Combater a má nutrição em Timor-Leste exige "vontade política clara" e um trabalho claro e integrado do Governo, sociedade civil e parceiros internacionais, apostando em soluções estruturais e que evitem programas avulso, disse hoje uma responsável das Nações Unidas.
"Há que trabalhar
Lidar com o problema, referiu, envolve ações preventivas, trabalhar com as mães -- "só uma mãe saudável e bem nutrida pode dar à luz um bebé saudável" -- promover a amamentação e desenvolver políticas integradas de sensibilização e educação, de fortalecimento da merenda escolar, de diversificação da produção agrícola.
"Deve-se trabalhar na alimentação pré-escolar e escolar e dar atenção às mulheres. E é essencial a colaboração dentro do Governo, que devem ser muito mais ativos em coordenação do que até agora. Há um ponto focal no gabinete do primeiro-ministro e isso é muito positivo, é essencial um planeamento conjunto, mas também implementar, avançar na concretização", notou.
Referindo que o problema da nutrição envolve vários aspetos do desenvolvimento, e que a pobreza em Timor-Leste acentua a sua dimensão e gravidade, Greda Verburg sublinhou que as autoridades timorenses estão "comprometidas" a lidar com a questão, mas que há que fazer mais.
"Se 50% das pessoas em Timor-Leste são afetadas por nanismo e raquitismo, como podem ter a capacidade de gerir um programa destes? É preciso mais formação, reforço das capacidades e garantir que depois de um ou dois anos as pessoas podem gerir o seu próprio programa de merenda escolar, que os agricultores conseguem diversificar, reduzir a perda de produção, que chega a ser de 30 ou 35% de cada cultivo", afirmou.
"Não se pode fazer programas
avulso. Se fosse essa a solução já se tinha resolvido o problema. Já se gastou
muito dinheiro em vários programas ao longo dos anos. mas ações avulsas,
durante curtos períodos, não permitem resolver isto. Isto requer o apoio de
todos, tem que ser institucionalizado, integrado em todas as políticas,
legislação, em orçamento em monitorização,
Em termos gerais, insistiu, "terminar a fome e a malnutrição é uma questão de vontade política".
Verburg visitou hoje a delegação da Lusa em Díli onde está numa visita de vários dias para avaliar os passos dados por Timor-Leste desde que se juntou ao SUN Movement e os esforços das autoridades para combater a má nutrição no país.
"A questão da nutrição é complicada. A boa nutrição é invisível. Não se consegue ver de fora como as pessoas estão. E é sobre saúde, o que está a acontecer com o corpo, mas particularmente com o cérebro", recordou.
"Os primeiros mil dias das crianças são de crucial importância para o desenvolvimento do cérebro e para a 'hardware' cognitiva. As pessoas muitas vezes confundem nutrição com segurança alimentar: pensam que se o bebé não está a chorar, se parece bem por fora, o resto está bem. Até há quem pense que se as crianças tiverem sobrepeso é um sinal de riqueza", afirmou.
A responsável das Nações Unidas admitiu que este não é um problema que se consiga resolver de um dia para o outro, e defendeu marketing mais agressivo para promover a nutrição, especialmente num espaço onde já competem pela atenção dos consumidores os vendedores de 'fast-food' e comida processada.
"E envolver também os líderes religiosos e culturais, o que pode ter um grande impacto no país", frisou.
O reforço das capacidades, a educação das novas gerações, prémios e apoios que reconheçam avanços na nutrição a nível local ou municipal são outras medidas que podem ajudar a aumentar a sensibilização da sociedade para o problema.
"O falhanço aqui é que temos demasiadas ações individuais, uma ação do Ministério da Agricultura, ou uma ação da Saúde. E também ao nível da ONU, que tem que operar com uma única voz. A Unicef não pode fazer tudo, o apoio da FAO é necessário para diversificar produção. E assim é possível", vincou.
Os dados demonstram a dimensão do que ainda há para fazer em Timor-Leste onde, apesar das melhorias, a prevalência de desnutrição em mulheres e crianças continua a ser uma das mais elevadas do mundo, com nanismo a afetar 47% das crianças e quase um quarto das mulheres com idade reprodutiva a ter peso a menos.
A insegurança alimentar continua a ser um problema significativo, com metade da população considerada em "insegurança alimentar" e 16% a enfrentar insegurança alimentar severa.
O Movimento SUN nasceu de "um reconhecimento global crescente dos problemas de subnutrição e com as preocupações pelo facto de o sistema internacional não estar a conseguir lidar com o problema de forma eficaz".
A ideia surgiu na sequência da criação em 2008 de um grupo de trabalho de alto nível das Nações Unidas sobre segurança alimentar e nutricional, a que se seguiu o Consenso de Copenhaga, que reiterou a importância da nutrição para o desenvolvimento.
O assunto marcou a agenda de uma cimeira mundial em 2009, gerando um primeiro movimento que teve o apoio de 80 instituições internacionais. O processo foi formalizado em movimento global em 2012.
Notícias ao Minuto | Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário