Artur Queiroz*, Luanda
Pedro Passos Coelho foi primeiro-ministro de Portugal porque venceu as eleições de 2011 com 38,7 por cento dos votos, ficando a oito deputados da maioria absoluta, que foi garantida com a compra dos deputados do CDS, então liderado por Paulo Portas. Este Governo ficou caracterizado pelo roubo das reformas e pensões. Um enorme aumento de impostos. O apelo a que os jovens abandonassem Portugal para irem trabalhar no estrangeiro. E por uma política laboral que se resume assim: Tu que tens um emprego, trabalha para ser pobre. E se te portas mal ficas no desemprego sem salário nenhum.
O MPLA teve 51 por cento dos votos elegendo 124 deputados num país onde para a maioria absoluta bastam 111 mandatos. E o lóbi da UNITA em Portugal, que abrange toda a direita até à casa do primeiro-ministro António Costa e à senhora sua mãe, diz que a vitória do partido “foi apertada”, o partido vitorioso tem de negociar com os criminosos de guerra e os fogareiros da Jamba. O PS ganhou as eleições com a maioria absoluta registando 41,37 por cento dos votos. Governa sozinho com mão de ferro. A oposição nem um pio dá em matéria governativa. Ninguém aconselha os vencedores das eleições a partilharem o poder.
O senhor Emanuel Macron perdeu a maioria no Parlamento francês mas está a governar. Em Portugal ninguém o aconselhou a negociar com a esquerda ou com a extrema-direita. E perdeu mesmo. O MPLA gamou com maioria absoluta folgada e a sua vitória foi “apertada” e precisa de “dialogar” com os criminosos de guerra da UNITA e os queimadores de mulheres vivas nas fogueiras da Jamba.
O senhor Olaf Scholz, líder do SPD, ganhou as eleições na Alemanha com 25,7 por cento dos votos. Hoje é o chanceler. A comissão, o conselho e o parlamento da União Europeia não se pronunciaram sobre a sua vitória apertadinha. Tão curta que teve de fazer uma coligação com outras forças minoritárias. Ninguém em Bruxelas, Lisboa ou qualquer outra capital europeia aconselhou o líder social-democrata a dialogar para fazer governo. Ele fez o que entendeu. Até deixou de comprar gás à Federação Russa e ninguém o incomoda por isso, apesar de ter obrigado os seus eleitores a comprarem o produto ao preço do ouro.
A representante das União
Europeia em Luanda comporta-se como os seus patrícios que andavam na pirataria,
matando e saqueando nas Caraíbas e América Latina, tipo UNITA
As eleições francesas não tiveram observadores africanos nem de qualquer outro continente. As eleições portuguesas não tiveram observadores da CPLP nem de qualquer outra instituição internacional. As eleições alemãs não tiveram observadores estrangeiros. As eleições presidenciais nos EUA não tiveram observadores internacionais. Trump diz que foi vítima de fraude! Ninguém aconselhou Biden a negociar com ele.
Angola é um Estado Soberano. Para chegarmos a 24 de Agosto de 2022, centenas de milhares e de angolanas e angolanos morreram na guerra pela Independência e na guerra pela Soberania Nacional e Integridade Territorial. Nenhum país no mundo sofreu tantas agressões estrangeiras. Cehgou a hora de, em nome da dignidade do Povo Angolano, acabar com o convite a estrangeiros para observarem as nossas eleições.
A Comissão Nacional Eleitoral é
suficientemente idónea para dirigir o processo sem observadores. Nem mais um
observador estrangeiro
Angola tem grandes quantidades de politólogos, analistas, comentadores, vigaristas e outros artistas equilibristas. Esperei até hoje para ver se alguma ou algum dizia o que se impõe: Esta foi a mais retumbante vitória do MPLA nos cinco actos eleitorais que levamos desde 1992. Primeiro porque comprovaram que o MPLA é imbatível, eleitoralmente. Explico porquê.
Pela primeira vez desde que Angola aderiu ao multipartidarismo, a Oposição apresentou-se a votos numa coligação alargadíssima. Frente Patriótica Unida e accionisas da Sociedade Civil. Penso que só o Observatório dos Amigos da Kapuka não entrou na sociedade eleitoral, cujo objecto social é o tacho e a acomodação para receber muito sem fazer nada. O OPSA aderiu ao consórcio e hoje Sérgio Calundungo, o coordenador a do instrumento que só serve para desnatar dinheiro do Estado, da União Europeia, da CIA e outras prestimosas instituições que adoram comprar africanos a preços de saldo, mostrou que está mais do que estragado por causa da derrota da UNITA. Eles nem disfarçam!
Esta foi a mais estrondosa vitória eleitoral do MPLA porque além de ter enfrentado a UNITA em consórcio com a Sociedade Civil, mais o terrorista encartado Abel Chivulkuvuku, o soldado motorista do RI20, Jacques dos Santos, e o Marcolino Moco, também enfrentou o MPLA unido às forças oposicionistas. Lembro que e 1992, éramos a grande família. O MPLA apresentou-se a votos como um bloco único de betão. João Lourenço teve um papel decisivo na vitória.
Em 2008, o MPLA apresentou-se como vencedor da guerra e a forma de homenagear os guerreiros vitoriosos foi votar maciçamente no partido. Um autêntico passeio eleitoral. Em 2012, o estado de graça ainda estava no máximo e a vitória foi facílima. Em 2017 houve menos facilidades porque o MPLA mudou de líder mas mesmo assim conquistou uma maioria qualificada facilmente. Em 24 de Agosto de 2024 foi muito difícil. Muitíssimo. O MPLA sozinho contra todos e com uma fracção do partido, desligada ou mesmo empenhada em minimizar a vitória. Arrancar uma maioria absoluta é um feito inigualável!
Em vez de reconhecerem esta realidade, metem a cabeça debaixo da areia e põem-se a delirar. O director do Novo Jornal disse ontem na CNN Portugal que “O MPLA apenas ganhou em 15 círculos eleitorais”. Em 18 ganhou 15 mas o rapaz diz que foi “apenas”. Perdoai-lhes meu caro senhor que eles não sabem o que dizem nem o que fazem. Um partido que esmagou com uma folgada maioria absoluta (elegeu 124 deputados e bastavam 111) está apertado e precisa de negociar. Como dizia a minha amada Canducha, Miss Bairro Operário perpetuamente, com malucos nem cama nem para o céu.
*Jornalista
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