#Publicado em português do Brasil
Bolsonaro sofre nova derrota: fracassou sua tentativa de assumir, por baixo do pano, controle das PMs. Enfraquecido, isolado e impopular, presidente acena para a força bruta. Às vésperas de um 31 de março, é preciso alerta máximo
Gilberto Maringoni* | Outras Palavras | Imagem: Gabriela Biló
2. Qual era a ideia? A de Soares morreu com ele. A do bolsonarismo era previsível. A inacreditável Bia Kicis, com a habilidade de um capitão de mega cargueiro no canal de Suez, deu o tom. “Morreu porque se recusou a prender trabalhadores. Disse não às ordens ilegais do governador Rui Costa da Bahia. Esse soldado é um herói. Agora a PM da Bahia parou. Chega de cumprir ordem ilegal!”. Era a senha para um motim, logo engrossada pelo siderado Soldado Prisco, ex-PM e atual deputado estadual. Seriam imprevisíveis as repercussões nas forças policiais de outros estados, base fértil do bolsonarismo.
3. Deu tudo errado e o isolamento
da crise foi imediato. Dezesseis governadores lançaram nota conjunta e até
gente da direita – como Rodrigo Maia – foi para cima da infeliz presidenta da
Comissão de Constituição e Justiça. A extrema-direita perdeu. Voltou à carga na
tarde de terça-feira, novamente de modo velhaco e mais uma vez sem sucesso. A
pretexto de enfrentar “emergências na Saúde”, o líder do PSL na Câmara, Major
Vitor Hugo (PSL-GO) tentou
entuchar na pauta de votações o projeto de um “estado de mobilização”.
Era uma forma disfarçada de Estado de Defesa, para cuja decretação seria
necessária apenas maioria simples no Congresso. Dava à governo federal comando
sobre as Políticas Militares. A proposta foi repelida: o projeto não entrará
4. Qual a segunda frente de ataque fascista? Transformar o 31 de março numa apoteose golpista em todas as guarnições militares do país. Vai dar certo? Não se sabe. É possível que não. O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, foi demitido, após a ira do Genocida se voltar contra a entrevista do general Paulo Sérgio, responsável pelo setor de recursos humanos do Exército, ao Correio Braziliense. O oficial vê o perigo de uma terceira onda de covid no país, mas destaca as medidas de isolamento social nos quartéis, o que vem reduzindo as contaminações. O Genocida espumou por ver desrespeitadas suas diretrizes negacionistas.
5. Azevedo é um direitista radical, mas recusa-se a comer carne crua com as mãos. Não quer o Exército se desgastando ainda mais, após a desastrosa gestão Pazuello na Saúde. Vale dizer que o setor militar está visivelmente abalado diante da pregação do caos, como alertou Bolsonaro há alguns dias.
6. Boatos pululam no calor da hora. O comandante do Exército, Edson Pujol, que nunca foi bolsonarista-raiz, estaria demissionário e o alto comando estaria reunido, traçando alternativas imediatas.
7. Os acontecimentos da segunda-feira sucedem a trombada que o Senado em peso deu no ex-ministro de Relações Exteriores, após este insinuar em rede social que a senadora Katia Abreu, presidenta da Comissão de Relações Exteriores, faria lobby para empresas chinesas na disputa da tecnologia 5G. Na verdade, a trombada se deu contra a política externa alucinada do governo. Nem parece que há pouco mais de um mês, tudo pareciam ser flores entre o Genocida e o Congresso, após as vitórias de Artur Lira e Ricardo Pacheco para o comando das duas casas legislativas.
8. É esse Genocida, estremecido com a cúpula do Congresso, tendo problemas com o alto comando militar e frustrado com o motim baiano, que faz um troca-troca em seis ministérios, buscando se fortalecer.
9. O Genocida tenta um golpe? O Genocida tenta um golpe, sim. Só que à sua maneira, com guerra de posição e sem disputar hegemonia. Seu objetivo é elevar artificialmente as tensões sociais ao máximo – a não concessão do auxílio emergencial no auge da pandemia tem esse propósito – e insuflar o núcleo duro de seus apoiadores para uma Jihad contra o globalismo, a corrupção, a globolixo, a politicagem, esses governadores tiranos e mais alguns moinhos de vento.
10. Novamente a pergunta: dará certo? Ninguém sabe, mas a probabilidade não é alta, em meio a uma pandemia devastadora, Esse o fator central da conjuntura. As próximas horas até o aniversário do golpe de 1964 definirão muita coisa. Um sinal interessante a se levar em conta é que até agora ninguém da Faria Lima veio em seu socorro. A turma do dinheiro costuma ser cautelosa.
P. S. Para haver golpe, é preciso haver comando e direção política. Não parece haver isso no governo Bolsonaro, mas uma eterna tática-processo para fustigar os limites da institucionalidade. O genocida vai sempre metendo o pé na porta, experimentando o que cola e o que não cola e contando com a condescendência dos demais poderes. Em 1964 havia conspiração organizada nas Forças Armadas, no empresariado, articulações claras com a embaixada dos EUA etc. Era clara a existência de um comando golpista. Ou os bolsonaristas são muito bons de dissimulação, ou não há nada muito estruturado para dar curso a uma mudança de regime.
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