terça-feira, 1 de novembro de 2022

BRASIL ESTÁ MELHOR, MAS... 'CADÊ' O PERDEDOR E NAZI-FASCISTA BOLSONARO?

Bolsonaro não felicita Lula mas reconhece ter perdido

Enquanto o presidente eleito recebia saudações de chefes de Estado mundo afora, o cessante mantinha perturbador silêncio nas 24 horas seguintes ao sufrágio. Bolsonaristas, entretanto, já admitiram a derrota e convenceram o líder a fazer o mesmo. Nas ruas, camionistas bloquearam estradas. Na bolsa, o real subiu.

Cadê o Bolsonaro?", perguntou-se o Brasil, nas ruas e em hashtags de redes sociais, ao longo do dia, à medida que as horas passavam e não havia nenhum comentário de Jair Bolsonaro às eleições da véspera, ganhas por Lula da Silva com 50,9% dos votos contra 49,1% do candidato à reeleição. O presidente cessante, entretanto, fez saber, já a meio da noite em Lisboa, que se, por um lado, não pretende contestar o resultado, por outro, também não tenciona felicitar o sucessor. Além disso, apontará, em eventual discurso, críticas ao sistema eleitoral do país e falará em "injustiças".

Ao longo do dia, camionistas aliados de Bolsonaro fecharam vias em protesto contra a vitória do candidato do PT, o que fez pressupor uma contestação das eleições no campo bolsonarista. Mas, pelo mundo, dezenas de chefes de Estado foram saudando Lula, indicando que a comunidade internacional não aceitará qualquer desfecho eleitoral fora da normalidade.

Na noite de domingo, logo após conhecido o veredicto das urnas, ministros, aliados e jornalistas que se deslocaram ao Palácio da Alvorada foram informados de que o presidente não receberia ninguém e iria dormir. E às 22h06, as luzes da residência oficial apagaram-se mesmo - relatos de aliados falaram em estado de "tristeza" e de "abatimento". Na manhã seguinte, o ainda presidente chegou, em silêncio, pouco depois das 09h00 ao Palácio do Planalto, sede do governo, ao lado do candidato a vice, Braga Netto, e do filho mais velho, senador Flávio Bolsonaro.

Horas depois, Flávio deu a entender nas suas redes sociais que o pai aceitava a derrota. "Obrigado a cada um que nos ajudou a resgatar o patriotismo, que orou, rezou, foi para as ruas, deu seu suor pelo país que está dando certo e deu a Bolsonaro a maior votação de sua vida! Vamos erguer a cabeça e não vamos desistir do nosso Brasil! Deus no comando!".

A primeira-dama, Michelle Bolsonaro, reagiu com um trecho bíblico: "Salmos 117: louvai ao senhor todas as nações, louvai-o todos os povos. Porque a sua benignidade é grande para conosco, e a verdade do Senhor dura para sempre. Louvai ao Senhor".

O ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, disse que "a democracia é assim" e que "o resultado de uma eleição não pode superar o dever de responsabilidade que temos com o Brasil". Segundo o ex-ministro do Ambiente, Ricardo Salles, "a eleição traz muitas reflexões e a necessidade de buscar caminhos de pacificação de um país literalmente dividido ao meio".

A parlamentar Carla Zambelli, que correu com arma em punho apontada a um homem que a havia insultado no centro de São Paulo na véspera do sufrágio, anunciou disposição para ser "a maior oposição que Lula jamais imaginou ter". Para Nikolas Ferreira, o deputado mais votado do Brasil, "os gritos de comemoração deles hoje se tornarão gritos de desespero amanhã".

Felicitações

Na agenda de Lula no dia seguinte à reeleição, entretanto, estava marcado um encontro com o presidente da Argentina, um dos mais importantes parceiros comerciais do Brasil. "Amor, admiração e respeito, temos um futuro que nos abraça e nos convoca", escreveu Alberto Fernández nas redes sociais como legenda a um vídeo da reunião.

Muitas outras autoridades felicitaram Lula ao longo das últimas horas, incluindo Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa e os chefes de Estado da China, da Alemanha, da França, de Espanha, de Itália, do Chile, do México e muitos mais países.

"Envio os meus parabéns a Lula pela vitória numa eleição livre, justa e digna de confiança. Espero que possamos trabalhar juntos e manter a cooperação entre os nossos dois países nos próximos meses e nos anos que virão", escreveu Joe Biden, presidente dos EUA, antes de telefonar ao eleito.

O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, disse esperar trabalhar com Lula para promover as relações entre o bloco e o Brasil. "Parabéns, Lula, pela sua eleição! Estou ansioso para trabalharmos juntos e avançar nas relações UE-Brasil com o seu governo e com as novas autoridades do Congresso e do Estado", afirmou.

Noutro âmbito, o ministro do ambiente da Noruega anunciou a retoma da ajuda financeira contra o desmatamento da Amazónia no Brasil, congelada durante a presidência de Bolsonaro. "Em relação a Lula, nós observamos que, durante a campanha, ele enfatizou a preservação da floresta amazónica e a proteção dos povos indígenas da Amazónia", disse Espen Barth Eide. "Por isso estamos ansiosos para entrar em contato com suas equipas, o mais rápido possível". O país escandinavo, principal fornecedor de recursos para a proteção da floresta amazónica, suspendeu a ajuda ao Brasil em 2019, ano em que Bolsonaro assumiu a presidência.

Protestos

Paralelamente, em 140 estradas de 17 estados do país, camionistas apoiantes de Bolsonaro fizeram bloqueios em protesto contra o resultado das eleições. A Polícia Rodoviária Federal, o mesmo órgão que na véspera esteve em foco ao mandar parar autocarros com eleitores sobretudo na região nordeste, onde Lula normalmente tem votações superiores, confirmou aglomerações de norte a sul.

Mas o deputado federal Nereu Crispim, que é presidente da frente parlamentar em defesa dos camionistas, afirmou que "o ato de fechar estradas pelo país é ideológico e não representa a categoria". Ele é do PSD, partido neutral na segunda volta das eleições. "Lá em 2018, o então candidato Bolsonaro fez promessas que se fosse eleito iria resolver ou dar atenção à agenda dos camionistas e na realidade nesses quatro anos ele não resolveu nada e está aí o resultado, não foi reeleito".

Mercado

Na Bolsa de Valores de São Paulo, depois de uma abertura negativa, o mercado financeiro reagiu positivamente ao resultado eleitoral ao longo do dia: o preço do dólar comercial caía 1,47%, cotado a 5,2240 reais e o indicador de referência da bolsa, Ibovespa, subia 1,19%, aos 115.889 pontos.

Ações de empresas de setores mencionados como prioritários por Lula no seu discurso após a vitória ganhavam fôlego: os papéis da MRV, construtora especializada em moradias mais acessíveis à população, disparavam 7%, liderando as altas da sessão.

João Almeida Moreira, em São Paulo | Diário de Notícias

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