terça-feira, 31 de maio de 2022

UM SÓ POVO CONTRA O BANDITISMO POLÍTICO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Os inimigos de Angola, alguns com o rótulo de políticos da oposição, dizem que o MPLA é o “Partido Estado”. É uma forma habilidosa de lhe chamarem “partido único” promotor de uma ditadura. Claro que o Onete e os sicários da UNITA não têm cabeça para tanto. Os restos da FNLA, muito menos. E os aldrabões que começaram na Revolta Activa ou nos comités Amílcar Cabral e acabaram na CASA-CE, no Galo Negro ou no governo português também não têm estudos nem cabeça para tais voos, ainda que usem gravata e vivam abarrotados de dinheiro e mordomias generosamente distribuídas pelo Estado. Luanda paga aos traidores dos seus generais.

O MPLA nasceu de várias pequenas organizações nacionalistas. E o seu nascimento é a primeira e das mais importantes vitórias no seu longo percurso. A intelectualidade nacionalista e o operariado deram as mãos, partindo unidos para a missão de libertar  Angola. O “amplo movimento” cresceu e tornou-se verdadeiramente numa ampla aliança de classes. Desde 10 de Dezembro de 1956, todas as grandes vitórias do Povo Angolano têm a marca indelével do MPLA. 

A selvática repressão que se abateu sobre os nacionalistas e que culminou no Processo dos 50, atingiu maioritariamente militantes e activistas do MPLA. A revolta dos camponeses a 4 de Janeiro de 1961, na Baixa de Cassanje, tem a marca dos militantes e activistas do MPLA. O 4 de Fevereiro de 1961, matriz da Revolução Angolana, foi obra do MPLA. A Rota Agostinho Neto, que ligou a ferro e fogo o Norte e o Leste de Angola, foi aberta pelo MPLA. A Frente Leste foi uma das mais extraordinárias vitórias do Povo Angolano sobre o colonialismo. Os guerrilheiros do MPLA bateram-se contra as tropas portuguesas e seus aliados da UNITA. Venceram. Bateram-se contra os tribalistas de Daniel Chipenda. Venceram. 

O 25 de Abril de 1974 só foi possível porque a luta armada de libertação nacional, dirigida pelo MPLA, criou as condições para o triunfo do Movimento das Forças Armadas (MFA) liderado por Otelo0 Saraiva de Carvalho. Os militantes e activistas do MPLA enfrentaram e derrotaram os esquadrões da morte ao serviço dos independentistas brancos. No dia 15 de Julho de 1974, os jovens angolanos que prestavam serviço militar obrigatório nas fileiras portugueses revoltaram-se. Pegaram nas armas e foram defender o povo. Esta acção decisiva foi comandada pelo alferes Américo Carvalho e nela participaram homens como Zé Maria,  César Barbosa da Silva,  Zeca Van-Dúnem,, Fernando Dias dos Santos “Nandó”, Generoso de Almeida ou João Maria de Sousa. Todos militantes do MPLA.

O MPLA e seus combatentes fundaram, no dia 1 de Agosto de 1974, as Forças Armadas Populares de Angola (FAPLA) braço armado do Povo Angolano, até 1992. Agostinho Neto, em nome da direcção do MPLA e do Povo Angolano, proclamou a Independência Nacional às zero horas do Dia 11 de Novembro de 1975.Comandantes e guerrilheiros do MPLA libertaram o Norte de Angola das forças zairenses e dos mercenários. Enfrentaram os invasores sul-africanos em Grandes Batalhas que culminaram com a sua derrota no Triângulo do Tumpo, Cuito Cuanavale.

O governo do MPLA participou nas negociações tripartidas que culminaram com o Acordo de Nova Iorque., O regime racista de Pretória capitulou. O MPLA abriu as portas do cárcere a Nelson Mandela e libertou a maioria negra oprimida da África do Sul. O MPLA ajudou a libertar o Zimbabwe e a Namíbia. A UNITA de Jonas Savimbi combatia do lado dos racistas de Pretória. Disparava contra o Povo Angolano. Matava, destruía, escorraçava. Causaram milhões de deslocados e refugiados. Pela mão do MPLA voltaram todas e todos a casa. O MPLA, em nome da paz e da unidade nacional aceitou extinguir a democracia popular e o socialismo. O seu governo adoptou a democracia representativa e a economia de mercado. No novo regime, mais uma estrondosa vitória do MPLA, ao ganhar as primeiras eleições multipartidárias com maioria absoluta.

As Forças Armadas Angolanas (FAA) enfrentaram com sucesso reconhecido a rebelião do criminoso de guerra Jonas Savimbi. Entre os heróicos combatentes estavam milhares de oficiais, sargentos e praças, nascidos, criados e formados nas fileiras do MPLA. Então mudem o disco. 

O MPLA é o Partido Nação. O MPLA é o Partido Liberdade. O MPLA é o Partido África. O MPLA é o Partido Namíbia. O MPLA é o Partido Zimbabwe. O MPLA é o Partido Mandela. O MPLA é o partido que destroçou o regime racista de Pretória. Sabem porquê? No início de qualquer actividade gritávamos em uníssono: Um Só Povo. Uma Só Nação. Abaixo o Imperialismo. Abaixo o Tribalismo. Abaixo o Racismo. A Luta Continua. A Vitória é Certa! Este é o nosso programa. A nossa ideologia. O nosso combate. O nosso sonho. A nossa contribuição para a Libertação da Humanidade.

O meu amigo Marcolino Moco defendeu, no Congresso da Nação, que Angola precisa de um modelo de Estado "que reconheça a diversidade dos povos" Esta afirmação deixou-me arrepiado e inquieto. Mas o que disse a seguir, teve um efeito tal que chamei uma ambulância para me socorrer: “ Nós temos um Estado que parte do princípio que Angola é um só povo de Cabinda ao Cunene, uma palavra que já pronunciei muitas vezes na juventude, mas que hoje sei que está completamente errada”. Marcolino Moco garante que “Angola é constituída por vários povos, com diversidades específicas”.  Isto foi dito durante o Congresso da Nação “Pensar Angola, por um Projeto Comum de Consenso”. Por favor, não pensem mais!

A primeira grande manifestação em Angola da “política de cadeiras vazias” foi precisamente quando a Assembleia Nacional aprovou a Constituição da República. Os sicários da UNITA queriam incluir no texto constitucional a expressão “Povos de Angola”. Claro que não passou. E na hora da votação final, os deputados da UNITA abandonaram a sala. Portanto, esta Constituição da Republica não é deles, ainda que a invoquem quando precisam. A partir de agora também não é do jurista e professor de Direito, Marcolino Moco.

Angola é um só povo. Mas no mapa que herdámos do colonialismo e acabou de ser desenhado em 1927, existe um mosaico cultural riquíssimo, ímpar no mundo. Temos várias línguas e uma língua é a expressão máxima da criatividade de um Povo. Temos vários dialectos que embelezam ainda mais o mosaico cultural. Ao longo de séculos, o nosso fabuloso mosaico cultural foi enriquecido com os contributos de todos, de Cabinda ao Cunene, da Restinga do Lobito ao Luau. Que maravilha!

O que temos de fazer é valorizar estas preciosidades. É explicar aos ignorantes que o mosaico cultural angolano é a nossa maio0 riqueza. Porque, em primeiro lugar, ele garante que sejamos, para sempre, UM SÓ POVO E UMA SÓ NAÇÃO. É verdade que os sucessivos ministros da Cultura, depois de António Jacinto, pouco têm feito. Mas isso não pode justificar a adopção do tribalismo como política de estado. Calma, meu caro Moco. O MPLA está vivo, bem vivo, e imbatível. Ainda têm de esperar muitos anos para falarem em “Povos Angolanos”. 

Sabes que mais, meu caro Moco? Todos os países do mundo têm gente de várias origens étnicas e paragens. Mas ninguém fala em “povos franceses”, “povos portugueses”, “povos italianos”, “povos chineses” ou “povos norte-americanos. O tribalismo destruiu a FNLA e a UNITA. Os partidos de matriz tribalista em, Angola, o máximo que conseguem é a fasquia do PRS. Quanto ao Galo Negro, as próximas eleições vão mostrar que o tribalismo não compensa. E a direcção de Adalberto da Costa Júnior (Onete) mostra, de uma forma exuberante, que deixou de ser um partido nacional. Regressou aos tempos do “voto étnico” . E nesta altura do campeonato, dificilmente elege o mesmo número de deputados que elegeu nas eleições de 2017. Nem que tu entres nas listas!

Francisca Van-Dúnem ontem publicou um texto no Novo Jornal onde afirma que “a passagem do tempo favorece a distorção da realidade e a invenção da memória”. E depois sentenciou:  “A omissão da verdade só ajuda à construção de mitos. A história faz-se de verdade e só com a verdade se enfrenta e constrói o futuro”. 

Em 2019, ela, as irmãs e a senhora sua mãe publicaram uma biografia de José Van-Dúnem da qual retiro esta parte:

“Ele era a segunda figura na direcção do Estado-maior e estava por trás do sucesso das campanhas políticas e militares do MPLA contra a ocupação de uma grande parte do território angolano pelo exército Sul-Africano (sob o apartheid) e as forças do ZAIRE de Mobutu Sese Seko. Foi o José Van Dunem que liderou as unidades MPLA que liberaram o norte Angola das forças do Zaire. Era o homem por quem o presidente Agostinho Neto chamava quando se agudizava a situação militar nos arredores de Luanda. (Assinado: mãe e irmãs)

O texto é um festival de aldrabices, manipulações, ficções delirantes, falsificações. O problema é o tempo. Zé Van-Dúnem foi cumprir o serviço militar obrigatório e em 1970, integrando o contingente geral. No final desse ano concluiu a especialidade de atirador de cavalaria, no quartel dos “Dragões”, Cuito (antiga Silva Porto). Em meados de 1971 foi preso e enviado para o campo de concentração de São Nicolau, donde foi libertado em finais de Maio de 1974. O soldado atirador de cavalaria, por artes mágicas, tornou-se “a segunda figura na direcção do Estado-maior das FAPLA, que nasceram três meses depois.

Dona Francisca tem toda a razão: “A passagem do tempo favorece a distorção da realidade e a invenção da memória”. E mais razão tem quando escreve: “A omissão da verdade só ajuda à construção de mitos. A história faz-se de verdade e só com a verdade se enfrenta e constrói o futuro”.

Portanto, a doutora Francisca sabe que só com a verdade se constrói o futuro. Mas usa e abusa da mentira quando0se trata de alimentar o mito do irmão golpista. Aponte aí, minha senhora: o Zé Van-Dúnem era membro da direcção política e militar do golpe de estado de 27 de Maio de 1977. Segundo Nito Alves, deu ordens para matarem os comandantes do Estado-Maior General das FAPLA, esses sim, todos comandantes e não soldados atiradores de cavalaria. Zé Van-Dúnem e Sita Vales, grávidos de irresponsabilidade e ambição, são os primeiros responsáveis pelas mortes ocorridas durante o golpe de estado e na fase de contenção. A tragédia do 27 de Maio deve-se exclusivamente a eles e a todos os outros membros da direcção política e militar do golpe. Ainda que tenham a conivência de titulare de órgãos de soberania, nunca se esqueçam disto. Porque é verdade: “A omissão da verdade só ajuda à construção de mitos. A história faz-se de verdade e só com a verdade se enfrenta e constrói o futuro”. Dona Francisca, mande este recado aos seus amigos! Não vou nomeá-los. Sabe bem quem são. 

 Todas e todos os que participaram no golpe militar do 27 de Maio de 1977 são responsáveis pelas centenas de mortos e presos. A ambição desmedida e a irresponsabilidade total fizeram delas e deles, autênticos assassinos. Não há comissão oficial nem conivências espúrias que escondam esta verdade histórica.

*Jornalista 

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