quarta-feira, 27 de abril de 2022

AUTÊNTICO RELATO DE GUERRA DA UCRÂNIA

#Traduzido em português do Brasil

Eric Zuesse* | One World

Patrick Lancaster é um repórter de guerra americano independente, puramente financiado por crowdfunding, que agora está em Mariupol, na Ucrânia, uma grande cidade que se rebelou contra a derrubada do presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovych, em 2014.

Este será o pano de fundo e a análise que ajudará o espectador a entender e avaliar a confiabilidade e a veracidade do seguinte vídeo do jornalista americano independente Patrick Lancaster na Ucrânia:

https://www.youtube.com/watch?v=9sZuz4dlVAo

Este vídeo apresenta evidências que alguns espectadores podem achar extremamente intrigantes, se eles ainda não   conhecem o histórico relevante, a história, que levou a isso e que serão documentados aqui por meio de links diretos para as evidências. Na verdade, qualquer um que clicar nos links deste artigo verá a evidência por si mesmo, o que  explica  o que está acontecendo atualmente na Ucrânia. Está escrito SOMENTE para indivíduos que desejam fazer isso. (Qualquer um que  já esteja  satisfeito com o que  pensa  ou  acredita  ser a explicação por trás da guerra na Ucrânia provavelmente  não  achará este artigo de interesse -  especialmente porque gastar mais tempo para clicar e considerar as evidências fornecidas em qualquer um dos links aqui provavelmente  não  seria algo que eles gostariam de fazer.)

Patrick Lancaster é um repórter de guerra americano independente, puramente financiado por crowdfunding, que agora está em Mariupol, Ucrânia, uma grande cidade que se  rebelou  contra  o  derrube  do presidente ucraniano Viktor Yanukovych em 2014, que havia sido  eleito democraticamente  em 2010 e que seguiu uma   política internacional neutralista apesar do presidente americano Barack  Obama  e da secretária de Estado Hillary  Clinton terem  dito a ele, pessoalmente, mais tarde naquele mesmo ano: a Ucrânia deveria se juntar à OTAN, a aliança militar dos EUA contra a Rússia, que sempre ( antes   do  golpe )) foi considerado "o inimigo" por mais ucranianos do que aqueles que o consideraram "amigável". 

O novo governo ucraniano conseguiu em 2014 conquistar Mariupol, mas  não  as áreas adjacentes a Donbass. Consequentemente, enquanto no Donbass, os defensores são os moradores locais, contra as forças invasoras do governo ucraniano; em Mariupol, os defensores são as forças do governo ucraniano, contra as forças invasoras da Rússia e do Donbass.

GALINHA NA CAPOEIRA DO JORNAL DE ANGOLA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Eu sabia que um dia o Marcos Galinha, dono visível do Global Media Group, que vende produtos putrefactos disfarçados de jornais, rádios e televisões, havia de garatujar no Jornal de Angola. Porque um dos seus produtos, o “Diário de Notícias” é apontado como sendo “dos angolanos”. Os seus criados já sujam papel no diário do sector empresarial do Estado Angolano, há muito tempo. 

O homem começou em grande. A actual direcção do Jornal de Angola (distraídos ou coniventes?) publicou-lhe um texto de opinião sobre o “jornalismo de investigação”. Faz citações tresloucadas, misturando uma tal Alexandra Borges, que nem simpatizante de jornalista é, com Garcia Marquez, repórter e escritor.

Escreve o analfabeto de pai e mãe mas com muito dinheiro, sobre o tal jornalismo de investigação: “Esta forma de fazer jornalismo pressupõe a análise minuciosa dos factos, durante o tempo necessário, até esclarecer todos os meandros, possíveis ângulos, pontos de vista e possíveis envolvidos. O Jornalismo de Investigação é também conhecido por "Jornalismo de Precisão”, uma vez que implica informações precisas, sem distorções, com a utilização exacta dos termos cuidadosamente selecionados e sem citações fora de contexto”.

O Jornal de Angola foi o meu local de trabalho durante oito anos. Uma das minhas tarefas era garantir aos profissionais formação permanente. E dar aos jovens as ferramentas necessárias para um dia serem bons profissionais. Uma das coisas que lhes ensinei foi que isso de “jornalismo de investigação” é uma aldrabice para esconder atentados gravíssimos aos princípios do Jornalismo. Quando profissionais venais vão para a cama com detentores do poder económico que perseguem determinados interesses, servem esses amos com falsificações classificadas de “jornalismo de investigação”. 

O mesmo acontece quando essas e esses venais se colocam ao serviço das polícias ou do Poder Judicial. O Ministério Público e magistrados judiciais servem-se deles para condenar na praça pública quem não conseguem acusar. Ou então tornam factuais, suspeitas que não conseguem concretizar, dando a essas criadagem elementos que depois abrem telejornais, noticiários das rádios e ocupam primeiras páginas dos jornais.

Ao Galinha não dou confiança. Mas aos jornalistas do Jornal de Angola que já se esqueceram, vou lembrar que o Jornalismo é um exercício permanente de grande rigor. Absoluto rigor. O rigor é a marca distintiva do Jornalismo, tal como a actualidade distingue a mensagem informativa nos Media de qualquer outro texto nem que seja uma carta der amor. 

A CEDEAO VAI "PROTEGER UM AMIGO" NA GUINÉ-BISSAU

Parte do contingente da força de estabilização da CEDEAO já se encontra na Guiné-Bissau. O jurista Fodé Mané não poupa críticas à organização, que diz estar "sem rumo" e "descredibilizada na região".

Os chefes de Estado e de Governo da Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) decidiram enviar à Guiné-Bissau um contingente de apoio, depois do atentado de 1 de fevereiro contra o Palácio do Governo, em Bissau, que o Presidente Umaro Sissoco Embaló classificou como uma tentativa de golpe de Estado.

O Parlamento da Guiné-Bissau ainda não se pronunciou sobre o tema, mas parte do contingente já se encontra no território guineense.

Em entrevista à DW África, o jurista Fodé Mané não poupa críticas à CEDEAO, que diz ser uma organização "sem rumo", "descredibilizada na região" e que não deixou boas memórias das duas vezes em que esteve no país.

Para o especialista, trata-se de uma força de estabilização sem um mandato claro e com uma agenda que conta com a "cumplicidade" dos Presidentes do Senegal e da Nigéria, que apenas querem "proteger um amigo" preocupado em controlar as Forças Armadas em caso de uma eventual revolta na Guiné-Bissau.

ANGOLA E SÃO TOMÉ COOPERAM NO CASO DOS 30 MILHÕES

PGR angolana diz cooperar com São Tomé para "descobrir a verdade" no caso dos 30 milhões de dólares. Ex-ministro são-tomense acusa Rafael Marques de ter sido usado na "guerra partidária".

O ex-ministro das Finanças são-tomense, Américo Ramos, acusou o jornalista angolano Rafael Marques de ter sido usado por dirigentes do partido no poder para "uma guerra partidária" na história sobre a alegada corrupção dos 30 milhões de dólares.

O também secretário-geral da Ação Democrática Independente (ADI, oposição são-tomense), numa carta dirigida a Rafael Marques referiu que "foi com surpresa" que leu a notícia publicada pelo jornalista -- que esteve recentemente em São Tomé e Príncipe -- no seu blogue 'Maka Angola' "sobre situações que se passaram em 2019 e em São Tomé e Príncipe".

Na carta, datada de segunda-feira (25.04), Américo Ramos refere que durante a estada em São Tomé Rafael Marques "teve conversas com vários são-tomenses, entre os quais, Osvaldo Vaz", que o sucedeu como ministro das Finanças quando a ADI deixou de ser Governo.

"Pena que nesta sua estada no meu país e já que queria escrever histórias são-tomenses não tentou ouvir e confirmar o que lhe iam dizendo", lamentou Ramos.

O secretário-geral da ADI referiu que "São Tomé e Príncipe está a cinco meses de eleições legislativas, e em período pré-eleitoral", altura em que "muitos tentam ter jornalistas que contem histórias que são na verdade apenas propaganda partidária".

"Da sua visita, em 2022, a São Tomé e Príncipe a única notícia que suscitou o seu interesse foi uma história (falsa) de 2019? Uma história para denegrir a imagem do presidente do ADI e o secretário-geral do mesmo partido?" questionou Américo Ramos.

"Tenho pena, muita pena que tenha sido usado para uma guerra partidária", lamentou o secretário-geral da ADI.

Angola | MEMÓRIA DE UMA MANIFESTAÇÃO PACÍFICA

Artur Queiroz*, Luanda

Manuel Videira, médico e militante do MPLA. Pertenceu à Revolta Activa. Foi preso em 1976, na sequência da repressão sobre essa facção do movimento, nascida depois do dia 25 de Abril de 1974. O entrevistado não diz, provavelmente porque a sua memória já não é o que era, mas eu lembro: Nesse ano, o ministro que tutelava as polícias, inclusive a DISA, era Nito Alves. Na entrevista ele preferiu ignorar esse facto e só revelou o nome de quem assinou o mandato de detenção: Ludy Kissassunda. Não deve haver maldade na omissão. Foi entrevistado por Isaquiel Cori para o Jornal de Angola. Infelizmente, o texto está repleto de erros de ortografia, mal organizado e graves erros formais mas isso não impede que se compreenda a parte que me interessa. O jornalista perguntou: Como é que passou o 27 de Maio de 1997, na cadeia?

Resposta de Manuel Videira: “Foi dramático, assustador. Fomos acordados pela primeira bazucada que foi disparada contra a cadeia de São Paulo. A bazucada foi atirada justamente para o ângulo onde se encontrava a camarata da Revolta Activa. Não sei se foi por acaso ou intencional. Eram 6 horas e 25 minutos da manhã. A cela era colectiva mas não muito grande. Lá estávamos seis ou sete, os considerados dirigentes da Revolta Activa”.

 Pergunta o jornalista: Quem eram os outros que estavam consigo na cela?

Resposta de Manuel Videira: “Estavam o Gentil Viana, o Mário Paiva, os três irmãos Pinto de Andrade (o Justino, o Vicente e o mais novo, já falecido), um jovem, o Lukamba, que agora está na Inglaterra, o Jota Carmelino...

 Nova pergunta de Isaquiel Cori: Na altura correram o especial risco de serem fuzilados?

Responde Manuel Videira: “Houve dois incidentes que apontavam para esse desfecho. Um quando alguém andava à nossa procura e depois de nos identificar disse ‘ai é, logo à noite vocês vão parar o motor no Campo da Revolução’. E foi-se embora. Passada cerca de meia hora o Sabata, penso que você já ouviu falar dele, com uma AK foi à procura dos membros da Revolta Activa e começou a alinhá-los para iniciar o fuzilamento, ali mesmo na cadeia. Felizmente para nós a comissária Virinha, que fez parte do assalto (alguns dizem que foi ela que comandou o assalto à cadeia de São Paulo, que durou horas) vinha a atravessar o pátio e veio a correr, chega ao pé do Sabata e dá um grito: Oh Sabata, quem é que te deu ordem de fazer isso? Ela, mesmo grávida, tinha para aí uns cinco meses de gravidez, deu um golpe ao Sabata e tirou-lhe a arma. Comissário aqui é que manda, quem te deu ordem? Ela foi ralhando com o Sabata, que, envergonhado por ser desarmado por uma mulher, saiu pelo portão grande e nunca mais o vimos. Foi assim que a Virinha nos salvou”.

Ucrânia | “BATALHÕES NAZIS ATERRORIZARAM A POPULAÇÃO” -- entrevista

Entrevista a Anna Kuznetsova*

Anna Kuznetsova tem 25 anos e é professora de russo numa escola técnica em Donetsk, onde vive desde sempre. Prefere não dar a cara porque teme represálias contra familiares que estão do outro lado da linha da frente, na parte da região separatista de Donbass sob controlo das tropas ucranianas. São oito anos de uma guerra civil que se internacionalizou com a entrada da Rússia no conflito.

Por que razão decidiu Donbass insurgir-se contra o governo de Kiev em 2014?

Em Donetsk e Lugansk, como noutras cidades da Ucrânia, o povo revoltou-se em 2014 como resposta ao golpe neoliberal de extrema-direita, mais conhecido como Euromaidan. Este golpe ficou conhecido por ter sido liderado pelo governo dos Estados Unidos. Até 2014, a Ucrânia era um país bastante democrático, tão democrático como um Estado burguês pode ser. As pessoas, especialmente nas regiões pró-russas, compreenderam o que o novo governo estava a trazer: reformas neoliberais, nacionalismo ucraniano extremista e uma revisão da história.

Estes protestos tinham um caráter popular. Muitas pessoas ficaram em choque com os acontecimentos em Odessa a 2 de maio de 2014, quando militantes de extrema-direita, apoiados pela polícia, mataram 50 pessoas. Muitos deles foram queimados vivos na Casa dos Sindicatos, e aqueles que tentaram fugir do edifício em chamas foram espancados até à morte.

Os protestos contra o golpe foram brutalmente reprimidos. O terror começou na Ucrânia. Culminou numa guerra civil contra as proclamadas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk.

Como testemunha desses acontecimentos, eu diria que a maioria das pessoas aqui presentes apoiou a ideia de independência. Entre aqueles que não apoiaram a revolta encontravam-se sobretudo homens de negócios, membros da classe média e alguns intelectuais. Ou seja, o apoio à secessão da Ucrânia veio principalmente da base social, da classe trabalhadora.

Por vezes, vejo que na imprensa ocidental estes acontecimentos são apresentados como um conflito étnico entre russos e ucranianos. Do meu ponto de vista, isto não é verdade. Donbass é etnicamente muito diverso. Por exemplo, eu sou descendente de russos, ucranianos e bielorrussos que vieram após a Segunda Guerra Mundial para reconstruir a região. Este conflito foi sobretudo ideológico. As pessoas não queriam admitir a dependência da NATO e dos Estados Unidos, não queriam as reformas ultraliberais que estavam realmente a acontecer na Ucrânia, não queriam a opressão da língua russa e não queriam a glorificação dos colaboradores nazis ucranianos. Existe aqui uma grande simpatia pelo passado soviético. Penso que esta é a componente mais importante da identidade de Donbass.

A 26 de maio de 2014, a aviação militar ucraniana começou a bombardear Donbass com aviões. Houve as primeiras baixas civis. Antes disso, o exército ucraniano começou a reprimir os motins noutras cidades de Donbass. O Estado ucraniano não chamou guerra civil à guerra civil durante todos estes oito anos. Chama-lhe operação antiterrorista, embora tenham sido o exército ucraniano e os batalhões neonazis que foram lançados para reprimir as regiões rebeldes que se comportaram como terroristas: bombardeando bairros residenciais, destruindo infraestruturas, privando as pessoas de direitos civis e intimidando a população.

O PCP É MESMO PUTINISTA?

Pedro Tadeu* | Diário de Notícias | opinião

Embora a situação na Ucrânia "seja complexa e haja diferentes interpretações sobre o que está a acontecer" no país, é possível ter um "diálogo sério sobre a melhor forma de trabalhar para minimizar o sofrimento das pessoas"".

Aquela frase, se tivesse sido dita por um dirigente do PCP a exigir mais trabalho para a paz e menos escalada armamentista, seria rapidamente acompanhada de acusações de branqueamento da invasão russa, de traição à Ucrânia e aos valores das democracias ocidentais.

Aquela frase seria candidata a figurar na lista negra de frases pacifistas ou antimilitaristas publicada há dias, aqui no DN, por António Araújo, um inesperado mccarthista luso, que acha útil compilar nomes e palavras de personalidades com desvios ideológicos ao pensamento dominante.

Porém, esta frase foi dita ontem pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, citada neste mesmo jornal através de um despacho da agência Lusa...

Guterres, afinal, é putinista?

A Ucrânia, antes da invasão russa começar, não podia ser classificada como um país democrático, pois alguns dos elementos básicos de um regime desse tipo não existem ou são deficientes.

Aquela afirmação, se tivesse sido escrita no jornal Avante!, era candidata à classificação sumária de "fake news" e de "propaganda de Moscovo".

COMO MARCO GALINHA ACABOU COM ESTA CRÓNICA

Mariana Mortágua* | Jornal de Notícias | opinião

Esta é a minha última crónica. Na semana passada, o Jornal de Notícias comunicou-me que deixará de ter titulares de cargos públicos como colunistas regulares. Assim, termina hoje a minha presença nesta página, onde escrevi com dedicação quase todas as semanas ao longo dos últimos sete anos. Escrevo na tarde de 25 de Abril, coincidência que me inspira a fazer desta a crónica de um final atribulado.

No Jornal de Notícias publiquei sempre sobre os temas que escolhi e fui sempre respeitada nessa liberdade. Mesmo quando, num artigo, critiquei Proença de Carvalho, então administrador do grupo Global Media.

Em setembro de 2020, Marco Galinha comprou 40% do grupo. Meses depois, um assessor do Chega publicou um vídeo no YouTube, festejando uma decisão da nova administração, até então desconhecida, de deixar de remunerar a minha participação e a de outros titulares de cargos públicos. A decisão revelada pelo ativista de extrema-direita não chegou a aplicar-se, mas sabe-se hoje que o Chega estava bem informado.

De facto, a administração da Global Media tentou impor essa medida à direção do jornal. Sabemo-lo hoje porque a Entidade Reguladora da Comunicação Social publicou o parecer em que deu razão às queixas apresentadas pelo Conselho de Redação do JN contra Marco Galinha por tentativas de ingerência ilegal em decisões que competem apenas à direção editorial.

Na sequência da invasão russa da Ucrânia, dei a conhecer os negócios em Portugal do oligarca russo Marco Leivikov, sócio de Marco Galinha noutras empresas. O dono do JN acusou-me então, publicamente, de estar a retaliar por ter deixado de ser remunerada pelos meus artigos. Como já vimos, essa remuneração nunca foi interrompida, porque o JN, cumprindo a decisão da ERC, recusou a ingerência de Galinha.

Surpreendida, a administração da Global Media tentou colocar novos entraves à minha participação neste jornal: alegou que não seria compatível com o exercício do meu mandato em regime de exclusividade (o que o próprio Parlamento desmentiu, na sequência de uma queixa do Chega); depois, através de jornais obscuros, lançou desinformação sobre a minha situação fiscal (escolhi um regime em que renuncio a qualquer benefício fiscal). Marco Galinha falhou, sucessivamente.

Este processo tem agora o seu desfecho, com a anunciada exclusão de todos os políticos no ativo que mantinham participação regular no JN e, portanto, com o fim desta crónica. Sem qualquer justificação plausível, a única que resta é a óbvia.

Logo no dia maior da Liberdade, custa-me esta feia despedida. Agradeço a quem me acompanhou nesta página, ao longo dos anos. O JN, com século e meio de história, é uma presa demasiado grande para dinheiro tão fraco. O que Marco Galinha não poderá tirar-me é o gosto, que devo ao 25 de Abril, de ser insuportável para figuras como ele.

Caro JN, continuemos.

*Deputada do BE

Nota da Direção (JN): No que concerne à sua saída destas páginas, Mariana Mortágua lavra sobre um equívoco. A profunda remodelação da Opinião, por ocasião do 134.º aniversário do "Jornal de Notícias", que inclui um conjunto de iniciativas em maio e junho, irá abranger uma dezena de cronistas regulares titulares de cargos públicos. Dessas mudanças daremos mais detalhes no arranque dos novos espaços, a partir de 1 de maio.

Nota do Página Global: Pois, pois. Pois, pois, pois... Diz Mísero Prates* que deixou de ter curiosidade sobre jornais, jornalistas e outros mais portugueses. Acerca desses, antes, no Café Pastelaria do Esfola - uma tasca, segundo ele, perguntava quando via e ouvia noticiários na TV ou lia em diagonal o Correio da Manha disposto numa mesa do café: “no atual jornalismo não haverá profissionais (homens e mulheres) com tintins?” Atualmente diz, voltando costas e abalando: “Só vejo é bandos de capados!”

*Mísero Prates (assim diz seu nome) Octogenário. Correu mundo. Foi jornalista, depois "fugi deles em solidariedade por terem acabado com os jornaleiros dos bairros de Lisboa, que saltitavam de eléctricos e autocarros ou atiravam certeiramente o jornal para as janelas” do terceiro ou quarto andar. Muitas vezes ainda acrescenta que tem de usar “papel higiénico para a expulsão de intimidades” porque “até essa característica dos jornais deixou de ter utilidade”.

"DEMOCRACIA" DOS EUA E O NEOFASCISMO E PERSEGUIÇÃO AO SINDICALISMO

Ana Drago | TSF

A propósito de um aparente renascimento do sindicalismo na América (EUA)

OUVIR AQUI - TSF

HÁ TROPAS RUSSAS NA UCRÂNIA - Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O senhor António Guterres foi a Moscovo fazer a descoberta do século: Há tropas da Federação Russa na Ucrânia e não há tropas ucranianas na Federação Russa. Temos secretário-geral da ONU para o que der-e-vier. Num gesto de solidariedade vou revelar a sua excelência coisas extraordinárias que vão ajudá-lo a desembrulhar-se no cumprimento do seu elevado cargo. Há tropas da França no Mali e não há tropas malianas em França. Há tropas dos EUA no Iraque e não há tropas iraquianas nos EUA. Por aqui me fico. Estas revelações já lhe dão pano para mangas. Vá a Washington e a Paris rapidamente, antes que esses militares passem à reforma.

Tenho mais uma informação que talvez seja importante para o senhor secretário-geral da ONU. Na Ucrânia há tropas norte-americanas, francesas, britânicas, canadianas e de outras nacionalidades. Nazis de todo o mundo, unidos! Um general dos EUA foi cangado quando tentava fugir de Mariupol como se nada tivesse a ver com os nazis. Outro general canadiano foi apanhado à saída de um cano de esgoto. Oficiais britânicos renderam-se e estão presos. Numa base da OTAN (ou NATO) perto de fronteira com a Polónia morreram militares de várias nacionalidades, quando um míssil hipersónico e altamente mortífero rebentou com aquilo tudo. 

Pela primeira vez desde que começou a operação militar da Federação Russa na Ucrânia para desarmar e desnazificar o país se falou no Acordo de Minsk. Coisa estranha! Mas eles existiram e a Ucrânia nunca os respeitou, pelo contrário, após a sua assinatura na Bielorrússia, as hordas nazis do Batalhão de Azov iniciaram um genocídio no Leste do país.

O acordo foi assinado em 2015 e previa estabelecer um estatuto político próprio para os dois territórios separatistas do Leste,  Donetsk e Lugansk, de forma a dar garantias de paz na Europa. Segundo o texto, a Ucrânia concedia autonomia às duas regiões separatistas, em troca da recuperação da fronteira leste, com a Rússia. 

Os Acordos de Minsk foram assinados entre a Federação Russa, a Ucrânia, a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) e representantes das repúblicas separatistas, sob mediação da França, representada pelo presidente François Hollande, e da Alemanha, representada pela chanceler alemã, Ângela Merkel. O objectivo era acabar com os combates no Donbass.

O documento tinha  13 pontos e um deles era a aprovação de uma nova Constituição ucraniana, que incluísse a autonomia de Donetsk e Lugansk, o direito à autodeterminação linguística (falam a língua russa), a nomeação de procuradores e juízes, a intervenção de autoridades locais e a cooperação regional. Tinham direito de veto caso a Ucrânia quisesse aderir à OTAN (ou NATO). Estavam ainda previstas eleições locais. Em contrapartida, a Ucrânia recuperava o controlo da fronteira com a Rússia. O governo da Ucrânia não cumpriu um único dos 13 pontos acordados em Minsk. Pelo contrário.

PRESOS POLÍTICOS, HÁ 43 ANOS!

Sim, há 43 anos, a libertação incondicional dos presos políticos não foi tão pacífica como isso! Para melhor entendimento desta afirmação, teremos de remontar à origem do Movimento dos Capitães, surgido cerca de um ano antes, motivado por uma reivindicação de carácter corporativo, como resposta a um despacho da hierarquia do Exército e na qual convergiram oficiais dos quadros permanentes desse ramo com distintos interesses, ideologias e matizes.

m dos grupos mais assertivos na salvaguarda daquilo que considerava os seus direitos era constituído, talvez não por acaso, por oficiais que serviam, ou tinham servido com o General António de Spínola, chefe militar carismático que, em dada ocasião, optou por entrar em divergência com o Governo sobre assuntos relacionados com a administração colonial. Embora este episódio tivesse, na época, entrado no domínio público, não foi entendido do mesmo modo pela generalidade dos oficiais do Exército, nem, tampouco, pelo cidadão comum.

Spínola era por muitos considerado o modelo de chefe militar austero, justo, exigente e intransigente, tipicamente predestinado a liderar um movimento capaz de derrubar o governo ditatorial fascista, encetando um novo ciclo governativo sem perturbar o fundamental, ou seja, sem alterar a estrutura hierarquizada das Forças Armadas, nem da malha social do país.

Agora, todos sabemos que o Movimento se constituiu e foi solidificando com a adesão determinada de outros grupos de oficiais, que bem mais pretendiam do que isso e que acabaram por desenhar um projecto político e social para Portugal, estabelecendo como uma das prioridades, o acabar com guerra colonial.

De entre outras delas e, inerente ao derrube do estado fascista, encontravam-se a libertação total e incondicional dos presos por delito de opinião – uma vergonha para o País, internacionalmente – e a extinção da polícia política.

O referido projecto, dado à luz sob a forma do documento e que passou a ser conhecido como «Programa do Movimento das Forças Armadas», foi redigido por um pequeno grupo de oficiais mais politizados do que a generalidade, ao qual haviam sido chamados uns poucos da Marinha, ramo que havia declarado a sua neutralidade activa caso ocorresse um golpe militar, mas que era, geralmente, considerado como o mais progressista dentro das Forças Armadas Portuguesas.

Em vésperas da acção militar e, logo que escolhidos os chefes que constituiriam uma Junta Governativa, foi o programa apresentado a Spínola, naturalmente um dos generais do Exército que a constituiriam. Evidentemente que ocorreram sérias divergências de opinião, mesmo iminência de conflito, ultrapassado pelo bom senso e pela vontade de mudar dos oficiais responsáveis pelo Programa, que fizeram, ou simularam admitir algumas cedências no conteúdo político da letra do documento. Entre outras, foram motivo de objecção da parte do General a libertação incondicional dos presos políticos e a extinção imediata da PIDE/DGS. Após várias diligências, aceitou-se que as palavras incondicional e imediata, para cada um dos casos, seriam retiradas do texto do Programa.

O FASCISMO PORTUGUÊS TORTUROU E MATOU

A revolução que derrubou a ditadura fascista celebra agora 48 anos, tantos como os que durou o regime que aterrorizou os portugueses e os povos das ex-colónias. Durante meio século, as elites políticas e económicas do fascismo protegeram o seu poder através do aparelho repressivo do Estado, institucionalizando a violência, o medo e a coerção como meios de perpetuar o seu jugo.

Assassinatos

Foi na madrugada de 25 de abril de 1974 que milhares de soldados, conduzidos pelo Movimento das Forças Armadas, protagonizaram um levantamento militar que pôs fim à ditadura fascista, uma meta cujo alcance dependeu em grande medida de uma acumulação de lutas construídas durante 48 anos na mais absoluta clandestinidade. Todos os que lutaram pela liberdade fazem parte dela mas muitos não a chegaram a conhecer.

Segundo José Pedro Soares, da União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP), também ele ex-preso político, foram cerca de 200 os assassinados pelo regime fascista em Portugal. Estes dados constam de um trabalho de investigação que está a ser desenvolvido e que pretende detalhar os números reais do número de mortos pela ditadura e de presos políticos.

Neste grupo, encontra-se Alfredo Dinis (Alex), assassinado na manhã de 4 de julho de 1945, aos 28 anos de idade. Operário metalúrgico, de Lisboa, iniciou a sua atividade política e partidária contra a ditadura ainda muito jovem e era dirigente do PCP. Foi assassinado no lugar da Bemposta, na estrada que liga Bucelas a Sobral de Monte Agraço, quando se dirigia a um encontro clandestino de bicicleta. Foi atropelado por uma carrinha da polícia política de então a PVDE e depois alvejado até à morte.

Fizeram o mesmo a 19 de maio de 1954 com a trabalhadora agrícola comunista Catarina Eufémia. Usaram as balas para calar a luta pela liberdade em Baleizão, no Alentejo. O mesmo método foi utilizado pela PIDE para assassinar o artista plástico José Dias Coelho, dirigente do PCP e falsificador de documentos. No dia 19 de dezembro de 1961, os inspetores dispararam sobre Dias Coelho na antiga Rua da Creche, em Lisboa.

Em 1958, no dia 31 de julho, de acordo com a página do Museu do Aljube – Resistência e Liberdade, o comunista Raul Alves foi atirado pela janela do terceiro andar da sede da PIDE, na Rua António Maria Cardoso. Segundo os agentes oficiais, teria sido suicídio. Várias pessoas foram testemunhas desta morte. Uma dessas pessoas foi Heloísa Ramos Lins, mulher do embaixador do Brasil, Álvaro Lins, que denunciou o assassinato ao cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Gonçalves Cerejeira. “Não há motivo para ficar tão impressionada. Trata-se apenas de um comunista sem importância”, respondeu-lhe dias depois o Ministério do Interior.

Mas os assassinatos nem sempre ocorreram sob a forma de tortura ou arma de fogo. Em 1940, um dos líderes históricos do movimento anarcossindicalista, Mário Castelhano, morreu vítima de febre intestinal, agravada pela constante falta de assistência médica e medicamentosa, bem como pelas paupérrimas condições de higiene do Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde. Foi neste campo de concentração que o então secretário- -geral do PCP, Bento Gonçalves, morreu de “febre biliosa hemoglobinúrica”, também por falta de cuidados médicos. Outro dirigente do PCP, Militão Ribeiro, morreu aos 54 anos, debilitado pelas sucessivas prisões tortura e falta de assistência médica. Uma doença pulmonar infeciosa foi fatal. Apesar da gravidade da doença, foi colocado em regime de isolamento durante nove meses sem acesso a cuidados de saúde. Escreveu uma carta com o próprio sangue a denunciar as autoridades e acabou por morrer em 1950. Quando morreu pesava 32 quilos.

Contudo, para além dos 200 homens e mulheres assassinados em Portugal, o regime fascista foi responsável por incontáveis mortes nas colónias contra os povos autóctones, nomeadamente em contexto de lutas laborais.

Só no Massacre de Batepá (S. Tomé, 1953) terão sido mortas 200 pessoas. Mas houve também repressões homicidas contra os trabalhadores portuários de Bissau (Massacre de Pinjiguiti, 1959), contra os trabalhadores rurais da Companhia Geral dos Algodões de Angola (Revolta da Baixa do Cassanje, 1961), entre outros.

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