Artur Queiroz*, Luanda
“Cuando yo vine a este mundo/nadie me estava esperando/así mi dolor profundo/se me alivia caminhando/pues cuando vine a este mundo/te digo/nadie me estaba esperando”. Estes versos de um “son” cubano são assinados por Nicolás Guillén. Os livros dizem que ele era cubano. Mas eu sei que voou de Angola para o mundo e de vez em quando bebia um trago na bodeguita Hermanos Hernandez, pertinho do porto de Havana. Um dia passou pelo Mississipi e lá chorou o linchamento de um menino negro, porque perfumou uma menina branca com pétalas de rosas em botão.
Uma tarde de maresia suave e com o sol pintando de vermelho o mundo para lá da Fortaleza de Havana perguntei-lhe: Mestre, para quando o reencontro? Angola te espera. E ele respondeu com uma trova sonoramente triste. Quando vim ao mundo, ninguém me esperava. Essa dor profunda só alivia, caminhando. Lá estarei um dia.
Nunca se reencontrou com nossas praias, as nossas montanhas, as nossas colinas verdes que de tão verdes se tornaram impenetráveis, as nossas chanas, os nossos rios do Bero ao Zaire. Eleguá abriu os caminhos caminhados por Guillén. Mas para abri-los, quantos sonhos matou! Quantas mariposas assassinadas e despojadas de suas asas coloridas. São assim os deuses dialécticos.
Nós somos de Angola, Mussunda amigo. Sabes bem que nossos filhos nascem acompanhados, desde 11 de Novembro de 1975. Seja qual for o caminho escolhido têm a companhia do nosso MPLA. É mais do que um movimento de libertação. Muito mais do que um partido. Muitíssimo mais do que um instrumento de poder no cruel desengano da democracia representativa. É a nossa vida, o nosso chão, a nossa bandeira, a nossa escola, o nosso lar.
Onde estava Gentil Viana e seu pançudo filho Francisco, quando os combatentes do MPLA morriam na Frente Norte e na Frente Leste na luta pela Independência Nacional? Em lugar nenhum da nossa Pátria. Andavam à procura de companhia que lhes pagasse os 30 dinheiros da traição. E como conseguiram!
Onde estavam os traidores do Bloco Democrático quando milhares der angolanas e angolanos se batiam de armas na mão contra os exércitos invasores, os mercenários, os oficiais da CIA, o Exército de Libertação de Portugal (ELP) do coronel nazi Santos e Castro? Em lugar nenhum das nossas cidades a sangrar, vilas arrasadas e aldeias em luto pesado.
E em 1992, quem comemorou a vitória do MPLA nas primeiras eleições multipartidárias? Fomos nós, que quando nascemos tínhamos à espera milhares de camaradas, armas aperradas, pegaram-nos nas mãos e levaram-nos pelos caminhos da liberdade. Os outros todos foram beijar a mão ao Savimbi no seu refúgio do Huambo. Um desses traidores chama-se Justino Pinto de Andrade.
E tu, António Alberto Neto, também foste! E quando a UNITA tentou tomar o poder pela força nas ruas de Luanda, juntaste-te aos golpistas. Foste preso, na rua, ali no Bairro de Alvalade, com as mãos na massa. E perdoado. Porque o MPLA gosta de perdoar, mesmo aos traidores. O Pinto João também apanhou essa boleia rumo à traição.
Os combatentes do MPLA pagaram 99 por cento da conta na luta armada de libertação nacional. Onde estavam todos os outros? Eu digo. Os da FNLA vivendo dos dólares da CIA e dos francos do Mobutu. O Daniel Chipenda fazendo o seu papel de agente duplo até à “revolta” do Leste. Os da Revolta Activa queriam parar a guerrilha e fazer um congresso onde apresentariam as suas teses. Os maoistas do Filomeno Vieira Lopes mostravam o seu fervor revolucionário, o seu amor à Pátria Angolana murmurando baixinho Viva o Camarada Mao ou escrevendo a frase nas paredes. Não valiam nada. E quando começaram a fazer algo de útil, vieram de lá os revisionistas do Nito Aves e acabou tudo. Pensavam que eram alguém fora das fileiras do MPLA. Foi tudo e foram todos para o caixote do lixo da História.
Querem mais? Em 1967, Jonas Savimbi lançou o seu primeiro assalto às forças do MPLA que se batiam pela Independência Nacional. Entrou na Frente da PIDE com a UNITA (FPU), Os nossos comandantes da Frente Leste ainda vivos deviam ir todos os dias à Rádio Nacional e à TPA explicar os estragos que essa coligação fez na luta armada de libertação Nacional.
A UNITA foi reconhecida como movimento de libertação em Dezembro de 1974, quando já não havia nada para libertar. O MPLA com Agostinho Neto e o MFA com Otelo Saraiva de Carvalho tinham libertado tudo.
Durante as conversações de Mombaça, surgiu nova aliança de traição, FNLA Poder Branco e UNITA (FPU). Os defensores da independência branca foram para a cimeira do Alvor integrados nas delegações de Holden Roberto e Jonas Savimbi. Pouco tempo antes, tinham sido expulsos de Angola pelo almirante Rosa Coutinho, por sabotarem o processo de descolonização. Por terem armado os esquadrões da morte que assassinavam os indefesos moradores dos musseques de Luanda. Quem defendeu o povo em perigo? O MPLA. Os militantes do MPLA. Os jovens que prestavam serviço militar obrigatório nas forças armadas portuguesas e saíram das fileiras para integrarem os grupos armados do MPLA.
Quem enfrentou os exércitos do
Zaire de Mobutu e da África do Sul do regime de apartheid, entre o 25 de Abril
de 1974 e Março de 1976? As Forças Armadas Populares de Libertação de Angola,
braço armado do MPLA antes da independência e exército nacional após o dia 11
de Novembro de 1975. Perguntem aos nossos comandantes dessa época se tínhamos
muitos combatentes. Nada. Os da UNITA reforçaram as tropas invasoras do regime
racista da África do Sul. Os da FNLA escondiam-se atrás dos mercenários, do E
LP ed das tropas zairenses. Os que hoje pertencem ao Bloco Democrático
fecharam-se
Onde estavas tu, Justino Pinto de Andrade, quando as FAPLA enfrentaram as tropas invasoras da África do Sul em Quilengues, Chongorói, Catengue, Benguela, Lobito, Sumbe e no Ebo? Onde estavas tu, Filomeno Vieira Lopes, quando as FAPLA enfrentaram os invasores Zairenses no Ntó, em Kifangondo, no Luena? Os vossos parceiros de esquina, Adalberto e Chivukuvuku, sabemos onde estavam. Ao lado dos racistas sul-africanos, assassinando angolanas e angolanos indefesos. Os assassinos e os traidores cobardolas encontraram-se agora na Frente Podre da UNITA (FPU). Mais os drogados e oportunistas “revus”. Mas esses são mais baratinhos. Contentam-se com a dose diária de droga.
A galinácea Mihaela Webba diz que o MPLA é dos quimbundos. Pobre UNITA que agora também está nas mãos deles. A Webba é quimbunda. O Filomeno Vieira Lopes é quimbundo. O Justino Pinto de Andrade é quimbundo mas a atirar para o gringo. Os 12 membros do Bloco Democrático incluídos nas listas do Galo Negro são quimbundos. O Chivukuvuku, em 1992, vendeu ao governo as posições e os planos bélicos do Jonas Savimbi. Nem quimbundo nem umbundo, é simplesmente traidor e apátrida.
Eu vi a festa do povo do MPLA em
Cabinda, Mbanza Congo, Luanda, Huambo, Ondjiva e agora
Enquanto aquela multidão em Saurimo se manifestava pelo MPLA, onde estava a UNITA? Em lado nenhum. O líder passa a vida contando dinheiro e guardando a massa no cofre. Não tem tempo para se juntar ao povo. E agora, jornalistas que entraram para a profissão pela porta do cavalo quando não chegam sequer aos cascos dos burros, vão dizer o quê? O costume. Os Media públicos não cobrem as acções de campanha da Oposição. Mas como, se elas não existem? Parem com as pressões.
Um amigo advogado a quem mandei o resumo do relatório do Executivo durante mandato que agora finda, enviou-me de resposta esta mensagem: “Continuo à espera que a proposta de Lei sobre o acesso ao Direito e aos Tribunais seja aprovada, por se tratar de um imperativo constitucional que o Estado Angolano não respeita nem cumpre!”
Meu caro, o relatório não faz justiça à Justiça. Peço-te um pouco mais de paciência. O ministro da Injustiça e dos Atentados aos Direitos Humanos é um engano de alma que a fortuna não deixa durar muito. É um trágico erro de escolha. Esse depois de 24 de Agosto vai para a UNITA ajudar o Adalberto nos negócios. No próximo governo vamos mesmo ter um ministro (ou ministra) da Justiça e não um sinistro comerciante de ossadas. Esse problema fica resolvido. Juro-te pela fé de quem sou!
*Jornalista
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