Angola, como espinha de safio
atravessada na garganta dos neocolonialistas portugueses saudosos das roças em
que a escravatura imperava e em que os contratados nem pela nova classificação deixavam de ser escravos e negros roubados por trabalho obrigatório extenuante
e gratuito. E era ali que as suas “roupas” eram velhas sacas de ráfia, muitas
vezes ligeiramente compostas e cozidas por linhas compradas na tenda do dono da
roça que vendia essa mesma linha ao metro por um fortuna para aqueles
escravos-contratados-trabalhadores incansáveis mas comprovadamente esgotados.
Esses tempos foram, passaram à triste história, mas novos métodos são sempre
aplicados semelhantes e ditados pelo colonialismo agora misturado com um neo de
novo mas que bem sabemos que é velho. Assim é a vida em África assim como noutras
paragens. Quando assim não é apresentam-se forças que querem voltar ainda mais à
exploração desumana, de subsolos e de solos, de tudo o que lhes possa
proporcionar riqueza roubada. O espanto, nos tempos da atualidade, é vermos
jornalistas a assimilarem e até a acreditarem nas mentiras, nos logros pejados
de falsidades e de dispostos lacaios do asqueroso colonialismo que agora é neo
também. Esse, em Angola, chama-se oposição aos que com mão de ferro têm pugnado
pela independência e pela paz e por uma sociedade multicultural angolana que é
apoiada, felizmente, por maioria dos angolanos. Claro que isso não agrada aos
do grande capital e do desumano neocolonialismo que possibilita os roubos
desbragados. A CIA-EUA e etc, muitos desses estão agora em Angola no terreno, assim
como na comunicação social saudosista do colonialismo
O Curto do Expresso do senhor Balsemão Bilderberg a seguir. É bom de ler e pensar. Pensar sempre. Afinal a maioria da humanidade nunca quer que o tempo volte para trás. Pois não?
MM | PG
João Pedro Barros | Expresso (curto)
Bom dia,
Hoje é dia de reflexão em Angola, na véspera das eleições gerais que vão
decidir o futuro próximo: uma continuação no poder do MPLA, que governa o país
desde a independência, em 1975, ou uma rutura com o passado (representado em
grande parte pelo falecido Presidente José Eduardo dos Santos), que tem sido o
mote da campanha da UNITA.
As sondagens existem mas são pouco fiáveis: há quem assegure que o MPLA até
pode perder votos ou a maioria dos deputados à Assembleia Nacional (tem
atualmente 150 dos 220 assentos), mas que a máquina eleitoral do partido é
demasiado forte para um desaire completo; do outro lado, diz-se que é desta que
o descontentamento com a situação económica – especialmente por parte dos mais
jovens – vai permitir finalmente à UNITA (força dominante da Frente Patriótica
Unida) chegar ao poder.
João Lourenço (também conhecido por JLo) representa a “renovação na
continuidade”, Adalberto Costa Júnior diz que “a hora é agora” e promete, por
exemplo, a mudança da Constituição, a atribuição de autonomia a Cabinda e de um
salário mínimo de 150 mil kwanzas. Ontem, no último comício de campanha, acusou o MPLA de violações sistemáticas do processo eleitoral. Como
conta o saudoso Gustavo Costa, num notável último texto que parece
carregado de pessimismo, há crispação no ar “há meses” e “nenhuma das partes se mostra
disposta a aceitar o segundo lugar”.
Há dias, noticiava-se que vários sectores do Estado e empresas de maior
dimensão “nacionais e internacionais” optaram por antecipar o pagamento aos seus funcionários
até 19 de agosto. No Consulado de Portugal em Luanda, os pedidos de visto
de entrada têm batido recordes. Os multibancos de Luanda, agências
bancárias e armazéns dos “mamadus” [lojas de venda de produtos alimentares a
grosso e a retalho] têm registado enchentes, relatámos na sexta-feira.
Entretanto, personalidades da sociedade civil interpuseram no Tribunal Supremo
uma ação popular contra o Presidente João Lourenço e o MPLA, denunciando
repressão na cobertura eleitoral. A UNITA parece preparar uma espécie de
sistema de contagem de votos paralelo, para constituir “provas irrefutáveis
para um hipotético contencioso eleitoral”, admite o deputado Maurílio Luiele.
Escusado será dizer que a quase totalidade dos angolanos deseja um ato
eleitoral exemplar e a consolidação da democracia. E é verdade que um cenário
como de 1992 é impensável, quanto mais não seja porque agora só há armas de um
lado. Mas receiam-se atos que o próprio camarada Gustavo Costa apelidou de trumpismo: a
recusa pura e simples do escrutínio (cujos resultados devem ir chegando a
conta-gotas a partir de quinta-feira) e manifestações mais ou menos violentas.
Curiosamente, há um cenário parecido do outro lado do Atlântico: a
pré-campanha também está em curso no Brasil, com Lula da Silva, bem posicionado nas sondagens, a adotar já uma pose de
Estado numa conferência com a imprensa internacional,
Bolsonaro, o Presidente em funções, está a semear uma mensagem de desconfiança face aos resultados
eleitorais, tal qual como Donald Trump, do qual se assume fiel escudeiro: o
voto eletrónico e os conflitos com o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal
Superior Eleitoral são o rastilho, que pode detonar graças a um número
crescente de apoiantes armados e ao apoio do Exército. Há mais de um milhão de novas armas particulares desde 2019,
graças a mudanças legislativas aprovadas desde então, "com manifestações do Jair Bolsonaro no sentido de que a
população se deve armar para não se deixar escravizar”, sublinha José
Álvaro Moisés, cientista político da Universidade de São Paulo, ao Expresso.
O Presidente em funções, que tem pôr hábito falar apenas em meios de
comunicação que o apoiam ou em ambientes controlados, também saiu a jogo ontem: deu uma entrevista ao Jornal Nacional, da Globo, onde respondeu
à pergunta que se impunha: vai respeitar os resultados eleitorais? Sim,
"desde que as eleições sejam limpas e transparentes". E porque é
que alguns dos seus apoiantes falam numa intervenção militar? "Quando
alguns falam em fechar o Congresso, é liberdade de expressão deles. Eu não levo
para esse lado", afirmou. São respostas que deixam a porta aberta para
quase tudo.
Uma parte relevante do futuro da democracia no mundo decide-se em português,
nas próximas semanas. Que todas as nuvens negras que citamos sejam apenas
fumaça e que, em ambos os casos, o resultado final seja o progresso e a
diminuição das desigualdades.
OUTRAS NOTÍCIAS
Incêndios – O Governo decidiu não prolongar a situação de alerta, que
assim termina à meia-noite de hoje: a partir de amanhã prevê-se “um quadro
regular de verão”. O Estado de calamidade vai ser declarado na Serra da Estrela e,
esta madrugada, mais de 200 operacionais combatiam quatro fogos ativos, com
destaque para o de Rojão do Meio,
Seis meses de guerra – Iniciámos ontem a publicação de uma série de
artigos que fazem o ponto de situação do conflito entre Rússia e Ucrânia. No
plano económico, estes são oito choques que mudaram as nossas vidas;
politicamente, a UE uniu-se e "o mundo já não é multipolar", mas a
'velha' ordem internacional ainda não caiu; em entrevista, um especialista
britânico fala num desgaste das forças de Moscovo: “Um cessar-fogo rápido permitiria à Rússia alegar que obteve
sucesso. Não é aconselhável, se quisermos evitar uma Guerra Mundial”. Hoje
reúne-se virtualmente a Plataforma da Crimeia, um formato de internacional
lançado por Zelensky para coordenar a resposta à invasão e ocupação russas.
Assassinato da filha do "ideólogo" do Kremlin – Investigadores russos culpam Ucrânia, média estatais pedem
vingança, Putin enviou condolências.
Gás russo – Pela terceira vez desde que a guerra na Ucrânia começou, Portugal recebe esta manhã, em Sines, gás natural oriundo da
Rússia.
Chega – Mithá Ribeiro demite-se da vice-presidência depois de Ventura o
afastar do Gabinete de Estudos; partido quer um debate no Parlamento sobre os incêndios.
Ensino Superior – Instituições podem aumentar vagas no concurso de acesso,
face ao elevado número de candidatos na 1.ª fase.
ADSE – Com dois anos de atraso, cerca de 935 mil beneficiários vão ser chamados a escolher os representantes no Conselho Geral
e de Supervisão.
Desemprego – Número de beneficiários caiu em julho para o número mais baixo desde, pelo menos, 2006.
Champions League – Benfica recebe hoje (20h) o Dínamo de Kiev e tem tudo para carimbar o passaporte para a fase de grupos, apesar da
prudência de Roger Schmidt.
Estamos vivos – Manchester United bateu Liverpool por 2-1, Cristiano
Ronaldo entrou em campo a cinco minutos do fim.
Coldplay em Coimbra – Bilhetes são postos à venda esta quinta-feira, cada pessoa
só pode comprar seis.
FRASES
Num dia era o arquiteto de um condomínio de luxo do qual nenhum jogador queria
sair, no outro é um porteiro limitado a registar as entradas e saídas no livro
de ocorrências.
Bruno Vieira Amaral, escritor, sobre a situação de Rúben Amorim, treinador do Sporting, na
Tribuna Expresso.
O meu lema nesta campanha será fazer o ódio perder para o amor.
Lula da Silva, candidato à Presidência do Brasil, numa conferência para a imprensa estrangeira, em São Paulo.
Nós compramos mais de 500 milhões de doses de vacina, só não se vacinou quem
não quis. Comprada por mim e em tempo bem mais rápido do que em outros países
Jair Bolsonaro, Presidente do Brasil e candidato a novo mandato, numa entrevista à TV Globo
O QUE EU ANDO A LER
Eu, nostálgico, me confesso: os anos 90 exercem um fascínio extra sobre mim.
Foi a década da minha adolescência, em que formei boa parte dos meus gostos.
Vivi o meu primeiro Mundial de futebol – e ainda hoje sou capaz de dizer
equipas completas do EUA 1994 –, comprei os meus primeiros CD, fui pelas
primeiras vezes ao cinema ver o que queria, entusiasmei-me com o aparecimento
da televisão privada. Para além disso, é uma década que ganhou um brilho
especial: os grandes problemas dos anos 90 parecem hoje brincadeira de criança
e o mundo parecia destinado a um fim de história feliz, com uma vaga de
democracia e liberalismo avassaladora. Desde 11 de setembro de 2001 que
percebemos que nada disto é verdade.
Talvez tenha sido esta nostalgia
inconsciente que, ao procurar uma leitura de verão na minha secção de livros
por ler, me tenha levado a “Come as You Are: The Story of Nirvana”, de Michael Azerrad
(Broadway Books, 1993). É um dos mais relevantes livros escritos sobre os
Nirvana, pedi-o de prenda há dois ou três anos e leio-o com cerca de 30 de
atraso, mas está a ser uma bela viagem à história de uma banda que, sem querer
mudar nada, mudou quase tudo na indústria e na mente de qualquer miúdo que
começava a ensaiar com amigos na garagem de casa.
Michael Azerrad estabeleceu uma relação de amizade com os membros do trio, por
isso o livro é bastante simpático para com Cobain, Novoselic e Grohl, apesar da
descrição crua do uso de drogas e das pressões que uma banda no centro do mundo
e em digressão permanente sentia. Claro que a alta pressão estava sobre Kurt
Cobain, que vestiu inadvertidamente o fato de porta-voz da geração X e que só o
conseguiu despir no dia da sua morte.
Talvez ler este livro seja mais interessante hoje do que em 1993, quando foi
lançado: permite uma viagem a um tempo
Há vários detalhes interessantes das gravações de “Nevermind” – por exemplo, o
uso de xarope para a tosse por parte de Kurt Cobain – e de “In Utero”,
produzido pelo controverso Steve Albini, com quem o vocalista queria mesmo
trabalhar. Um último capítulo foi acrescentado após a morte de Cobain, em abril
de 1994, e nele está uma interessante frase: "Se a sua música fosse alguma
indicação, não deveria ser surpreendente que o fim de Kurt tenha sido tão
súbito. Afinal de contas, nem uma única música dos Nirvana termina em fade
out [diminuição gradual do som]”. Espero ainda assistir a um fenómeno como
os Nirvana durante a minha vida de jornalista e, sobretudo, ter a capacidade de
perceber que está a acontecer uma revolução, como foi o caso.
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