TIMOR-LESTE
O secretário-geral da maior força política timorense disse hoje que o partido saiu reforçado do V Congresso Nacional, na semana passada em Díli, recuperou a natureza frentista e iniciou um processo de transição geracional.
"Não só seguimos a linha do partido, como afirmámos o partido como a maior organização político-partidária do país. Um partido que busca a inclusão, mas não a submissão a outros", afirmou o líder da Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente Mari Alkatiri, em entrevista à Lusa.
"A Fretilin deve ser a Fretilin do povo. Na prática, isso representa voltar às raízes, trabalhar com gente simples e formar a nova geração adequadamente", sublinhou.
O secretário-geral da formação política, uma das três no atual Governo, admitiu que os militantes da Fretilin expressaram preocupação sobre a situação do partido e do país, notando que desde a restauração da independência de Timor-Leste, o partido "não trabalhou na sua base frentista".
"E isso foi detetado quando baixei às bases, e é fundamental mudar. Devem ser tidos em conta os líderes naturais, bem como os novos talentos no seio do povo. Teria sido fundamental ter mantido a Fretilin como partido a afirmar-se nas eleições, mas sem descorar a necessidade de reforçar as bases frentistas", afirmou.
Mari Alkatiri explicou que, a partir do próximo mês, o partido vai voltar às bases para "identificar esses talentos, líderes naturais, que não se devem confundir com os tradicionais, mas que são pessoas com influência na comunidade".
Um processo que se insere nos esforços de transição geracional no partido, processo que espera ver consolidado durante este mandato da liderança, notou.
"No seio do nosso povo há pessoas respeitadas, cuja opinião é respeitada e essas pessoas tem que ser identificadas e mobilizadas para um fim comum, que é consolidar o Estado direito e encorajar o desenvolvimento económico sustentado e sustentável", explicou.
"Essas pessoas existem. Muitas. E toda a gente sabe que existem. Têm que ser enquadradas. E, paralelamente, os novos talentos, jovens que não estão enquadrados e que temos que enquadrar num trabalho frentista", afirmou.
Questionado sobre se está preparado para ceder a liderança no final do mandato, Alkatiri argumentou que já a podia ter entregado, se não fosse o que identificou como "desafios de pessoas que nada representam e que queriam assumir a liderança da frente do partido".
"Neste mandato, naturalmente, nada esta garantido. Mas estes cinco anos têm que ser trabalhados no sentido da transição de geração de liderança", adiantou.
Mari Alkatiri, reeleito com o presidente do partido e ex-chefe de Estado Francisco Guterres Lú-Olo para um novo mandato de cinco anos, disse que os militantes "reafirmaram confiança na liderança", o que considerou ter "uma base lógica".
Em concreto, militantes que se propuseram como alternativa "foram vistos como não tendo nada para dar" na chefia do partido, apesar de "quatro anos de campanha contra a liderança", disse.
"O resultado está evidente. E se olhassem para trás haviam de concluir isso mesmo: nem nos 'sucos' [divisão administrativa tradicional] ou nas aldeias deles deram vitória à Fretilin, a começar por Rui Araújo e José Somotxo", disse, referindo-se aos membros de uma segunda lista que não chegou a ser apresentada a votos.
Questionado sobre a decisão de saída de ambos do Comité Central da Fretilin, Alkatiri disse que se tratou de "um teste" para ver se os militantes "pediam para ficarem". O resultado foi que "perderam também o teste", indicou.
Os contornos da não participação da lista na eleição dos líderes máximos do partido não têm sido consensuais, com Rui Araújo a garantir que tinha reunido o apoio de pelo menos 20% dos delegados com direito a voto, mas que a lista não cumpria a exigência de pelo menos dez militantes por cada município.
Mari Alkatiri disse não ter sido esse o motivo, explicando que na lista de apoiantes apresentados havia 40 nomes repetidos, o que classificou como uma "tentativa de ludibriar a comissão de verificação de poderes".
"Nós só não quisemos publicar isso para não os deixar mal, mas esta foi a razão fundamental", afirmou.
Sem dúvidas de que o partido "saiu mais forte" da reunião magna, Alkatiri considerou que agora "há necessidade de saber olhar para a frente", e procurar "construir um consenso em torno de medidas estruturantes do Estado".
Um consenso em que "não se deve permitir que um partido que ganhe seja o Estado, porque o partido não é o Estado, é um partido que governa para todos e não apenas para os seus", sublinhou.
E neste âmbito, "só pode haver consenso quando os dois [partidos] grandes se entenderem, não em toda a estratégia, mas nas linhas mestras estruturantes" para o país, frisou
Sobre o ex-comandante das forças armadas Lere Anan Timur, que se chegou a avançar que poderia disputar a liderança do partido, Alkatiri explicou que o ex-militar "precisa de algum tempo para se enquadrar completamente", algo que considerou vai acontecer dada a sua "cultura institucional forte".
O responsável afastou o risco de que Lere Anan Timur, que vai integrar com Alkatiri e Lú-Olo uma nova "troica orientadora" da Fretilin, se constitua como oposição interna, já que os resultados concretos mostraram não haver espaço para isso atualmente.
"Lere queria realmente candidatar-se, se tivesse base de apoio sólido para ganhar. Para perder, ele não quer", garantiu.
Sapo 24 | Lusa
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