sábado, 18 de junho de 2022

Angola quer exportar hidrogénio verde para a Alemanha

Consórcio entre Sonangol e as alemãs Gauff Engenharia e Conjuncta pretende produzir hidrogénio verde em Angola e exportar para a Alemanha a partir de 2024. Ministro angolano diz que petróleo não será esquecido.

A assinatura do memorando de entendimento entre a petrolífera estatal angolana Sonangol e as alemãs Gauff Engenharia e a empresa de consultoria Conjuncta marca o início da segunda fase do projeto de produção de hidrogénio verde na província angolana do Bengo.

Stefan Liebing, diretor-executivo da consultora Conjuncta, explica que "a ideia é produzir hidrogénio verde em Angola. O hidrogénio é, depois, transformado em amónia e levado para a Alemanha. Assim, o país importará pela primeira vez energia verde de África".

Para Liebing, o projeto tem potencial para suprir as novas necessidades energéticas da Alemanha. 

"Isso ajuda a Alemanha a mudar mais rapidamente para a energia verde e a se tornar independente do gás e da Rússia", argumenta.

Liebing diz ainda estar confiante na parceria com a petrolífera angolana e na sua atual gestão: "Vemos que os processos são muito profissionais lá. Os trabalhadores têm muita experiência com negócios internacionais com gás e petróleo, e acho importante valorizar quando uma das maiores petrolíferas de África diz que pretende, passo a passo, tornar-se mais forte no setor das energias renováveis".

Água em abundância

Há condições especialmente boas para a produção de hidrogénio em Angola, garante o diretor-geral da Gauff, Stefan Tavares Bollow. 

Para obter hidrogénio verde é preciso dividir a molécula da água, usando eletricidade limpa, separando o hidrogénio do oxigénio. E "Angola tem suficiente água limpa. Não é preciso dessalinizar a água do mar para ter a água que é necessária. Além disso, há muita energia renovável nas hidroelétricas e existe uma cooperação energética bilateral entre a Alemanha e Angola."

"E nós temos a Sonangol", acrescenta Tavares Bollow.

O projeto pretende produzir, por ano, 280 mil toneladas de amónia, um dos derivados do hidrogénio, a partir de 2024.

"Provavelmente, a construção só deve iniciar no ano que vem. Vamos entrar agora na fase da engenharia do projeto", revela o diretor-geral da Gauff.

Para Tavares Bollow , a grande vantagem "é que já existe um porto que será concluído em 2023, que a Sonangol está a construir".

"O local chama-se Barra do Dande, a norte de Luanda. Lá, vamos ter todas as condições reunidas para a exportação deste hidrogénio verde em forma de amónia," avalia.

Sustentabilidade

Uma delegação angolana liderada pelo ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, Diamantino Pedro Azevedo, deslocou-se a Berlim para o evento.

O presidente da Sonangol, Sebastião Gaspar Martins, enfatizou o aspeto sustentável do novo produto de exportação de Angola: "O hidrogénio que, à partida, provém de uma fonte de energia hídrica, que não é poluente".

O ministro Diamantino Azevedo destacou a importância do projeto para que Angola faça a transição energética, atinja as suas metas climáticas e não só.

"Foi aqui revelado que Angola tem um grande potencial para o desenvolvimento de projetos de hidrogénio e também possui infraestruturas que permitam podermos desenvolver o projeto com alguma rapidez e com qualidade. Isso faz com que posicionemos esse projeto como muito importante e, quiçá, no futuro, sermos uma potência a nível de know-how para a produção de hidrogénio verde," vincou.

O ministro disse estar certo da capacidade da Sonangol para produzir hidrogénio verde.

"Se a Sonangol cumprir a orientação que o Governo deu, tendo em conta toda a experiência, o capital humano, as infraestruturas que possui e a boa parceria que está a encetar neste ramo, tenho a certeza absoluta que será possível," garantiu.

Entretanto, Diamantino Azevedo fez questão de destacar que, apesar dos investimentos em energias limpas, Angola não irá abandonar o petróleo.

Cristiane Vieira Teixeira (Berlim) | Deutsche Welle

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