AbrilAbril | editorial
A decisão instrutória da «Operação Marquês» trouxe falsos moralismos e busca de protagonismo com o descontentamento instalado. Mas alguns dos «indignados» nunca estiveram do lado do combate à corrupção.
É indiscutível que a situação da Justiça merece debate público sério e honesto, que permita chegar a conclusões eficazes e não precipitadas ou assentes em raízes populistas.
Mas se atentarmos a declarações recentes de alguns líderes partidários, como do PSD, do CDS-PP ou do Chega, alegadamente revestidas de «exaltação e revolta», rapidamente se depreende que a sua verdadeira preocupação não é a do combate à corrupção. Pelo contrário, é óbvia a procura de ganhar algum protagonismo a partir de um problema sério com que o País se debate há muito.
Rui Rio, em declarações esta segunda-feira, arroga-se a ser o arauto da moralidade criticando a recente decisão no âmbito do processo judicial que envolve o antigo primeiro-ministro, José Sócrates.
O líder do PSD, vai mais uma vez atrás do presidente do Chega, na utilização de chavões para cavalgar sobre o descontentamento e a revolta popular. «É a justiça a não funcionar» ou «o País vive na impunidade, pelo menos para os mais poderosos», ouviu-se da sua boca.
Sem pejo em comentar processos em curso, cujo desfecho ainda demorará a conhecer-se, procurou retomar a sua proposta de reforma da Justiça. E que reforma é esta? Recorde-se que entre as suas propostas tem estado um verdadeiro controlo político do Ministério Público, atacando a sua autonomia constitucional, o que contraria qualquer lógica de combate à corrupção.
Por outro lado, Rui Rio teve ainda lata para descrever a resolução do BES como o «maior escândalo financeiro de Portugal», procurando fazer esquecer a responsabilidade do seu partido neste processo. Aliás, não faltam no currículo do PSD casos em que os prejuízos são nacionalizados, e os lucros ficam para os privados, como ocorreu com o BPN.
Imagem: Rui Rio (PSD) em amena cavaqueira com o deputado da extrema direita, André Ventura, do Chega // António Cotrim / Lusa
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