Ponto prévio. Nunca disse já está
porque nada está acabado, tudo está
Um repórter a cair da tripeça pouco mais sabe do que cavar notícias, reportar, entrevistar, editar, organizar o espaço. Em 1974/75, estive na primeira linha dos que perceberam a necessidade de formar jovens jornalistas nas Redacções das rádios e dos jornais. Fomos sabotados e atacados à falsa fé, por fogo amigo. O que sobrou ainda deu para manter a chama do jornalismo acesa. Um prémio de consolação, muito menos do que sonhamos e projectamos.
Um jornal angolano (Novo Jornal), 47 anos depois da Independência Nacional, num vómito assinado por Gustavo Costa mas escrito por fantasmas ressabiados pela queda do império colonial português, defende o que nem Salazar ou Marcelo defenderiam. Escreve a alimária analfabeta funcional: “MPLA e UNITA não podem impor, aqui e ali, a legitimidade revolucionária herdada de uma transição para a independência feita sem respeito pelas regras de trânsito democrático”. O coronel Santos e Castro, comandante do Exército de Libertação de Portugal (ELP) não se atrevia a vomitar semelhante insulto.
A transição para a Independência Nacional, entre o 25 de Abril de 1974 e 11 de Novembro de 1975, foi feita pela ilegitimidade contra revolucionária imposta por Nixon, Mobutu e Spínola, o trio presidencial que decidiu excluir o MPLA do processo de descolonização. Não contaram com o apoio popular ao movimento e a elevadíssima taxa de militância dos seus membros e apoiantes. A transição foi feita com a invasão silenciosa ou à bruta do Norte de Angola. Com a tentativa quase conseguida de balcanizar o país.
Só falharam porque o MPLA, com mais de 90 por cento do apoio popular, lutou de armas na mão pela integridade territorial. Pela “independência total e completa” num projecto político liderado por Agostinho Neto que proclamou a resistência popular generalizada. A UNITA, nesta altura, ainda nem sequer tinha o estatuto de movimento de libertação. Ainda tinha nas mãos as armas das tropas de ocupação colonial, com as quais dispararam contra o Povo Angolano. A FNLA era o pseudónimo do exército de Mobutu e contratou mercenários que mataram e torturaram camponesas e camponeses no Norte de Angola. A CIA e seus operacionais queriam fazer em Angola a transição para novos donos abertamente racistas.
Os fantasmas de Gustavo Costa
(ele assina Gostavo e pensa assim) escrevem que “MPLA e UNITA continuam a demonstrar
que ainda não entenderam que essa atribulada transição, como diz o jurista e
general Adolfo Rasoilo, afastou de forma irresponsável e irremediável as forças
internas que lideraram o milagre económico e social que vivemos de 1960 até
Não sei se o general Rasoilo escreveu mesmo o que Gustavo citou. Desejo ardentemente que não. Mas se a citação estiver certa, lamento muito mas por mim é despromovido a soldado e fica de faxina às instalações sanitárias. No meio da merda é que fica bem.
Nem os colonialistas acéfalos, os mais raivosos, os que impunham a cor da pele sobre a maioria dos angolanos se atrevia a considerar que entre 1960 e 1974 existiu em Angola um “milagre económico”. Ninguém no seu efeito juízo, nem os esbirros da PIDE, se atreviam a fazer tão insultuosa afirmação. O milagre entre 1960 e 1974 via-se nos campos de algodão da Cotonang e do Lagos & Irmão. Chicote, sol a sol, fome, esmola chorada em vez de salário.
O milagre estava nos cartões de
trabalho. Quem não tinha cartão nem sequer podia descer às cidades de asfalto
para trabalhar. O milagre estava na esperança de vida a rondar os 30 anos.
Milagre de morrer na flor da vida, com doenças curáveis, por falta de
assistência médica, vivendo em tugúrios infectos transformados
“As forças internas que lideraram
o milagre económico e social que vivemos de 1960 até
Os milagreiros partiram porque quiseram ou porque não aguentaram a violência imposta a Angola pela CIA, Mobutu, PW Bota, Spínola e Mário Soares. Ninguém os pode criticar. Poucos aguentaram viver em cidades onde a guerra estava nas ruas. Cada rua um campo de batalham cada casa, uma trincheira. O MPLA fez inúmeros apelos aos milagreiros para não partirem. Alguns estão escritos. Outros falados. Leiam o discurso de Agostinho Neto, em nome dos três movimentos de libertação, no encerramento do Acordo de Alvor.
Gostavo Custa insulta todos os angolanos, de todos os partidos, quando escreve: “A ausência de uma transição política e geracional serena e equilibrada que acabou por precipitar a entrega do país a elementos menos preparados e divididos por ódios tribais que até hoje continuam a deformar a sociedade”. Tradução: Os pretos não se entendem. Voltem os colonialistas!
Fui insultado. Na altura própria e à minha maneira, vou responder.
Para já quero servir-me deste
espaço para informar que ouvi atentamente o discurso do camarada presidente
João Lourenço, na apresentação da Agenda Política do MPLA para 2022,
* Jornalista
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