho e a desvalorização daqueles que verdadeiramente produzem riqueza.

Há dias, numa pequena viagem de carro, o motorista do TVDE que apanhei contava-me que na primeira semana de confinamento tinha feito 20 euros. Depois disso, começou a fazer biscates para conseguir pagar contas. Para além do seu próprio caso, contou histórias que vão circulando entre trabalhadores destas plataformas: gente que investiu em carros no início de 2020, gente que faz 14 ou 15 horas e que trabalha pelo valor mais baixo só para poder ganhar qualquer coisa. O trabalho não paga sequer o combustível, mas as plataformas continuam a faturar. Para quem começou neste negócio pela perspetiva do empreendedorismo, a pandemia foi um choque com a realidade do trabalho precário.

Se não fossem estas breves conversas, teria mais dificuldade em conhecer relatos de pessoas que se estão a confrontar com a falta de expectativas no seu trabalho. Alguns amigos ligados à restauração vão desabafando sobre um pessimismo cada vez mais confirmado na impossibilidade de pagar salários (quanto mais receber) apesar de algum apoio do Estado. De resto, talvez por vergonha do julgamento alheio, os testemunhos são tímidos, como se estivessem a viver esta problema sozinhos.

Na verdade, este período isolou muitos de nós e limitou-nos na partilha e na solidariedade, apesar de o impacte da pandemia na economia se ter feito sentir quase de imediato nos setores mais fragilizados e mais precários. Dentro desses setores de atividade, foi necessário combater esse isolamento e procurar uma resposta conjunta para enfrentar aproveitamentos patronais e hesitações políticas.

Pouco depois de se decretar o confinamento obrigatório, em 2020, não tardaram as notícias sobre limitações de direitos laborais, despedimentos e desaparecimento de certos postos de trabalho. As micros, pequenas e médias empresas começaram a acusar a falta de apoio público e os relatos desesperados de pequenos empresários e trabalhadores não podiam mais ser escondidos por detrás de mensagens de otimismo santimonial. O país que não se limitou a confinar e despertava para a necessidade de se manifestar e lutar pelos seus direitos, enquanto os media serviam de caixa de ressonância de «achismo» político, reduzindo a pandemia a uma mera crise de gestão governamental e comunicacional.

Portugal | Extrema-direita e negacionistas da pandemia aproximaram-se

Os serviços de informações destacam na sua análise das ameaças à segurança interna o risco de radicalização violenta de jovens pela extrema-direita através da internet. Em 2020 a criminalidade registou os valores mais baixos de sempre, em grande medida devido à pandemia.

um ano marcado pela pandemia e pelo consequente confinamento, a utilização das plataformas digitais tornaram-se palco preferencial também das organizações criminosas e dos ativistas da extrema-direita.

Na análise que fazem no Relatório de Segurança Interna (RASI), o Serviço de Informações de Segurança (SIS) destaca a aproximação entre grupos de extrema-direita e "movimentos sociais inorgânicos, designadamente os negacionistas da pandemia". As secretas alertam para os "riscos de radicalização violenta online de jovens portugueses, que poderão conduzir nos próximos anos ao agravamento" desta ameaça.

Num ano em que se registou de uma subida de 60% dos crimes de discriminação religiosa e de 30% nos crimes contra o Estado - contrariando uma tendência generalizada da diminuição da criminalidade geral (menos 11%) e da violenta e grave (menos 13,4 %) a extrema-direita continuou a ser alvo de atenção especial das secretas portuguesas.

"Nos extremismos políticos, apesar de a pandemia ter obrigado ao cancelamento de muitas das atividades tradicionais (reuniões, conferencias, concertos), o confinamento imposto aumentou o tempo de exposição da sociedade em geral, e dos jovens em particular, aos meios online e abriu um leque de oportunidades para que os movimentos radicais de extrema-direita disseminassem conteúdos de propaganda e desinformação digital, com vista a aumentar as suas bases de apoio, galvanizar os sentimentos antissistema e a reforçar a radicalização com base xenófoba, recorrendo ao discurso apelativo da violência e do ódio, num momento em que a sociedade portuguesa é, também, confrontada com fenómenos de polarização ideológica", assinalou o SIS na sua análise publicada no RASI.

Os serviços de informações recordam que "em relação à militância de rua, há a registar o nascimento de um novo grupo de extrema direita - Resistência Nacional - que organizou uma ação junto ao SOS Racismo" e o caso das ameaças por email a deputadas, militantes antifascistas e ativistas antirracistas por parte de outro grupo, a Ordem de Avis.

"A estas ações que atestara um clima de tensão entre a extrema-direita e os seus adversários políticos, acrescem, embora "numa dimensão inexpressiva quando comparada com outros países europeus, os riscos de radicalização violenta online de jovens portugueses, que poderão conduzir nos próximos anos ao agravamento da ameaça", alertam os analistas do SIS.

Ainda sem qualquer decisão política em relação aos familiares, principalmente as crianças, dos jihadistas portugueses (que a secretária-geral do Sistema de Segurança Interna, Helena Fazenda, revelou recentemente serem 16 mulheres e 27 menores com ligações a Portugal), o SIS volta a insistir no risco do seu retorno não controlado: "a permanência de indivíduos na região sírio-iraquiana que mantêm vínculos a Portugal em diversas situações, continuou a levantar preocupações quanto ao seu eventual regresso ao nosso país, pois a verificar-se poderia contribuir para a emergência de fatores de risco, até agora muito mitigados na realidade nacional, devido à complexidade de cada situação individual".

Geração dos 70 aos 79 anos deve ser protegida? Parece que não!

Vacinação. "Segunda fase deverá ser só por idades, senão geração dos 70 aos 79 anos fica para trás"

Processo de vacinação tem levantado questões em muitos países. Em Espanha, o alerta vai agora para a "geração sanduíche", os nascidos entre 1942 e 1956, que estão na faixa entre os 70 e os 79 anos, que estão a ser deixados para trás na vacinação. Em Portugal, "acontece o mesmo", diz o bastonário dos médicos, apesar de serem um grupo de risco.

Luís e Isabel são um casal, têm 79 e 74 anos e vivem em Lisboa, numa das freguesias mais antigas da cidade. Um e outro não têm patologias que consideram graves para a sua idade. Luís é hipertenso, todos os dias tem de tomar medicação. Maria também. Ele tem ainda diabetes, faz medicação, embora não esteja agarrado à insulina, "só tomo comprimidos", explica, e já só anda com o apoio de uma bengala devido a um problema numa perna. Isabel, tirando o medicamento da tensão e do colesterol, que vai oscilando sempre acima do valor máximo - "o valor máximo é de 200, eu vou oscilando entre os 227 e os 250 e a minha médica de família além de me mandar ter cuidado com a alimentação quer isto controlado com medicação" -, nada mais tem. Como nos dizem, "estamos bem. Fazemos as nossas caminhadas e a nossa vida, mas começa a preocupar-nos não sabermos quando vamos ser vacinados e se vamos continuar a ser deixados para trás".

Desde o início da pandemia que Luís e Isabel têm imenso cuidado com a proteção individual, mas continuam a ser o ponto de apoio na vida da filha com duas crianças, uma com mais de 2 anos e outra agora com mais de 6 meses. São um casal informado, sabiam que não estavam dentro dos grupos prioritários definidos pela Comissão Técnica de Vacinação da Direção-Geral da Saúde (DGS), mas quando começaram a perceber que havia as pessoas com 80 e mais anos a serem integradas, outros grupos, como professores, questionaram o seu centro de saúde se estariam já na lista da próxima fase. A resposta que receberam deixou-lhes dúvidas: "Não se sabe. Primeiro vão ser vacinadas as pessoas a partir dos 50 anos com patologias graves."

AstraZeneca mudou de nome, agora chama-se Vaxzevria. Mata se tiver que matar

“Com papas e bolos se enganam os tolos”. Dizer popular que se aplica no caso da vacina AstraZeneca, apontada com mil e uma desconfianças por anúncios de causa de mortes aos vacinados pela aquela marca. O adágio cumpre-se. A informação não chega a todos e haverá os que desconhecem a mudança, sendo vacinados pela Vaxzevria, que é a AstraZeneca.

A técnica da mudança mostra e comprova qual a concepção que alguns doutos sábios e vendilhões têm da populaça, dos cidadãos. A vacina até poderá não ser tão má quanto a “pintam” mas fica patente que a mudança de nome da marca tem tudo que ver com o objetivo de enganar os mais distraídos, porque não é a mudança de nome que lhe retira os efeitos secundários perniciosos, que levam à morte, como lhe têm sido justificadamente atribuídos. Afinal a mudança de nome “cheira mal” e revela desonestidade dos que a comercializam. Técnicas de marketing, dirão os doutos sábios. Técnicas de sacanagem, dirão os da plebe que não ignoram  a troca baldroca. Certo é que lá por mudar de nome não deixará de provocar efeitos secundários se existirem condições para isso. Afinal a Vaxzevria matará se tiver de matar, porque não é a mudança de marca de comercialização que tal evitará. Mata se tiver que matar, ponto assente.

A seguir a noticia transcrita do Diário de Notícias. (PG)

Vacina da AstraZeneca passa a denominar-se Vaxzevria após aval do regulador

A EMA refere que, desde a aprovação da vacina na UE em 29 de janeiro passado e até à passada quinta-feira, "mais de 10 milhões de doses de Vaxzevria foram administradas na UE e Espaço Económico Europeu"

A vacina da AstraZeneca contra a covid-19 passou a denominar-se Vaxzevria após o aval da Agência Europeia do Medicamento (EMA), anunciou esta terça-feira o regulador, divulgando que até quinta-feira passada tinham sido administradas 10 milhões de doses deste fármaco.

A informação sobre a nova designação desta vacina - envolta em polémica por a farmacêutica ter falhado o acordado com Bruxelas sobre entregas para a União Europeia (UE) e pelo surgimento de coágulos sanguíneos em vacinados - consta de uma atualização ao produto, publicada esta terça-feira pela EMA.

Nessa atualização sobre o fármaco datada de segunda-feira, a EMA divulga que, além da mudança do nome, "foi incluído na informação sobre o produto um aviso sobre eventos de coágulos sanguíneos específicos muito raros, enquanto estão em curso mais investigações sobre uma possível relação causal com a vacina".

"As pessoas vacinadas devem procurar atenção médica imediata se ocorrerem sintomas de coagulação e/ou hemorragia do sangue", reforça o regulador no documento, insistindo que "os benefícios da Vaxzevria na prevenção da covid-19 continuam a superar os riscos".

Mais lidas da semana