sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Angola | A RAINHA NUA E O CANASTRÃO FARSANTE

Artur Queiroz*, Luanda

O Comité para Protecção de Jornalistas, uma organização para África do estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA), dez dias depois da greve golpista de 10 de Janeiro manifestou-se. Uma tal Ângela Quental, manifestou preocupação pelos ataques às equipas de reportagem da TV Zimbo e da TV Palanca. Sabem por que razão esses crimes hediondos aconteceram? A Ângela explica:  “Os repórteres parecem ser os bodes expiatórios para a percepção da raiva de alguns cidadãos em relação ao Estado”. Logo, a culpa é do Executivo e as forças de segurança. Tinha que ser.

Se jornalistas dos Media privados fossem beliscados, uma hora depois a Ângela protestava, acusava, ameaçava, rasgava as vestes em público para todos vermos que as rainhas também vão nuas.  A organização, com sede em Nova Iorque, refere-se ao dia 10 de Janeiro nestes termos: “Seis repórteres que trabalhavam para a TV Zimbo e TV Palanca foram agredidos por pessoas não identificadas e forçados a fugir para um local seguro enquanto reportavam sobre uma greve nacional por parte de taxistas na capital Luanda”. A menina Ângela desconhece que um dos repórteres por pouco não foi queimado vivo. O estilo de queimar pessoas vivas vem da Jamba. Esse facto é já uma identificação.

 O secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos, Teixeira Cândido, tem uma posição interessante sobre as tentativas de linchamento de seis repórteres: “Os jornalistas dos Media públicos estão a tornar-se cada vez mais alvos da ira das pessoas devido à percepção de parcialidade a favor do Governo e do partido no poder”. O rapaz é muito habilidoso. Só lhe faltou dizer: Se não quiserem ser linchados, mudem para a UNITA! Depois dizem que querem a paz, a liberdade de expressão e a democracia. O que eles querem é impor o terror da Jamba. Mas esquecem-se que do outro lado estão os resistentes de sempre. Não passarão!

Adalberto da Costa Júnior diz que a sua coligação (esquinada) “continua a receber muita gente e quando o regime reage como reage está a dizer-nos que estamos muito bem posicionados. Hoje as sondagens colocam-nos em grande vantagem e o nosso trabalho é trazer a atenção dos angolanos e da comunidade internacional para a necessidade de eleições livres”. Quais sondagens? Já sei. As da empresa do ministro João Melo. Coisa credível e séria.

O ministro João Melo respondeu ao apelo do engenheiro à civil, Adalberto da Costa Júnior. Escreveu isto: “As eleições no Quénia deverão ser das mais bem-sucedidas do continente, à semelhança do que vem acontecendo nos últimos anos. Devido, entre outros factores, à crescente independência do poder judicial, o funcionamento da democracia queniana tem registado uma notória e comprovada evolução. Quanto às eleições em Angola, o Africa Center for Strategic Studies afirma que as mesmas deverão ser apenas ‘uma mera formalidade’. Para a referida organização, tal deve-se ao ‘controlo da arquitectura institucional’ por parte do partido no poder. O tempo o dirá.”

Não desmentiu o Africa Center for Strategic Studies quando diz que as eleições em Angola são uma “mera formalidade”. Ele sabe que isso é mentira. Não desmentiu os seus patrões quando dizem que o MPLA tem o “controlo da arquitectura institucional”. Se fosse verdade, o ministro João Melo não servia de megafone ao Pentágono no Jornal de Angola. 

O ministro João Melo não desmentiu os seus colegas Joseph Siegle e Candace Cook, da inteligência militar do Pentágono, quando afirmam que Angola vai ter eleições presidenciais. Ele sabe que é mentira. Não desmentiu os seus colegas quando dizem que Angola devia ter eleições autárquicas há três anos. Nunca ninguém marcou eleições locais, só o Pentágono e o engenheiro à civil Adalberto da Costa Júnior. 

O ministro João Melo sabe disso pelos dois lados. Por fim, está de acordo com os patrões quando diz que no Quénia é que as eleições vão ser bem-sucedidas, “devido, entre outros factores, à crescente independência do poder judicial”. Em Angola não é assim, senhor ministro João Melo? Então seja homenzinho e diga claramente o que pensa. Diga que alinha com o Pentágono quando os seus agentes afirmam que as eleições vão ser uma “mera formalidade”. Diga publicamente que o engenheiro à civil Adalberto está enganado quando põe em causa a lisura das eleições em Angola. Diga o que pensa mesmo que isso signifique receber só de um lado. Basta de teatro interpretado por canastrões sem jeito.

Por falar em cenas. O Teatro Providência, na Rua dos Mercadores, levou à cena a peça “O Fugitivo da Bastilha”. A notícia veio no Boletim Oficial. Foi a primeira da História do Jornalismo Angolano. O actor principal da peça era Arsénio Pompílio Pompeu de Carpo, também dramaturgo. José Mena Abrantes diz que eu fui o primeiro autor de uma crítica teatral, depois da Independência Nacional. Não tinha dado por isso.

Em Março de 1965 fiz a minha primeira reportagem. E o tema foi uma peça de teatro baseada em textos de Anton Tchekov. Angerino de Sousa fez a selecção, encenou e foi um dos actores. O espectáculo foi à cena no velho Nacional Cine Teatro, pelo Grupo Teatral Comediantes da Cidade. Elenco: Elisa Maria, Angerino de Sousa, Guerra e Silva, José Nóbrega, Miranda e Silva, Moisés Menezes, Vaan der Laan, Joaquim Martins, Rebelo da Silva e Vítor França.

Bobela Mota gostou do meu desempenhou e logo a seguir fiz outra reportagem (crítica não...) sobre a festa de homenagem a Cremilda Torres, que dirigia um grupo de teatro infantil, com sede permanente no Nacional Cine Teatro. Subiu à cena a comédia O Domador de Sogras com grandes actrizes: Mirene Cardinale, Arlete Soares e Lucinda Rafalex.

No ano anterior, Angerino de Sousa apresentou a farsa em um acto, O Laço Vermelho, peça de sua autoria, dada à estampa pela Publicações Imbondeiro, a histórica editora do Lubango, dirigida por Leonel Cosme e Garibaldino de Andrade. Escrevi uma crítica ao livro. 

Na época o Nacional era um bastião do teatro luandense e sala de cinema. Depois da Independência Nacional passou a ser ponto de encontro de bêbados da valeta saudosos do golpe militar de 27 de Maio de 1977, acobertados pelo soldado motorista do RI20, Jacques dos Santos, alta figura da Academia de Letras, guindado a essa dignidade por participações soberbas num grupo carnavalesco. Misturar o ministro João Melo com teatro não lembrava ao diabo.

Estou de férias. Deixem-me descansar.

Sem comentários:

Mais lidas da semana