Paulo Baldaia* | Diário de Notícias | opinião
Escrevo a uma hora em que os brasileiros ainda não acabaram de votar. O título desta crónica não é, portanto, sobre o resultado da segunda volta das Presidenciais brasileiras, é sobre uma sociedade que chegou a estas eleições profundamente dividida e, não apenas no Brasil, insuportavelmente reacionária. Na verdade, o bolsonarismo, o trumpismo, ou o venturismo em terras lusas, representam o mesmo, são fruto do oportunismo mais básico. Jogam com o medo das pessoas, que cresce nos tempos de maior incerteza; oferecem soluções simplistas que parecem tremendamente eficazes, mas que nunca funcionam, limitando-se a jogar a responsabilidade sobre o adversário político, visto como inimigo.
Esta marcha dos reacionários, que se opõe aos avanços e transformações sociais (a começar pelos direitos das mulheres), é a base social destes políticos oportunistas e populistas. E só é assim porque os partidos tradicionais, pilares essenciais do sistema democrático, estão, eles próprios, a não saber lidar com uma desregulação do mercado de trabalho, que o torna retrógrado. Trabalhadores que passaram a colaboradores e recibos verdes que passaram a empreendedores acreditam cada vez mais que são os pobres e os imigrantes que os impedem de ter uma vida melhor, porque é suposto os pobres serem pobres, porque não lutam para sair da pobreza, e os imigrantes não se adaptam, porque querem impor-nos a sua cultura, transformando-se uns e outros num peso para o país.
A este populismo mais básico que consolida o poder da extrema-direita no Brasil, nos Estados Unidos, na Europa e em tantos outros lados do mundo, respondem os democratas com um populismo mais soft, que coloca igualmente as culpas do que corre mal nos outros. Como se vê agora pela Europa, procurando atribuir ao Banco Central Europeu os males do mundo que estão para chegar. Isto é também uma vitória dos movimentos reacionários que procuram normalizar os comportamentos mais perversos e aproveitam todas as brechas abertas na Democracia. Uma trupe de políticos, comentadores e influencers, para quem não há liberdade de expressão sem o direito de mentir e ofender.
O que se segue, na rota da crise,
aponta para dificuldades cada vez maiores dos trabalhadores, pobres ou com medo
da pobreza, aumentando o potencial de crescimento dos populistas de extrema-direita.
Em novembro há Intercalares nos Estados Unidos e poderemos confirmar que o
trumpismo também está a vencer e se mantém forte, mesmo depois de os
norte-americanos terem experimentado todas as misérias da presidência de Trump.
Por cá, seguimos cantando e rindo, reféns de um poder socialista que se diverte
a dar primazia ao Chega, de uma oposição social-democrata que anda a toque de
caixa com o que Ventura faz e diz, nem cuidando de perceber que estão todos a
trabalhar para que um dia também seja possível em Portugal ter os reacionários
no poder. Marcelo chegou a Belém já Costa estava
*Jornalista
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