Artur Queiroz*, Luanda
O comício de encerramento do MPLA em Luanda juntou perto de um milhão de pessoas. É muito ou pouco? A CASA-CE, em 2017, teve pouco mais de 600 mil votos em todo o país e elegeu 16 deputados. A UNITA, partido que ficou em segundo lugar, averbou um milhão mais 700 mil votos a nível nacional o que deu cerca de 26 por cento e 51 deputados. Façam as contas e tirem as vossas conclusões. Tendo em conta que o MPLA teve quatro milhões mais 100 mil votos e elegeu 150 deputados, acima da barreira da maioria qualificada, que é 147 mandatos na Assembleia Nacional.
Quantas eleitoras e quantos
eleitores estavam com o MPLA e João Lourenço em Benguela, Lubango, Huambo,
Cuito, Menongue, Moçâmedes (Terra do Bero), Caxito, Uíge, Cabinda, Ondjiva,
Luena, Saurimo, Dundo, Mbanza Congo, Malanje, Ndalatando, Sumbe, por esse país
além? Fazendo as contas por baixo, mais de sete milhões. Mesmo que nem todos
vão às mesas e assembleias de voto no dia
A empregada da limpeza que a RTP mandou cobrir as nossas eleições, viciada no estilo da intriga que assaltou o Jornalismo Português, disse empolgada: “João Lourenço no comício de hoje ignorou o seu antecessor José Eduardo dos Santos e já sabia que os seus restos mortais estavam a caminho de Luanda”. Intrigalhada de uma básica sem estilo, sem vocabulário, sem escola e sem ofício.
A maka que estávamos com ela tinha a ver exactamente com a possibilidade de ser explorada a figura do anterior Presidente da República na campanha eleitoral. Felizmente, a direcção do MPLA e o seu cabeça de lista não caíram nessa armadilha. Nada de explorar a morte de um Herói Nacional, o grande Construtor de Angola, o Arquitecto da Paz, para ganhar votos.
Estão a ver por que razão o MPLA prima pela diferença? É que a UNITA explorou por interpostas pessoas – e de que maneira! – a morte do Presidente José Eduardo e o conflito daí decorrente. Mas o desfecho do caso mostrou que não há vitórias antecipadas. Embarcaram todas e todos num comboio que não vai sair da estação para lada nenhum.
A empregada da limpeza da RTP disse 100 vezes que chegaram a Luanda os “restos mortais de José Eduardo dos Santos”. Vamos por partes. Os critérios que suportam a mensagem informativa obrigam irredutivelmente todas e todos os jornalistas. Um deles é a isenção. Quando uma ou um jornalista fala ou escreve “restos mortais” está a violar gravemente as regras.
Essa expressão implica uma tomada de posição religiosa e ideológica o que é absolutamente proibido aos jornalistas, Falar de “restos mortais” de alguém, quer dizer que há uma parte imortal, conceito que suporta a crença de que existe vida para alem da morte. Uma coisa anacrónica, própria do tempo das cavernas. Já nem o bispo Imbamba acredita nisso. E jornalistas, mesmo que acreditem, não podem incluir as suas crenças na mensagem informativa. Quando o fazem, estão a violar um dos mais importantes critérios que suportam os conteúdos da mensagem informativa, a isenção.
Todos os canais portugueses primam pela falta de respeito pelo Presidente José Eduardo dos Santos. Mas a RTP foi mais longe. Um tal Vítor Ramalho, turista da Jamba e savimbista primário foi chamado a comentar a chegada da urna do anterior Chefe de Estado a Luanda. Ousou compará-lo a Mobutu e a Reza Palevi, o xá da Pérsia (Irão).
Intriguista como todos os savimbistas, o tachista misturou intriga com falta de respeito. Entre eles é doutor, engenheiro, professor, investigador, vossa excelência e tal. Do nosso lado é “o José Eduardo dos Santos, o João Lourenço, a Ana Paula dos Santos”.
O racismo dos esclavagistas e colonialistas é indisfarçável. E este come à custa das cidades capitais dos países de Língua Portuguesa. Portanto, também à nossa custa. Depois arrota uns disparates e falta ao respeito aos nossos líderes.
Estes miseráveis mentais falam
como se tivéssemos andado juntos na escola ou todos nos tivéssemos encontrado
na Jamba para traficar droga, diamantes e marfim. Como Angola é o país campeão
da liberdade de expressão (só eu é que sou censurado), até admitimos que os
colonialistas esclavagistas mandem analfabetas e analfabetos cobrir as eleições
A maka sobre o funeral do Presidente José Eduardo dos Santos nunca devia ter existido. Mas existiu e não vale a pena chorar sobre o leite derramado. Agora o Povo Angolano vai despedir-se do imortal construtor da Angola que temos, do Arquitecto da Paz, do campeão do perdão e da reconciliação.
Eu sou absolutamente contra o culto dos mortos. Mas em casos como este, ele justifica-se plenamente. Os milhões que votam no MPLA, depois de proclamados os resultados eleitorais, vão despedir-se do Comandante em Chefe que derrotou o regime racista de Pretória e pôs um grande ponto final na criminosa rebelião de Jonas Savimbi.
Agostinho Neto foi gigante. Guiou-nos até à Independência Nacional. José Eduardo dos Santos foi gigante. Comandou a Guerra pela Soberania e a Integridade Territorial. Lançou a Reconstrução Nacional depois de 2002.
Dificilmente a História de Angola vai registar líderes que igualem esses feitos. Mas isto não é uma competição entre gigantes. O importante é que o nosso líder actual e os futuros sejam dignos dos seus antecessores. Sob a bandeira do MPLA, isso está garantido. Vamos dar um funeral honroso e digno ao nosso líder imortal, agora que temos entre nós o seu corpo.
*Jornalista
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