sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Portugal | A SUSPEITA MORA EM SÃO BENTO

Paulo Baldaia* | TSF | opinião

O secretário de Estado-adjunto do primeiro-ministro, Miguel Alves, enquanto presidente da Câmara de Caminha, empenhou a sua palavra em defesa de um grupo de investidores privados que, afinal, de grupo não tem nada, tratando-se apenas de um cidadão dado a trapalhadas, que tem por hábito criar empresas que não têm grande actividade. 

Desse contrato, para a construção de um Centro de Exposições Transfronteiriço no concelho, pavilhão municipal multiusos com capacidade para milhares de espectadores, o dito empresário Ricardo Moutinho já recebeu um adiantamento de rendas no valor de 300 mil euros. Passaram-se dois anos e nada de pavilhão.

Esta é a síntese de um negócio feito com dinheiros públicos que cheira a esturro, mas que não condena ninguém sem direito de defesa. O problema é que Miguel Alves, actualmente adjunto do primeiro-ministro António Costa, entende que não tem de se defender. Prefere viver sob suspeita na praça pública do que dar explicações, em primeiro lugar aos munícipes de Caminha e em segundo lugar aos contribuintes que pagam impostos para que o Estado, central ou local, faça o que tem de ser feito.

O jornal Público, que deu à estampa este negócio, dava ontem conta que o Ministério Público já está a investigar e nós agradecemos. Afinal, é o nosso dinheiro, uma vez mais, que está a ser utilizado sem que quem o faz entenda sujeitar-se ao escrutínio da comunicação social. Miguel Alves recusa-se a responder às perguntas dos jornalistas, mas não tem como escapar às perguntas do procurador que lhe bater à porta. Ao Ministério Público devemos pedir celeridade e aconselhamos que, para adiantar trabalho, peçam aos jornalistas que lhes forneçam as perguntas que enviaram para o secretário de Estado-adjunto do primeiro-ministro.

Fazer negócios em que se adiantam 300 mil euros de rendas futuras e dois anos depois está tudo na mesma parece mau, mas pode ter alguma explicação que os cidadãos dificilmente conseguem vislumbrar só a olhar para o berbicacho. Recusar explicar o racional do negócio, e prestar contas sobre a utilização do dinheiro que é de todos nós, é que não tem nem explicação, nem desculpa.

*Jornalista

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