quinta-feira, 16 de junho de 2022

Angola | Igualdade e Licenciatura dos Diamantes de Sangue – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Adalberto da Costa Júnior frequentou o Instituto de Engenharia do Porto (ensino politécnico) e não fez a licenciatura. Vou repetir. Não se licenciou. O resto é obra e graça do dinheiro dos diamantes de sangue. Passo a explicar porquê. Na altura em que o líder do Galo Negro frequentou aquela escola ainda não existia o Processo de Bolonha, que encurtou o tempo das licenciaturas de cinco para três ou quatro anos. 

O ensino politécnico é muito procurado porque tem uma vertente mais prática, o que oferece melhores possibilidades de emprego. Quando Adalberto se matriculou, o Instituto de Engenharia do Porto conferia o grau de bacharelato a quem concluía os três primeiros anos. O aluno ficava apto a entrar no mercado de trabalho. Se quisesse obter o grau de licenciatura estudava mais dois anos, em qualquer escola superior portuguesa da área das engenharias. Adalberto da Costa Júnior NÃO FEZ OS DOIS ANOS além do bacharelato. Logo, não é licenciado. A não ser que, com o dinheiro dos diamantes de sangue tenha comprado as cadeiras dos dois últimos anos. E até as do bacharelato.

Atenção! Quando foi introduzido o Processo de Bolonha, o Instituto de Engenharia do Porto e outras escolas politécnicas deram a possibilidade de obter o grau de licenciatura aos bacharéis que apresentem um currículo profissional notável. A escola analisa e depois decide quantas cadeiras o candidato tem de fazer para obter o grau de licenciatura. Adalberto da Costa Júnior não tem currículo profissional que lhe permita candidatar-se à licenciatura por mérito no exercício da profissão. Mas como tem dinheiro dos diamantes de sangue, pode perfeitamente comprar cadeiras e até a mobília toda. Agora, hoje, neste momento, não é licenciado. 

Os amigos são para as ocasiões. Angola esteve em guerra, entre o dia 11 de Novembro de 1975 e Fevereiro de 2002. Ao longo dos 27 anos, milhares de jovens e famílias inteiras abandonaram o pais, procurando uma vida melhor e mais pacífica, em Portugal. As autoridades portuguesas, quais buldogues raivosos, trancavam todas as portas, expulsavam os “ilegais”, faziam autênticas caçadas ao homem.

 O melhor que as angolanas conseguiram foi o emprego de mulheres-a-dias. Os homens não passavam de serventes de pedreiros. Naquela ocasião Portugal não era um país amigo dos angolanos. Os seus dirigentes andavam abraçados aos racistas de Pretória. Nunca se esqueçam que Cavaco Silva votou contra a petição que exigia a libertação de Nelson Mandela e Mário Soares mandava o filho te à Jamba via Joanesburgo tratar dos negócios.

Hoje, agora, neste momento, as autoridades portuguesas anunciaram que já emitiram, desde 24 de Fevereiro, 42 000 autorizações de residência em Portugal a 42 000 ucranianos e ucranianas. A comunidade ucraniana é hoje a mais numerosa em Portugal, Ultrapassou até a brasileira. Os amigos são para as ocasiões. Ou melhor: Diz-me com quem andas dir-te-ei quem és. Entre os libertadores angolanos da África Austral, os que derrotaram o regime racista de Pretória e os nazis de Kiev, os dirigentes portugueses fizeram a sua escolha. CPLP? O quê? Isso acabou. Agora só conta a comunidade de nazis, para nazis e pelo triunfo do nazismo na União Europeia, na OTAN (ou NATO) e no estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA). 

O Presidente João Lourenço, segundo um texto de William Tonet (nome tipicamente indígena) que circula nas redes sociais, defendeu que não é possível aos Media darem igualdade de tratamento no período eleitoral, incluída a pré-campanha aos partidos e coligações concorrentes. O mesmo texto diz que Ismael Mateus defendeu que é obrigatória a igualdade. Só quem nunca entrou numa Redacção da Imprensa e do Audiovisual (para trabalhar…) pode defender semelhante enormidade. Não é possível andar com um linómetro (regreta) na mão ou a contar os caracteres das peças referentes a cada partido concorrente. Tal como é impossível andar de cronómetro na mão medindo os segundos o material partidário.

Além do problema físico, temos o problema editorial. Um partido promove num dia 20 activicdades. E outro não promove nenhuma. O que fazem os editores? Atiram para o lixo o material do partido que trabalhou porque outro partido não fez nada? Impossível. Isso não é igualdade. É imbecilidade, Incompetência profissional. Demagogia batata.

Os conteúdos também contam e muito. Um partido junta 100 000 eleitores num comício e o seu líder anuncia que se ganhar as eleições vai atribuir uma “Bolsa Família” a quem viver abaixo do limiar da pobreza. Garante habitação social a todas as famílias que vivem em tugúrios. Garante rendimento mensal mínimo a todas e todos os idosos. Atribui 20 por cento do Orçamento Geral do Estado à Cultura. Vai dotar todas as comunas de escolas para o ensino pré-escolar, primário e secundário.

Outro partido faz um comício com 100 pessoas. O líder grita: Viva o Dr. Savimbi! O Nosso Galo Voa! Bruxas à Fogueira! Pauladas na cabeça aos generais que não me obedecem! Obrigado, maninhos! E vai embora para casa, contemplar o diploma de engenheiro, que tanto dinheiro dos diamantes de sangue lhe custou. 

As e os editores o que fazem para tratarem os dois partidos de forma igual? Claro, claro, como o partido que só disse viva o Dr. Savimbi, o máximo que tem é um parágrafo. O outro, que prometeu reformas profundas nas políticas socias e culturais, leva também um parágrafo e o resto vai para o boletim do Tani Narciso. Isto é de loucos. Mas sobretudo é próprio de quem não tem a menor noção do que é Jornalismo. Os aprendizes de feiticeiro são mais perigosos do que os feiticeiros. Porque estes dominam o processo. Os aprendizes podem agir desastradamente e rebentar-lhes a bomba nas mãos.

Só não percebe que a edição de mensagens informativas tem a ver com os conteúdos comunicacionais, quem pensa que jornalismo é bué de bocas ou escrever por encomenda dos donos, à sombra da mulemba. 

Os partidos e coligações candidatos às eleições partem todos do zero, no que diz respeito aos votos. É um facto. São todos iguais. Seguramente. Mas têm uma história diferente, uma prática política diferente, experiências diferentes, programas diferentes e percursos diferentes. Na campanha essas diferenças reflectem-se na produção de actividades e de conteúdos. Os jornalistas são mediadores entre o acontecimento e os consumidores, Não são megafones dos partidos políticos, sejam eles quais forem.

*Jornalista

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