quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Angola | FESTIVAL DE MENTIRAS E FALSIFICAÇÕES – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Ernesto Mulato é dirigente da UNITA e um dos seus fundadores. Ontem foi entrevistado na TPA por Manuel Silva. É a segunda entrevista em dois anos. O entrevistado era constantemente apresentado como “nacionalista”. Nunca como membro da direcção do Galo Negro. Só no final da operação percebi porquê. Um homem de 82 anos (idade mais do que suficiente para ter juízo) prestou-se ao papel de criado às ordens de quem aposta as fichas todas para denegrir e embaciar a imagem dos presidentes Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos. Uma golpada que acabou por se virar contra os golpistas. Vamos então descascar o abacaxi com paciência e sem desperdício de sumo.

Manuel Silva, o perguntador, fez uma demonstração exuberante da sua incompetência. Não sabe o que é uma entrevista. Mas ainda vai a tempo de aprender. Praticamente não fez perguntas. No início pensei que não tinha preparado o trabalho. Mas depois além do rabo de fora, o gato exibiu-se despudoradamente ante as câmaras. Sim, é incompetente. Sim, não sabe nada da História Contemporânea de Angola. Mas estava ali obedecendo a ordens superiores. E essas apontavam num sentido único: Nada de atrapalhar o Ernesto Mulato com perguntas inoportunas. Mas escusava de fazer o papel daqueles sabujos que ante o dono, repetem as suas últimas palavras ou interpretam o seu pensamento oco. Uma desgraça mediática.

Ernesto Mulato afirmou isto: 

“Os portugueses, em 1974, decidiram entregar Angola ao MPLA e afastar os outros dois movimentos, UPA e UNITA”. O perguntador, se estivesse a fazer uma entrevista, perguntava-lhe: O Presidente da República Portuguesa, António de Spínola, reuniu na Base das Lajes, Açores, com o presidente Nixon, em Junho de 1974, para entregarem o poder ao MPLA? E perguntava: O Presidente Spínola reuniu a seguir com o presidente Mobutu na Ilha do Sal. Cabo Verde, para afastar a UPA/FNLA e a UNITA do poder em Angola?

Como está mais do que esclarecido e provado, Spínola e Nixon decidiram na Base das Lajes afastar o MPLA do processo de descolonização porque era “comunista”. Mobutu e Spínola reuniram na Ilha do Sal e ali decidiram entregar o Norte de Angola à UPA/FNLA e Cabinda ao ditador de Kinshasa. 

Ernesto Mulato disse que o Acordo de Alvor serviu apenas para confirmar o que já estava decidido. Manuel Silva não lhe perguntou quem escolheu o alto-comissário, general Silva Cardoso, com estreitas ligações à CIA. Eu explico. UPA/FNLA e UNITA apresentaram na mesa de negociações este nome, para surpresa das delegações portuguesa e do MPLA. Mas foi aprovado. Mais tarde, Agostinho Neto explicou porquê: “Se os dois movimentos de libertação indicaram o nome, nós não íamos quebrar a unidade conquistada em Mombassa, recusando. Por isso aceitámos o nome proposto”. 

O Presidente Costa Gomes disse mais ou menos o mesmo: “Se os três movimentos de libertação propuseram o general Silva Cardoso, nós não podíamos vetar, ainda que a Comissão Coordenadora do MFA tivesse recomendado que não aceitássemos a sua nomeação”. Se o perguntador estivesse a fazer uma entrevista e não uma operação do Miala, sabia que Agostinho Neto denunciou, em 5 de Fevereiro de 1975, a “invasão silenciosa das tropas zairenses no Norte de Angola”. 

Se o perguntador lesse a imprensa da época sabia que as tropas zairenses saquearam nas províncias do Uíje e Zaire as casas comerciais, os cofres dos bancos e as fazendas. Levaram café já colhido, máquinas, tractores e alfaias agrícolas. Roubaram o gado de raça do Planalto de Camabatela. Mas não quis saber. Quis apenas que Ernesto Mulato dissesse isto:

“Agostinho Neto e os portugueses afastaram a UPA e a UNITA do processo da independência por isso houve a guerra após o Acordo de Alvor”. E as invasões das tropas sul-africanas. Nada de nada. Não aconteceu.

Sobre as eleições de 1992, Ernesto Mulato disse: “É mentira, a UNITA aceitou os resultados eleitorais. Em Outubro de 1992 Jonas Savimbi fez uma declaração aceitando os resultados eleitorais”. Pergunto eu: Então porque razão a UNITA regressou à guerra?. O dirigente do Galo Negro respondeu a Manuel Silva, sem que ele perguntasse:

“O velho Jonas mandou Jeremias Chitunda a Luanda para negociar com o Governo. Já tinham sido aprovados nove pontos, só faltava aprovar dois. Foram almoçar e o MPLA matou os membros da nossa delegação”. O perguntador já tem idade para saber que o Acordo de Bicesse previa o desarmamento das duas partes. O Governo cumpriu. A UNITA escondeu milhares de homens e as melhores armas em bases secretas do Cuando Cubango. Para os acantonamentos mandou jovens sem experiência militar e armas obsoletas.

Quando rebentou a Grande Batalha de Luanda a UNITA soltou nas ruas da capital milhares de homens armados até aos dentes. Mataram centenas de civis inocentes. Quando tudo estava perdido, Chitunda, Salupeto Pena e Abel Chivukuvuku fugiram. Foram apanhados pelo fogo de civis armados no Sambizanga. Iam fugir porquê se estavam a a negociar e só foram almoçar? O que faziam na estrada do Cacuaco acompanhados de homens armados até aos dentes? E o diário do vice-presidente da UNITA apanhado na sede da UNITA em São Paulo? O que ele escrevia era mentira? Constam lá todas as informações do golpe militar que Jonas Savimbi desencadeou. 

O perguntador nada perguntou porque estava ali para deixar Ernesto Mulato dizer que a guerra pós eleitoral foi culpa do Presidente José Eduardo. Ele é que rasgou o Acordo de Bicesse. Senhor Ernesto Mulato, então por que razão a ONU impôs sanções pesadas à direcção da UNITA e até aos seus familiares? Porque lhes confiscou os passaportes? Porque congelou as contas bancárias? Manuel Silva não estava lá para isso.

Ernesto Mulato foi ao extremo de citar o livro “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”, de Fred Bridgland,  como a prova da grandeza do chefe da UNITA e do seu génio político. O perguntador nem foi capaz de lhe dizer que o mesmo autor acaba de publicar um livro sobre Jonas Savimbi onde desta vez o apresenta como um assassino psicopata. Um sanguinário que matou dezenas de membros da UNITA e atirou vivas para as fogueiras da Jamba, as elites femininas do Galo Negro.

O que ficou foi isto. O Presidente João Lourenço tem uma missão pesada, corrigir os erros graves de Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos que atitaram com Angola para a guerra.

Ao mesmo tempo das declarações de Ernesto Mulato, a TPA passou (e vai passando…) uma espécie der entrevista de uma tal Hariana ao Presidente João Lourenço. E sua excelência diz que foi preciso ter muita coragem para desencadear o combate à corrupção. Discordo. Para fazer aquilo a que o Presidente da República diz ser o “combate à corrupção” não é necessário nada de especial. Basta ter o controlo das forças repressivas e dar dez por cento dos confiscos a juízes venais e agentes do Ministério Público a soldo. Mais nada.

Coragem excelência, é outra coisa. Por exemplo, no dia em que o Bureau Político do MPLA confirmou João Lourenço como cabeça de lista do partido às eleições de 2017, o escolhido convocava uma conferência de imprensa e tomava esta atitude corajosa:

Vou combater, sem tréguas a corrupção. Para dar o exemplo, a partir de hoje entrego as minhas casas. Só fico com a casa de família. Entrego todo o dinheiro que está nas minhas contas bancárias. Só fico com o mínimo para ter uma vida diga. Entrego as fazendas e as indústrias nelas incorporadas. Entrego todas as acções que tenho em várias sociedades anónimas. Na data da Independência Nacional não tinha nada. Em 1992 não tinha fortuna. A partir de agora também não tenho.

 A documentação das entregas vai ficar acessível ao público na página da internet de uma instituição que vou criar chamada Serviço de Recuperação de Activos. Fica tudo em consulta pública na Procuradoria-Geral da República. Todas e todos que entrem no meu Governo, têm de fazer o mesmo. Todas e todos os deputados eleitos nas listas do MPLA têm um mês para proceder como eu e os membros do meu Executivo.  

Isto sim, era coragem, senhor Presidente da República. 

Confiscar, extorquir, “recuperar” os bens de familiares e colaboradores próximos do Presidente José Eduardo dos Santos nada tem a ver com coragem. Mas pelo respeito que devo ao meu Presidente da República, não vou qualificar esses gestos. Mandar para a cadeia os ricos que não fazem parte da corte é apenas um acto de repressão. Coragem é fazer o mesmo com familiares e colaboradores próximos do Presidente da República.  

Ernesto Mulato disse durante a “entrevista” na TPA que “estas eleições foram muito concorridas”. O perguntador nem foi capaz de lhe lembrar que a abstenção, os votos em branco e os nulos dão quase 60 por cento do eleitorado. Para quê? O recado estava passado. As grandes desgraças de Angola são culpa de Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos. O actual Presidente da República tem que corrigir tudo. Reparar tudo. Prender os ladrões e os corruptos. Coitadinho, tanto trabalho. Está visto que tem de ficar mais um mandato. E o Ernesto Mulato, se ainda for vivo, fica no lugar do senhor ministro Tete António. Como o estilo que está a dar é Kinkuzu ou Morro da Cal, fica tudo em família.

O sumo do abacaxi mais saboroso ficou para o fim. Ernesto Mulato mentiu, deturpou, destilou ódio contra o MPLA e o Povo Angolano. Ficou mais uma vez provado que enquanto existir  a UNITA, não há reconciliação nacional e a paz está sempre em perigo.

*Jornalista

João Lourenço volta a juntar em Luanda Tshisekedi e Kagame em busca da paz

Presidente angolano tenta aproximar homólogos congolês e ruandês e aprovar plano para a paz na RDC. Analista Osvaldo Mboco não espera muito do encontro e frisa que a resolução do conflito não depende apenas do mediador.

Realiza-se esta quarta-feira (23.11) uma cimeira em Luanda, que tem como principal objetivo aprovar um plano para a paz na República Democrática do Congo e aproximar a República Democrática do Congo (RDC) e o Ruanda.

O encontro estava inicialmente previsto para segunda-feira. Numa nota, os serviços de imprensa do Palácio Presidencial não explicaram os motivos do adiamento da cimeira para a qual o Presidente angolano, João Lourenço, convidou os seus homólogos Paul Kagame, do Ruanda, Félix Tshisekedi, da República Democrática do Congo, Évariste Ndayishimiye, do Burundi, e o antigo Presidente da República do Quénia Uhuru Kenyatta.

O objetivo é a aprovação de um Plano de Ação da Paz na República Democrática do Congo e o restabelecimento das boas relações entre a República Democrática do Congo e o Ruanda. João Lourenço é o mediador da União Africana encarregado do dossier relativo ao conflito.

O leste da RDC está mergulhado em conflito há mais de duas décadas, alimentado por milícias rebeldes e pelo exército congolês, apesar da presença da missão de manutenção da paz da ONU, a MONUSCO. Os combates entre o M23 e o exército congolês intensificaram-se de novo no final de outubro, após um período de tréguas.

Além de terem causado dezenas de milhares de deslocados internos, os confrontos levaram o M23 a controlar várias cidades na província do Kivu do Norte e geraram uma crise diplomática em que a RDC acusa o Ruanda de apoiar o M23, uma alegação que o Governo ruandês sempre negou. 

No entanto, um relatório confidencial de peritos da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado no início de agosto, confirmou esta cooperação.

Construir confiança e permitir o diálogo

Em entrevista à DW, o analista Osvaldo Mboco alerta que não se pode esperar muito desta cimeira, uma vez que as partes não têm mostrado abertura para diálogo. Mboco aponta a expulsão do embaixador ruandês na República Democrática do Congo como "o mais alto incidente" entre os dois países: "Angola percebeu que não havia condições naquele momento para existir diálogo ao mais alto nível".

No entanto, sublinha, o papel de Angola passa precisamente por "tentar encurtar ao máximo as diferenças existentes, a construção da confiança, e permitir um canal de diálogo permanente sobre as situações que gravitam sobre o ambiente político destes dois Estados".

"O primeiro elemento que temos que ter em atenção é que Angola é o mediador e a resolução do conflito não depende única e exclusivamente do mediador, mas sim das partes envolvidas, neste caso dos atores primários, RDC e Ruanda", ressalva.

"Angola tem adotado o que se chama de diplomacia preventiva", continua Osvaldo Mboco. "O que se pode esperar é que exista de facto boa-fé por parte dos atores primários, e os acordos celebrados devem ser escrupulosamente cumpridos pelas partes que assim retificaram", afirma, destacando o roteiro de paz de Luanda para a pacificação das relações entre os dois países, bem como a pacificação do leste da RDC, "que visa estabilizar a própria região".Esta é a minha cidade: Goma

Concertar posições

Na passada quarta-feira, também o ex-presidente do Quénia Uhuru Kenyatta, mediador da Comunidade da África Oriental (EAC), apelou ao fim "imediato" dos combates entre o Exército da República Democrática do Congo e o M23 e defendeu um regresso ao acordo assinado em Nairobi.

"Mesmo que estejamos em conflito, mesmo que não nos entendamos, temos de parar de lutar", disse, antes de acrescentar que "os deslocados não têm nada a ver com o conflito". "Tenhamos piedade destas pessoas, deixemos de lutar e discutamos", exortou.

Osvaldo Mboco lembra que "Angola traz o ex-Presidente Uhuru Kenyatta [à capital angolana] no sentido de estar a par dos desenvolvimentos que vão decorrer na cimeira de Luanda e concertar posições".

Os combates dos últimos dias têm-se centrado em torno da capital provincial do Kivu do Norte, Goma, após o bombardeamento pelo exército da RDC, na semana passada, de posições do M23 na área.

Segundo a ONU, 188.000 pessoas fugiram das suas casas desde 20 de outubro, num total de quase 240.000 desde o início deste último conflito, que provocou uma crise diplomática entre a RDCongo e o Ruanda por causa do alegado apoio de Kigali ao grupo armado, o que as autoridades ruandesas negam, e a intervenção de uma força de apoio queniana destacada pela EAC.

Deutsche Welle | Lusa

Moçambique | Sul-africanos e americano detidos por "indícios de apoio ao terrorismo"

Dois sul-africanos e um piloto norte-americano estão detidos há três semanas em Moçambique por alegados "indícios de apoio ao terrorismo" na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, disse hoje à Lusa o advogado de dois dos visados.

Abílio Macuácuá avançou que os dois cidadãos sul-africanos e o piloto norte-americano foram detidos na província de Inhambane, sul de Moçambique, quando tentavam meter numa aeronave bens alimentícios e pesticidas destinados a um orfanato da Igreja Águas Vivas, no distrito de Balama, em Cabo Delgado.

"Pelo que me disseram e pelo que soube de outras fontes em Inhambane, os meus constituintes estão a pagar o preço da filantropia, porque só queriam ajudar", disse Macuácuá.

O advogado referiu que se trata de dois "idosos aposentados, com 71 e 69 anos", que se deslocaram a Inhambane de carro para passar férias, tendo um deles aceitado levar produtos angariados por uma organização na África do Sul, para o orfanato.

"Um deles aceitou levar os bens, porque já tinha feito voluntariado em Balama, e o outro era um simples acompanhante, que foi a Inhambane passar férias", enfatizou Abílio Macuácua.

Macuácua adiantou que os três detidos foram "estranha e misteriosamente" transferidos para a cadeia de máxima segurança da província de Maputo, vulgo BO.

"Quando procurei saber, o que apurei é que foram transferidos para a BO por razões de segurança", declarou o advogado.

Os dois cidadãos sul-africanos não tinham intenção de viajar para Cabo Delgado e o seu gesto limitava-se a transportar os bens angariados da África do Sul até à aeronave em Inhambane, prosseguiu o advogado.

Abílio Macuácua disse que os bens que iam seguir para Balama foram apreendidos durante a inspeção pré-embarque no aeródromo de Inhambane.

"Eles tinham que ser muito ingénuos para fazer passar bens destinados aos terroristas pelo 'scan' [inspeção eletrónica] do aeródromo", enfatizou Macuácuá.

Contactada pela Lusa, uma porta-voz da embaixada dos Estados Unidos da América (EUA) em Moçambique confirmou a detenção do piloto norte-americano em território moçambicano.  

"A embaixada dos EUA pode confirmar que um cidadão dos EUA foi detido em Moçambique. Sempre que um cidadão dos EUA é detido no estrangeiro, estamos aptos a prestar toda a assistência adequada. A embaixada está a monitorizar a situação, mas, devido a considerações de privacidade, não temos mais comentários a fazer neste momento", salientou a porta-voz norte-americana em resposta a um pedido por 'e-mail' da Lusa.

A Lusa contactou a polícia moçambicana sobre o caso, mas a corporação ainda não se pronunciou.

A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por violência armada, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

A insurgência levou a uma resposta militar desde há pouco mais de um ano, com o apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas surgiram novas vagas de violência a sul da região e na vizinha província de Nampula.

Em cinco anos, o conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.

Notícias ao Minuto | Lusa

Burocracia das Finanças condena timorenses a situação de sem-abrigo em Portugal

Falta-lhes um número fiscal para poderem trabalhar. Enquanto vivem em condições desumanas, os seus pedidos continuam a não ser deferidos porque as Finanças impõem obstáculos burocráticos que não se coadunam com a realidade no terreno.

Perto de uma centena de timorenses estão a deparar-se com obstáculos burocráticos na Autoridade Tributária que os impedem de ter acesso a um emprego que lhes permita sair da situação de sem-abrigo. Quando é requerido o Número de Identificação Fiscal, a resposta obtida sistematicamente é a de que é necessária documentação adicional.

As Finanças respondem a todos os casos que “um dos elementos necessários e imprescindível para a atribuição do NIF” é o “comprovativo de morada no estrangeiro em nome do requerente” e acrescentam que “alguns dos pedidos são relativos a pessoas com agendamentos ativos para atribuição de NIF presencialmente junto do CNAIM [Centro Nacional de Apoio à Integração de Migrantes]” e que “face à escassez de recursos, não pode a AT/CNAIM disponibilizar vagas aos cidadãos e ao mesmo tempo serem apresentados pedidos pelo e-balcão para os mesmos cidadãos”.

O problema é que, por um lado, em Timor não há a prática de se emitir comprovativos de residência. Por outro, estas pessoas vivem há já vários meses em Portugal em condições desumanas.

A falta do documento deixa assim estes cidadãos timorenses ainda mais à mercê das redes de angariadores que operam em Portugal. Estas têm sido denunciadas como estando a vender a obtenção deste e de outros documentos necessários para trabalhar no país, explorando depois estas “dívidas” e mantendo-os em situação de dependência e vulneráveis a abusos laborais.

Já sobre a segunda parte da resposta da Autoridade Tributária, de que não podem ser apresentados pedidos pelo e-balcão e ao mesmo tempo através da CNAIM, saliente-se que os agendamentos pedidos continuam por realizar e estão muito atrasados, pelo que o número de envolvidos e a situação de emergência social em que se encontram fazem-nos procurar uma via mais célere para a resolução do problema.

Esquerda.net | Imagem: Timorenses imigrantes em Serpa - Nuno Veiga/Lusa

O TURBANTE


Henrique Monteiro | Henricartoon

ESTES ECONOMISTAS, PARA QUÊ E PARA QUEM?

João Rodrigues* | Setenta e Quatro

Apoiaram a adesão ao euro, defenderam a troika, foram sempre contra aumentos relevantes do poder de compra do salário mínimo e, agora, estão na dianteira do cortejo fúnebre da endividada economia portuguesa. Fernando Alexandre e Luís Aguiar-Conraria são dois economistas que se empenham neste cortejo. 

Apoiaram a adesão a um euro que esteve associado a duas décadas de dependência externa crescente, investimento decrescente e estagnação persistente.

Ficaram sem saber o que dizer na crise financeira de 2007-2008, mas estiveram na primeira linha de defesa da troika e de uma política destrutiva de austeridade, que levou a taxa desemprego ao dobro do máximo histórico antes do euro, compelindo centenas de milhares de concidadãos a emigrar; uma política totalmente desnecessária se o BCE tivesse feito o que lhe competia – controlar a taxa de juro –, como fez de 2015 a 2021.

Foram sempre contra aumentos relevantes do poder de compra do salário mínimo, questão de dignidade e de boa economia da procura, em linha com duas hipóteses ideológicas que lhes são caras: os salários devem ser sempre a variável de ajustamento em crises, e as relações laborais tornam-se “livres” quando os direitos passam dos trabalhadores para os patrões e as obrigações dos patrões para os trabalhadores.

Estão de novo na dianteira do cortejo fúnebre da endividada economia portuguesa, ao apoiarem os aumentos da taxa de juro impostos pelo Banco Central Europeu (BCE). Sem atender às suas causas, insistem que a inflação se combate com desperdícios chamados recessão, desemprego, falências empresariais e pessoais.

Escolho, entre tantos economistas convencionais, dois académicos ideologicamente empenhados no cortejo: Fernando Alexandre e Luís Aguiar-Conraria.

Foram, há uns anos, coautores de um estudo sobre poupança, escrito para a Associação Portuguesa de Seguros, onde advogaram, que surpresa, a privatização da segurança social, ou seja, que as pensões fossem jogadas no casino financeiro. Tudo em nome da promoção da poupança baseada no medo.

AVIÃO PRESIDENCIAL LUSO LEVA PR MARCELO PARA O CATAR... LUXO OU LIXO?

O PR Marcelo vai no Falcon que comprámos (quem? eu? nós? ai sim? Tesos mas com um Falcon, ou mais? O que comprámos não terá sido um Abutrex?) para assistir ao Mundial 2022 no Catar. Ok… Quem escreve e refere a notícia é o Pedro Candeias no Expresso Curto que vem já a seguir. Explica que o aviãozinho é pequenito e que tem um depósito minúsculo, por isso vai ter de parar numa estação de serviço para voltar a atestar combustível e os seus ocupantes fazerem xixi… Agora por isso: se o aviãozinho comporta 12 passageiros de quem são as bexigas dos outros onze ocupantes que acompanham o presidente Marcelo? Era giro sabermos sobre essa partilha do luxo... e do lixo.

Adiante, que isto assim não leva a nada (não esqueçam que o nada é alguma coisa). Vamos ao Curto, do Expresso, e já. Porque não há pachorra para percebermos a razão de se desembolsar em Falcons e numa miríade de esbanjamentos enquanto pelo menos dois milhões de portugueses andam sempre (sempre) com os pés assentes em frágeis ramos da árvore da miséria e da fome. As caganças de uns quantos tramam os plebeus sem dó nem piedade e isso não é de agora, já vem de há séculos. Considerar os das caganças e esbanjamentos como penduras, como abusadores (para não dizermos chulos) é pouco… Registe-se que Marcelo já chegou a pagar de seu bolso viagens suas no Falcon… Desta vez ainda não sabemos… Marcelo foi, porque achou que sim. E os direitos humanos em Portugal? Pois.

O Curto já a seguir. Bom dia (conseguem?). (PG)

Marcellum Falcon

Pedro Candeias, editor de Sociedade | Expresso (curto)

Decidi espreitar:

O Falcon 50 da Presidência da República tem 6,97 metros de altura e 18,86 metros de envergadura, leva uma tripulação de três e suporta 12 passageiros e duas macas, consegue voar a 887 km/h e durante sete horas no máximo, e tem combustível suficiente para 5.500 quilómetros.

Ora, como o Catar fica a 7.500 km de Lisboa, o Falcon 50 em que Marcelo viaja para o Mundial2022 terá de fazer uma paragem para reabastecimento: o voo partiu às 07h30 do Aeródromo de Trânsito n.º1 de Lisboa e o Presidente da República esteve acompanhado por meia dúzia de militares que lhe bateram continência antes de entrar nesta aeronave construída por uma empresa chamada, adequadamente, Marcel Dassault.

O protocolo presidencial foi cumprido em Figo Maduro, um dia depois de o Presidente ter sido protocolarmente libertado na Assembleia da República, com alguns votos contra, para viajar até ao Mundial e assistir ao jogo de Portugal na quinta-feira. Tudo isto seria absolutamente normal – é assim há 200 anos –, não fosse um ligeiro problema reputacional deste pequeno emirado absurdamente rico com área equivalente à de Trás-os-Montes e Alto Douro.

E é aqui que se entrincheiram as convicções.

É normal que a mais alta figura do estado português se desloque a um evento cujo anfitrião viciou comprovadamente o sorteio de atribuição a seu favor? Marcelo não estará assim a validar um país sobre o qual recaem acusações de escravatura, intolerância perante as mulheres e a comunidade gay? Ou, pelo contrário, isto é uma oportunidade para entreabrir a porta de um mundo fechado ao progresso? Ou estaremos todos – jornalistas, comentadores, cidadãos, adeptos – apenas a ser hipócritas? Ou uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa completamente diferente?

A resposta a perguntas desta natureza será sempre matéria de opinião, mas factos são factos e, enfim, convém não esquecer isto: o Catar comprou o Mundial e o Catar contraria múltiplos valores e proíbe demasiadas coisas para um evento à escala planetária; sobretudo, um evento de um desporto coletivo em que várias vezes os mais fortes, mais ricos, mais altos e mais favorecidos perdem. O futebol, à sua maneira, é um motor para o elevador social e também de inclusão. Tê-lo no Catar é um paradoxo sancionado por 200 mil milhões de euros.

Mas é para lá que Marcelo viaja no Falcon, deixando para trás a guerra de palavras para assistir a uma parada das estrelas num país que não parece deste milénio [finalmente, o trocadilho Star Wars que justifica o título desta newsletter] para lá falar de direitos humanos. Desta vez, espera-se, um bocadinho mais a sério.

Fá-lo-á antes do jogo, durante o jogo ou depois do jogo, provavelmente num modelo flash interview presidencial em que tudo aquilo que se diz do futebol e da política é irremediavelmente chutado para canto. Porque o futebol e a política misturam-se, sim, como a manteiga no pão.

SITUAÇÃO MILITAR NA UCRÂNIA EM 22 DE NOVEMBRO DE 2022 - atualização do mapa

- A Rússia atingiu as posições AFU perto de Vodyane com mísseis de alta precisão;

- A Rússia atingiu as posições AFU perto de Dudchany com mísseis de alta precisão;

- A Rússia atingiu as posições da AFU perto de Kharkov com mísseis de alta precisão;

- Os confrontos entre o exército russo e a AFU continuam perto de Vodyane;

- Os confrontos entre o exército russo e a AFU continuam perto de Kuzemivka;

- Os confrontos entre o exército russo e a AFU continuam perto de Bakhmut;

- Os confrontos entre o exército russo e a AFU continuam perto de Pavlivka;

- Os sistemas de defesa aérea russos derrubaram 6 drones ucranianos perto de Nikolskoye e Vladimirovka na República Popular de Donetsk.

South Front

Terrorismo nuclear ucraniano em resposta ao bombardeio russo de alvos militares

Enquanto as linhas de frente ucranianas estão inflamadas por combates ferozes sem novas conquistas de nenhum dos lados em guerra, as forças russas e ucranianas continuam seus ataques a instalações militares e de infraestrutura.

#Traduzido em português do Brasil

Em 20 de novembro, mísseis russos atingiram a Motor Sich, uma das principais empresas da indústria militar ucraniana. Como resultado do ataque, uma oficina de montagem de motores para aeronaves pertencentes às Forças Aéreas da Ucrânia foi fortemente danificada.

A Motor Sich é uma das empresas líderes na produção de motores para aviões e helicópteros, bem como turbinas industriais marítimas a gás e instalações de produção elétrica. Os ataques russos às instalações impedirão que as forças ucranianas mantenham suas aeronaves em funcionamento. Incluindo as aeronaves de fabricação soviética como o mi-8 e o Mi-24, fornecidos pelos aliados estrangeiros de Kiev.

Os ataques às instalações da Motor Sich privarão a Ucrânia da produção em massa de unidades industriais de turbinas a gás, necessárias para a produção de eletricidade em meio ao colapso de todo o sistema de energia ucraniano.

Por sua vez, as Forças Armadas da Ucrânia retomaram os ataques às instalações da central nuclear de Zaporozhie, a maior central nuclear da Europa.

Os militares ucranianos retomaram o bombardeio na área, visando as perigosas instalações nucleares, na noite de 19 de novembro. Os ataques continuaram no dia seguinte.

No último dia, as tropas ucranianas dispararam mais de 20 projéteis de artilharia no território do NPP. Oito cartuchos de munição explodiram entre a quinta unidade de força e o corpo especial nº 2, três outros atingiram a área entre a quarta e a quinta unidades de força e outro projétil atingiu o telhado do corpo especial nº 2, onde combustível nuclear usado novo é armazenados. Mais dois projéteis atingiram a linha de transmissão de energia que fornece eletricidade à usina.

Os militares ucranianos bombardearam a usina de suas posições perto da vila de Marganets, na região de Dnipropetrovsk.

O chefe da AIEA, Rafael Grossi, pediu a cessação imediata do bombardeio da usina e lembrou a necessidade de criar uma zona de segurança ao redor da UHE Zaporizhia o mais rápido possível. O chefe da organização internacional evitou nomear o lado responsável pelos ataques e acrescentou que alguns edifícios e equipamentos no território do NPP foram danificados durante o bombardeio, mas “os danos não foram críticos para a segurança nuclear da instalação”.

Funcionários russos criticaram a posição da AIEA, alegando que as declarações sobre os danos não críticos à segurança nuclear no NPP representavam o cúmulo do cinismo. Existem tanques de óleo de turbina, uma estação de nitrogênio-oxigênio e tanques de hidrogênio que são constantemente bombardeados pelas forças de Kiev. Incêndios ali levariam a catástrofes e ameaçariam a segurança de toda a estação.

O Ocidente continua a fechar os olhos à guerra terrorista do regime de Kiev. Além disso, apóia as táticas de chantagem nuclear ucraniana com apoio tácito, inclusive por meio de organizações internacionais como a AIEA.

South Front

VER IMAGENS VÍDEO SOUTH FRONT– comentado em inglês

Espiões britânicos construindo exército terrorista secreto na Ucrânia - documentos

Kit Kalenberg | The Grayzone

Documentos obtidos pelo The Grayzone revelam planos de uma célula de figuras da inteligência militar britânica para organizar e treinar um exército “partidário” ucraniano secreto com instruções explícitas para atacar alvos russos na Crimeia.

#Traduzido em português do Brasil

Em 28 de outubro, um ataque de drone ucraniano danificou o navio principal da frota russa do Mar Negro no porto de Sebastopol, na Crimeia. Moscou imediatamente culpou a Grã-Bretanha por ajudar e orquestrar a greve, bem como explodir os oleodutos Nord Stream – os piores atos de sabotagem industrial na memória recente.

O Ministério da Defesa britânico emitiu uma negação veemente em resposta, classificando as acusações como “falsas alegações de escala épica”. Quem quer que esteja por trás desses ataques específicos, as suspeitas de uma mão oculta britânica na destruição não são infundadas. O Grayzone obteve documentos vazados detalhando agentes da inteligência militar britânica assinando um acordo com o Serviço de Segurança da filial de Odessa da Ucrânia, para criar e treinar um exército terrorista partidário ucraniano secreto.

Seus planos exigiam que o exército secreto conduzisse operações de sabotagem e reconhecimento visando a Crimeia em nome do Serviço de Segurança Ucraniano (SSU) – precisamente o tipo de ataque testemunhado nas últimas semanas.

Como o The Grazyone relatou anteriormente , o mesmo grupo de agentes da inteligência militar foi responsável por elaborar planos para explodir a Ponte Kerch da Crimeia. Esse objetivo foi alcançado em 8 de outubro na forma de um ataque suicida com caminhão-bomba, desativando temporariamente o único ponto de conexão entre a Rússia continental e a Crimeia e desencadeando uma grande escalada nos ataques de Moscou à infraestrutura ucraniana.

Esses projetos foram produzidos por um veterano militar chamado Hugh Ward, a pedido de Chris Donnelly, um agente da inteligência militar britânica mais conhecido por criar o programa secreto de guerra de informações da Integrity Initiative , financiado pelo Ministério das Relações Exteriores.

Os planos circularam pela rede transnacional privada de oficiais militares, legisladores e oficiais de inteligência de Donnelly. Essas conexões de alto nível sublinham que ele está longe de ser um observador passivo neste conflito. Ele usou sua posição e contatos para garantir os recursos necessários para treinar o batalhão sabotador secreto para atacar alvos russos na Crimeia. Essa estratégia de destruição certamente aumentará a guerra e minará qualquer impulso para a negociação.

Marcado como “apoio a operações de invasão marítima”, o ataque planejado à Crimeia visa “degradar” a capacidade da Rússia de bloquear Kiev, “corroer” a “capacidade de combate” de Moscou e isolar as forças terrestres e marítimas russas na Crimeia ao “negar o reabastecimento por mar e por terra via Kerch.”

Os documentos obtidos pelo The Grayzone mostram que esses planos são conduzidos em estreita coordenação com o Odessa-SSU, enquanto um oligarca ucraniano politicamente influente foi escolhido para financiar o empreendimento maligno.

Desde que um golpe apoiado pelo Ocidente derrubou o governo eleito da Ucrânia em 2014, Donnelly trabalhou incansavelmente para fomentar uma guerra por procuração contra a Rússia na Ucrânia. Memorandos privados de autoria de Donnelly e obtidos pelo The Grayzone em outubro revelam que seu desejo de escalada só se intensificou desde que os militares russos invadiram a Ucrânia em fevereiro.

Em uma carta de 21 de setembro para seu círculo íntimo, Donnelly se preocupou com o fato de o governo Biden não estar totalmente comprometido com a guerra total com a Rússia. Citando declarações públicas de funcionários em Washington esperando por um acordo negociado entre a Ucrânia e a Rússia, Donnelly declarou: “Esta posição dos EUA deve ser desafiada, com firmeza e de uma vez”.

Em um comunicado separado, Donnelly criticou Biden como "tão imprudente que é inacreditável" por alertar que o conflito na Ucrânia pode levar ao "armageddon".

Embora o The Grayzone não possa verificar se os ataques ucranianos à Crimeia são obra direta da equipe de Donnelly, os eventos recentes refletem de perto as estratégias e táticas descritas nos documentos que esta agência obteve. Além do mais, os ataques ajudaram a atingir os objetivos crescentes perseguidos por Donnelly e pelo governo britânico, que frustraram com sucesso as negociações entre Kiev e Moscou em abril.

Parceria da FTX com a Ucrânia é o capítulo mais recente da saga de ajuda ocidental

Kit Kalenberg | The Grayzone

O governo ucraniano desapareceu misteriosamente dos registros on-line de seu acordo de arrecadação de fundos com o golpe de criptografia FTX poucos dias antes do escândalo estourar. A iniciativa afirma ter arrecadado US$ 60 milhões para a Ucrânia, mas para onde foi o dinheiro?

#Traduzido em português do Brasil

O fim da FTX, a quinta maior exchange de criptomoedas em volume de negócios em 2022 e a segunda maior em participações, gerou uma onda de caos nos mercados financeiros globais. 

À medida que a turbulência cresce, o governo da Ucrânia está conduzindo uma operação contínua de limpeza e branqueamento para eliminar da web todas e quaisquer referências a um acordo de arrecadação de fundos de criptomoeda de alto nível que fez com a FTX. Estranhamente, parece ter começado apenas alguns dias antes do escândalo estourar. 

Registros online descobertos por The Grayzone afirmam que dezenas de milhões foram arrecadados pela FTX para o governo ucraniano e colocados em uma variedade de usos beligerantes. Mas com a empresa agora exposta como uma vila Potemkin sem ativos subjacentes, e grandes dúvidas pairando sobre se suas operações foram fraudulentas desde o primeiro dia de cima a baixo, onde isso deixa o esquema de doação supostamente bem-sucedido? Essas quantias foram realmente levantadas e, em caso afirmativo, para quais propósitos elas foram realmente colocadas?

A destruição da FTX resultou de uma venda em massa do token bitcoin nativo da empresa, FTT, pela bolsa rival, Binance. Seu valor despencou, levando a uma “corrida” de três dias em bilhões de dólares em criptomoeda, que por sua vez criou – ou expôs – uma “ crise de liquidez ” dentro da FTX, já que não tinha os ativos disponíveis necessários para resgatar saques de clientes. FTX declarou falência em 11 de novembro. 

O fundador da FTX e principal doador do Partido Democrata, Sam Bankman-Fried, agora enfrenta investigações criminais nas Bahamas, onde a bolsa estava sediada, e pede investigações oficiais o setor de criptomoedas amplamente não regulamentado estão reverberando em todo o mundo.

A morte repentina do FTX foi comparada com a de 2008 , que precipitou a crise financeira.

Grandes participações de clientes aparentemente desapareceram graças a uma “porta dos fundos” secreta no sistema de contabilidade da FTX que permitia que o Bankman-Fried fizesse alterações nos registros financeiros da empresa sem qualquer responsabilidade. Essa conivência pode ter sido usada para esconder pelo menos US$ 10 bilhões em fundos de clientes que Bankman-Fried transferiu da bolsa para outra empresa que ele fundou, a corretora de ativos digitais Alameda Research. 

Enquanto a grande mídia se debruça sobre os detalhes do gigantesco golpe criptográfico de Bankman-Fried, nenhum grande veículo investigou ou mesmo reconheceu o relacionamento da FTX com o governo da Ucrânia. 

As participações de clientes foram canalizadas de forma inexplicável e ilegal para a guerra por procuração do Ocidente? Ou a suposta ajuda que a FTX enviou a Kiev caiu nas mãos de golpistas ucranianos, senhores da guerra corruptos e atores ilícitos? 

O fracasso da mídia corporativa em explorar essas questões parece ainda mais perverso, dada a promoção extravagante de Bankman-Fried de seu relacionamento financeiro íntimo com o governo do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.

Nos EUA: Ativistas rejeitam escalada da guerra na Ucrânia, mesmo quando é impopular

Peoples Dispatch

Um evento realizado no Fórum do Povo de Nova York apresentou sete ativistas que se manifestaram contra o envolvimento dos EUA e da OTAN na guerra na Ucrânia e pediram negociações e paz

#Traduzido em português do Brasil

Em 19 de novembro, 300 ativistas, organizadores e trabalhadores se reuniram na cidade de Nova York para ouvir sete líderes antiguerra falarem contra o envolvimento dos EUA e da OTAN na guerra na Ucrânia. O evento realizado no Fórum dos Povos foi intitulado “O verdadeiro caminho para a paz na Ucrânia” e contou com a presença do filósofo Noam Chomsky, do historiador Vijay Prashad, dos diretores executivos do Fórum dos Povos, Manolo De Los Santos e Claudia De La Cruz, Brian Becker do Act Now to Coalizão Stop War and End Racism (ANSWER), Eugene Puryear of Breakthrough News , ex-candidato presidencial dos EUA pelo Partido Verde, Jill Stein e CODEPINK.

No evento de sábado, os palestrantes enfatizaram especificamente a necessidade de negociações para encerrar a guerra na Ucrânia e não a escalada de conflitos violentos. Muitos apontaram que esta guerra, como muitas antes dela, funciona diretamente contra os interesses dos trabalhadores em todo o mundo. Desde o início da guerra na Ucrânia, o governo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, enviou mais de US$ 80 bilhões para a Ucrânia em ajuda militar e não militar.

Medea Benjamin, da CODEPINK, destacou: “Pessoas que trabalham por coisas como assistência médica para todos nos Estados Unidos, educação universitária gratuita, todas essas pessoas precisam reconhecer que, como vamos gastar mais de US$ 100 bilhões em menos de um ano nesta guerra, devemos fazer as pessoas entenderem que esse dinheiro pode estar indo para necessidades domésticas.

Apesar disso, os eleitores dos partidos Democrata e Republicano apóiam de forma esmagadora o envio de armas para a Ucrânia. No entanto, a maioria nos EUA está ficando preocupada com a possibilidade crescente de confronto direto entre duas potências nucleares.

Quem se beneficia com esta guerra?

No início da guerra, os estoques dos principais fabricantes de guerra, como a Lockheed Martin, dispararam . Uma manchete de 2 de outubro no Barron's dizia: “A guerra da Rússia na Ucrânia está aumentando. É hora de comprar ações de defesa.”

“Vemos muito claramente que o único grupo de pessoas que se beneficiam com esta guerra – as únicas pessoas que se beneficiam por não haver negociações de paz – são as elites de Washington”, disse De Los Santos. “Não permitiremos que eles sacrifiquem o planeta por sua nova guerra de ganância!”

De La Cruz destacou que o povo dos EUA tem a responsabilidade de se opor à guerra, pois é o dinheiro de seus impostos que está financiando a guerra . “Temos a responsabilidade de dizer, desligue a OTAN, desligue o AFRICOM e desligue todos os instrumentos de guerra que [os EUA têm] em todo o mundo”, disse De La Cruz. “Não em nosso nome!”

A luta pela paz

Enquanto De La Cruz se concentrou na responsabilidade coletiva para conquistar a paz, outros destacaram o enorme poder que os trabalhadores comuns têm para acabar com a guerra. Stein citou a autora Alice Walker quando ela disse: “a maneira mais comum de as pessoas abrirem mão de seu poder é pensando que não têm nenhum”. Eugene Puryear, que trouxe à tona a rica história de luta contra a escravidão, disse: “O poder do povo derrotou todas as instituições terríveis que você pode imaginar”.

RESPOSTA: O diretor da Coalizão, Brian Becker, tocou no papel histórico do movimento antiguerra dos EUA durante as lutas nos casos de guerras passadas, como a do Vietnã.

“Sempre que as pessoas se organizam, lutam e se mobilizam pela paz, elas atraem a ira dos guerreiros”, disse Becker. “Não importa se seus slogans são suaves ou brandos, se falam de negociações ou de derrubar o capitalismo, apenas mobilizar o povo contra a guerra é um grande perigo para os guerreiros, porque se o povo finalmente disser não à guerra, as guerras acabam . A classe dominante não pode fazer as guerras sem o povo.”

Entre escalação e negociação

O espectro da guerra nuclear também paira no horizonte, à medida que duas superpotências nucleares se aproximam cada vez mais de um conflito direto. Isso é especialmente verdadeiro considerando que, quando um míssil atingiu a Polônia em 15 de novembro, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky imediatamente passou a culpar a Rússia. “Atingindo o território da OTAN com mísseis… Este é um ataque de míssil russo à segurança coletiva! Esta é uma escalada realmente significativa. A ação é necessária”, pediu Zelensky no mesmo dia. Esta foi uma linguagem potencialmente catastrófica, pois o Artigo 5 da OTAN afirma que “um ataque armado contra um ou mais [membros] na Europa ou na América do Norte deve ser considerado um ataque contra todos eles”. Zelensky estava defendendo uma guerra entre as potências nucleares. No dia seguinte, a verdade veio à tona: o míssil foi lançado acidentalmente pelas forças ucranianas.

Apesar da possibilidade de uma guerra nuclear mundial, a OTAN e os EUA se recusam firmemente a avançar para a paz. “A questão central é a aposta medonha”, disse Chomsky. “A disposição de apostar que a Rússia aceitará a derrota e não reagirá à maneira dos estados guerreiros ocidentais.”

“O comitê internacional da Cruz Vermelha disse que haveria uma crise humanitária catastrófica mesmo com uma guerra nuclear limitada, seja lá o que for”, disse Eugene Puryear. "Inverno nuclear. Colheitas destruídas. Água envenenada... fale sobre semear sal no solo, isso é um milhão de vezes pior do que isso.”

Puryear chamou a atenção para as consequências muitas vezes negligenciadas da guerra: o impacto calamitoso no Sul Global e entre as populações oprimidas no Norte Global. “Do Sudão , ao Sri Lanka , a São Paulo , à Carolina do Sul , ao sul do Bronx , a classe trabalhadora e os pobres em todos os cantos do globo estão sofrendo uma enorme crise de custo de vida”, disse Puryear, referindo-se ao miríade de crises em todo o mundo, exacerbadas por importações limitadas da Ucrânia e sanções à Rússia.

“Quando temos o direito de falar?” perguntou Puryear. “As pessoas no Congo podem falar? Como é que ninguém está falando sobre o Congo agora? Guerra acontecendo lá. A guerra já dura várias décadas. Talvez até dez milhões de pessoas tenham morrido. Isso nunca realmente chega à primeira página.

O historiador e diretor do Instituto Tricontinental, Vijay Prashad, encerrou o painel com uma declaração poderosa: “Sem guerra, mas guerra de classes”. Prashad também pediu a abolição da OTAN e da CIA. “O que a CIA fez de bom?” perguntou Prashad.

“Uma das razões pelas quais você precisa construir um movimento maciço pela paz, não apenas nos Estados Unidos, mas em todos os estados guerreiros ocidentais, incluindo o Canadá... é porque você precisa se juntar ao movimento global. O clima está mudando, amigos. As pessoas não estão mais interessadas nisso.”

Imagem: Manolo De Los Santos do Fórum do Povo aborda o evento "O verdadeiro caminho para a paz na Ucrânia". Foto: Yuwei Pan/Fórum do Povo

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