quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Processo eleitoral em Angola foi "um sucesso retumbante", diz CNE

Comissão Nacional Eleitoral diz que escrutínio decorreu num clima de "calma, tranquilidade e serenidade". Observadores portugueses falam em "total normalidade".

porta-voz da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) de Angola, Lucas Quilundo, disse esta quarta-feira que o "processo de eleição foi um sucesso retumbante" após o fecho das urnas. Cerca de 14,4 milhões de angolanos foram chamados a votar em mais de 13 mil assembleias de voto no país e no exterior - incluindo Lisboa e Porto - para eleger os 220 deputados à Assembleia Nacional, sendo o líder do partido mais votado automaticamente presidente. João Lourenço, do MPLA (no poder desde a independência em 1975), procura um segundo mandato, tendo pela frente o líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior. Os resultados são esperados nos próximos dias.

"Uma vez mais, e de forma exemplar, os eleitores angolanos deram prova de civismo e mostraram espírito bastante pacífico", afirmou Quilundo, que falava aos jornalistas no Centro de Imprensa Aníbal de Melo, em Luanda. A meio do dia, já tinha dito que as eleições decorriam em clima de "calma, tranquilidade e serenidade" dos eleitores, "sem situações suscetíveis de perturbar o processo", encorajando o clima cívico dos cidadãos e dos agentes eleitores.

Observadores portugueses que acompanharam o processo eleitoral consideram que este correu sem incidentes e com "total normalidade", correspondendo a "um passo em frente do ponto de vista da democratização" do país. O presidente do Partido Socialista (PS), Carlos César, convidado pelo presidente angolano e pela CNE, disse que a eleição estava a correr "de forma razoavelmente próxima das visões mais otimistas que poderiam existir para o seu desfecho", e o facto de haver uma dúvida quanto ao vencedor "é sinal de que há um mínimo de densidade democrática no ato eleitoral".

O ex-ministro social-democrata José Luís Arnaut, convidado também por João Lourenço, disse que "o processo correu com total normalidade", tendo passado por cerca de 30 mesas de voto na região de Luanda. "O que pude constatar do que eu vi com os meus olhos e do que auscultei dos presidentes das mesas de voto nas assembleias mais significativas aqui da região de Luanda (...) foi que o processo ocorreu com toda a normalidade e não foram assinalados nenhumas situações", disse.

"Eventualmente poderá ter havido aqui e ali alguns problemas, mas isso há em todo o lado e não são significativos", afirmou, sublinhando que "a normalidade do processo eleitoral é um sinal positivo a assinalar, que decorre também da normalidade da campanha".

Candidatos votaram cedo

João Lourenço votou logo às 8.00 horas na assembleia de voto n.º 105. "Acabámos de exercer o nosso direito de voto, é rápido e é simples", disse, exibindo o dedo indicador com tinta indelével e convidando os outros eleitores a fazerem o mesmo. O candidato do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) salientou que todos saem a ganhar: "É a democracia que ganha, é Angola que ganha."

O líder da UNITA, que votou também bem cedo no Bairro 28 de Agosto em Luanda, apelou igualmente ao voto, mas criticou os procedimentos eleitorais, dando o exemplo da sua mesa de voto, em que os cadernos de eleitores não foram distribuídos aos fiscais. Adalberto Costa Júnior disse esperar que "os votos sejam todos contados" e "todos respeitados".

A oposição tem criticado a transparência do processo eleitoral, acusando o partido governamental de o instrumentalizar e colocar em causa a transparência. Surgiu assim o movimento "Votou, Sentou", que pedia aos eleitores para continuarem perto das mesas de voto e seguirem a divulgação oficial da ata. Em algumas mesas, esse protesto decorreu sem problemas, segundo a rádio Voz da América.

Em 2017, João Lourenço foi eleito com 61% dos votos, depois de José Eduardo dos Santos o ter nomeado como sucessor. Após a vitória eleitoral, afastou-se contudo do ex-presidente e iniciou, para surpresa de todos, uma ampla operação anticorrupção, afastando várias pessoas ligadas a antigo chefe de Estado de cargos do governo.

José Eduardo dos Santos morreu em julho, em Barcelona, e após uma disputa entre a família sobre onde deveria ser sepultado, o corpo foi repatriado para Luanda - as cerimónias fúnebres estão previstas para o próximo domingo.

Diário de Notícias | Lusa

Imagem: Os votos já começaram a ser contados. Resultados são esperados nos próximos dias. © PAULO NOVAIS/LUSA

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