quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Angola | A PIRATA COM CARA DE PAU -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

No espaço da União Europeia quase todos os dias há eleições. Em Portugal os actos eleitorais sucederam-se em catadupa nos últimos tempos, primeiro para eleger deputados europeus, depois o presidente da república, a seguir os autarcas e uns meses depois os deputados à Assembleia da República uma e outra vez, porque a legislatura não chegou ao fim.

Que eu saiba, Portugal nunca convidou a União Africana nem sequer os países africanos que foram colónias portuguesas para observarem as suas eleições. Nunca a União Africana foi convidada para enviar observadores às eleições dos estados-membros da União Europeia ou qualquer outro cartel do neoliberalismo mafioso. O estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA), que se saiba, nunca convidou observadores estrangeiros para as suas eleições. E como se sabe, os resultados das últimas presidenciais foram postos em causa por um dos concorrentes, ainda que seja tão mentiroso e desprezível como o engenheiro à civil Adalberto da Costa Júnior. 

Os angolanos são chamados a eleições desde 1992. Até foram convocados actos eleitorais enquanto Jonas Savimbi andava aos tiros contra a democracia e o Povo Angolano. É preciso ter muita coragem e grande amor pelo regime democrático. As bombas a explodir, os eleitores a serem assassinados pelos sicários da UNITA e, ao mesmo tempo, candidatos a deputados desse partido concorriam às eleições. 

Quando a ala assassina da UNITA foi derrotada, os que sugavam o Orçamento Geral do Estado limitaram a sua actividade política à liturgia do voto. Entre eleições bebem uns copos, comem à ganância, abusam de mulheres (Uma das abusadas é filha do meu saudoso amigo e camarada comandante Margoso, um Herói Nacional) e tratam das negociatas mais ou menos sangrentas com mais ou menos kamanga.

As autoridades angolanas convidam observadores estrangeiros às eleições porque nada têm a esconder. Isso de fraude eleitoral, entre nós é com os concorrentes que restringem as suas actividades eleitorais a apresentarem-se a votos de cinco em cinco anos. Pelo meio recebem do Estado subvenções milionárias. As eleitas e os eleitos vivem como magnatas às costas de quem os elegeu. Isto é fraude e de que maneira! 

Ninguém vê trabalho político que justifique receberem tantos mundos e fundos. Ninguém os vê junto dos eleitores, ajudando a resolver os mil problemas que enfrentam. Torram uma parte do dinheiro a comprar bêbados da valeta armados em jornalistas, desgraçadas ressabiadas por já não mamarem no Orçamento Geral do Estado, bandidos sempre prontos a destruir o regime democrático. O resto é para sustentar as suas vidas faustosas e ociosas. Lanço daqui um repto à direcção da UNITA: Digam quantos quadros já formaram para delegados das assembleias de voto e para fiscalizarem com conhecimento de causa as próximas eleições. Nada. Até agora só falam de fraude mas escondendo que eles são a fraude.

A embaixadora da União Europeia em Angola, Jeannette Seppen, prestou declarações à agência noticiosa Lusa (filial da UNITA) sobre as eleições de Agosto. Disse que o cartel neoliberal está pronto a observar o acto eleitoral mas “Angola ainda não manifestou interesse”. A senhora embaixadora entrou numa de mandar recados às autoridades nacionais através do mais poderoso órgão de informação da UNITA (agência noticiosa Lusa) para ser convidada. 

Vejam lá, em 2012 e em 2017 não convidaram a União Europeia. Não se esqueçam de convidar agora porque nós temos dado esmolas a Angola. Uma diplomata que faz um papel tão caricato e ridículo só tem estatuto para representar o cartel neoliberal na Jamba.

A diplomata Jeannette Seppen já meteu o nariz na questão de Cafunfo mandando recados pela agência Lusa. Agora repete a dose. Deve estar a pensar que os piratas holandeses ainda ocupam Angola. Ou continua de pé o regime colonialista, quando todos os países da então CEE (hoje União Europeia) apoiavam entusiasticamente os colonialistas na matança de angolanos na Frente Norte e na Frente Leste. Sua excelência ainda não foi informada que já fechou a Zuid Casa Holandesa, a Casa Americana ou a Robert Hudson. O senhor Robert Williams já não é dono do Caminho-de-Ferro de Benguela. Alguém actualize a senhora. É uma obra de caridade.

A senhora embaixadora da União Europeia em Angola mandou o recado no final da cerimónia de lançamento do Projeto de Apoio à Sociedade Civil e à Administração Local em Angola (PASCAL). Deu uma esmolinha e aí vai disto: “Estamos prontos para acompanhar as eleições em Angola”. Mas por que razão isso vai acontecer? 

Nunca a União Africana observou eleições na Europa. Angola nunca observou eleições nos estados-membros da União Europeia ou nos EUA, fonte perene e inesgotável de aldrabices e trapaças. Senhora embaixadora meta as esmolas num sítio que eu cá sei e não se comporte como ocupante de um Estado Soberano. Por muitas saudades que tenha dos piratas e dos colonialistas, tenha maneiras. 

Angola deve convidar todos os países africanos e a União Africana para observarem as eleições de 2017. Uns para aprenderem como se organizam acros eleitorais livres e justos. Outros para verem os investimentos extraordinários que foram feitos em equipamentos, instalações e programas informáticos. Venham todos ver como se organizam eleições limpas e acima de qualquer suspeita.

 Mas nenhum país europeu deve ser admitido. Muito menos a União Europeia neoliberal e mafiosa. Porque enquanto os angolanos se batiam contra o regime de apartheid, ficaram todos a ver se Angola era submetida ou apoiavam os agressores. Quando em 1992 Savimbi rejeitou os resultados eleitorais, todos os países da União Europeia ajudaram, aberta ou de forma encapotada, a rebelião. 

Se o Executivo Angolano ou o Presidente da República convidarem esses estados mafiosos e antidemocráticos estão a protagonizar uma submissão insuportável mas também inaceitável.

* Jornalista

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