A organização da passeata de motoqueiros para "enaltecer" o PR, na abertura da campanha eleitoral em Luanda, garante que as promessas de gratificação foram cumpridas e aponta "infiltrados" como causadores dos distúrbios.
No passado sábado (23.07), cerca de 14 mil motoqueiros foram recrutados para uma passeata em Luanda, a fim de "enaltecer os feitos do Presidente João Lourenço", uma iniciativa que acabou por ficar marcada por distúrbios em vários pontos da cidade, incluindo a zona turística da Ilha do Cabo e as proximidades da Cidade Alta, junto do Tribunal de Justiça, de elevada segurança.
Pelo menos uma viatura foi
incendiada por motoqueiros enfurecidos que, em vídeos que circularam nas redes
sociais, queimaram também material de propaganda com a efígie do Presidente da
República, reclamando o pagamento de 10.000 kwanzas (cerca de 30 euros) que lhes
teriam sido prometidos para se juntarem à passeata, que aconteceu no mesmo dia
Em declarações à Lusa, Wankana Oliveira, secretário para a informação da Associação de Jovens Unidos e Solidários (AJUS), confirmou que os coordenadores das "placas" (local onde se juntam os taxistas e mototaxistas) prometeram gratificações aos participantes, cujo valor não quis revelar, nomeadamente para pagar o combustível.
Segundo Wankana Oliveira, os promotores, que já tinham organizado passeatas semelhantes, ficaram surpreendidos com a elevada adesão, mas não ficou em causa o cumprimento das promessas.
"Muitos motoqueiros aderiram porque sabem quem está na organização e as pessoas sabem que (Mário Durão, presidente da AJUS) é uma pessoa séria e que cumpre com as suas obrigações", disse.
Questionado sobre os motivos que levaram os participantes a revoltarem-se, considerou haver um "aproveitamento político" da situação que terá sido levado a cabo por algumas pessoas "devidamente infiltradas e orientadas".
"Algumas pessoas decidiram sair [do cortejo] e foram fazer desmandos, não teve nada a ver com o facto de não haver gratificação", garantiu o responsável da AJUS.
Admitindo ser militante do MPLA -- tal como Mário Durão -- Wankana Oliveira rejeitou, no entanto, associar a passeata ao partido, salientando que a AJUS "também tem militantes da UNITA [União Nacional para a Independência Total de Angola, oposição]".
Reiterou que a passeata serviu para "enaltecer os feitos do Presidente, e não do MPLA", embora tenham dado a conhecer a realização da mesma às estruturas provinciais do partido.
Polícia ainda não se manifestou sobre o caso
Devido aos distúrbios, os responsáveis da AJUS foram chamados pelas autoridades para prestar esclarecimentos logo no sábado, já que a polícia está a investigar os incidentes, adiantou Wankana Oliveira.
Informações que não foi possível confirmar até ao momento junto de fonte oficial dão conta da existência de, pelo menos dois mortos, alguns feridos e detenções durante as horas de caos que se viveram no sábado à tarde em Luanda e que provocaram um enorme congestionamento na cidade, obrigando à intervenção policial.
O comando provincial de Luanda optou por ignorar o caso, não tendo até agora comunicado nada sobre os incidentes, nem respondido às tentativas de contacto feitas pela agência Lusa.
A Lusa procurou também ouvir os responsáveis do MPLA para a informação, sem sucesso até ao momento.
Associação de motoqueiros demarca-se da passeata
Por seu turno, a Associação de Motoqueiros e Transportadores de Angola (Amotrang) demarcou-se da passeata.
Segundo o responsável Bento Rafael, "a Amotrang diretamente não fez parte do ato, mas temos associados, que em função da oferta feita, participaram, convocados pela Associação dos Jovens Solidários Unidos, a partir dos seus locais de trabalho".
O responsável disse não ter informações sobre o registo de feridos ou mortos entre os seus associados.
O passado sábado marcou o arranque da campanha eleitoral para as eleições gerais de 24 de agosto, com os principais partidos (MPLA, no poder, e UNITA, na oposição) a dar o pontapé de saída organizando megacomícios, com milhares de militantes e simpatizantes, em Luanda e Benguela, respetivamente.
Deutsche Welle | Lusa
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