Artur Queiroz*, Luanda
Até 1974 os jornalistas eram chamados “rapazes dos jornais”. Mulheres contavam-se pelos dedos de uma só mão. Os mais velhos ensinavam os novatos e estes raramente passavam de “repórteres informadores”. Nem sequer tinham direito a uma secretária e máquina de escrever. Isso era para os redactores, cargo destinado a quem tinha muita oficina e longos anos de ofício. Em meados de 1975 os profissionais com experiência, todos juntos, não chegavam para completar os quadros de uma Redacção. Era assim na Imprensa mas também na Rádio. A Televisão nessa altura ainda estava a dar os primeiros passos.
Um fiscal da Inspecção dos Espectáculos gostava muito de teatro e escrevia críticas na Imprensa luandense. Tinha uma base cultural sólida e frequentava todas as tertúlias da intelectualidade de esquerda. Era bom rapaz, bom marido e excelente copo. Quando se deu a debandada geral, ele passou a jornalista no jornal O Comércio, que poucos dias depois, fechou. O pessoal da Redacção passou para o Jornal de Angola, na direcção de Fernando Costa Andrade (Ndunduma). Foi como sopa no mel. Porque na casa, jornalista com ofício e oficina só existia um, Antero Gonçalves, anarco-libertário e a quem eu chamava o Poderoso.
O velho Antero continuou a fazer jornalismo que fazia há três décadas, com elevado profissionalismo e competência. Sem dar nas vistas. O fiscal dos espectáculos já tinha alguns dias de experiência no defunto O Comércio, sabia o que era uma notícia. Mal entrou no Jornal de Angola foi logo elevado a chefe de Redacção, cargo que em condições normais só atingíamos ao fim de muitos anos de ofício. O roteiro era este: Repórter informador, chefe de secção, coordenador e finalmente a chefia. Para chegar a chefe de Redacção eram necessários anos e anos, noitadas e noitadas, canseiras e canseiras.
Mais tarde o nosso fiscal dos espectáculos beneficiou do Princípio de Peter e deram-lhe a chefia a redacção da ANGOP. Diga-se em abono da verdade que o seu desempenho não tornou a agência noticiosa mais irrelevante do que era. Um dia, Manuel Pedro Pacavira foi pedir-lhe para acomodar a sua sobrinha Luzia, que queria muito ser jornalista. O chefe fez-lhe um teste. Toma lá esta folha em branco e escreve aí uma notícia. E ela escreveu: Gosto muito do Tio Paka. A senhora professora diçe que não devemos comer muito cal.
O chefe regressou e leu a redacção da candidata a jornalista. Ficou um nadinha perturbado porque não percebeu bem aquilo do “muito cal”. E perguntou à noviça o que queria dizer. Ela olhou fixamente para o papel e exclamou: Desculpa pá, enganei-me! Pus a cedilha no dice e esqueci-me dela no çal. Tinha acabado de iniciar uma carreira empolgante de jornalista. Assim nasceu uma estrela.
Um dia a senhora do nosso fiscal
descobriu que estava a ser corneada. Ameaçou matar e matar-se. Um drama. A maka
resolveu-se mandando Luzia para a delegação da ANGOP
Lá tenho que explicar mais uma vez. Crónica é um texto que está a meio caminho da mensagem informativa e da literatura. Umas vezes é mais arte literária. Outras, mais jornalismo. Muito difícil! Conheço poucas e poucos cronistas de língua portuguesa. Crónica é um género jornalístico. Só pode ser parida por jornalistas e que tenham lido pelo menos mais 20 livros do que aqueles que escreveram.
Os professores angolanos estão de
novo
Mais estas reivindicações: Presença de representantes sindicais nas comissões de avaliação de desempenho, mais concursos públicos de acesso para que as turmas tenham um máximo de 35 alunos, melhoria das infra-estruturas escolares (salas de aulas, carteiras, material escolar, bibliotecas, laboratórios, transporte escolar), e o fim do negócio no ensino porque em Angola há mais colégios privados que escolas públicas.
Estas reivindicações são anormais? São abusivas? São inatingíveis? São irresponsáveis? A resposta do Ministério da Cultura é lapidar: Vamos cortar os dias de greve nos salários dos grevistas.
A arrogância do poder costuma dar mau resultado. Oiçam os professores e tratem-nos como tratam os vossos acomodados e o pessoal político. A senhora ministra da Educação devia pensar bem no seu papel e revelar, publicamente, o que está a fazer, para acabar com esse escândalo que é termos mais colégios privados do que escolas públicas.
O famigerado “Caso dos 500 Milhões” ainda mexe e ameaça abalar a confiança dos cidadãos na Justiça. José Filomeno dos Santos (ZENU) e Vallter Filipe, arguidos no processo, recorreram para o Supremo Tribunal e foi proferido um acórdão que determina o levantamento das medidas de coacção, excepto o termo de identidade e residência. Isto aconteceu em Junho de 2019. Mas até hoje a decisão não foi cumprida.
Sua excelência o Presidente da República diz e rediz que em Angola ninguém está acima da Lei e a impunidade acabou. Pelos vistos há cidadãos que não estão acima nem abaixo da Lei, estão nas mãos dos caprichos de quem manda. É uma espécie de regresso ao tempo do cabo dos sipaios e do chefe de posto. É assim tão importante dividir para reinar? Mesmo que seja, está errado. Porque só reina quem ganha eleições. E se os políticos em vez de unirem preferem dividir, tarde ou cedo vão perder.
*Jornalista
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