quinta-feira, 15 de abril de 2021

Começa a disputa EUA x China na Era Biden

# Publicado em português do Brasil

Nova estratégia geopolítica: ofende Pequim, indica um linha-dura para a CIA e destina trilhões à recuperação da economia. Pretende recuperar mercados – isso também explicaria golpes na América Latina, quando era vice-presidente?

José Álvaro de Lima Cardoso* | Outras Palavras

Ao final de março, o governo estadunidense anunciou um impressionante programa de investimentos em infraestrutura, que pode totalizar US$ 2,3 trilhões. Os investimentos previstos pelo pacote abrangem desde obras em rodovias, até assistência a famílias, desenvolvimento de novas tecnologias, etc. O pacote de Joe Biden é o terceiro aprovado pelo país desde o início da pandemia. Ao todo, já foram gastos US$ 5 trilhões em programas de ajuda econômica, ou seja, cerca de 25% do PIB americano. Como vem mais um pacote ao final de abril, voltado para o atendimento às famílias, o financiamento total do plano pode atingir US$ 6 trilhões.

Com o plano, também, o governo norte-americano tentará tirar a economia da grave crise em que se encontra e reverter uma tendência muito forte nos EUA, nas últimas décadas, que é o aumento da desigualdade. Para isso o governo pretende investir pesadamente em setores como infraestrutura, desenvolvimento de novas tecnologias e novas leis de valorização do trabalho. Está ainda no horizonte do governo a realização de uma reforma tributária, que possibilite uma melhor distribuição da riqueza no país.

A medida está também relacionada à disputa dos Estados Unidos com a China por mercados mundiais, que tende a se acirrar muito nos próximos anos, como a postura do novo governo estadunidense está demonstrando. Biden tem subido o tom contra os seus principais rivais e recentemente criticou Xi Jinping e Vladimir Putin por não “acreditarem na democracia” e chamou os regimes destes de autocracias. Numa entrevista recente à ABC News, provocado pelo apresentador, Biden afirmou que Putin era um “assassino”. A propósito, vale a pena assistir o vídeo com a impressionante resposta de Vladimir Putin à ofensa do presidente dos EUA.

O que é tudo que Biden e Putin têm para discutir?

# Publicado em português do Brasil

Andrew Korybko* | OneWorld

Os presidentes americano e russo têm uma série de questões a discutir no caso de se encontrarem pessoalmente em algum momento no futuro próximo, como Biden propôs fazer durante sua última conversa por telefone, mas os tópicos mais importantes no itinerário seriam indiscutivelmente segurança estratégica e paz. resolver os conflitos na Ucrânia, Afeganistão e Síria.

Planos da Cúpula Biden-Putin

As tensões russo-americanas estão em um pico histórico no período pós-1991, então é sensato que o presidente Biden proponha realizar uma reunião pessoal com seu homólogo russo durante sua última conversa por telefone, a fim de " discutir toda a gama de questões " enfrentadas seus países. Os tópicos mais importantes do itinerário seriam, sem dúvida, a segurança estratégica e a resolução pacífica dos conflitos de longa duração no Afeganistão, na Síria e na Ucrânia, mas é claro que outras questões também seriam levantadas. O que se segue é uma lista dos problemas mais urgentes entre essas duas grandes potências, na ordem de sua importância. Cada ponto inclui um resumo de suas respectivas posições e como um acordo pode parecer se for realisticamente possível:

Segurança Estratégica

A leitura do apelo da Casa Branca observou "a intenção dos Estados Unidos e da Rússia de buscar um diálogo estratégico de estabilidade sobre uma série de controle de armas e questões de segurança emergentes, com base na extensão do Novo Tratado START", o que foi refletido pelo O Kremlin também faz referência a “ estabilidade estratégica e controle de armas ”. Os dois países, portanto, compartilham o desejo comum de ampliar a extensão de última hora do Novo Tratado START em fevereiro, embora não esteja claro em que direção isso pode ir. A administração anterior dos EUA exigiu que a China participasse de todas as negociações futuras, enquanto a Rússia respeita o direito de Pequim de não fazê-lo. O cenário ideal seria se todas as potências relevantes fizessem cortes proporcionais em seus arsenais pertinentes, mas isso pode não ser realista.

Ucrânia

Essa questão polêmica envolve mais do que apenas resolver politicamente a guerra civil do país do Leste Europeu, de acordo com os Acordos de Minsk que Kiev, apoiado pelos Estados Unidos, até agora se recusou a implementar, apesar de ter concordado com eles. Envolve também a postura agressiva da OTAN para a frente na região e o seu apoio às atividades anti-russas da Ucrânia, incluindo contra a Crimeia. A situação está tão tensa no momento que uma guerra pode até estourar antes que os líderes russos e americanos se encontrem, com a temeridade subsequente servindo como motivo para acelerar seus planos de cúpula. O melhor cenário seria se os EUA avaliassem a seriedade da situação e finalmente pressionassem Kiev para implementar os Acordos de Minsk.

EUA x Rússia: alguns números | Andrei Martyanov

#Publicado em português do Brasil

Andrei Martyanov | Dossier Sul

Escrevi um artigo exclusivo para Andrei Raevsky (The Saker), onde abordei algumas questões relacionadas a salvação da frota russa do Mar Negro no caso da OTAN decidir “lutar”. Não creio que este cenário seja provável, mas, por precaução, aqui estão algumas conclusões tiradas por mim:

…há muita benevolência subsônica, supersônica e hipersônica a ser propagada pela frota russa do Mar Negro e as pessoas competentes do Pentágono sabem disso. É por isso que o aparecimento daqueles dois destroyers americanos no Mar Negro servem, literalmente, para exibição principalmente e para tentar coletar algumas informações para o que parece ser hoje uma probabilidade cada vez menor de confronto em Donbass. Escrevo freqüentemente que muitas pessoas nos EUA, e estou falando dos formuladores de políticas, não conseguem entender a dimensão de como os EUA estão atrás da Rússia no poder do fogo em todos os domínios.  E não apenas quantitativa; mas qualitativamente e a distância só continua a aumentar. Mas eu avisei sobre isso por anos, não avisei?

Andrei Raevsky intitulou (corretamente) minha matéria: “Por que não está avisado”. É um título sintomático desde hoje, como se ele lesse meus livros e meus escritos recentes, o Coronel Douglas Macgregor escreveu um artigo para o The American Conservative que tem como título: “Enfrentando os Fatos da Guerra com a Rússia”. A administração Biden parece disposta a nos colocar em uma luta para a qual não estamos preparados. Há muitos anos eu estive apelando para as elites políticas americanas enfrentarem os fatos. Agora o oficial sênior americano, um verdadeiro profissional, com reputação de visão realista do mundo lá fora, escreve:

Se o poder militar russo prevalecer, a promessa de apoio do Presidente Biden significa que as forças aéreas ou terrestres da OTAN, dos EUA ou Aliadas podem intervir para resgatar os ucranianos da derrota. Na Europa, as forças terrestres do Exército e da Marinha dos EUA são muito frágeis para intervir a 500 milhas a leste da fronteira com a Polônia, mesmo que reforçadas em tempo hábil por brigadas blindadas. Nenhuma das forças terrestres da OTAN está pronta para enfrentar as Formações de Artilharia de Foguetes BM-30 SMERCH da Rússia. Foguetes disparados de apenas cinco dos lança-foguetes russos BM-30 SMERCH podem devastar em minutos uma área do tamanho do Central Park da cidade de Nova Iorque (843 acres, ou 3,2 milhas quadradas). Assim, se as forças norte-americanas e aliadas intervierem, é provável que o façam com ativos aéreos. Não se sabe quão eficazes serão as defesas aéreas integradas russas, mas seria imprudente subestimar o impacto dos IADs russos com radares de fase. Alguns dos mais novos sistemas de defesa aérea como o russo S-500 são tão eficazes que muitos oficiais da Defesa dos EUA se preocupam em particular com o fato de que mesmo aviões de guerra como o F-22, F-35 e o B-2 correm o risco de serem destruídos se tentarem penetrá-los.

De onde vem todo este dinheiro?

David Chan* | Plataforma | opinião

Durante a primeira conferência de imprensa, o presidente americano Joe Biden, além de afirmar não procurar ativamente confrontos com a China e de não permitir que o país ultrapasse os EUA, apresentou ainda uma importante medida, o investimento de biliões de dólares na criação de infraestruturas e tecnologias emergentes como computação quântica, inteligência artificial e biotecnologia.

O presidente afirma que a China está a investir o triplo desta quantia em infraestruturas, e que por isso precisam de acompanhar este desenvolvimento para competir com o país.

Biden não partilhou o valor exato do investimento, porém a Goldman Sachs estima que o total designado para a criação de infraestruturas é no mínimo 2 biliões. Se neste valor forem ainda incluídos os investimentos em seguros de saúde, educação e cuidados infantis, o total deve chegar aos 4 biliões. Ou seja, além do plano de estímulo financeiro de 1,9 biliões, Biden planeia investir um total de 6 biliões em infraestruturas logo no início do mandato. Depois do plano de estímulo económico de 3 biliões aplicado por Trump após a pandemia, o Departamento do Tesouro e Reserva Federal dos Estados Unidos conseguiram no espaço de pouco mais de um ano criar um plano de 9 biliões de dólares. Mas afinal de onde vêm todos estes dólares? Simplesmente imprimem mais dinheiro, ao estilo americano, aproveitando-se da hegemonia financeira para exportar dólares e fazer o mundo sofrer para proveito próprio.

China | Macau suspende encomenda da vacina da AstraZeneca

O diretor dos Serviços de Saúde de Macau anunciou hoje a suspensão da encomenda da vacina da AstraZeneca, que estava prevista chegar ao território a partir de junho.

O Governo propôs a suspensão do fornecimento e a farmacêutica concordou, disse Alvis Lo aos jornalistas, à margem da inauguração da Exposição sobre a Segurança Nacional.

A partir de junho estava previsto chegar a Macau, de forma faseada, 400 mil doses da vacina AstraZeneca.

O responsável acrescentou ainda que o Governo irá estudar detalhadamente, através dos estudos internacionais relacionados com a segurança desta vacina, bem como as recomendações da Organização Mundial de Saúde e de outros atores políticos, e só depois “considerará a próxima etapa”.

Na semana passada, também Hong Kong pediu à AstraZeneca para suspender a sua encomenda da vacina contra a covid-19 por receio de efeitos secundários e preocupações sobre a eficácia contra novas variantes do coronavírus.

Timor-Leste | Xanana Gusmão filmado a esbofetear pessoas na rua

Comportamento do líder histórico timorense está a deixar muitos dirigentes preocupados. Xanana está em protesto por pretender que o corpo de um homem, vítima de Covid-19, seja entregue à família.

O antigo presidente e ex-líder histórico da resistência timorense, Xanana Gusmão, foi filmado a esbofetear várias pessoas na rua, incluindo uma mulher. As imagens divulgadas provocaram duras críticas nas redes sociais.

O comportamento do ex-líder tem suscitado preocupação entre dirigentes timorenses. Xanana tem surgido frequentemente sem máscara em locais onde vigora uma cerca sanitária e um confinamento obrigatório.

O incidente ocorreu pela mesma altura em que Xanana se encontra em protesto por querer que o corpo de um homem vítima de Covid-19 seja entregue à família. Pela segunda noite seguida, dormiu em frente a um centro de isolamento, em Díli, perante o impasse do funeral do homem de 47 anos.

Na noite de segunda para terça-feira, o antigo presidente dormiu no chão, junto à carrinha onde se encontra o caixão preparado para a família que deseja reaver o corpo da vítima para os tradicionais rituais fúnebres. No entanto, as autoridades de saúde recusam o pedido, sublinhando que o protocolo para vítimas da Covid-19 deve ser cumprido.

Sofia Freitas Moreira | Renascença

VER VÍDEO EM TWITTER 

"O receio de admitir forças estrangeiras está na inabilidade de controlá-las"

MOÇAMBIQUE

Em entrevista à DW, o analista Énio Chingotuane sublinha que, na base da renitência ao engajamento de tropas estrangeiras, está o receio de uma possível perda de controlo: "Mercenários são mais ou menos controláveis".

Diante dos últimos acontecimentos ocorridos em Palma e da crescente ameaça à região norte de Moçambique, Filipe Nyusi diz que está a avaliar a possibilidade de aceitar ajuda militar internacional. Contudo, o chefe de Estado sublinha que prefere que tal não aconteça em nome do "sentido de soberania”.

Em entrevista à DW, Énio Chingotuane, pesquisador do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais da Universidade Joaquim Chissano, acredita que na base da renitência do país à entrada de grupos militares internacionais na região está o receio de uma possível perda de controlo e um engajamento indireto dos terroristas que pode advir.

O analista defende que as Forças de Defesa e Segurança moçambicanas têm conseguido debelar as ações dos grupos armados, mas que precisam de capacitação. 

Angola | PGR justifica morosidade de processo de Isabel dos Santos com "complexidade"

"Processos não se investigam em seis meses", afirma Hélder Pitta Grós. Sobre a alegada "conspiração" de que a empresária se queixa, PGR angolano diz que Isabel dos Santos "é livre de dizer aquilo que achar conveniente".

O Procurador-Geral da República (PGR) de Angola justificou esta quinta-feira (15.04) a morosidade do processo de Isabel dos Santos com a sua "complexidade" e referiu que a empresária angolana "é livre de dizer aquilo que achar conveniente para a sua defesa".

Segundo Hélder Pitta Grós, "os processos não se investigam em seis meses e nem em um ano, esse é o tipo de crimes pela sua complexidade levam muito mais tempo, são muito mais morosos".

"Requerem também muita intervenção da cooperação internacional a solicitação de exames, de perícias, de documentação", argumentou, em declarações aos jornalistas, após inaugurar o Parlatório Virtual (Sala de Videoconferência) do Hospital Prisão São Paulo, em Luanda.

Guineenses queixam-se do aumento de impostos

Na Guiné-Bissau, sobem de tom as críticas contra o Governo pela aplicação dos novos impostos aprovados em 2020. Cidadãos e operadores económicos dizem-se prejudicados com a medida que começou a ser aplicada em março.

É crescente a contestação à introdução, este ano, de novos impostos e outros aumentos na Guiné-Bissau. E o impacto é relatado por diferentes entidades, de funcionários públicos ao cidadão comum, que viram subir os custos do consumo da luz elétrica e crédito de consumo da internet.

Cidadãos ouvidos pela DW África mostram-se preocupados com a situação.

"Esta situação vai prejudicar e muito a população, a mim e as minhas atividades", lamentou um funcionário público.

Para uma reformada, tudo está agora mais difícil: "Temos aqui uma dificuldade enorme mesmo, eles [Governo] aumentaram a pobreza e foi isso que fizeram".

"Às vezes, não podemos comprar o crédito [de luz para casa], devido ao aumento do preço", conta um operador económico.

Covid-19: África com mais 241 mortos e 6.032 infetados nas últimas 24 horas

África registou mais 241 mortes associadas à covid-19 nas últimas 24 horas, para um total de 116.506 desde o início da pandemia, e 6.032 novos casos de infeção, segundo os dados oficiais mais recentes no continente.

De acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), o número total de infetados nos 55 Estados-membros da organização é de 4.375.876 e o de recuperados da doença nas últimas 24 horas é de 8.817, para um total de 3.928.272 desde o início da pandemia.

A África Austral continua a ser região mais afetada, registando 1.932.452 infetados e 60.909 mortos associados ao contágio com a doença. Nesta região, a África do Sul, o país mais atingido pela covid-19 no continente, regista 1.559.960 casos e 53.423 mortes.

O Norte de África é a segunda zona mais atingida, com 1.299.024 infetados e 37.367 vítimas mortais.

Portugal | Cavalgar no populismo sem pejo

AbrilAbril | editorial

A decisão instrutória da «Operação Marquês» trouxe falsos moralismos e busca de protagonismo com o descontentamento instalado. Mas alguns dos «indignados» nunca estiveram do lado do combate à corrupção.

É indiscutível que a situação da Justiça merece debate público sério e honesto, que permita chegar a conclusões eficazes e não precipitadas ou assentes em raízes populistas.

Mas se atentarmos a declarações recentes de alguns líderes partidários, como do PSD, do CDS-PP ou do Chega, alegadamente revestidas de «exaltação e revolta», rapidamente se depreende que a sua verdadeira preocupação não é a do combate à corrupção. Pelo contrário, é óbvia a procura de ganhar algum protagonismo a partir de um problema sério com que o País se debate há muito.

Rui Rio, em declarações esta segunda-feira, arroga-se a ser o arauto da moralidade criticando a recente decisão no âmbito do processo judicial que envolve o antigo primeiro-ministro, José Sócrates.

PCP quer enriquecimento injustificado com pena agravada para políticos

O PCP propôs hoje, no parlamento, a criação do crime de enriquecimento injustificado, com penas até três anos, mas que é agravado para titulares de cargos políticos e públicos, até aos cinco.

O projeto dos comunistas prevê um "dever geral de declaração às Finanças" a quem tem "património e rendimentos de valor superior a 400 salários mínimos nacionais (SMN) mensais" (226.000 euros) e de atualização sem que se registe "um acréscimo superior a 100 salários mínimos" (66.500 euros), tendo, nesse caso, a pessoa o "dever de justificação da origem desse enriquecimento". 

A medida foi anunciada pelo líder parlamentar do PCP, João Oliveira, e pelo deputado António Filipe, numa conferência de imprensa em que anunciou um projeto para a proibição do recurso pelo Estado à arbitragem.

Esta é a quarta vez, em 14 anos, que o PCP faz este tipo de proposta, tendo sido rejeitadas com os votos do PS, PSD e CDS, assinalam os comunistas.

Portugal | Os efeitos do monstro Marquês

Rosália Amorim | Diário de Notícias | opinião

As ondas de choque da Operação Marquês continuam a fazer-se sentir na política e na justiça. Depois de sete anos a aguardar um desfecho, a decisão instrutória proferida pelo juiz Ivo Rosa continua a indignar os vários poderes e as distintas alas políticas. Essas ondas mostram, precisamente, a necessidade de reformar a justiça, de modo a ser mais célere e transparente.

Desde que conhecemos a decisão instrutória, a 9 de abril, que os ataques têm surgido de todo o lado, do PSD ao PCP, e o último foi Fernando Medina, pelo PS. O presidente da Câmara Municipal de Lisboa disse, na TVI, que há um "rompimento da confiança" na justiça e que "atos como os de Sócrates corroem o funcionamento da vida democrática".

A decisão do juiz deitou por terra a acusação, colocando em causa o trabalho do Ministério Público de forma clara, denotando-se um aparente ajuste de contas entre os diferentes poderes jurídicos. O Ministério Público recorreu para a Relação, como é sabido, e agora - talvez para não alimentar ainda mais a polémica - a procuradora-geral da República, Lucília Gago, veio dizer que "compreende a perplexidade da decisão instrutória", mas que esta "pode ser a oportunidade para refletir e aprofundar certos temas que estão em cima da mesa".

Precisamente em cima da mesa deve estar a reforma da justiça, de que se fala há anos, mas ainda pouco se vê. Aos olhos da opinião pública não está tudo na mesma, está pior. A justiça está ferida de credibilidade. Em Portugal chegou-se a uma situação em que uma petição corre veloz pelas redes sociais e acumula dezenas de milhares de assinaturas a pedir o afastamento de um juiz. Um tremendo sinal de desconforto, desconfiança, desagrado.

Rui Rio - dando o devido desconto por ser o líder da oposição e estar em causa o julgamento de um ex-primeiro-ministro do PS -, atacou também violentamente os tribunais , "as violações do segredo de justiça e a intoxicação da opinião pública por parte das autoridades judiciais". Referiu que a justiça está em "descrédito" e "é o pior exemplo da doença do regime". No outro extremo, o PCP lançou que o processo se tem arrastado no tempo "de forma inaceitável aos olhos do cidadão comum".

Justiça seja feita, o Ministério Público teve realmente o mérito e a coragem da investigação, mas o caso transformou-se num monstro - colocando em causa, inclusive, a eficácia de juntar várias acusações num megaprocesso - e tornou-se tão moroso que certos crimes já prescreveram. Explicar todo este enredo ao cidadão comum é uma tarefa difícil. Fazer que os portugueses acreditem na justiça ainda mais difícil é. Está na hora de reformar a justiça, não à medida do caso Sócrates mas à medida de um futuro que se quer mais justo, célere e transparente.

Imagem: Dia do Marquês - José Sócrates em  HenriCartoon, por Henrique Monteiro

Deputado do PS suspeito de corrupção fiscaliza bases de dados das polícias

António Gameiro, em relação a quem a PJ pediu levantamento da imunidade, é do conselho que fiscaliza "google" de informação criminal.

O deputado do PS António Gameiro, suspeito de corrupção num negócio de um terreno em Monte Gordo, concelho de Vila Real de Santo António, que levou esta semana à detenção da presidente daquela câmara, é membro eleito pela Assembleia da República do Conselho de Fiscalização do Sistema Integrado de Informação Criminal (CFSIIC), uma plataforma tecnológica que funciona como uma espécie de google através do qual as polícias acedem a investigações e informações de suspeitos.

Na terça-feira, a Policia Judiciária fez buscas a casa de António Gameiro, candidato do PS à Câmara de Ourém, e pediu o levantamento da imunidade parlamentar do deputado, no âmbito da designada Operação Triângulo. Levantada essa imunidade, o deputado deverá ser constituído como arguido. Nesta operação foi detida Conceição Cabrita, a autarca do PSD, e mais três pessoas, por suspeita de corrupção e abuso de poder.

Portugueses são sempre quem paga as “falhas” dos impunes

Levanta-se o véu sobre relatório secreto do Banco de Portugal e PS e PSD veem falhas graves de supervisão

Observador revela relatório que avaliou papel do Banco de Portugal na supervisão ao BES. Há críticas, mas deputados consideram que muitas já eram conhecidas - e já apontavam para um trabalho insuficiente no supervisor

A comissão de inquérito às perdas do Novo Banco ainda vai a meio, mas um dos dossiês mais marcantes que já foi discutido – o relatório que avaliou a supervisão feita pelo Banco de Portugal ao antigo Banco Espírito Santo – já gera um consenso maioritário entre os deputados. Depois da divulgação das principais conclusões pelo Observador, PS e PSD unem-se na conclusão de que houve falhas no trabalho feito pela autoridade bancária. Carlos Costa, que foi chamado pelos deputados mas não será ouvido para já, é o principal visado.

A grande conclusão do relatório – intitulado Avaliação das Decisões e da Atuação do Banco de Portugal na Supervisão do Banco Espírito Santo – é, segundo resume o Observador, que o supervisor “tinha conhecimento dos problemas do BES e tinha poderes para fazer mais, melhor e mais cedo”.

Em suma, e de acordo com o jornal, o Banco de Portugal tinha conhecimento da complexa estrutura do Grupo Espírito Santo, mas aceitou que não houvesse mudanças na consolidação das contas, bem como permitiu, de forma que não a "adequada", a manutenção de Ricardo Salgado à frente do BES quando já se sabia da ocultação de passivo em empresas do grupo.

Ainda que muito mais pormenorizadas, não são conclusões muito distintas das que já foram retiradas da comissão de inquérito à gestão do BES e GES, que se realizou em 2014 e 2015, mas trazem para a luz do dia que essa foi a avaliação feita pela comissão liderada pelo então presidente do conselho de auditoria, João Costa Pinto, e não apenas pelos deputados.

BRASIL: ONDE TUDO COMEÇOU, ANTES DO “LAVA JATO”!

Martinho Júnior, Luanda 

NO CASO DO BRASIL (ACERCA DO PAPEL DO MINISTRO DAS FINANÇAS DE LULA, ARMÍNIO FRAGA NETO), A 6 DE DEZEMBRO DE 2003, NO ACTUAL Nº 374, SEMANÁRIO DE LUANDA, CONSIDEREI QUE HAVIA "RAPOSA NO GALINHEIRO"!... ATÉ PARECE QUE FUI BRUXO:

MULTIPLICARAM-SE AS RAPOSAS (TAMBÉM NO JUDICIÁRIO) E SOBRARAM PARA A DILMA!

JUNTO O TEXTO DE HÁ 18 ANOS:

O CASO DO BRASIL, OU LULA NA “CORDA BAMBA” DO “CIRCO GLOBAL”.

O IMPONDERÁVEL “DOMÍNIO SOBRE CONTRÁRIOS”, OU AS MIGALHAS QUE SOBRAM DA MESA DOS RICOS.

Em Junho de 2002, a candidatura de Lula da Silva à Presidência do Brasil, era vista como a favorita dos Brasileiros, mas não dos mercados financeiros, que apostavam abertamente em José Serra.

“No Império Romano, só os Romanos votam. No capitalismo global modern , só os Americanos     votam. Os Brasileiros não!”

Essa síntese, por mais paradoxal e surpreendente que possa parecer, veio dum “filósofo” , que melhor que ninguém no Mundo Contemporâneo, cultiva a maquiavélica “simbiose” que cataliza o “domínio sobre os contrários”, ao serviço da própria aristocracia financeira Mundial: George Soros.

Se essa opinião foi dada em Junho de 2002, a 14 de Janeiro de 2003, segundo o “Folha on Line”, já George Soros dava outra opinião, numa “acrobacia” próxima dos 180º:

"Mudei de opinião. Estou optimista em relação ao Brasil, disse Soros, antes de sua palestra no simpósio Progresso e paradoxo: As realidades da globalização no século 21, realizado em Nova York nesta terça-feira”.

Em Junho de 2002, já o PT e Lula, tinham sensibilidade acrescida em relação a George Soros e não podiam deixar de levar em linha de conta o maquiavelismo próprio dum híbrido, meio “mega especulador” e meio “filósofo” (achamos que devemos esquecer em definitivo “o filantropo”):

- Puderam verificar, como poucos, os seus dispositivos e acções na Argentina e a sua voracidade antes, durante e depois da crise (George Soros é considerado actualmente, como o maior latifundiário e o maior criador de gado do País das Pampas).

- Puderam estudar os seus dispositivos e acções, além do Banco Central durante a governação de Fernando Henrique Cardoso, em Curitiba, a “Suiça Brasileira”, tendo em conta as experiências que se arrastaram por toda a década de 90, dos circuitos de relação Real – Dólar, desde o governo de Collor de Mello.

- Estavam previamente sensibilizados e precavidos em relação às “intervenções” de George Soros, em relação à Libra Esterlina, (1992 / 1993), em relação à crise no Sudeste Asiático (1997) e em relação à crise na Rússia (1998).

O Companheiro Lula, podia conscientemente preparar-se para o “grande circo global”: esta era a sua quarta tentativa de chegar à cadeira da Presidência do Brasil e, se ela soçobrasse, toda a estratégia do PT estaria em risco e, com ela, a “esperança” duma vida melhor para todo o Povo Brasileiro.

Por isso os analistas do PT verificaram desde logo, quanto o Real era atacado pelos especuladores, tendo George Soros na 1ª linha, sempre que Lula fazia os seus desassombrados pronunciamentos típicos da época eleitoral, assim como as penalizações e desvalorizações a que ficava sujeito o Real em relação ao Dólar, de acordo aliás com artigos que foram publicados em tempo oportuno pela “Folha de São Paulo”.

Por isso a “inteligência” do PT terá levado muito em consideração o papel de Armínio Fraga Neto, que sendo um dos “magos” incondicionais de George Soros, estava por dentro do Real desde a altura do seu parto, quando dirigiu as acções de liquidez que possibilitavam o seu projecto, até à instrumentalização do Banco Central, durante o governo imediatamente anterior de Fernando Henrique Cardoso, onde ele, mais que exercício, teve oportunidade de deixar a “casa bem arrumada”, para o que desse e viesse.

Armínio Fraga Neto continua a ser aparentemente na sombra, o gerente do “grande circo Brasileiro”, mesmo que não esteja presente para armar a sua “barraca”, beneficiando do “espectro” do mega especulador, que paira como um imenso e quase invisível “condor” sobre o Real e, por tabela, sobre o Brasil.

Bolsonaro e a escada do caos

#Publicado em português do Brasil

Observadores bem intencionados interpretam a onda de renúncias como sinal de idoneidade dos militares. Na verdade trata-se antes de consideração tática. E o bolsonarismo ainda sai lucrando, opina Philipp Lichterbeck.

Jair Bolsonaro se alimenta do caos. Ele precisa da confrontação, da provocação e da contradição. O conflito constante é seu motor. Já era assim durante o tempo dele como militar de baixo escalão, quando planejou detonar uma bomba na lavanderia de uma caserna para obter um soldo mais alto.

A coisa continuou quando, no começo dos anos 90, ele se tornou o deputado cuja marca registrada era insultar outros cidadãos, sobretudo da esquerda ou de minorias, desejar-lhes morte, violência e tortura. Repetidamente em sua carreira, Bolsonaro defendeu a ditadura militar brasileira e, sem inibições, expressou fantasias totalitárias.

Como presidente, aperfeiçoou o método da quebra de tabu. Desde a posse, em janeiro de 2019, ele e seus filhos, assim como um círculo de deputados, assessores e propagandistas fiéis, bombardeiam o país semanalmente com novos descalabros, mentiras, provocações e ameaças. Elas não são a exceção, mas sim a regra.

Esse método serve para criar uma sensação constante de estado de exceção. "O caos é uma escada", diz Petyr Baelish, o sinistro conselheiro dos poderosos da série Game of Thrones. Esse é o princípio do bolsonarismo: na escada do caos agitado por ele próprio, ele quer subir cada vez mais e ampliar seu poder.

A lenda dos bravos generais

É por essa ótica que se deve ver a renúncia forçada dos três chefes das Forças Armadas brasileiras. Como tantas vezes nos últimos anos, diversos observadores, sobretudo correspondentes estrangeiros, falam de "caos no Brasil" e perguntam como interpretar a coisa toda. Alguns já anunciam o breve fim da presidência Bolsonaro, tendo perdido o apoio dos militares.

A leitura mais costumeira afirma: generais corajosos se opuseram a Bolsonaro para protestar contra sua tentativa de instrumentalizar as Forças Armadas para seus fins políticos. Ele teria pretendido empregar o Exército contra os lockdowns antipandemia decretados pelos governadores, além de ter contado com mais cobertura na eterna luta com o Supremo Tribunal Federal, que barra alguns de seus intentos mais radicais.

Com a tomada de posição conjunta, os líderes do Exército, Marinha e Aeronáutica teriam agora demonstrado que as Forças Armadas não são um instrumento bolsonarista, mas sim do Estado, e que estão firmemente plantados no solo da Constituição democrática. Até mesmo a esquerda brasileira exultou diante dessa suposta sensatez dos generais.

Na verdade, por trás dos acontecimentos se oculta a lógica interna do bolsonarismo, a do agravamento constante da crise. Em meio à pior fase da pandemia – uma média de cerca de 3 mil brasileiros morre a cada dia de covid-19 – Bolsonaro invoca um conflito com os máximos escalões militares, por supostamente não serem suficientemente fiéis ao regime.

Não é uma ruptura com os militares, em si, mas sim com os velhos senhores do Supremo Comando. Ao mesmo tempo, é um sinal para que os escalões mais jovens, mais baixos e também mais politicamente radicais, se atrelem mais firme ao presidente. "Esta é a tua chance", é a mensagem aos oficiais cujo entusiasmo por Bolsonaro era, desde o início, maior do que o dos generais, para quem o capitão da reserva era antes um bizarro estranho no ninho.

Fome no Brasil cresce e supera taxa de quando Bolsa Família foi criado

#Publicado em português do Brasil

Insegurança alimentar grave ou moderada atingiu 27,7% da população no final do ano passado, ou 58 milhões de brasileiros, contra 16,8% em 2004. Pandemia acelerou alta da fome registrada desde 2014, aponta pesquisa.

As consequências sociais e econômicas da pandemia de covid-19 agravaram a fome no Brasil, que já vinha aumentando e superou em 2020 os níveis registrados no início da década passada, quando foi criado o Bolsa Família.

Uma pesquisa realizada em novembro e dezembro passados com 2 mil pessoas mostrou que 15% estavam em insegurança alimentar grave, e 12,7% em insegurança alimentar moderada, o que significa que corriam o risco de deixar de comer por falta de dinheiro. Em relação à população brasileira como um todo, isso equivaleria a 58 milhões de pessoas.

Outros 31,7% estavam em insegurança leve, quando há preocupação de que a comida acabe antes de se ter dinheiro para comprar mais ou faltam recursos para manter uma alimentação saudável e variada.

Segundo a pesquisa, portanto, 59,4% da população enfrentava no final do ano passado algum grau de insegurança alimentar, o equivalente a um total de 125 milhões de pessoas.

O resultado mostra a aceleração do aumento da fome no Brasil, que tinha voltado a crescer antes da pandemia em um contexto de crise econômica e desmobilização de políticas públicas de segurança alimentar.

levantamento foi feito por pesquisadores do grupo "Alimento para Justiça" da Universidade Livre de Berlim, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade de Brasília (UnB), com financiamento do governo alemão, e divulgado nesta terça-feira (13/04).

Quais são os principais resultados

A parcela estimada de 59,4% dos brasileiros que enfrentam algum grau de insegurança alimentar é quase 23 pontos percentuais maior do que a registrada na última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o levantamento do IBGE, que mede o mesmo fenômeno, 36,7% da população enfrentava algum grau de insegurança alimentar em 2017 e 2018.

O melhor resultado no acesso à alimentação estável e saudável no país foi alcançado em 2013, quando 22,6% dos brasileiros tinham algum grau de insegurança alimentar. Em 2009, essa fatia representava 30,2% da população.

A série histórica começa em 2004, ano seguinte à criação do Bolsa Família, quando 16,8% dos brasileiros enfrentavam insegurança alimentar grave ou moderada, e outros 18% estavam em insegurança leve.

A pesquisa da Universidade Livre de Berlim tem parte da sua metodologia similar à do IBGE, mas as duas não são idênticas. O IBGE entrevista um universo maior de domicílios, presencialmente, e faz mais perguntas.

Mais lidas da semana