quinta-feira, 6 de outubro de 2022

OS “NOSSOS VALORES” SEQUESTRADOS

Não é opção, é uma ordem «baseada em regras»: a lei do «excepcionalismo» de âmbito planetário gerido pela única nação «indispensável». E dizem os comentadores autorizados que não existe imperialismo.

José Goulão | AbrilAbril | opinião

Os nossos dirigentes, tanto os que têm envergadura imperial como os seus súbditos, para quem a soberania nacional é coisa arcaica própria de mentes estagnadas, repetem sem descanso, martelando a cabeça dos cidadãos como no método tradicional de ensino da tabuada, que agimos em função dos «nossos valores partilhados». Nós, o garboso Ocidente, senhores do planeta e dos espaços siderais por mandato divino e usucapião fundado em séculos de expansão e extorsão, assim administrando a «civilização».

«Nossos valores partilhados» nas bocas dos fundamentalistas ocidentais é todo um programa de dominação, um conceito de ordem mundial assente num único poder centralizado com ambição a tornar-se global e incontestado.

Se olharmos o mundo à nossa volta nestes dias assustadores, equipados com lucidez, independência de raciocínio e dose cada vez mais elevada de coragem, concluiremos que a aplicação desses «valores» – a palavra certa é imposição – funciona como um gigantesco exercício de manipulação que transforma princípios universais, humanos, inquestionáveis e comuns a muitas e diversificadas culturas num poder minoritário, de índole mafiosa e níveis de crueldade que vão da mentira institucionalizada à generalização da guerra, passando pelo roubo como forma de governo e de administração imperial/colonial. A este aparelho que pretende impor uma realidade paralela àquela em que vivemos chama-se «ordem internacional baseada em regras», um catálogo de normas de comando voláteis, casuísticas, não escritas e a que todo o planeta deve obedecer cegamente, sem se interrogar nem defender.

«Ordem internacional baseada em regras» é o código imperial que veio soterrar o direito internacional e transformar as organizações mundiais que devem aplicá-lo em órgãos que rodopiam à mercê das «regras» de cada momento, manipulados, desvirtuados e instrumentalizados segundo as conveniências do funcionamento da realidade paralela.

Portugal | PODER DE COMPRA


Henrique Monteiro | Henricartoon

Portugal | A PAISAGEM DA INCERTEZA

Camelos portugueses em fila de espera na paisagem desértica?

Domingos de Andrade* | Jornal de Notícias | opinião

Tudo o que é hoje vida política do país significa incerteza para os portugueses.

Os portugueses sabem que perdem poder de compra, mas não sabem como e quando termina a praga da inflação. Os portugueses sabem que a fatura energética vai duplicar e sabem que a Euribor faz subir vertiginosamente a prestação da casa, mas não sabem o que está a ser feito para travar a tendência e muito menos quando se inverterá a tendência.

Os portugueses sabem pelo Governo que, por "prudência orçamental", a lei deixou de ser para cumprir. E que, por isso, os aumentos de salários e pensões estão longe de acompanhar o aumento do custo de vida. Mas talvez se questionem por onde andou semelhante "prudência orçamental" quando se decidiu injetar três mil milhões de euros numa empresa que foi renacionalizada para agora se vender.

As famílias sentem que pouca folga têm para acudir a quem mais precisa, mas reparam que, curiosamente, há governantes que têm sempre familiares que são empresários de sucesso nas suas relações económicas com o Estado.

Pode ser um olhar populista, certo, mas a perceção que se cria instala-se como um manto negro. E é este quadro que ajuda a perceber o resultado da última sondagem JN/DN/TSF. António Costa, segundo os inquiridos, hoje não conseguiria formar governo. A direita do PS seria maioritária, o PSD de Montenegro cresce ao centro e aproxima-se do PS, IL e Chega resistem, PCP e BE vivem o trauma existencial pós-eleições legislativas e somam 7%, bem longe dos 20% da geringonça.

Em suma, a tendência eleitoral é de mudança e é produzida no espaço moderado que o PS está a perder.

Belém vê isto tudo e melhor do que ninguém sente a mudança da paisagem política nacional.

O 5 de Outubro do presidente da República serviu para afinar o tiro, e apontar à "qualidade da Democracia". A mensagem foi bem audível: é a opacidade que mata a Democracia. Marcelo Rebelo de Sousa sabe que incerteza gera insegurança. E é por isso que sobe a parada da fiscalização ao Governo. Dia sim, dia não, exige transparência e informação crua e atempada.

Esta parece ser a nossa certeza: de Belém sabemos que em Democracia haverá sempre alternativa. E não foi por acaso que o presidente relembrou vezes sem conta o ano de 1922, quando movimentos populistas e golpes acabaram por gerar ditaduras um pouco por toda a Europa. É um alerta ao Governo, um alerta contra os radicalismos de alguma Oposição, mas sobretudo um aviso contra eventuais abusos de poder.

*Diretor-Geral Editorial

AMIGOS DA ONÇA QUE NOS TRAMAM

Hoje há Expresso Curto por aqui. Antes chamamos a vossa atenção para o desmascarar dos EUA e todo o seu interesse em rebentar com os caminhos do gás russo que abastecia grande parte dos países da União Europeia, pela surdina das explosões submarinas os EUA praticaram um ato de guerra contra os países europeus e uma vez mais contra a Rússia – não esquecer a guerra por procuração que envolve a Ucrânia. À sua disposição tem no PG vários títulos e respectivos textos para melhor entender o que aqui afirmamos após tantos dados citados e cruzados com clareza. Os seguintes: Os EUA declaram guerra à Rússia, à Alemanha, aos Países Baixos e à França; Os europeus devem 'agradecer' aos EUA por destruirem o Nord Stream?; NOTÍCIAS E CONSPIRAÇÕES -- Caitlin Johnstone; ASSALTO NEOCOLONIAL ÀS MATÉRIAS-PRIMAS -- Martinho Júnior; Ocidente está desacreditando a OTAN ao alegar que a Rússia explodiu o Nord Stream; MAIS EVIDÊNCIAS APONTAM PARA A SABOTAGEM EUA-OTAN DO NORD STREAM – outros ainda inclusos no PG desde que a trama criminosa dos EUA agiu em proveito próprio e em consonância com a vontade e objetivos de atacar a Europa e forçar vassalagem ainda maior ao império pelos países europeus. Os “amigos da onça” EUA estão a atacar-nos a vários níveis e bastante economicamente. A UE está na condição de vassalagem coerciva imposta pelos EUA. Os cobardes e vendidos do directório político e administrativo da União Europeia e congéneres aquiescem aos ditames do império do estado profundo terrorista – incluindo governantes e deputados cúmplices desta tremenda situação.

O Curto do Expresso toma por ponto de partida a TAP, a dita companhia-empresa “bandeira de Portugal”. Parece que muitos ou quase todos se esquecem que o “caldinho” tem vindo a ser delineado naquilo a que agora chegamos. O “negócio” está em marcha desde tempos atrás, bem atrás. Antes de Passos Coelho e dos seus vendedores especializados em desnacionalizações lucrativas (para uns quantos). Milhares de milhões de euros voam mais depressa que os aviões ainda existentes na TAP. Portugueses pagam e nem bufam. Companhias de bandeira de Portugal são governos e negócios esconsos e opacos, o conluio, a corrupção, o nepotismo, o despesismo e o deixa-andar. Em Portugal e nesta UE os cidadãos sabem que existem gestores que são uns enormes pulhas. Quem duvida?

Mas que grande democracia e transparência de faz-de-conta em Portugal, assim como na UE. Os portugueses estão fartos de amigos da onça que nos tramam, interna e externamente!

Pelo sim pelo não leia seguidamente o Curto do Expresso. Sobre a TAP e outros impossiveis tapa buracos nacionais e europeus.

MM | PG

Os EUA declaram guerra à Rússia, à Alemanha, aos Países Baixos e à França

Thierry Meyssan*

Enquanto a imprensa internacional trata da sabotagem dos gasodutos Nord Stream sob o ângulo de “fait divers”, nós analisamo-lo como um acto de guerra contra a Alemanha e a União Europeia. Com efeito, as três vias de aprovisionamento de gás dos Europeus Ocidentais acabam de ser cortadas simultaneamente, enquanto, concomitantemente, um novo gasoduto acaba de ser inaugurado com destino à Polónia.

Assim como Mikhail Gorbachev viu no desastre de Chernobyl a inevitável desagregação da URSS, também pensamos que a sabotagem dos gasodutos Nord Stream marca o início da queda económica da União Europeia.

O combate dos Estados Unidos para manter a hegemonia mundial passou a sua terceira etapa.

Após a extensão da OTAN para Leste, em violação dos compromissos ocidentais sobre a não implantação de armas dos EUA na Europa Central, a Rússia, que não pode defender as suas gigantescas fronteiras, sente-se directamente ameaçada.

Violando os compromissos da Segunda Guerra Mundial, Washington colocou «nacionalistas integralistas» («nazis» segundo a terminologia do Kremlin) no Poder em Kiev. Eles proibiram aos compatriotas russófonos falar a sua língua materna, privaram-nos de serviços públicos e, por fim, bombardearam os do Donbass. A Rússia não teve outra escolha senão a de intervir militarmente para pôr fim ao esse calvário.

A terceira etapa é a mudança pela força do fornecimento energético à Europa Ocidental e Central. No mesmo dia em que o gasoduto do Báltico, Baltic Pipe, entrou em funcionamento, os dois gasodutos Nord Stream foram postos fora de serviço, enquanto a manutenção do Turkish Stream foi interrompida.

Trata-se da mais importante sabotagem da história. Um acto de guerra simultâneo contra a Rússia (51%) e contra a Alemanha (30%), co-proprietárias destes investimentos colossais, mas também contra os seus parceiros, os Países Baixos (9%) e a França 9%). Até agora, nenhuma das vítimas reagiu publicamente.

Para concretizar estas substanciais destruições, era necessário dispor de submarinos na zona que as potências da região identificaram. Se oficialmente não há pistas, no sentido policial do termo, as « câmaras de vigilância » (os sonares) já falaram. Os Estados envolvidos sabem, com certeza, quem é o culpado. Ou não reagem e serão politicamente varridos do mapa, ou preparam em segredo as suas reacções a esta acção secreta e irão tornar-se verdadeiros actores políticos quando as concretizarem.

Recordemos o Golpe de Estado em Argel, em 1961, e as tentativas de assassinato contra o Presidente da República Francesa de então, Charles De Gaulle, que se seguiram. Este fingiu acreditar que eram obra da Organisation de l’Armée secrète (Organização do Exército Secreto-ndT) -OAS- reunindo Franceses opostos à independência da Argélia. Mas o seu Ministro dos Negócios Estrangeiros (Relações Exteriores-br), Maurice Couve de Murville, evocou publicamente o papel da Opus Dei espanhola e da CIA americana na sua organização e financiamento. De Gaulle procurou e identificou os traidores, reorganizou a Polícia e as Forças Armadas e subitamente, cinco anos mais tarde, ele anunciou a saída da França do comando integrado da OTAN. Deu-lhe duas semanas para fechar a sua sede em Paris-Dauphine e migrar para a Bélgica; um pouco mais de tempo para fechar as 29 bases militares da Aliança no país. Depois, iniciou viagens ao estrangeiro para denunciar a hipocrisia norte-americana, nomeadamente a Guerra do Vietname (Vietnã-br). A França tornou-se instantaneamente uma potência-chave nas relações internacionais. Estes acontecimentos jamais foram explicados em público, mas todos os responsáveis políticos da época podem confirmá-los [1].

Os europeus devem 'agradecer' aos EUA por destruirem o Nord Stream?

Ponte Roberto* | Strategic Culture Foundation

A Europa deveria ter acatado o conselho de Henry Kissinger: “Ser inimigo dos EUA é perigoso, mas ser amigo é fatal”.

#Traduzido em português do Brasil

Com uma investigação em andamento sobre a destruição do gasoduto Nord Stream que fornecia energia para a Europa da Rússia, parece haver apenas um principal suspeito, e isso não deve surpreender ninguém.

Após a sabotagem dos gasodutos Nord Stream 1 e 2, o ex-chanceler polonês Radoslaw Sikorski já parecia conhecer a identidade do criminoso quando tuitou: “Obrigado, EUA”.

À primeira vista, parecia que Sikorski estava falando com sarcasmo, repreendendo Washington por realizar um ataque que terá graves repercussões para os povos da Europa. Afinal, como alguém poderia ver algum benefício vindo do término da principal fonte de reservas de gás da Europa com o inverno ao virar da esquina? Afinal, foi a pátria de Sikorski, a Polônia, que incitou seus cidadãos a coletar lenha em face das reservas cada vez menores de gás.

Na verdade, o diplomata polonês estava falando cem por cento literalmente, agradecendo aos Estados Unidos por mergulhar o continente mais fundo no abismo. Esta tem sido a atitude dos líderes europeus desde o início da operação militar especial da Rússia na Ucrânia: 'aceitaremos nossa autodestruição conforme o roteiro dos formuladores de políticas de Washington, desde que os bandidos em Moscou ouçam nossos gemidos e gritos de sinalização de virtude.' As capitais europeias estão prestes a aprender da maneira mais difícil que a sinalização da virtude não coloca comida na mesa nem aquece as casas.

A julgar pelo aumento da temperatura na Europa, no entanto, visto pela última vez na Itália, onde um líder de extrema-direita chegou ao poder na onda de eleitores fartos de contas altas de eletricidade e imigração frouxa, a frase "Obrigado, EUA" pode eventualmente ser cinzelado na lápide da Europa.

Mas primeiro, a grande questão: os Estados Unidos foram realmente responsáveis ​​pela destruição do Nord Stream, como Sikorski parece acreditar? Bem, se fôssemos aceitar o desajeitado Joe Biden em sua palavra, então a resposta pareceria ser sim.

“Se a Rússia invadir, isso significa tanques ou tropas cruzando a fronteira da Ucrânia, novamente, haverá – não haverá mais um Nord Stream 2”, disse o líder dos EUA a repórteres duas semanas antes de a Rússia iniciar sua missão na Ucrânia. “Vamos acabar com isso.”

Quando solicitado a especificar, Biden respondeu: “Eu prometo a você, seremos capazes de fazer isso”.

Há outras pistas que apontam para a cumplicidade americana.

Em 2 de setembro, um helicóptero americano com o indicativo FFAB123 foi observado manobrando na área dos dutos Nord Stream. De acordo com o site ads-b.nl, seis aeronaves utilizaram este indicativo naquele dia, das quais foram estabelecidas as caudas de três. Todos eles eram Sikorsky MH-60S. Ao sobrepor a rota FFAB123 no esquema que marca as áreas das explosões, é observável que o helicóptero voou ao longo da rota Nord Stream-2, ou exatamente entre os pontos onde ocorreu o 'acidente'.

Enquanto isso, no Twitter, há capturas de tela de outros voos de aeronaves americanas a partir de 13 de setembro exatamente na mesma área. Em junho saiu um artigo na revista Sea Power onde os americanos se gabam de experimentos no campo de drones submarinos que eles montaram nos exercícios BALTOPS 22 – na área de Bornholm Island, a ilha dinamarquesa onde as explosões teriam ocorrido .

“A experiência foi conduzida na costa de Bornholm, na Dinamarca, com participantes do Naval Information Warfare Center Pacific, Naval Undersea Warfare Center Newport e Mine Warfare Readiness and Effectiveness Measuring, tudo sob a direção da 6th Fleet Task Force 68 dos EUA”, relata a Sea Power .

Tal “experimento” exigiria o equipamento de alto mar necessário para atingir as profundezas onde os dutos Nord Stream estão localizados.

Finalmente, aqui está uma última informação tentadora para todos os 'teóricos da coincidência' por aí. No dia seguinte ao desligamento do Nord Stream 1 e 2, os líderes da Polônia, Noruega e Dinamarca participaram da cerimônia de abertura do novo Baltic Pipe , que transportará gás natural da Noruega via Dinamarca e através do Mar Báltico para, sim, a terra natal ferozmente russófoba de Sikorski da Polônia. Sim, apenas uma coincidência.

No entanto, o principal fator motivador para Washington ter uma mão na destruição do Nord Stream são os poderes impressionantes – tanto financeiros quanto políticos – que ele colherá. A crise econômica na Europa já está forçando empresas e corporações a considerar a mudança para os EUA, o que está proporcionando um melhor ambiente de negócios e contas de eletricidade mais ou menos acessíveis.

E após a destruição do Nord Stream, a situação econômica no continente se deteriorará significativamente. Mesmo que o NS-II não tenha sido lançado, havia a chance de seu lançamento, e essa “chance” teve um efeito considerável no mercado. Agora, sem seu principal fornecedor de energia, a Europa está condenada, enquanto a América vai subir.

A destruição econômica da Europa a torna totalmente dependente dos EUA econômica, política e militarmente, transformando-a em um tigre sem dentes, sem vontade política e independência. Ao mesmo tempo, a Europa se tornará quase completamente dependente dos EUA para seu gás ( proibitivo ). Os Estados Unidos planejam fornecer pelo menos 15 bilhões de metros cúbicos (bcm) de gás natural liquefeito (GNL) para os mercados da União Europeia este ano, enquanto a Europa procura se livrar do fornecimento de gás russo.

Em outras palavras, a transformação da UE em uma república das bananas – ainda que no hemisfério norte com o inverno se aproximando rapidamente – já começou.

Europa, você realmente deveria ter ouvido o conselho de Henry Kissinger, que entende a natureza dos EUA melhor do que ninguém: “Ser inimigo dos EUA é perigoso, mas ser amigo é fatal”.

*Escritor e jornalista americano

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