Artur Queiroz*, Luanda
Primeiras eleições
multipartidárias
O MPLA estava cercado e silenciado. Quebrei o cerco e dei voz aos seus dirigentes. Todas as semanas escrevia um caderno inteiro na revista “Sábado”. Os enviados dos Media portugueses repetiam penosamente os recados que lhes faziam chegar. A UNITA já ganhou as eleições e o MPLA vai perder, porque não foi capaz de governar Angola desde 11 de Novembro de 1975. Vejam bem, nem sequer conseguiram levar água e luz aos habitantes dos musseques!
O MPLA tinha na direcção da campanha um trio de peso: Lopo do Nascimento, Kundi Paiama e Marcolino Moco. A ligação entre a direcção partidária, as delegações provinciais, municipais, comunais e os comités era feita por João Lourenço e uma equipa muito aguerrida mas também muito profissional. Todos os movimentos, todas as acções de campanha, todos os comícios, a distribuição de propaganda e equipamentos eram da responsabilidade do actual Presidente da República. E ainda tinha a se cargo a informação e os contactos com os Media.
O meu primeiro pensamento foi que aquilo era muita areia para a camioneta de um homem só. Mas uma semana depois rendi-me. João Lourenço dava conta de todos os recados, abria todas as frentes e desenhava a política de informação, diariamente. Fiquei a saber por ele que o MPLA ia promover as figuras de Marcolino Moco e Salomão Xirimbimbi: “Como vamos ganhar as eleições, esses dois dirigentes vão ser a imagem do nosso Governo. Moco como primeiro-ministro e Xirimbimbi o homem da área económica e da promoção de negócios e investimentos estrangeiros”.
Entrevistei os dois em Luanda, entrevistei Kundi Paiama no Huambo, entrevistei Lopo do Nascimento depois de um comício memorável no Lubango. No dia das eleições publiquei na primeira página da revista Sábado uma sondagem, da responsabilidade de Luís Filipe Colaço, que dava maioria absoluta ao MPLA. Cem por cento certa. Os vários contactos que mantive com direcção da campanha do MPLA mostraram-me que João Lourenço e Marcolino Moco tinham uma relação muito próxima, cimentada pela amizade e a camaradagem.
Marcolino Moco, na qualidade de cabeça de lista do MPLA e secretário-geral do partido, foi convidado a fazer Governo. Mais tarde fiz com ele o livro MARCOLINO MOCO UM GOVERNO À PROVA DE GUERRA. Salomão Xirimbimbi era o homem da área económica. Os sicários da UNITA não os deixaram cumprir o programa de governo e destruíram Angola, regressando à guerra. Hoje chegou-me o som de uma entrevista de Marcolino Moco à Rádio Eclésia. O que ouvi deixou-me em estado de choque.
Um jurista brilhante, académico, formador de jovens na área do Direito despiu-se de todas essas credenciais e pôs-se a especular. Disse mais ou menos isto: O Tribunal Constitucional vai reprovar os congressos do MPLA e da UNITA e volta tudo às direcções anteriores. Só que o MPLA regressa à liderança de João Lourenço e a UNITA à de Isaías Samakuva. Porque João Lourenço tem medo de Adalberto da Costa Júnior! Marcolino Moco também disse que a presidente do Tribunal Constitucional recebeu ordens para anular o congresso da UNITA.
Marcolino Moco, jurista, entra
Marcolino Moco político ofende o Presidente da República João Lourenço dizendo que ele dá ordens a titulares do Poder Judicial e concretamente à presidente do Tribunal Constitucional.
Marcolino Moco político chegou ao topo da sua carreira nas fileiras do MPLA. Conheci-o como jovem, dirigente da JMPLA. Fiz com ele um livro quando era primeiro-ministro de um Governo do MPLA. A nossa amizade nasceu e consolidou-se sob a bandeira do MPLA, com a militância nas fileiras do MPLA.
Marcolino Moco é um dissidente do MPLA e a dissidência, pelos vistos, obrigou a excrementar a sua amizade com João Lourenço. Porquê? Este primeiro mandato do Chefe de Estado decorreu sob esta bandeira: Corrigir o que está mal e melhorar o que está bem.
Eu acho que algumas coisas que estavam mal ficaram pior e outras que estavam bem ficaram mal. Outras foram corrigidas com sucesso e muitas que estavam bem, ficaram ainda melhor. Em Agosto o eleitorado julgará se o balanço é positivo ou negativo. Se a governação corre mal isso é motivo para dissidência? Então todos os partidos do mundo ficam vazios porque no exercício do poder, nem tudo corre bem, nem todas as promessas são cumpridas e muitas medidas políticas dão para o torto. Quando isso acontece, os militantes do MPLA devem ajudar a corrigir o que corre mal, nunca baterem com a porta na cara das e dos camaradas que estão no Executivo.
O Hospital D. Alexandre do
Nascimento correu muito bem. O Hospital Hematológico, uma maravilha. A ministra
da Saúde até disse que tem poucos médicos angolanos e “vamos formar mais
especialistas”. Os centros de hemodiálise em várias províncias correm bem. Um
deles é no Hospital Pedalé o mentor político de Marcolino Moco. O Plano
Integrado de Intervenção nos Municípios funciona
Marcolino Moco é dissidente do MPLA porque há dificuldades na execução do programa de governo. E colocou-se nos antípodas elegendo o engenheiro à civil Adalberto da Costa Júnior como o seu líder. Meu caro Moco. A UNITA ainda é aquele sinédrio de bandidos que matou o teu irmão. Ainda é o bando de assassinos que tentou matar-te no Huambo. É uma seita que tem Jonas Savimbi como deus. É o bando armado que destruiu Angola quando eras primeiro-ministro. O MPLA continua a ser o que sempre foi. O partido que fundou a Nação Angolana. Assim, a dissidência tem outro nome. Um dia destes digo-te qual é.
* Jornalista
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