Jornal de Angola | opinião*
O Congresso Extraordinário,
realizado em Junho de 2019, marcou, decisivamente, o início do processo de
renovação do MPLA, com a entrada de vários militantes da minha geração no
Comité Central. Este facto sinalizou o sentido das reformas do novo ciclo de liderança
que se iniciava, com Presidente João Lourenço. Trata-se, pois, de um processo
de reforma que visa, em primeira instância, adequação da máquina partidária aos
novos tempos, como ficou sublinhado no VIII Congresso Ordinário, realizado em
Dezembro último, em que o líder fez questão de manter a tendência do
alargamento centrado no ingresso de jovens e mulheres.
Os resultados deste último Congresso apontam, claramente, os caminhos que o
MPLA deverá seguir nos próximos anos para continuar a ser o partido no poder em
Angola: o caminho da renovação. Este caminho faz-se seguindo os trilhos de uma
juventude cada vez mais capaz e com peso relevante na estrutura social do país.
Não falamos aqui de uma renovação fácil ou de uma substituição natural de uma
geração por outra. Falamos de uma renovação societal que implica,
necessariamente, a substituição de um ethos por outro. O ethos, enquanto
conjunto de traços idiossincráticos, caracteriza os modos de pensar e agir de
uma colectividade, sintetiza as práticas de um grupo; é o principal indicador
de mudança substancial. Este é o sinal que o povo angolano esperava do MPLA. E
foi dado pelo Presidente João Lourenço.
Assim, o sentido desta renovação extravasa o domínio puramente biológico e
inscreve-se plenamente no plano antropológico, requerendo desta nova vaga de
jovens dirigentes uma postura consentânea com os desafios actuais, uma postura
capaz de corresponder às expectativas do povo e da direcção do partido. Os
jovens que agora rendem a "velha guarda” precisam de ter consciência do
seu papel histórico, precisam de saber o que deles se espera nos diferentes
domínios da vida nacional.
Não podemos descurar que estes jovens dirigentes do MPLA, diferente dos seus predecessores, beneficiaram de uma formação profissional e intelectual que os qualifica a interpretar os factos políticos e sociais com relativa autonomia orgânica ou ideológica, o que lhes permite não só aceder a uma nova hermenêutica dos factos políticos, como lhes confere uma certa autonomia e liberdade para criticar e pensar o Partido em novos termos. O Presidente João Lourenço há muito que terá constatado isto. Aliás, certo dia, referiu, ele mesmo, em sede de reunião do Comité Central, após um bloco de intervenções de críticas construtivas de jovens membros deste órgão que "valeu a pena a injecção de sangue novo”.
Neste seu primeiro mandato, quer seja como Presidente da República, quer seja como presidente do MPLA, João Lourenço fez uma clara apologia da juventude, como forma de garantir a contínua renovação e vitalidade do MPLA. Hoje, são muitos nas estruturas Centrais de Direcção do Partido e do Executivo; não restam dúvidas que chegou a vez dos jovens responderem ao velho desafio de resolver os problemas do povo, dando corpo ao Programa Maior do MPLA que consiste na realização integral do bem-estar de todos os angolanos. Neste contexto, coloca-se uma questão superveniente: como?
A resposta para esta questão encontra-se na História do próprio MPLA. Um olhar à sua retrospectivo permitirá constatar que o Partido sempre soube se metamorfosear para se adaptar aos novos contextos e desafios. Fê-lo em 1979, em 1985, em 1992. E vem fazendo desde 2017. E esta renovação, por via do alargamento, visa cumprir a estratégica função de assegurar que o seu valor político de mercado não seja prejudicado por conta dos consecutivos anos governativos, pelo contrário, seja este facto um elemento diferencial de vantagem sobre os seus adversários.
Ao fazer a apologia da juventude, João Lourenço responde assertivamente, como uma contra-ofensiva, aos ataques dos opositores do Partido que apregoam a narrativa da alternância política como via única para alcançar o bem-estar dos angolanos. O MPLA, como sempre, antecipou-se e já começou a fazer mudanças e alternâncias internas que têm contribuído para a melhoria dos mecanismos de governação, tornando despicienda toda a narrativa da alternância defendida pela oposição e uma pretensa sociedade civil angolanas.
Agora cabe a esta juventude estar preparada para falar quotidianamente para o
povo deste novo MPLA que se redimiu publicamente dos seus erros e continua
comprometido com as causas do povo. O MPLA que está a corrigir o está mal e
melhorar o que está bem. Sabemos que não é uma tarefa difícil, considerando o
actual contexto social e económico, mas é uma tarefa complementar realizável,
pois, o Partido beneficia de uma vantagem que resulta do facto coincidente de a
maior parte da população angolana ser jovem e o seu principal activo eleitoral,
também.
Esta juventude deve estar preparada para dar caras e voz em nome do MPLA,
durante a campanha eleitoral de Agosto próximo. Deverá ser ela a animar os
actos políticos de massas nas praças, os debates nas universidades e na mídia.
Porque a eles o líder depositou a máxima confiança, e espera poder contar com
eles como cabos eleitorais imaculados, aos quais a oposição não poderá acusar
de corrupção ou nepotismo.
Os resultados, desde VIII Congresso, mostram um MPLA que se renovou e melhorou.
E que doravante adoptará novas práticas e assumirá um novo ethos, voltado aos
seus ideias fundacionais de 1956. Um Partido mais voltado para os anseios
populares, reconciliado com as suas bases e com melhores condições técnicas e
humanas para fazer de Angola um país melhor para todos. Portanto, um partido
mais apto para a realização do seu Programa Maior, mas que tem tarefa primeira
alcançar a vitória eleitoral em Agosto próximo.
* Membro do Comité Central do MPLA
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