terça-feira, 23 de agosto de 2022

Angola – Eleições | UMA PROPOSTA DE REFLEXÃO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A reflexão começa hoje e proponho que se faça à volta das mentiras que a Oposição vende aos eleitores incautos. O que todos devemos perguntar a nós próprios é isto: O que leva os inimigos de Angola a repetirem até à náusea que o MPLA está no poder desde a Independência Nacional? Se todos reflectirmos sobre esta mentira hedionda vamos tirar uma conclusão directa e lógica: Só nos resta votar no MPLA para eleger uma maioria absoluta de deputados, o Presidente e a Vice-Presidente da República.

O MPLA nunca esteve no Poder, desde a sua fundação, em 10 de Dezembro de 1956, até Fevereiro de 2002. Lutou, lutou mais, ainda mais, para que o Povo Angola se libertasse do colonialismo. O único poder que tinha era o de mobilizar os patriotas mais conscienciosos e mais politizados, para pegarem em armas mesmo sabendo que seriam exterminados pelos aparelhos repressivos dos colonialistas, caso fossem descobertos e capturados.

Os combatentes do MPLA venceram mil obstáculos e desde que Agostinho Nerto assumiu a liderança, içaram nos nossos corações a bandeira da liberdade, até à Independência Nacional. Lembram-se do discurso de Agostinho Neto ao primeiro minuto de 11 de Novembro de 1975? Apelou à mobilização geral para a libertação de África e particularmente da Namíbia, do Zimbabwe e da África do Sul. Não pediu Poder. Não falou em governação. Apenas apelou que todos se mobilizassem porque a luta ia continuar dentro e fora das fronteiras de Angola, contra os imperialistas, contra os colonialistas e contra os racistas.

Sim, é verdade, um governo tomou posse, tinha um primeiro-ministro, ministros e secretários de Estado. Agostinho Neto foi eleito o Presidente da República. Mas todos os esforços humanos e financeiros foram destinados ao combate à agressão armada estrangeira. A Guerra pela Soberania Nacional e a Integridade Territorial. O único poder que Neto e o Governo do MPLA tinham era o de lutar, lutar sempre, até à derrota do regime de apartheid da África do Sul. O único poder que o MPLA tinha era o de lutar, lutar, lutar até à vitória final. E como o Povo Angolano lutou!

O poder do MPLA nesses anos de guerra e sem sol era apenas um: Mobilizar os seus militantes amigos e simpatizantes para a luta contra as forças estrangeiras que queriam destruir a República Popular de Angola. Conseguiu. E venceu. Nenhum partido no mundo foi capaz de tão grandes vitórias. Os invasores estrangeiros, no Norte, traziam matilhas de mercenários, oficiais da CIA, militares portugueses que se opuseram à Revolução dos Cravos, forças regulares zairenses. Foram derrotados nas ruas de Luanda, no Ntó, em Samba Caju, no Lucala, nos Dembos. Foram derrotados em Kifangondo, no Luena, no Ebo, em todo o país.

O poder dos vencedores era o poder de lutar e morrer nos campos de batalha. O poder político era disputado, palmo a palmo, nos campos de batalha com os traidores que alugaram as amas aos racistas de Pretória, organizados na UNITA, que não era mais do que uma unidade especial dos sul-africanos. Perderam. 

Em 2002, acabou a aventura belicista do Galo Negro. Os sobreviventes foram perdoados, integrados, tratados como irmãos. Hoje, dia 22 de Agosto de 2022, Adalberto da Costa Júnior, numa entrevista à CNN Portugal, provou que é um ser rastejante e não está à altura da generosidade do MPLA. Não devemos generalizar. Mas duvido que algum dirigente da UNITA mereça o país livre que lhe foi oferecido, de mão beijada, pelos vitoriosos. Se merece o regime democrático. Uma coisa é certa, sempre disparam contra a democracia e agora fazem tudo para destruir o regime democrático, mobilizando gangues de bandidos para a sua causa.

A segunda reflexão tem a ver com o exercício do poder, de facto, a partir de 22 de Fevereiro de 2002. Dois anos depois entrevistei o ministro das Finanças, José Pedro Morais. E ele fez revelações extraordinárias. Em pouco tempo de governo, Angola deixou de ser um país pária financeiro. Os compromissos internacionais começaram a ser cumpridos, sobretudo no que diz respeito ao Clube de Paris. O Kwanza ganhou valor.

A inflação caiu a pique. As contas públicas ficaram equilibradas e surgiam excedentes porque o Orçamento Geral do Estado continha um “preço muito conservador” do barril der petróleo. Angola foi considerada como uma potência em vias de desenvolvimento. Os índices de desenvolvimento humano subiram em flecha. A mortalidade materna e infantil caiu drasticamente. Depois daquela entrevista pensei que o ministro José Pedro Morais ia ter uma estátua na Mutamba. Desenganei-me rapidamente. A maledicência, as calúnias, as falsas notícias da Redacção Única, os insultos dos pasquins caíram em cima dele. O costume em Angola. E vai continuar enquanto existir a UNITA e seus apaniguados.

Corria tudo maravilhosamente quando no dia 15 de Setembro de 2008 faliu o banco Lehman Brothers e arrastou o mundo para a pior crise financeira de que há memória. A guerra tinha acabado apenas seis anos antes. Pouco mais do que o tempo de um mandato dos deputados e do Presidente da República, eleitos no dia 5 de Setembro de 2008, apenas dez dias antes. O MPLA e o Presidente José Eduardo dos Santos conseguiram a maioria absoluta, com 81,6 por cento dos votos e 191 deputados. A UNITA teve 10,3 por cento e 16 parlamentares eleitos.

Vamos reflectir. Vamos pensar. Angola foi destruída durante a guerra de alta intensidade que começou em 4 de Fevereiro de 1961 e terminou em 22 de Fevereiro de 2002. Foram 41 anos de bárbaras agressões, destruições de equipamentos sociais importantíssimos, minas terrestres nas províncias do interior, atentados, eliminações selectivas, milhares de assassinatos, milhões de deslocados e refugiados. Massacres. Elites femininas e seus filhos bebés queimados vivos na Jamba.

A guerra acabou em 2002. Em 2008, a direcção da UNITA forçou a queda do Governo de Unidade e Reconciliação Nacional (GURN) exigindo eleições. O Presidente José Eduardo dos Santos fez-lhe a vontade. Mais de 80 por cento dos eleitores deram um voto esmagador de confiança ao MPLA. Alguns dias depois desta vitória, o mundo capitalista foi à falência. Milhões de seres humanos em todos os continentes ficaram ainda mais pobres, os famintos mais famintos, a miséria subiu em flecha. Era justo castigar Povo Angolano com as “chicotadas” da crise financeira mundial? Não. Era muito injusto.

O MPLA, agora sim, no Poder, o seu Governo e o seu líder, Presidente José Eduardo dos Santos, decidiram que era preciso pôr em prática políticas sociais que amortecessem os efeitos da crise internacional internamente. Foram despejados biliões em cima dos problemas. E o Povo não sentiu os efeitos da falência do sistema. Ainda bem. Isto, sim, é resolver, em primeiro lugar, os problemas do povo, sem pensar em lucros, sem dar confiança a parceiros que não são mais do que abutres que debicam no corpo inerte de África. 

O MPLA entre 2008 e 2014 não governou, apenas teve poder para tapar buracos e crateras. Quando tudo estava arrumado, eis que o preço do petróleo caiu a pique. Voaram biliões dos cofres do Estado. O preço rastejante do petróleo foi o grande marimbondo que atacou os cofres públicos. E agora, que fazer? Ninguém hesitou na resposta. As franjas mais desfavorecidas da sociedade continuaram a ser protegidas. O FMI quis que essa protecção acabasse. Recebeu um rotundo não. Governantes com dignidade e grande coragem.

Em 2017, entrámos num novo ciclo. Antes, o MPLA, em rigor, governou pouco mais de seis anos. Mais dois deste mandato do Presidente João Lourenço que foram pouco mais do que arrumar a casa. E de repente o mundo mergulhou em nova crise, esta ainda mais inquietante, porque tem a forma de guerra biológica, causada pela pandemia COVID19. Só este ano de 2022 regressou a normalidade.

O MPLA merece mostrar o que vale no exercício do poder político, pelo menos mais dois mandatos, sem atropelos, sem obstáculos, sem quedas abruptas do preço do barril de petróleo, sem vírus mortíferos e sobretudo sem a ameaça da UNITA. Isso só é possível com uma tremenda tareia eleitoral. Pensem nisso. Vamos reflectir sobre o futuro de Angola. Vamos ser dignos dos vencedores da guerra. Vamos honrar os nossos mortos. Vamos cuidar dos vivos, afastando o perigo real da UNITA. Sobretudo vamos impedir que mais mulheres sejam atiradas para as fogueiras dos sicários do Galo Negro. Custe o que custar! Não vamos abandonar as nossas Mamãs.

*Jornalista

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