Profissionais de saúde da Guiné-Bissau acusam o Governo de estar a condenar muitos guineenses à morte com o afastamento de 1.500 técnicos do setor.
O Sindicato Nacional dos Enfermeiros e Técnicos de Saúde e Afins (SINETSA) está furioso com a decisão do Governo de afastar 1.500 profissionais de saúde, admitidos na função pública entre janeiro e abril do ano passado.
Ioio João Correia, presidente do SINETSA, diz que o setor da saúde está à beira de uma grave crise.
"Vamos responsabilizar o Governo, principalmente o ministro da Saúde, por todas as consequências e mortes que possam acontecer, a partir deste momento, no setor de saúde, porque isso é uma irresponsabilidade. É a falta de vontade política e de interesse em relação ao bem público. Devem ponderar e recuar com essa decisão", afirmou.
Segundo o despacho do ministro da Saúde Pública, Dionísio Cumba, datado de 01 de setembro, o concurso que admitiu os profissionais de saúde, entre eles médicos e enfermeiros, não obedeceu a critérios legais, nomeadamente a existência de vagas, a disponibilidade financeira do Governo e a autorização do Ministério da Função Pública, Emprego e Segurança Social.
Despacho "infeliz"
Centenas de técnicos de saúde estiveram reunidos, esta terça-feira (06.09), na sede da União Nacional dos Trabalhadores da Guiné (UNTG).
Após o encontro, o presidente do SINETSA reiterou que o despacho do ministro da Saúde Pública foi "infeliz".
"O próprio despacho reconhece que ainda há necessidade, independentemente desses novos ingressos, de aumentar o número dos profissionais. Mesmo assim, decidiu avançar com a medida de revogar o despacho da nomeação [dos novos ingressos]", disse Ioio João Correia.
Os profissionais já deixaram os seus postos, por força do despacho de Dionísio Cumba.
"Não precisamos de mais forças de repressão"
Momentos antes de partir para Portugal, o líder do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Domingos Simões Pereira, criticou a aposta do Governo no setor da segurança "em detrimento" da saúde e da educação.
"Nós precisamos de escolas, de hospitais, de infraestruturas, precisamos de investir na mulher e no homem guineense. Nós não precisamos de mais forças de repressão, mas infelizmente cada um tem a sua visão sobre aquilo que é o desenvolvimento e a forma como conduzir o país."
No despacho do ministro da Saúde Pública, lê-se que, doravante, as admissões no setor passam a ser mediante a existência de vagas e a realização de concurso público.
O sociólogo Infali Donque disse não compreender a decisão do Governo.
"Vai ser difícil compreender como um Estado admite um funcionário para depois dizer que vai lançar novo concurso. Sinceramente, isso patenteia a desorganização e desestruturação do nosso Estado. É preocupante. O impacto vai ser dramático", antevê.
Em 25 de agosto, o Governo guineense decidiu suspender as contratações nos setores da educação e saúde, alegando a necessidade de travar o aumento da massa salarial do país.
Iancuba Dansó (Bissau) | Deutsche Welle
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