Xi muda foco da economia para a segurança da China
Presidente chinês disse, na abertura do 20.º Congresso do Partido Comunista da China, que “nunca prometeu renunciar ao uso da força” em Taiwan.
O líder da China, Xi Jinping, deixou um aviso a Taiwan no seu discurso aos
delegados do 20.º Congresso do Partido Comunista da China, a mais importante
reunião do partido, que começou este domingo em Pequim e que deverá confirmar
mais cinco anos de mandato para Xi.
A “questão de Taiwan é um assunto do povo chinês e deve ser resolvida apenas
pelo povo chinês”, disse Xi – a insistência dos EUA de que defenderiam
Taiwan em caso de ataque e a visita recente da speaker da Câmara dos
Representantes dos EUA, Nancy
Pelosi, a Taipé causou particular irritação
Xi congratulou-se pela aprovação,
“O rumo da História está a caminhar para a reunificação e o rejuvenescimento da grande nação chinesa. A reunificação completa tem de ser feita e pode, sem dúvida, ser conseguida”, declarou o líder chinês, na frase em que foi mais aplaudido pelos 2000 delegados.
A ideia de “rejuvenescimento nacional” está no centro dos planos de Xi para a China.
No seu discurso de duas horas, sugeriu, segundo o Guardian, que o rumo da sua liderança, caracterizado por um maior controlo social, uma postura regional mais agressiva e a rivalidade com o Ocidente, vai continuar.
Xi defendeu também a política de “covid zero”, que a China é neste momento o único país do mundo a adoptar e tem sido marcada por exageros que levaram a críticas e a grande descontentamento. Disse que esta política se irá manter, já que “põe as pessoas e as suas vidas acima de tudo o resto”.
“Dada a tensão económica e social causada pela adesão a uma política de covid zero cada vez menos popular, o discurso de Xi pode soar defensivo a muitos cidadãos chineses, insistindo que o Partido tem como prioridade os seus interesses”, comentou
John Delury, professor de estudos chineses na Universidade Yonsei, de Seul (Coreia do Sul), à agência Reuters.
O professor de estudos de segurança da Universidade de Sydney Bates Gill viu o discurso como “dizendo ‘continuidade’ a toda a velocidade, mesmo que a economia interna e as relações internacionais enfrentem dificuldades crescentes”. Mas para Gill “este discurso não teve o objectivo de ser um discurso de políticas”, mas sim “de elogiar feitos passados e mostrar confiança”.
Para Zhiwu Chen, professor de Finanças da Universidade de Hong Kong, há uma mudança muito significativa no discurso de Xi: “Tirar a ênfase do desenvolvimento económico e das reformas económicas”, disse à Reuters. “Do 14.º ao 19.º congresso do Partido, o desenvolvimento económico foi, de cada vez, declarado explicitamente como a missão central do partido. Desta vez, não há essa menção. Em vez disso, há uma ênfase no desenvolvimento ‘completo’. Ou seja, o Partido vai dedicar os seus esforços não só ao desenvolvimento económico, mas também ao desenvolvimento político, social, ambiental e cultural.”
Ja Ian Chong, professor de Ciência Política de Singapura, comentou que nada se destacou no discurso, “o que é notável no sentido de estar de acordo com a ideia de que há um mundo instável e perigoso lá fora, de que Xi fala, e ele quer apresentar a China e a sua liderança como estável”, cita a Reuters. “Notei um aumento da discussão da segurança, o que não é surpreendente porque em várias frentes a China tem hoje muito mais razões para se preocupar do que tinha há cinco anos”.
Para John Delury, “o conceito central do discurso parece ter sido a segurança, uma palavra que Xi usou de várias maneiras para justificar não só a sua abordagem em relação à política externa, mas também à economia e à saúde pública.”
Em conclusão, para Delury: “Mao Tsetung prometeu tornar as pessoas revolucionárias. Deng Xiaoping prometeu torná-las ricas. Xi está a prometer mantê-las seguras.”
Maria João Guimarães | Público
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