sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Angola | O PRÉMIO INTERNACIONAL DO JAQUELINO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O Jornalismo Angolano já foi a expressão máxima da Imprensa de Língua Portuguesa. A Rádio Angolana foi a primeira entre os povos que falam português, inclusive o Brasil. Nos anos 60 atingiu a expressão suprema. Profissionais de excepcional qualidade conseguiram esse feito. Nomes de alguns: Maria Cleofé, Maria Natália Bispo, Minah Jardim, Sara Chaves, Concha de Mascarenhas, Alice Cruz, Ruth Soares, Maria Dinah, Luísa Fançony, Humberto Mergulhão, Norberto de Castro,  Artur Peres, Santos e Sousa, Mesquita Lemos, Rui Romano, Brandão Lucas, Horácio da Fonseca, Sebastião Coelho ou Francisco Simons.  Peço desculpa aos que não cito e são igualmente grandes.

Os técnicos de som eram ainda melhores. Vou só salientar os meus amigos: Artur Neves, Zé Maria (aprendi tanto contigo, feiticeiro do som!) e João Canedo. Eles faziam da Rádio o espectáculo mais belo do mundo. A cobertura da Emissora Oficial de Angola (RNA) à Cimeira do Alvor tinha na técnica o Humberto Jorge, um dos jovens talentosos que surgiram em 1974. Francisco Simons e Horácio da Fonseca eram as vozes. Eu o realizador.

Após o 25 de Abril de 1974 criámos no Sindicato dos Jornalistas uma estrutura para formação permanente dos profissionais. Grandes figuras deram o seu contributo. Técnicas redactoriais e editoriais, Luciano Rocha e Castro Lopo. História do Jornalismo Angolano, Bobela Mota. Direito da Comunicação, Maria do Carmo Medina. Realização e Produção Radiofónica, Horácio da Fonseca. Televisão ainda não existia. 

Um dia o Ministério da Comunicação Social decidiu criar uma Escola Superior de Jornalismo. A comissão instaladora era constituída por Gabriela Antunes, professora de Inglês e Alemão. Colaborava no programa Resistência, do António Cardoso. Sebastião Coelho, o papa da Rádio. E Francisco Simons.  

Lamentavelmente a escola superior nunca existiu. Mas mais tarde foi criado o curso médio de Jornalismo, um equívoco que ainda hoje marca negativamente o Jornalismo Angolano. Os Jornalistas são os quadros superiores mais valiosos numa empresa de comunicação social. Não podem ser formados em escolas médias. 

A Emissora Oficial de Angola continuou a ser uma escola como dantes. Quem entrava, aprendia fazendo. Ao longo dos anos, a Rádio Nacional de Angola tornou-se uma escola de grande valia e na gerência de Agostinho Vieira Lopes foi criada uma escola mesmo, nas instalações do Rádio Clube de Angola.

O Jornal de Angola funcionou igualmente como escola onde os jovens candidatos a Jornalistas aprendiam fazendo. Uma preciosidade que teve bons mestres. Quem iniciava a profissão aprendia produzindo notícias, reportagens e entrevistas. Aprendiam a gerir o espaço e a construir o edifício gráfico. Aprendiam técnicas de edição. Na direcção de José Ribeiro foi criado o Gabinete de Formação Permanente. Nessa fase iniciaram a profissão, algumas e alguns dos melhores jornalistas de Angola.  

Hoje, gente sem qualquer qualificação atreve-se a dar opinião sobre o trabalho das e dos profissionais do Jornal de Angola, da Rádio Nacional e da TPA. É o grande mal nacional. Todos sabem tudo de conversa. Mas na realidade não sabem nada de nada. O poder político também dá uma ajuda esbanjando jornalistas de alto valor em gabinetes ministeriais ou nas embaixadas. José Ribeiro, indubitavelmente o quadro mais valioso do Jornalismo Angolano, desapareceu do activo quando ainda tem imenso para dar, atendendo à sua enorme qualidade.  

 Na cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC ou SADEC) foram divulgados os nomes dos jornalistas mais destacados, escolhidos entre os países membros. Aristides Kito é o grande vencedor da categoria de Rádio. Um produto da fabulosa escola da Rádio Nacional de Angola. Como colaborei activamente nesse espaço de formação, sinto-me premiado. E estou grato ao meu colega que tanto honrou a Rádio Angolana.

 Cândido Calombe foi o jornalista dos países da SADC (ou SADEC) que venceu na categoria de Televisão. Parabéns. Espero que outras e outros profissionais sigam o seu exemplo. Ainda que não seja fácil chegar muito longe, porque quem está aos comandos é francamente débil profissionalmente. Mas melhores hão-de vir.

Jaquelino Figueiredo ficou em segundo lugar na categoria de Imprensa. Conheço bem este jornalista. Participou activamente nas acções do Gabinete de Formação Permanente do Jornal de Angola. É jornalista da Redacção do Zaire. As Redacções Provinciais foram agrupadas segundo as suas capacidades em recursos humanos. 

Cuando Cubango, Cabinda, Uíje, Cuanza Norte e Zaire eram as mais valiosas. Praticamente ao mesmo nível estavas as Redacções da Lunda Norte, Lunda Sul, Moxico, Huambo e Cuanza Sul. Todas as outras tinham imenso valor mas estavam abaixo destas. Jaquelino Figueiredo era um dos melhores repórteres na época. Finalmente o seu valor foi reconhecido a nível regional. Obrigado, Jaquelino, pelo prémio que nos deste. 

Os países da SADC (ou SADEC) responderam de uma forma eloquente aos ignorantes que ousam pôr em dúvida o nível dos jornalistas que trabalham nos Media do sector empresarial do Estado. Querem saber a melhor? O Sindicato dos Jornalistas felicitou os vencedores! O seu presidente, Teixeira Cândido, passa a vida reproduzindo o discurso dos accionistas da Sociedade Civil em consórcio com a UNITA, contra os profissionais e agora faz de conta que nunca os desonrou e insultou. 

Essa gente não sabe nada de nada. Algumas e alguns pensam que por alinharem umas palavras por sons e alturas já são jornalistas. Mal sabem escrever o nome e atrevem-se a qualificar o trabalho e a postura de quem dá o seu melhor nos Media públicos. A resposta está aí. Foi dada pelos mais altos dirigentes dos países da região.

*Jornalista

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