domingo, 4 de dezembro de 2022

Angola | A BANDEIRA ESTÁ A SUBIR – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

No dia 1 de Dezembro de 1976 a República Popular de Angola foi admitida na Organização das Nações Unidas (ONU). Decorria a 31ª sessão da Assembleia-Geral da, presidida por Hamilton Shirley Amerasinghe, do Sri Lanka. 

A admissão aconteceu após a recomendação do Conselho de Segurança, que aprovou a Resolução 397/76. Os EUA ameaçaram vetar mas depois condescenderam e graças à visão estratégica do Presidente João Lourenço, deram-nos a graça da sua abstenção.

A Assembleia-Geral aprovou a admissão de Angola na ONU, com 116 votos a favor, nenhum contra e a abstenção dos Estados Unidos da América (EUA), amigos do peito do Povo Angolano. 

Angola participou na Assembleia-Geral. A delegação angolana era chefiada pelo ministro das Relações Exteriores, José Eduardo dos Santos. A cerimónia do içar da Bandeira Nacional teve a presença do Secretário-Geral das Nações Unidas, Kurt Waldheim.

Não vi subir a Bandeira Nacional em Nova Iorque. Mas testemunhei o seu içar até voar ao vento, na aldeia de Samaria, às portas do Cuito Cuanavle e à vista das colinas do Triângulo do Tumpo, às quais chamei as paredes da Catedral da Liberdade. Os rios são os vitrais.

Até 2016, aquelas colinas eram o lugar da Terra com mais minas terrestres, anti carro e anti pessoal. Em 2014, o “50” e eu andámos por lá, procurando os tanques que as tropas sul-africanas abandonaram. 

Os sapadores desminaram uma vasta área que os invasores transformaram em cemitério. Alguns corpos ainda tinham os restos das fardas da UNITA e do exército da África do Sul. Será que algum dia terão um funeral digno como teve Jonas Savimbi? Duvido.

A artilharia dos invasores tinha as coordenadas do Cemitério do Cuito Cuanavale. Quando havia um funeral, os karkamanos disparavam os canhões. Para enterrar um soldado tombado em combate, morriam dezenas de militares e civis. Os comandantes decidiram enterrar os nossos mortos na berma da estrada que liga a Menongue. Algum dia terão um funeral digno como teve  o criminoso de guerra Jonas Savimbi? Duvido.

Para recordação, aqui vos deixo a foto do momento em que a Bandeira Nacional foi içada na sede da ONU em Nova Iorque.

*Jornalista

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