quarta-feira, 27 de abril de 2022

ANGOLA E SÃO TOMÉ COOPERAM NO CASO DOS 30 MILHÕES

PGR angolana diz cooperar com São Tomé para "descobrir a verdade" no caso dos 30 milhões de dólares. Ex-ministro são-tomense acusa Rafael Marques de ter sido usado na "guerra partidária".

O ex-ministro das Finanças são-tomense, Américo Ramos, acusou o jornalista angolano Rafael Marques de ter sido usado por dirigentes do partido no poder para "uma guerra partidária" na história sobre a alegada corrupção dos 30 milhões de dólares.

O também secretário-geral da Ação Democrática Independente (ADI, oposição são-tomense), numa carta dirigida a Rafael Marques referiu que "foi com surpresa" que leu a notícia publicada pelo jornalista -- que esteve recentemente em São Tomé e Príncipe -- no seu blogue 'Maka Angola' "sobre situações que se passaram em 2019 e em São Tomé e Príncipe".

Na carta, datada de segunda-feira (25.04), Américo Ramos refere que durante a estada em São Tomé Rafael Marques "teve conversas com vários são-tomenses, entre os quais, Osvaldo Vaz", que o sucedeu como ministro das Finanças quando a ADI deixou de ser Governo.

"Pena que nesta sua estada no meu país e já que queria escrever histórias são-tomenses não tentou ouvir e confirmar o que lhe iam dizendo", lamentou Ramos.

O secretário-geral da ADI referiu que "São Tomé e Príncipe está a cinco meses de eleições legislativas, e em período pré-eleitoral", altura em que "muitos tentam ter jornalistas que contem histórias que são na verdade apenas propaganda partidária".

"Da sua visita, em 2022, a São Tomé e Príncipe a única notícia que suscitou o seu interesse foi uma história (falsa) de 2019? Uma história para denegrir a imagem do presidente do ADI e o secretário-geral do mesmo partido?" questionou Américo Ramos.

"Tenho pena, muita pena que tenha sido usado para uma guerra partidária", lamentou o secretário-geral da ADI.

"Descobrir a verdade"

Entretanto, o procurador-geral da República angolano disse hoje que "ainda não foram constituídos arguidos" no alegado desvio de 30 milhões de dólares cedidos por Angola a São Tomé e adiantou que os dois países estão a cooperar para descobrir a verdade.

"Estamos a trabalhar e não podemos ter perspetiva nenhuma, a nossa única perspetiva é descobrirmos a verdade e depois então dizermos alguma coisa. Estamos a trabalhar para descobrirmos a verdade", afirmou hoje Hélder Pitta Grós, questionado pela agência Lusa.

O procurador-geral angolano, que preferiu não entrar em detalhes, assegurou que o trabalho decorre em conjunto com a entidade congénere são-tomense, referindo não poder descrever "o que está a ser feito de concreto".

"Estamos a trocar informações [com a Procuradoria de São Tomé e Príncipe]. A perspetiva de arquivar ou não, não lhe posso dizer porque estamos a trabalhar", frisou.

Hélder Pitta Grós disse também que, em relação a este caso, a PGR angolana "ainda não constituiu arguidos", salientando que decorrem trabalhos com todos os países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) sobre casos análogos.

"Nós estamos a trabalhar com todos os países da CPLP para podermos ver alguns factos que têm a ver connosco. Vamos vendo, cada caso é um caso, e vamos agindo em conformidade com isso", assegurou.

Pitta Grós falava aos jornalistas à margem da conferência internacional sobre "Recuperação de Ativos", que decorre hoje, em Luanda, no âmbito das celebrações dos 43 anos da PGR de Angola.

A Justiça são-tomense arquivou o processo de alegada corrupção envolvendo o atual Presidente, Carlos Vila Nova, e o ex-ministro Américo Ramos, no âmbito de um crédito de 30 milhões de dólares, enquanto decorrem trâmites em Angola, esclareceu esta terça-feira (26.04) fonte judicial.

No seu blogue 'Maka Angola', Rafael Marques - que esteve recentemente em São Tomé e Príncipe - publicou um artigo intitulado "Angola e a Dívida Oculta de São Tomé", no qual revela meandros de um suposto esquema que terá resultado num prejuízo de 30 milhões de dólares para o Estado angolano. À DW, o jornalista investigativo angolano deu mais detalhes das "dívidas ocultas" de São Tomé e Príncipe.

Deutsche Welle | Lusa

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