sexta-feira, 18 de março de 2022

Brasil | Assassinato de Marielle Franco completa 4 anos sem as principais respostas

# Publicado em português do Brasil

Marina Lang | Pátria Latina

Uma emboscada planejada por supostos assassinos profissionais do Rio de Janeiro chocou o país e o mundo há quatro anos.

O relógio marcava 21h09 de 14 de março de 2018 quando o carro onde estava a vereadora Marielle Franco (PSOL), seu motorista Anderson Gomes e a assessora Fernanda Chaves foi emparelhado na região central da capital fluminense por um Chevrolet Cobalt prata clonado.

A janela traseira do veículo em movimento foi aberta, e 13 tiros de uma submetralhadora MP5 foram disparados contra a parlamentar carioca, dos quais cinco a atingiram — três deles acertaram o condutor.

No Rio de Janeiro, viaturas da divisão de homicídios são vistas no local do assassinato de Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, mortos a tiros na Rua Joaquim Palhares em 14 de março de 2018.

Somente Fernanda, que não estava na linha dos disparos, sobreviveu. Marielle e Anderson morreram na hora. Até hoje não se sabe quem mandou matar uma jovem política negra de 38 anos em início de carreira, eleita para seu primeiro mandato com 46 mil votos, tampouco o porquê.

“O importante é seguir cobrando quem mandou matar a Mari e entender o significado que a morte dela traz para o Brasil e o mundo. E esperar que não tenhamos que aguardar mais quatro anos para saber quem mandou matar Marielle e por quê”, disse Anielle Franco, irmã da vereadora, à Sputnik Brasil.

Inquérito

As investigações do duplo homicídio passaram por sete trocas de autoridades (cinco delegados e três promotoras de Justiça), uma tentativa de federalização, percalços e mesmo perda de provas importantes para dar pistas de um dos maiores mistérios que pairam até hoje sobre o Rio e o Brasil.

Em 2018, a convicção de que se tratava de uma apuração contaminada fez com que Raquel Dodge, então procuradora-geral da República, e Raul Jungmann, então ministro da Justiça, abrissem um inquérito que ficou conhecido como a “investigação da investigação” — ou seja, a Polícia Federal investigando a polícia estadual fluminense.

A pressão das autoridades de Brasília fez com que o andamento do inquérito no Rio deslanchasse. Em menos de cinco meses, a polícia chegou ao suspeito de planejar e executar o crime: o policial militar Ronnie Lessa.

Quem dirigiu o carro, segundo as investigações, teria sido o ex-PM Élcio de Queiroz, compadre de Lessa que foi expulso da corporação anos antes por envolvimento com milicianos.

Conforme a Sputnik Brasil revelou com exclusividade, o Ministério Público Federal (MPF) denunciou, no começo deste mês, Lessa e sua mulher, Elaine Lessa, por tráfico internacional de armas. Caso a Justiça Federal aceite o processo, será o oitavo ao qual o PM aposentado terá que responder.

PGR aponta suposto mandante

No apagar das luzes de sua gestão, em 2019, Dodge indiciou o conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) e ex-deputado estadual Domingos Brazão como o mandante do crime, algo que ele nega e que a Polícia Civil não provou até então. Ela também solicitou que as investigações fossem para o poder federal.

Em 2020, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou, por unanimidade, o pedido de federalização das investigações.

Ronnie Lessa e família Bolsonaro

Não foi apenas Brazão quem apareceu como um eventual mandante do crime. A polícia também investigou o vereador Carlos Bolsonaro, colega de Marielle na Câmara do Rio, e seu pai, o presidente Jair Bolsonaro.

No último dia 4, a revista Veja revelou que Ronnie Lessa e o mandatário, além de serem vizinhos no condomínio Vivendas da Barra, tinham uma ligação antiga: então deputado federal, Bolsonaro agilizou um pedido de tratamento quando Lessa perdeu a perna, em 2009, após um atentado à bomba em seu carro.

Escritório do Crime e patrimônio milionário de Lessa

Nos dias seguintes à entrevista com Lessa, a revista Veja divulgou uma série de reportagens com detalhes inéditos sobre a arma usada no crime e sobre o patrimônio milionário do PM aposentado, além de sua relação com o Escritório do Crime, grupo de milicianos e matadores de aluguel que age mediante encomenda.

Ele tinha uma rentável academia de ginástica em Rio das Pedras, bairro então controlado pelo consórcio criminoso, e saiu de lá às pressas em 2016.

Lessa contou à revista que o miliciano e ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais da PM do Rio (BOPE) Adriano Magalhães da Nóbrega, morto na Bahia em fevereiro de 2020, lhe propôs uma sociedade no negócio para lavar dinheiro do crime. Como recusou, sentiu-se ameaçado de morte, vendeu a academia e saiu do Rio por um tempo, segundo sua versão.

Ele alega inocência e diz que o Escritório do Crime cometeu os assassinatos de Marielle e Anderson e que Adriano intermediou as mortes.

A Polícia Civil e o Ministério Público do Rio (MPRJ), no entanto, têm certeza de que o atentado foi executado pelos réus presos, que vão a júri popular, ainda sem data definida para ocorrer.

9 de fevereiro 2021, 17:04

Outra linha de apuração do caso leva a outro possível mandante do crime: o ex-vereador Cristiano Girão Matias, preso no ano passado sob acusação de ter encomendado um duplo homicídio em 2014 ao acusado pela morte de Marielle. No dia da prisão de Lessa, em 12 de março de 2019, a polícia achou anotações com o nome de Girão em sua casa. Em entrevistas cedidas à revista Veja, ambos negaram se conhecer, e Lessa disse que, enquanto era policial da ativa, chegou a investigar Girão em meados de 2004.

Sem comentários:

Mais lidas da semana