Artur Queiroz*, Luanda
Angola continua a escrever à angolana e não aceitou o colonialismo cultural imposto por Portugal e Brasil através do chamado Acordo Ortográfico. Durante muitos anos, entre nós ninguém deu a cara pelo abuso. Mas há dois anos, João Melo apareceu num jornal português como o grande defensor da causa dos monopólios no difícil comércio das palavras. Hoje reparei que o escritor Manuel Rui também aderiu ao negócio e escreve segundo as regras impostas por brasileiros e apoiadas entusiasticamente por portugueses que, como se sabe, ficaram desempregados desde que as caravelas do Gama chegaram à Índia.
Em Portugal, os colunistas que não aderiram ao Acordo Ortográfico declaram isso mesmo e escrevem como deve ser. Não segundo os interesses do negócio da palavra. Porém, uma vez que está em vigor naquele país, tem de se escrever mesmo mal. Em Angola essa declaração não é necessária, nem sequer aceitável. Porque não aderiu ao negócio. Os Media têm o dever de defender a Língua Portuguesa, que é, nunca esqueçam, oficial.
Assim, todas e todos têm de escrever na nossa medida, no nosso jeito, na nossa pronúncia, na ortografia à nossa maneira, antes do acordo de brasileiros e portugueses. Curiosamente, no Brasil, todo o mundo se está borrifando para o acordado. Até as editoras!
A adesão de Manuel Rui ao negócio é lá com ele. Mas quando escreve num jornal angolano segundo as regras do Acordo Ortográfico dos portugueses e brasileiros tem o dever de informar os leitores dessa opção. Se ele não o faz por esquecimento (a idade não perdoa) então é o jornal que tem de informar os leitores. Caso contrário, temos a confusão total. Penso que o senhor ministro da Cultura tem uma palavra a dizer. Porque lhe compete. É seu dever e obrigação.
Antero de Quental escreveu um texto notabilíssimo, para as famosas Conferências do Casino onde analisa as causas da decadência dos povos peninsulares. O poeta, filósofo e jornalista (por esta ordem) vislumbrou o fim do Jornalismo e da Liberdade de Imprensa quando começaram a circular jornais “a dez reis, muito informativos”. Ele era um defensor do Jornalismo Doutrinário e a notícia, feita mercadoria valiosa, expulsou das colunas dos periódicos (ainda não existia Rádio e Televisão) os textos dos pensadores.
Mais tarde, os folhetins e as crónicas também foram à vida. Morreu o último vínculo com a Literatura. E por fim, desapareceu tudo quanto era informação. Somos afogados em propaganda elaborada na Redacção Única e propagada nas auto estradas da comunicação, todas dominadas pelos serviços secretos dominantes: EUA, Reino Unido e França. O Big Brother escolhe as mãos que apertam a esponja que absorve todo esse lixo mediático e dela só respinga o que nos aliena e manipula. O triunfo dos porcos, com toda a sua porcaria!.
Antero não foi capaz de prever o renascer dos povos ibéricos como colonialistas, ocupantes e genocidas em territórios divididos pelo Tratado de Tordesilhas. Depois de sucumbirem aos golpes fatais dos ditadores Franco e Salazar, eis que regressam em todo o seu esplendor.
As federações de futebol de Portugal e Espanha anexaram a Ucrânia. E o mundo aplaudiu. A Federação Russa anexou quatro regiões e vai por aí um miango ensurdecedor. Tudo para ninguém perceber que agora, os pobres soldados ucranianos que estão nos territórios anexados, vão ser esmagados. Os especialistas dizem que a chegada dessa carne para canhão ao Leste da Ucrânia e a Kherson é uma ofensiva bem-sucedida!
O senhor António Costa, primeiro-ministro de Portugal disse hoje antes da conferência dos países europeus que “A Rússia iniciou em 24 de Fevereiro uma guerra cruel e desumana na Ucrânia”. A guerra iniciada em 2014 pelos nazis de Kiev contra as repúblicas separatistas e que até Fevereiro deste ano fez 37 mil mortos e milhões de deslocados, essa é humana e piedosa. Enlouqueceram. E ninguém lhes trata da cabecinha. Ainda não há especialistas para as cabeças dos dedos dos pés.
Os senhores de Washington também estão furiosos com a OPEP por ter cortado a produção diária de petróleo em dois milhões de barris por dia, como forma de travar a descida dos preços. Crime! O estado terrorista mais perigoso do mundo quer que sejam os países produtores (Angola também) a pagarem a guerra da OTAN (ou NATO), Reino Unido, União Europeia e EUA contra a Federação Russa, por procuração passada à Ucrânia. Vão conseguir, como sempre. O mundo vive de cócoras ante os gringos. Na América Latina já não é bem assim mas ainda não chega.
Hoje morreram na Grécia dezenas de refugiados iraquianos e afegãos. A embarcação precária em que fugiam naufragou. Os Media chamam “migrantes” a esses náufragos. Truque baixo! Aos refugiados dos infernos que as potências ocidentais criaram nos seus países, têm de dar asilo. Aos “migrantes” podem fechar as portas e que morram para aí. Eles acham que isto vai durar sempre. Ainda não perceberam que a hora dos refugiados, dos oprimidos, dos espoliados de tudo até da vida, está quase a chegar.
A grande tragédia de hoje vem do Comité Nobel. Os sábios membros da agremiação folclórica (sobretudo no que fiz respeito à Paz) galardoaram a escritora francesa Annie Ernaux na área da Literatura. Biden ficou a espumar. O Tio Célito cortou os beijos e as fotos paga já. A primeira-ministra do Reino Unido ficou com o período menstrual desregulado. Aqueles nórdicos desmiolados não premiaram os decretos do Zelensky!
Isso faz-se? Deram o Prémio Nobel da Literatura ao Winston Churchill e não deram ao herói acidental e ocidental, chefe dos nazis de Kiev, Volodymyr Olexandrovytch Zelensky, que além dos decretos também escreveu um roteiro para televisão. O mundo está virado às avessas.
As estruturas do MPLA na província de Luanda vão reunir este sábado para elegerem o novo líder, Manuel Homem. Se fosse um delegado à magna reunião ia defender mais ou menos isto. Na província de Luanda, depois das eleições de 2008, o MPLA não ganhou folgadamente os dois pleitos seguintes.
Em
Uma cidade com estruturas para 700 mil habitantes tem mais de dez milhões. A qualidade de vida, só pode ser péssima. Os problemas de emprego, só podem ser muitíssimos. Os problemas de saúde, educação e habitação, só podem ser gravíssimos. Por muito que as e os luandenses admirem o MPLA, na hora do voto só podem ter vontade de castigar quem não lhes resolve problemas básicos do quotidiano. Nunca esqueçam. A Liberdade só existe quando é suportada pelas condições que lhe dão espessura: pão, paz, trabalho, educação, saúde, educação. Luanda tem mais habitantes do que muitos Estados, não pode ser governada como se fosse uma cidade comum. Mas é. E assim vai continuar.
Não apontem o dedo a ninguém. Não caiam na tentação de apontar o dedo seja a quem for. Pelo contrário. Agradeçam às e aos camaradas que deram a cara pelo MPLA nas últimas eleições. Nunca se esqueçam disto. Quem atirou com milhões de angolanas e angolanos para Luanda, foi a UNITA e o regime racista de Pretória, ao imporem a Angola uma longa guerra que começou em 1975 e só acabou em 2002.
A ordem jurídica internacional não permite que uma pessoa seja julgada duas vezes pelo mesmo crime. É uma regra que em democracia ninguém pode ignorar ou espezinhar. Em Angola isso aconteceu. O cidadão angolano Augusto Tomás foi julgado e condenado. Cumprida mais de metade da pena, pediu a liberdade condicional. Os Serviços Prisionais deram um parecer favorável ao requerido.
Um juiz conselheiro do Tribunal Supremo, em vez de apreciar os factos, deu uma de justiceiro e recusou a liberdade condicional. Porque, segundo o meritíssimo, os crimes por corrupção têm penas muito leves!
E assim, Augusto Tomás fica na cadeia! Segunda condenação. Segundo julgamento pelo mesmo crime. Se é assim que querem dar valor e credibilidade ao Poder Judicial, estamos conversados. Angola entrou para o clube daqueles países que julgam um cidadão duas vezes pelo mesmo crime. Mau cartão de apresentação da Justiça Angolana. Os juízes justiceiros usam a vingança como ferramenta, nunca a Lei. Depois dá casos como o de Lula da Sila no Brasil. Imitar atropelos e iniquidades dá sempre mau resultado. O problema é que o poder político nada pode fazer. À Justiça o que é da Justiça. Mesmo quando s sai vingança e barbárie.
*Jornalista
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