sábado, 10 de dezembro de 2022

Angola | PRESIDENTE DO CATEMBE E OS EXCREMENTOS DA PAZ – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Ao lado do Diário de Luanda existia um botequim simpático e o tasqueiro fazia o melhor catembe de Luanda. Tornei-me cliente habitual pela bebida mas também pela clientela certa e segura, permanente, que jamais faltava: Doentes internados na psiquiatria de Luanda, ali mesmo ao lado, dirigida pelo famoso Doutor Rosales. Todos tinham uma história de abandono, pelos familiares. Ninguém queria malucos em casa. 

Um desses clientes, mestiço, era homem culto e vestia com elegância. Camisa com colarinhos à italiana, gravata, casaco de linho branco, calça de gabardina, sapatos de verniz. Cabelo penteado para trás e risca ao meio. Brilhantina em abundância. Os outros companheiros de hotel diziam que ele ficou maluco por causa da sífilis. Mas nunca assumiu a loucura.

Enquanto bebíamos um copázio de catembe ele segredava-me: Eu sou o general Carmona e vou demitir o Salazar. Já assinei o despacho.

Tirando esta mania ele tinha um discurso muito coerente. Sabia latim e grego clássico. Ao terceiro catembe recitava de cor, extensos trechos da Eneida. Se já estava mesmo bêbado, espetava o dedo na minha cara e troava: Rapaz, sabes o que quer dizer democracia? A palavra vem do grego e resulta de demos (povo) mais kratos (poder). Salazar é um ditador, vou demiti-lo. Sou o general Carmona. 

Depois eu ia para a oficina paginar com o palhaço Popoff, que era um grande operário gráfico. Ele atravessava a Avenida Lisboa, cambaleando, indiferente aos carros que iam e vinham do aeroporto. Queria ajudá-lo a atravessar mas recusava resolutamente: Eu sou o general Carmona, rapaz!

A Dra. Carolina Cerqueira esteve em Kinshasa participando numa reunião dos parlamentos regionais- Surpreendeu-me quando na sua intervenção atribuiu ao Presidente João Lourenço factos que, no mínimo, pertencem a todos os militantes e dirigentes do MPLA. E no máximo são do “demos”. Custou-me muito ouvir a primeira responsável da nossa Casa da Democracia, atribuir a um só homem o que é obra de muitas e muitos. O mais grave é que João Lourenço já disse que rejeita o culto da personalidade. Mas nestas coisas há sempre mais papistas do que o papa. 

O MPLA já foi um amplo movimento que incluía todas e todos que se reviam na luta pela Independência Nacional. Hoje é um colectivo de camaradas. O líder é apenas mais um ao qual a massa militante, em congresso, confiou a direcção do partido. 

Os líderes têm um mandato que pode ou não ser renovado. Mal de nós se entre as centenas de dirigentes eleitos para o comité central e para o bureau político não haja pelo menos uma dezena com capacidade para liderar o partido e Angola. Nas próximas eleições gerais já vai ser necessário escolher alguém para o lugar de João Lourenço. 

Tanto quanto percebi por uma notícia que foi posta a circular, o MPLA está preocupado com a unidade no seio do partido e a direcção criou uma “task force” para unir o que está dividido. Parabéns. Mais vale tarde do que nunca. O problema é que o Doutor Tuti Fruti está metido na comissão e ele, como se sabe, é perito em dividir para reinar e meter a mão na massa. Nem quero pensar no que vai acontecer se o partido chegar às próximas eleições esfrangalhado como está. Alguns dirigentes vão precisar de internamento no Rosales e depois dizem que são o presidente sempre pronto a demitir o Salazar de turno.

O país precisa de unidade como nunca. Precisa de reconciliação como nunca. Precisa de paz social como nunca. Mas parece que todos os partidos fizeram um pacto no sentido contrário. O MPLA foi, entre 1991 e 2017, o campeão da paz, da unidade e da reconciliação nacional. Por isso, as angolanas e os angolanos confiaram-lhe maiorias qualificadas nas sucessivas eleições.

Ao mesmo tempo a UNITA mostrava o seu ódio à liberdade e à democracia. Os seus dirigentes atentam permanentemente, por palavras e actos, contra a reconciliação e a unidade nacional. São excrementos da paz. Sabendo disso, a governadora de Cabinda, Mara Quiosa, não recebeu os deputados do Galo Negro que andam pela província vendendo a soberania nacional e a integridade territorial. Parabéns! Com os sicários do Galo Negro é preciso matar a cobra e mostrar o pau.

O lançamento do livro da Luzia Moniz em Lisboa juntou tudo quanto é banditismo político. Em Luanda, Teixeira Cândido “assaltava” o Sindicato dos Jornalistas Angolanos e dizia que a liberdade de imprensa está em perigo. Depois anunciou uma manifestação para o dia 17 de Dezembro. Este também está convencido de que é o presidente Carmona. Não tarda-nada é internado. Os sicários do Galo Negro já garantiram que vão mobilizar milhões para as ruas de Luanda. Não vejo nenhuma diferença entre estes loucos e o meu amigo de botequim que se dizia o general Carmona. 

Na quarta-feira anterior (dia 14) em Lisboa, o Justino Pinto de Andrade (um excremento da política angolana), o soldado motorista do RI20 (um excremento das cultura), o Mabeco (criado dos EUA) e os “revus” convertidos à UNITA vão participar numa conferência sobre as eleições do passado mês de Agosto. O Luaty Beirão também alinha. Como rapper chama-se Brigadeiro Mata Frakus (um pacifista!). Como kaxiko do Galo Negro é “revu” e agora recebe por contra própria das embaixadas “amigas” porque é o líder do movimento “Mudei”. Mais um doente mental convencido de que é o chefe supremo. Este vai demitir o Adalberto.

O rapaz sabe tudo de eleições e vai a Lisboa ensinar os portugueses. Coitados, bem precisam de aprender com o Brigadeiro Mata Frakus a viver à grande e à francesa, comendo o dinheiro do Estado. Nisso o Justino Pinto de Andrade também é perito. Começou no MPLA e agora também é intestino grosso do Galo Negro. Qualquer dia ficamos soterrados em merda.

Como sempre, Lisboa apoia todo o lixo humano que dê garantias de prejudicar Angola. Que sejam felizes. A extrema-direita, nas próximas eleições toma conta do jardim à beira-mar plantado e não se fala mais nisso do 25 de Abril. De 50 em 50 anos, tomem lá fascismo! 

O MPLA assiste a todas estas manobras contra o país e o partido, como se estivessem acontecendo em Marte. Andam por aí muitos loucos convencidos de que são presidentes. Qualquer dia, quem os adula vira-lhes as costas e depois, coitados, andam pelos botequins afogando as mágoas em catembe.

*Jornalista

O que é a bebida catemba:

A Catemba é uma bebida originária da ex-colónia portuguesa Angola, e trazida para Portugal no pós-Guerra Colonial pelos retornados. O seu consumo acabou por se banalizar nas aldeias e vilas, sobretudo no centro do país, mas também em algumas tabernas das grandes cidades. O baixo preço da sua comercialização e o seu sabor considerado agradável, mesmo para não apreciadores de vinho, fez com que esta bebida se vulgarizasse facilmente.

Hoje em dia[ o seu consumo é muito mais diminuto, sendo, quase exclusivamente, consumida regularmente em pequenas aldeias do interior do país e em Vila Nova de Milfontes, Portugal.

A composição desta bebida consiste na mistura de vinho tinto com Coca-Cola, em percentagens iguais. Em alguns estabelecimentos a Coca-Cola é substituída por soda sabor limão, sendo, neste caso, mais vulgarmente conhecida como Traçadinho. - Wikipédia - PG

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