quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

GLÓRIA À UCRÂNIA. PUTIN TUNDA!

Artur Queiroz*, Luanda

Os amigos são para as ocasiões. O senhor Zelensky recebeu a tática do Presidente João Lourenço para combate à corrupção na Ucrânia. Hoje foram demitidas altas figuras do governo de Kiev. Os corruptos foram apresentados, cabisbaixos, ante as tropas em parada. Todos envergando camuflado e capacete anti bala. Os nossos caranguejos que se ponham a pau. Passam a ser exibidos, em jaulas, pelas ruas das cidades, com uma corda ao pescoço. Em breve há vagas à frente do grupo Carrinho e outras empresas desnatadeiras dos dinheiros públicos.

A TPA diz que a África do Sul “insiste em considerar a Rússia um país amigo”. Pois insiste. Porque quando os EUA e as outras potências do “ocidente alargado” armavam, municiavam e apoiavam politicamente o regime racista de Pretória, a então União Soviética apoiou o ANC até à derrota das forças do apartheid. Os amigos da maioria negra da África do Sul não são, seguramente, os genocidas e colonialistas do “ocidente alargado”.

Hoje o ministro das Relações Exteriores da Federação Russa, Sergey Lavrov chega a Luanda, mais logo, ao fim, da tarde. No seu noticiário das 13 horas, a TPA não deu a notícia. Só noticiou o “combate à corrupção” do comediante Zelensky. Só faltou o canal público mostrar um cartaz com a inscrição “Glória à Ucrânia. Putin T unda”. Mudam-se os tempos e muda o à vontade.

Em abril de 2019, o Presidente João Lourenço visitou Moscovo e discursou na Duma (câmara Baixa do parlamento russo). Pediu aos deputados maior cooperação na diversificação da economia angolana. Apelou à constituição de parcerias público-privadas e empresas mistas russo-angolanas. 

E disse isto: “É em momentos de crise que se reconhecem os amigos”. Rematou com um desafio: Vamos caminhar lado a lado para Angola se libertar da dependência do petróleo (estou a citar de memória). 

Sergey Lavrov chega a Luanda neste quadro político e diplomático. Em Março de 2022, Angola absteve-se na ONU quando foi proposta a condenação da Federação Russa pela invasão da Ucrânia. Em Outubro de 2022 Angola já votou a favor. Foi engano? Nem pensar! 

O Presidente João Lourenço iniciou uma rapidíssima aproximação aos EUA e ao “ocidente alargado”. Ao mesmo tempo excrementou a Federação Russa. No início deste mês de Janeiro, ante o corpo diplomático acreditado em Angola, o Chefe de Estado exigiu a Moscovo “um cessar-fogo definitivo e incondicional para criar o necessário ambiente negocial”. Pensei que era engano e sua excelência estava a ler uma notícia da CNN Portugal ou um comunicado da CIA. O qual não.

O Presidente João Lourenço, quando foi a Washington participar na cimeira do beija-mão a Biden, anunciou, numa entrevista à estação da CIA, Voz da América, que os EUA vão ser os parceiros de Angola na área da defesa e segurança. E disse mesmo, naquele tom monocórdico próprio de quem toma comprimidos para dormir, que quer dotar as Forças Armadas Angolanas com armamento do estado terrorista mais perigoso do mundo e do seu heterónimo OTAN (ou NATO). 

Temos aqui um problema muito sério. Na sua primeira declaração pública, hoje mesmo, o General de Aviação Altino dos Santos revelou que existe uma Directiva do Comandante-em-Chefe para o decénio 2018-2028 onde estão definidas todas as acções no que diz respeito às Forças Armadas Angolanas em todos os sectores, inclusive o armamento. Sua excelência garantiu que vai trabalhar no estrito cumprimento da directiva. Onde entra o armamento da OTAN (ou NATO)? 

Mais uma vez, o Presidente João Lourenço toma decisões que contrariam o Programa de Governo do MPLA na base do qual foi eleito, mas também as suas próprias directivas para as Forças Armadas Angolanas. Grave. Muito grave. As FAA não são uma cantina de bairro. 

Sergey Labvrov vai amanhã visitar o Memorial Agostinho Neto e o jazigo do Presidente José Eduardo dos Santos. Estou imaginando o ministro Tete António, escondido atrás dos arbustos, com um cartaz que diz “Glória à Ucrânia. Putin Nukuendenu! É assim que se diz no Bembe. Ao lado outro cartaz empunhado por um manifestante anónimo: “Glória à Ucrânia. Putin Tunda!” 

A UNITA foi uma unidade especial dos racistas de Pretória na guerra contra Angola. O Savimbi dizia que estava a lutar contra russos e cubanos. Mais logo, no aeroporto, o Adalberto, o Nelito Ekuikui e o Liberty Chiyaka encabeçam uma manifestação contra a Federação Russa. Depois vão receber o caché à embaixada dos EUA lá no Alto das Cruzes. Mais milhão menos milhão tanto faz. Afinal quem paga são os credores do estado terrorista mais perigoso do mundo.

Um grande político angolano, ligado a tudo quanto é zero votos e pouco juízo, escreveu no Novo Jornal que a TPA é o mais importante órgão da comunicação social angolana. Já foi meu camarada mas desistiu. Está no seu direito. O que não pode é agir como se o Jornalismo fosse um ramo da Agronomia e as notícias sejam derivados de mandioca. Cada macaco no seu galho.

Em Angola, pelo menos mais uma ou duas décadas, a Rádio vai continuar a ser o meio mais importante. Porque para consumir as notícias basta ouvir. Na Televisão é preciso ouvir, ler e ver. Muito complicado para uma boa parte da população angolana. E quanto aos custos nem é bom falar. Caro Fernando Pacheco, o Jornalismo não tem nada a ver com Agronomia. Juro mesmo!

* Jornalista

1 comentário:

JOEL PALMA disse...

Extremamente interessante, no Asia Times:
''Na batalha de Cuito Cuananavle em 1988, os cubanos cercaram os sul-africanos. As contas estão divididas quanto ao ocorrido. Certamente, os generais cubanos e sul-africanos deram razões muito diferentes para a retirada. Mas os sul-africanos o fizeram.

Parece que a “batalha” foi essencialmente uma série de manobras, e os cubanos superaram os sul-africanos. A lenda é que o general cubano então enviou uma mensagem ao seu homólogo sul-africano perguntando se ele queria que seus homens voltassem para casa ou fossem carregados para casa em sacos mortuários. Qualquer que seja o relato verdadeiro (ou mais verdadeiro), o exército sul-africano saiu.''

https://asiatimes.com/2023/01/cold-war-ties-still-bind-russia-and-south-africa/

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