Artur Queiroz*, Luanda
Dia 4 de maio de 1978. República Popular de Angola. O alto comando da África do Sul decidiu fazer uma operação militar combinada na vila mineira de Cassinga, província da Huíla. O alvo foi um acampamento de refugiados da Namíbia onde se encontravam milhares de civis, angolanos e namibianos. O regime de apartheid mobilizou aviões bombardeiros, helicópteros e companhias de paraquedistas. Nos bombardeamentos foram utilizados gases paralisantes.
Anos mais tarde, o general Jannie Geldenhuys, perito em invasões ao território angolano, revelou que o ataque a Calussinga e Chamutete foi “cuidadosamente preparado nos Media”. O objectivo era “criar a impressão de que a intervenção das SADF aconteceu a pedido da administração da Sudoeste Africano e os militares sul-africanos não mataram civis inocentes”.
A campanha incluiu a distorção das ações da SWAPO. Um batalhão de paraquedistas foi encarregado de tirar fotografias que apoiassem a causa de Pretória. Uma recomendação especial: “Quando fotografarem corpos de civis, devem colocar armas ao lado”. O general Janniee Geldenhuys lamentou que, apesar das recomendações, “foram tiradas fotografias de civis mortos, desarmados”. Por isso, surgiram dúvidas na própria África do Sul se a operação militar foi desencadeada contra um campo de refugiados ou uma base militar da SWAPO.
A controversa Comissão Sul-Africana da Verdade e Reconciliação, no ano de 1998, 20 anos depois, sobre o massacre de civis em Cassinga e Chamutete, concluiu algo extraordinário: “Está claro que, do ponto de vista da SADF, Cassinga era uma instalação militar em vez de essencialmente um campo de refugiados ou uma instalação de trânsito de refugiados, como a SWAPO sempre afirmou. As provas fotográficas apresentadas à Comissão nos arquivos da SADF sugerem uma dimensão militar ao campo. Isto não pode, no entanto, ser tomado como prova conclusiva de que Cassinga era uma base militar”.
A comissão tinha um conflito
insanável com a verdade e a honestidade. Tal como o arco-íris formado nos céus
sul-africanos após a derrota do regime de apartheid no Triângulo do Tumpo, tem
muita supremacia branca e pouco colorido. As dúvidas e as piruetas desapareciam
se tivessem consultado a Resolução 428 do Conselho de Segurança da ONU que
condena, sem subterfúgios, o regime de apartheid pela “invasão armada de Angola
realizada em 4 de Maio de
O estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA), França e Reino Unido não aceitaram a condenação pelo massacre. Os aviões que despejaram as bombas sobre civis angolanos e namibianos eram franceses e ingleses. E algumas bombas eram de gases paralisantes. As temíveis armas químicas, que a OTAN (ou NATO) diz serem “linhas vermelhas”. Mas a Resolução 428 do Conselho de Segurança da ONU elogia a República Popular de Angola pelo seu apoio ao povo da Namíbia.
Após a independência nacional, o governo da Namíbia declarou o 4 de Maio como o “Dia de Cassinga”, um feriado nacional de homenagem às centenas de civis vítimas dos massacres sul-africanos na província da Huíla.
O regime de apartheid também
comemorava o 4 de Maio (Dia de Cassinga) por ser uma grande vitória das forças
do regime de apartheid
Nenhum país da União Europeia se
indignou com o massacre de Cassinga e Chamutete. Angolanos e namibianos não
merecem que suas excelências condenem e se indignem com massacres contra
negros. Isso mesmo, é a cor que está
O estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) não condenou o massacre de Cassinga e Chamutete. Pelo contrário, impediu que o Conselho de Segurança condenasse. Mandou mais mísseis e tudo quanto é arma para os nazis de Pretória continuarem os massacres em Angola, como criaram, até serem derrotados no Triângulo do Tumpo. Os EUA foram coniventes com os massacres de Cassinga e Chamutete.
E os portugueses? Nem uma palavra. Nem um gesto de apoio ao Governo da República Popular de Angola. Marcelo Rebelo de Sousa já andava na política em 1978. Silêncio total. O chupista António Costa já fazia pela vida n a política. Caladinho que nem um rato. O primeiro-ministro Mário Soares, como o estado terrorista mais perigoso do mundo não lhe deu ordens, fingiu que nada aconteceu. Guardou-se para mais tarde, quando através de Jonas Savimbi apoiou escancaradamente os racistas de Pretória. António Guterres era um ratito de sacristia mas também já aspirava a tachos na política. Ficou mudo. Quem cala consente. Foramtodos coniventes.
Quando estas artistas da ONU, da OTAN (ou NATO), da União Europeia e do estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) fingem que estão chocados com os “massacres” de Bucha, apetece-me mandá-los para o Donbass e para Mariupol. Ao lado dos nazis é que eles estão bem. E espero que tenham o mesmo fim. O mundo desnazificado é muito melhor. Mas essa empreitada passa pela extinção da OTAN (ou NATO).
* Jornalista
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