Noutros tempos e atualmente. Podia ser assim o inicio do Expresso Curto de hoje. É que noutros tempos também havia fogos por todo o país. E então também era verdade que os bombeiros não possuíam as unidades de combate aos fogos tão modernas e sofisticadas. Então Portugal era como uma aldeia e as cidades eram da dimensão de aldeias ou pouco mais. Era o Portugal de antigamente com o poder ditatorial e bacoco de antigamente regido pelo ditador Salazar com os seus caciques (muitos pertencentes à tenebrosa colaboração com a PIDE – polícia política). Não havia tantos fogos que pusesse constantemente Portugal a arder? Pois não. Havia mais e melhor limpeza das matas, lenha que servia para cozinhar e aquecer as casas no inverno… Eram outros tempos, ainda de maior miséria mas mais ligada à natureza e ao que ela dava aos povos. Simbiose quase perfeita.
O tema é o mesmo de sempre no verão: Portugal a arder. A desertificação é rainha das terras do nada e quase sem ninguém. Foge tudo para o estrangeiro e para as grandes cidades. Já ninguém quer ser parolo nem provinciano. Contudo esses e essas andam por aí… nas grandes cidades do país ou a serem explorados até aos ossos e respetivo tutano lá pelo estrageiro em troca de um boião de mel mal coado e de horas infindas de trabalho. Sacrifícios para melhorarem as suas vivências e a das famílias. Somos uns parolos, uns emigrantes por condenação se queremos possuir uma casita e um terreno que até pode ser devastado pelo fogo. É o Portugal de agora. Com exibições de riqueza fictícia para amigos e vizinhos verem. Qualquer coisa é melhor que Portugal porque "eles" continuam a comer tudo. Ganha-se mais, trabalha-se imenso mas vê-se alguma coisita de dinheirinhos aforrados. Culpa deles não. Culpa da Pátria Madrasta onde governantes e políticos das ilhargas junto com negreiros (empresários) do esclavagismo continuam a instituir o esclavagismo subhumano de mãos dadas com políticos. Os Salazares estão aí na atualidade, os PIDES foram embora por serem desnecessários numa população muitíssimo mansa e hipnotizada que agora nem se vale da cachaporra quando está indignada. Não se revolta com nada nem com as misérias que a assolam. Aquiesce, está dominada, adormecida. Fala de futebol – o ópio do povo – e das telenovelas de facto e das que os jornalistas criam para distração… A campanha da acção psicosocial é cadeira das universidades, só que tem outro nome.
Basta de falar aqui do país dos carneirinhos, do rebanho luso que na maior parte dos casos já nem bale, vai, anda, caminha às ordens e diz que “é a vida”. Não, isto não é a vida mas sim a negação da vida. Decente, digna. O que todos os povos merecem. E deviam ter direito A Constituição diz isso... Ora, ora, a Constituição já foi. Adiante.
O Curto vem a seguir pela lavra de Eunice Lourenço. Aborda vários temas. Uns de interesse outros bem por isso. São palha – como se dizia antigamente. Ruminemos, aquiesçamos, sejamos felizes com um novo telemóvel e uns Nike com brinde de uns óculos escuros ambos produto de trabalho infantil no Bangladesh ou de outros países mais miseráveis ainda… Interiorizemos que Portugal possui uns políticos que se safam na maior na sua viduxa, são uns safardanas e consequentemente uns merdas… Como não há melhor, nem por dentro nem por fora, os portugueses seguem as suas loas e votam neles até para maiorias. É só pedirem.
Bom dia. Boa semana… Não sabemos como mas é estatutário da boa convivência miserável dizer assim. Cuidem-se. Abram os olhos mulas. Também se dizia assim antigamente.
Paz, pão, saúde, educação – canta Sérgio Godinho. Conhecem? Exigem? Têm? Não! E até falam de segurança, nas aldeias. Nas vilas. Nas cidades. No país. Na vida. Pois. Mas, afinal, só falam. Não a têm. Não a temos.
Avance para o Curto. Pense. Está na hora. Não dói nada.
MM | PG
A SUA ALDEIA ESTÁ SEGURA?
Eunice Lourenço | Expresso
Bom dia, este é seu o Expresso Curto
No início dos anos 80 do século passado, teria eu uns 8 anos, a minha serra ardeu. Foi um verão quente, com noite de janelas abertas e sirenes a cruzar o silêncio. O meu pai, por esses dias, não tirava de cima da camioneta o motor e os latões de água com que todos os sábados costumava encher o depósito que tínhamos no sótão (naquele tempo a minha aldeia ainda não tinha água canalizada). O meu vizinho da frente tinha o cuidado de deixar a roupa pronta a vestir antes de deitar. E assim que ouviam os carros dos bombeiros iam ajudá-los.
Passados 40 anos, no verão de 2012, num bonito fim de tarde de julho, estava a entrar na minha aldeia e comentei para a minha mão como é bonito o nosso vale. “Mas a nossa serra nunca mais foi a mesma”, lamentou a minha mãe. A serra ficou “careca”, há locais que nunca recuperaram do grande incêndio do século passado; outros ainda tentam recuperar de uma semana de incêndios em 2003, em que até estivemos sem água durante vários dias e em que várias noites ao aproximar-me de casa vinham-me as lágrimas aos olhos quando entrava na reta da “Cova do Pinhal” e começava a ver o clarão que iluminava a noite do campo.
Felizmente o fogo nunca desceu à aldeia, mas quando construi a minha casa preocupei-me em ter pontos de água na rua de forma a poder molhá-la. Bem sei que em caso de incêndio, posso nem sequer ter água. Por isso, é importante cada um pensar em planos de contingência e saber o que deve fazer.
Em 2017, dois relatórios – um da Comissão Técnica Independente, outro do grupo liderado por Domingos Xavier Viegas, coordenador do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra – alertaram que as condições em que ocorreu a tragédia de Pedrogão podem repetir-se, pelo que “importa por isso preparar o país para um tal cenário e evitar uma tragédia semelhante, que tem potencial de ocorrer em várias outras regiões de Portugal”. Como acabaria por acontecer em outubro daquele ano.
O primeiro-ministro ontem foi para o terreno e tem vindo a colocar a tónica na responsabilidade individual. "Só não há incêndios se a mãozinha humana não provocar incêndios. Portanto, aquilo que temos que fazer é mesmo evitar o incêndio", disse António Costa que Garante que o país está "mais bem preparado", mas lançou a necessidade de ajustes na concentração de motos de Faro e no Festival Super Bock Super Rock. A Câmara de Sesimbra já veio remeter as decisões para o Governo e para a Proteção Civil. A oposição critica o Governo por não ter feito o suficiente em termos de prevenção. E o PSD, que teve ontem a sua primeira reunião da comissão política da era Montenegro, diz que a responsabilidade não pode ser colocada apenas nos cidadãos e tenta já tirar dividendos da visita do novo líder a Pedrógão.
Nesta terça-feira em que todo o país está em alerta máximo. temos todos de ter cuidado com a "mãozinha humana". Mas o estado de prontidão de meios será determinante pois, como alerta António Nunes, presidente da Liga dos Bombeiros, a resposta tem de ser imediata a qualquer foco de incêndio. "Não podemos ter incêndios de grandes dimensões, incêndios que escapem à primeira segunda hora são incontroláveis", disse esta noite na SIC.
Outras notícias
- Pobreza covid. Já se sabia que os mais pobres tinham sido mais afetados pela Covid. A situação na Grande Lisboa no verão de 2020, onde foram necessárias medidas dedicadas a conter surtos em bairros com más condições e em que a população tinha dificuldade em cumprir os isolamentos porque tinha de trabalhar para comer foi bem prova disso. E agora um estudo da DGS, junto com o ISPUP e o INSA, prova que a situação socioeconómica das famílias determinou a probabilidade de infeção. O Paulo Baldaia e a Joana Ascensão conversam aqui sobre este estudo
- Chumbo a matemática. A média dos exames de matemática do 9º ano foi negativa. Já a dos exames de Português foi positiva. Estas notas não contam para a nota final dos alunos, mas o Ministério considera-as importantes para ajustes pedagógicos.
- O PRR dos grandes. Será a chamada “bazuca” uma galinha de ovos de ouro para as grandes empresas? A Joana Nunes Mateus explica porque esta é uma oportunidade que os grandes estão a aproveitar e também conta como Espanha está a usar o PRR para transformar a economia e reforçar a autonomia estratégica europeia.
- Fica para setembro. Ainda não foi desta que João Leão foi eleito para liderar o Mecanismo Europeu de Estabilidade. O candidato italiano saiu da corrida, o ex-ministro português até teve uma boa votação, mas ficou longe dos 80 por cento necessários.
- Também será em setembro o anúncio do vencedor, mas a corrida à sucessão de Boris Johnson começa hoje. O Pedro Cordeiro explica as regras para esta eleição que já tem 12 candidatos.
- III Guerra Mundial. O Papa voltou a usar uma expressão que já tem usado nos últimos anos para definir o estado do mundo. "Há anos que vivemos a Terceira Guerra Mundial aos bocadinhos, em capítulos, com guerras por todo o lado, embora a guerra na Ucrânia nos toque mais de perto", disse Francisco numa entrevista. Pode acompanhar aqui os últimos desenvolvimentos da Guerra na Ucrãnia.
- Duas histórias de superação: a da jogadora do Chelsea e da seleção inglesa Fran Kirby, que recuperou da morte da mãe e de uma pericardite; e a de Mo Farah, um dos grandes campeões da história do atletismo, que fugiu da guerra e se libertou da escravidão e usa a sua história para combater o tráfico de seres humanos.
A frase
“Sem a liberdade, a liberdade no pensamento, a liberdade na ação, a liberdade na palavra, a liberdade na escolha e no controle daqueles que nos representam, não se respeita cada uma e todas as pessoas, mas sem os direitos, a saúde, a educação, a solidariedade social, à não condenação à pobreza, não há verdadeira liberdade”
Marcelo Rebelo de Sousa, na cerimónia evocativa do 190º aniversário da Entrada no Porto do Exército Liberal.
O que ando a ler
Uma das minha fixações são as guerras napoleónicas, sobretudo na sua vertente de Guerra Peninsular. O espanhol Arturo Peres-Reverte tem vários livros sobre esses anos que marcaram a Península e moldaram muito do que somos hoje. Do empolgante Dias de Cólera, ao trágico, mas divertido A Sombra da Águia ou ao muito triste O Hussardo.
Por cá, o ex-diretor da Polícia Judiciária José Marques Vidal publicou dois romances sobre esse período histórico. E Domingos Amaral lançou este ano “As sete Marias que matavam franceses”, que estou a ler e é uma sequela de “Napoleão vem aí”, que li numa noite no ano passado. Com mais ou menos romance, são livros que nos levam a conhecer ou a despertar para anos de horror e empobrecimento, muitas vezes esquecidos ou nem sequer estudados nas aulas de História. E quiser saber mais sobre este período da nossa história, recomendo uma visita ao Centro de Interpretação da Batalha do Vimeiro, um local pequeno, mas muito bem estruturado e com a impactante vista para a “Lagoa de Sangue”, os campos assim chamados para lembrar aquele episódio sangrento que colocou fim à primeira invasão francesa e mostrou à Europa que as tropas de Napoleão eram vencíveis.
Podcasts a não perder
Cristina Ataíde: “O que me interessa é olhar para tudo com muita atenção” A artista plástica Cristina Ataíde é a entrevistada desta semana do podcast As Mulheres Não Existem, da autoria de Carla Quevedo e Matilde Torres Pereira, que falam também da vida e obra da escultora britânica Cornelia Parker e da Bienal de Veneza mais feminina de sempre. Nas recomendações, destaque para a exposição de Parker na Tate Britain e para a filósofa Agnes Callard
Especial José Eduardo dos Santos: “Eduardo dos Santos foi o engenheiro do poder opaco em Angola” Na morte de José Eduardo dos Santos, um dos presidentes com maior longevidade do mundo, uma conversa com Nuno Vidal sobre quem foi e como moldou Angola nos 38 anos em que lhe presidiu, neste podcast África Agora especial conduzido por Cristina Peres
Leonardo Del Vecchio, o barão da Luxxottica, a maior empresa de ótica do mundo (1935-2022) Leonardo Del Vecchio foi o barão da Luxxottica, conglomerado de ótica dono de marcas como Ray-Ban, Oakley ou Sunglass Hut. Faleceu recentemente e deixou um império gigante. Oiça a sua história neste obituário escrito e narrado por António Araújo neste podcast Desastres Naturais
Mantenha-se informado, hidratado e fresco, recomenda a DGS no fim dos seus conselhos para o calor e recomenda o seu Expresso Curto de hoje. Que também alerta para a necessidade de ter cuidado ao refrescar-se nos banhos de mar e de rio: este ano já morreram 68 pessoas em meio aquático, quase todas em áreas não vigiadas.
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