segunda-feira, 17 de outubro de 2022

A POBREZA EM PORTUGAL

Jorge Barreto Xavier | Diário de Notícias | opinião

1 O conceito de pobreza - a pobreza inclui aspetos materiais e imateriais. Limitação severa de acesso a água e alimentos, habitação, vestuário; privação de cuidados de saúde e segurança. Acrescem a falta de acesso à educação e à cultura, assim como contextos físicos e sociais difíceis. A pobreza atinge mais de metade da população mundial. A pobreza, em Portugal, se retirássemos os apoios sociais, atingiria quase metade da população. Mesmo com os apoios sociais, a pobreza atinge quase ¼ dos portugueses (1,7 milhões de pessoas) e quase 2 milhões de portugueses vivem em risco de pobreza - totalizando mais de 3,8 milhões de pessoas. Idosos abandonados, jovens casais com pobreza envergonhada, crianças e adolescentes que se não fossem as refeições nas cantinas escolares não teriam o que comer.

2 A perceção da pobreza - a maneira como olhamos para a pobreza depende do lugar pessoal e social que ocupamos. "Eles, os pobres"; "Nós, os pobres"; "Eles a passar dificuldades"; "Nós, em risco"... Diversos estudos demonstram que um dos problemas fundamentais que impedem uma ação maior para a erradicação da pobreza é a perceção da mesma pelos não-pobres. Esta é vista como um problema do Estado ou como uma situação para a resolução da qual já se contribuiu através do pagamento de impostos. Ou seja, a efetiva melhoria do comprometimento da sociedade civil e das empresas na transformação social do fenómeno da pobreza é fundamental. Não só promovendo mudanças nos modos de vida, como valorizando de maneira efetiva as situações de terceiros em dificuldade.

3 As políticas públicas - se por um lado, a criação do Estado Social ou cuidador é uma conquista extraordinária, por outro torna-se necessário refletir no modelo atual de Estado Social e nas suas fragilidades na efetiva resolução de problemas. Uma demonstração desta circunstância está nos anos de governo socialista que vivemos e que se afirma como grande defensor do Estado Social. Todavia, desde 2016 até hoje, a distância entre ricos e pobres aumentou, a taxa de intensidade de pobreza (a distância entre o rendimento das pessoas mais pobres e o valor fixado para o limiar do risco de pobreza) aumentou, a taxa de risco de pobreza aumentou, o número de pobres aumentou. Dir-se-á que a culpa é da pandemia. Não é bem assim. De facto, de acordo com o Eurostat, no contexto europeu, vários países fizeram melhor nos anos da pandemia e caímos, comparativamente, no índice de taxa de risco de pobreza e exclusão social (dados de 2021). Citando uma notícia do Jornal de Negócios e 15.09.22 "O avanço de 2,4 pontos na taxa de pobreza e exclusão em Portugal representa o pior agravamento nas condições das famílias no bloco europeu, onde apesar dos efeitos da pandemia 12 países conseguiram tirar população da pobreza".

Sabemos que o contexto atual de guerra e as suas consequências vão piorar o quadro social. Que neste Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza possamos perceber que, ao contrário do que se passa na física quântica, aqui, se continuarmos sempre a agir da mesma maneira, não poderemos esperar melhores resultados. Atirar dinheiro para cima dos problemas ou pôr pobrezinhos a marchar na Avenida da Liberdade com um farnel não é solução.

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