Artur Queiroz*, Luanda
Guerra civil é um conflito armado
entre cidadãos do mesmo país. Isso nunca aconteceu
Jornalistas de carregar pela boca, comentadores com coeficiente de inteligência negativo, colunistas analfabetos de pai e mãe, sempre que podem, chamam à saga do Povo Angolano pela Liberdade e a Dignidade, uma guerra civil. Quem não tem credibilidade nem para vender chuchas à porta da maternidade é ouvido, é seguido, é distinguido até pelos órgãos de soberania angolanos. O crime torna-se virtude. Os papagaios acéfalos viram académicos e fazedores de opinião, Desgraça mais desgraçada não há.
A tropa de choque formada no analfabetismo e na estupidez insanável fez escola. De tal forma que um político que foi secretário-geral do MPLA e primeiro-ministro do primeiro governo do regime democrático, Marcolino Moco, escreve isto:
“O país reuniu todas as condições para se desenvolver nos itens fundamentais, a partir de 2002, com a fixação solene dos acordos de paz desse ano. Mas, como afinal havia uma reserva mental, no seio dos supostos vencedores das cessadas guerras civis, provocadas pelo sentido de exclusão do “outro”, tudo começou a ser feito no sentido do regresso ao sistema real de partido único”.
Leio e nem quero acreditar que Marcolino Moco tenha escrito tal falsidade. E que tenha lavado ciosamente a imagem do criminoso de guerra Jonas Savimbi. Porque quando defende que a partir de 2002 “com a fixação solene dos acordos de paz desse ano” Angola tinha tudo para desenvolver o regime democrático, Moco está a esconder que 2002 foi o ano em que o psicopata assassino Savimbi foi derrotado e morto como um bandoleiro de delito comum,nas matas do Lucusse. Manipulação e muito grave!
Depois Marcolino Moco diz que as “guerras civis” aconteceram “pelo sentido de exclusão do outro”. Esta parte deixa-me estarrecido. Marcolino Moco sofre de amnésia total. Porque ele sabe –falámos disso muitas vezes! – que em 1974, logo a seguir à Revolução do 25 de Abril, o general Spínola, presidente da República Portuguesa já desembaraçada do regime fascista, teve um encontro com o presidente Nixon na Base das Lajes, Região Autónoma dos Açores, e ambos decidiram que o MPLA tinha de ser excluído do processo de descolonização porque era um movimento de comunistas.
Marcolino Moco sabe – falámos disso imensas vezes! – que algum tempo depois, mas pouco antes do golpe do 28 de Setembro de 1974 protagonizado por apoiantes do general Spínola, o presidente português e o presidente Mobutu tiveram um encontro na Ilha do Sal, Cabo Verde, e decidiram que a tropa portuguesa no Norte de Angola retirava das suas posições para Luanda e as tropas do Zaire ocupavam o território para aí nascer a Angola independente presidida por Holden Roberto e a sua UPA/FN LA. Cabinda era entregue a Mobutu.
Agostinho Neto, no início de
1975, classificou essas movimentações de tropas estrangeiras como “a invasão
silenciosa de Angola”. No meu livro “Angola a Via Agreste da Liberdade” está
tudo explicado e documentado. Apesar destas manobras, o MPLA assinou o Acordo
de Alvor e apostou tudo
A invasão silenciosa das tropas zairenses não é uma guerra civil. A tentativa de anexação de Cabinda pelo ditador Mobutu foi derrotada na Grande Batalha do Ntó, pelas FAPLA. Enfrentar milhares de militares estrangeiros que abriam caminho com blindados, não é uma guerra civil.
A FNLA deu cobertura ao envio para Luanda de quase 10.000 militares zairenses que impuseram o terror nas ruas da capital. Prenderam, torturaram e mataram centenas de civis. Os combatentes das FAPLA e a população civil enfrentaram as tropas estrangeiras e expulsaram-nas. Isso não é uma guerra civil.
O Presidente PW Botha, o ministro
da Defesa Magnus Malan, o ministro das Relações Exteriores, Pik Rudolf Botha e
o general Jannie Geldenhuys decidiram invadir e ocupar o Sul e Centro de
Angola. As tropas do regime racista de Pretória foram travadas na Grande
Batalha do Luena, em Catengue, nos morros do Sumbe e finalmente na Grande
Batalha do Ebo. Soldados sul-africanos foram presos em combate e depois mostrados
na sede da OUA,
O major general Neil Van Tonder e o major general Kat Liebenberg foram expulsos das tropas sul-africanas em 28 de Agosto de 1988. Também foram expulsos os oficiais Mike Muller, Gerhard Louw e Cassie Schoeman. Os oficiais Jan Malan e Koos Lienbenberg foram despromovidos numa parada militar. Foram castigados porque sofreram uma derrota humilhante na Batalha do Cuito Cuanavale. Eles não eram angolanos mas sim invasores estrangeiros. Falar de guerra civil em Angola é insultar a memória dos milhares de angolanos que deram a vida pela defesa da Pátria Angolana na guerra de agressão da África do Sul.
A 82ª Brigada e o 61º Batalhão Mecanizado da África do Sul não eram unidades militares angolanas. Eram tropas invasoras estrangeiras. Não falem em guerra civil!
Só na Operação Protea, a África do Sul invadiu Angola com 3.000 soldados, 500 viaturas, centenas de canhões e outras armas pesadas. A força atacante era constituída pelo 4º Batalhão de Infantaria, 61º Batalhão de Infantaria Mecanizada (tanques) com três companhias, um esquadrão de tanques “Oliphant”, uma bateria de canhões G5 (oito peças), uma secção de canhões G6 uma versão autopropulsada do canhão G5 (três peças). Tinha ainda um grupo de lança-roquetes múltiplos Valkyrie, os “Shindungus”, dois grupos mecanizados de combate, e a “Task Force Delta”, unidade de reconhecimento, informação e infiltração.
Também estavam “embebidos” nas tropas invasoras membros a UNITA de Jonas Savimbi. Traidores. Isso faz da agressão estrangeira uma guerra civil? Fala Moco!
O capitão sul-africano Recces Wynand du Toit foi capturado em Cabinda no ano de 1985 quando comandava uma operação das tropas da África do Sul que consistia em sabotar as instalações petrolíferas. O karkamano prisioneiro não é angolano. Então por que falam de guerra civil., seus trapaceiros apátridas?
Grande Batalha do Luena. No dia 18 de Novembro de 1975, os invasores sul-africanos formaram o Grupo de Combate X-Ray, dividido em três equipas. Uma avançou para o Lumege, a sul da cidade do Luena. As outras apertaram o cerco à capital da província do Moxico. A artilharia foi decisiva para o resultado final: A retirada das FAPLA e a ocupação da cidade pelos invasores.
A Operação Savana falhou em todas as frente e também na Grande Batalha do Luena. A 23 de Agosto de 1981, seis anos mais tarde, as Forças de Defesa e Segurança da África do Sul desencadearam a Operação Protea.
No dia 23 de Agosto de 1981, o
Exército sul-africano desencadeou uma operação de grande envergadura em
território angolano, para a qual mobilizou 11.000 homens, 36 tanques Centurion
M-41 e 70 blindados AML-90, 200 veículos de transporte de tropas Ratel, Buffel
e Sarracen, artilharia com canhões G-5, de
Durante os combates, os
sul-africanos lançaram 333 toneladas de bombas, 1.774 roquetes de
Constand Viljoen era o comandante das SADF. Angolano? A unidade “Alpha”, sob comando do coronel Joep Joubert, constituía a força principal. A “Bravo” era dirigida pelo coronel Vos Benade. A unidade “Charlie” ficou de reserva. Mais um capítulo da guerra civil angolana, mas com sotaque boer e a tresandar a apartheid.
A Operação Reindeer foi lançada em Maio de 1978. Quase uma década depois foram lançadas as operações Moduler (para travar a operação Saudemos Outubro das FAPLA),Hooper, Packer. e Displace. Todas no Triângulo do Tumpo, Cuito Cuanavale. Guerra civil angolana! Na Batalha do Cuito Cuanavale combateu o bóer Tim Rudman, conterrâner de Savimbi ou mesmo de Marcolino Moco.
Pretória lançou e Operação Kerslig para destruir a refinaria de Luanda. Os operacionais foram transportados no navio de guerra “Tafelberg”. O sargento Jack Greef e o cabo Sam Fourie, ambos das tropas especiais de Pretória, fizeram o reconhecimento. Angolanos de gema empenhados na guerra civil do Moco.
Nesta operação também participou o capitão De Kock e o cabo Kloppers Kloppies, sabotadores. Angolanos de gema dando gás à guerra civil angolana. Tomem nota de outras operações da “guerra civil” da África do Sul em Angola:
OPERAÇÃO PROTEA, OPERAÇÃO DAISY OPERAÇÃO SUPER, OPERAÇÃO MEEBOS (Agosto de 1982 na Mupa), OPERAÇÃO PHOENIX (Fevereiro de 1983), OPERAÇÃO ASKARI (Dezembro de 1983), OPERAÇÃO BOSWILGER (Junho 1985), OPERAÇÃO AMAZONE (contra o Porto do Lobito), OPERAÇÃO ARGON ( Maio de 1985), OPERAÇÃO COOLIDGE (Agosto 1987). Guerra civil angolana imposta pelos louros karkamanos.
Os mercenários britânicos e dos EUA capturados no Norte de Angola em 1975 e julgados em Luanda afinal eram angolanos e estavam na guerra civil angolana. O coronel Santos e Castro mais o seu Exército de Libertação de Portugal (ELP) afinal eram todos angolanos. Fizeram a guerra civil angolana. O tenente Pais, português, que vinha num blindado zairense e foi abatido à entrada da ponte de Kifangondo afinal era angolano. Guerra civil. Os oficiais da CIA eram angolanos. Os agentes da PIDE que estavam com Holden Roberto no Morro da Cal afinal eram angolanos.
O general Tonta, oficial do ELNA da UPA/FNLA revelou estes pormenores:
Na Grande Batalha de Kifangondo estavam quatro batalhões de infantaria zairenses. Mais um batalhão de reserva. Uma companhia de comandos zairenses e portugueses. Dois pelotões de morteiros. Peças de artilharia D-30 zairenses, sob o comando do coronel Molimbi, zairense. Uma companhia de mercenários portugueses, comandada pelo coronel Santos e Castro. Um pelotão de canhões de 90mm da artilharia sul-africana. As peças de artilharia D-30 eram operadas por especialistas zairenses.
O coronel Molimbi era zairense mas perfilhado por Marcolino Moco da aldeia de Chitué. Santos e Castro era português, mas Marcoljno Moco baptizou-o angolano e fez dele um herói da guerra civil angolana.
Os papagaios não pensam, repetem o que ouvem. Por isso nunca terão vergonha. Não sabem o que dizem.
*Jornalista
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