domingo, 4 de dezembro de 2022

Correio explosivo | ATAQUES EM ESPANHA: OUTRA FALSA BANDEIRA ANTI-RUSSA?

Ataques recentes na Espanha usando pacotes com explosivos deixam muitas perguntas sem resposta.

Lucas Leiroz | South Front | # Traduzido em português do Brasil

Na Espanha, estão ocorrendo ataques com explosivos colocados em pacotes dos correios. Em 1º de dezembro, o Ministério da Defesa espanhol relatou um incidente desse tipo em suas instalações. O primeiro-ministro da Espanha também recebeu um pacote contendo uma bomba, assim como uma base aérea e alguns outros locais. Anteriormente, a mesma situação já havia ocorrido na Embaixada da Ucrânia em Madri. Na internet, internautas pró-Kiev acusam infundadamente a Rússia de estar por trás dos atos. No entanto, parece mais provável que os casos sejam apenas mais uma operação de bandeira falsa contra Moscou.

O gabinete do primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez, a sede do Ministério da Defesa do país e a base aérea de Torrejón de Ardoz, em Madri, receberam por correio pacotes com bombas no primeiro dia de dezembro. Todas as bombas foram detectadas antes de serem abertas e não houve feridos ou danos, segundo porta-vozes do governo espanhol. Mas a polícia nacional espanhola ativou o protocolo antiterrorista em todo o país devido aos ataques. Este alerta autoriza a polícia e os esquadrões antibombas a realizarem operações especiais de bloqueio de estradas e aeroportos, a fim de revistar explosivos e prender pessoas suspeitas.

Outro local de importância estratégica que foi alvo de um envelope explosivo em 1º de dezembro foi a sede de uma empresa de armas em Zaragoza, no oeste do país. Instalaza é uma empresa militar espanhola envolvida na fabricação de equipamentos para as forças armadas espanholas e países aliados da OTAN. A empresa está, portanto, atualmente envolvida no processo de envio de armas para a Ucrânia.

Curiosamente, os incidentes ocorreram um dia depois que outra caixa também contendo explosivos foi enviada para a Embaixada da Ucrânia em Madri. Um funcionário da Embaixada se feriu ao abrir a embalagem e agora está internado – segundo o embaixador da Ucrânia em Madri, Serhii Pohoreltsev, ele teve os dedos queimados pela explosão, mas está se recuperando bem e não corre risco.

Parece haver um padrão comum a todas as situações, com alvos dirigidos a departamentos de relevância militar e política em Espanha, bem como especificamente no que diz respeito às relações entre Madrid e Kiev. Para analisar o caso, é preciso lembrar que a Espanha desempenhou um papel significativo na diplomacia anti-russa da OTAN desde o início da operação militar especial, tendo sediado a cúpula da aliança em julho, onde foram tomadas muitas decisões de apoio a Kiev. O país tem desempenhado um papel mais ativo do que normalmente em temas militares internacionais. Além disso, internamente há relatos de cidadãos locais sobre forte censura a jornalistas pró-russos, o que torna ainda mais clara a posição do governo espanhol de apoio absoluto a Kiev.

No entanto, o caso não pode ser reduzido à Espanha. É importante considerar o contexto europeu como um todo, particularmente as mais recentes manobras anti-russas. Dias antes do início dos acontecimentos na Espanha, a União Européia declarou a Rússia um Estado patrocinador do terrorismo. A atitude foi absolutamente injustificada, sendo criticada por especialistas do mundo todo. Nem mesmo os EUA, que lideram a coalizão global pró-Kiev, assumiram uma posição tão sólida e perigosa como esta – pelo contrário, o presidente americano Joe Biden tem repetidamente dito que não considerará a Rússia um Estado patrocinador do terrorismo.

De fato, a medida da UE acabou com qualquer esperança de melhora nas relações entre o bloco e a Rússia, não havendo mais expectativa de bons laços no futuro próximo. O pior disso tudo é que foi uma decisão absolutamente injusta, pois não há nenhum caso comprovado de terrorismo com envolvimento russo – enquanto, por outro lado, terroristas ucranianos, em cumplicidade com a inteligência da OTAN, já operaram vários ataques criminosos sem qualquer condenação da UE.

É interessante que esta medida da UE seja seguida por tais bombas enviadas para instalações políticas, militares e diplomáticas na Espanha. O governo espanhol, ao declarar um alerta antiterrorista, simplesmente autoriza medidas excepcionais contra qualquer alvo considerado “suspeito”, o que permitirá o reforço da perseguição contra ativistas pró-russos, mesmo que não haja evidências de seu envolvimento nesses eventos .

Mas, mais importante do que isso, os incidentes certamente serão relatados pela grande mídia e departamentos oficiais como um exemplo do chamado “terrorismo russo”, justificando assim a vergonhosa atitude da UE de considerar a Rússia como patrocinadora do terror. Aliás, na internet vários sites e ativistas pró-Kiev já começaram a espalhar essa narrativa – que em breve pode se tornar oficial nos grandes veículos de comunicação.

Além de não haver indícios de envolvimento russo, é impossível identificar qual seria o real interesse de Moscou em apoiar atitudes como essas, que só prejudicariam a si mesma. Muito provavelmente, esta é apenas outra manobra de bandeira falsa para mover a opinião pública contra os russos e justificar as sanções.

*Lucas Leiroz, pesquisador em Ciências Sociais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro; consultor geopolítico.

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