Há “cheiro a morte” em todo o lado
Cristina Peres, jornalista de internacional | Expresso (curto)
Ninguém sabe quantas pessoas
estão debaixo dos destroços das edificações que cederam aos dois tremendos
tremores de terra que abalaram na segunda-feira o sul da Turquia e o norte da
Síria. Milhares de edifícios desmoronaram de madrugada transformando-se em
caixões para as pessoas que neles dormiam. Esta madrugada contabilizavam-se
já mais de 16 mil mortos (13000 na Turquia e 3000 na Síria), as previsões
da Organização Mundial de Saúde apontam para pelo menos 20 mil. Há dezenas de
milhares de feridos, milhares de deslocados internos. Há centenas de deslocados
na Síria e na região de Hatay, no sul da Turquia e uma das mais atingidas
pela destruição vivam 500 mil refugiados sírios. Seguimos em direto os desenvolvimentos com notícia de
que quase tudo dificulta as operações de salvamento, da coordenação à
logística, da chuva às baixas temperaturas, das estradas bloqueadas à grande
extensão afetada pelos abalos sísmicos (
Pouca ajuda ainda está a chegar ao noroeste da Síria, só existem
as mãos e os poucos recursos da Defesa Civil síria para tentar desenterrar as
pessoas que tenham ficado debaixo dos escombros nas zonas do país ainda
tomadas por rebeldes. A área afetada do país está ainda a sair de dez anos de
guerra e não se conta com o interesse do Presidente Bashar al-Assad para
socorrer a população. Com uma área de destruição tão extensa, os especialistas
dizem que a janela para a sobrevivência das pessoas em temperaturas
geladas está a chegar ao fim, mesmo com tantos voluntários envolvidos no
esforço de salvamento. Há cadeias humanas a tentar escavar os prédios em
ruína, pedindo silêncio com frequência na esperança de ouvirem gritos pedindo
auxílio.
A Turquia estava ontem à noite a trabalhar a contra-relógio para tentar abrir
mais dois postos de fronteira com a Síria de modo a permitir a passagem das
equipas de ajuda humanitária no país vizinho, disse o ministro turco dos
Negócios Estrangeiros, Mevlut Cavusoglu.
Mais de 60 países, entre os quais o Azerbaijão, Israel, Arábia Saudita, Catar,
Kuwait e outros, estão a enviar assistência à Turquia, disse o Presidente Recep
Tayyip Erdogan apenas horas antes de a Bolsa de Istambul ser suspendida.
O futuro político de Tayyip Recep Erdogan, que governa o país há duas décadas e
está em contra-relógio para as eleições de maio próximo, vai ser julgado pelo
seu povo que lhe vai perguntar porque não se fez mais para prevenir
desastres como o atual depois do terramoto de 1999. Erdogan já reconheceu ter
havido problemas na resposta inicial ao colapso dos edifícios e acessos e vai
ter de justificar que tantos quantos seis mil edifícios (números do Governo)
tenham caído por incumprimento das regras anti-sísmicas. Para as eleições de
maio, o recandidato tem duas crises em mãos: a económica, que resulta da
sua errática política monetária, e a humanitária. A janela das 72 horas está a
fechar-se.
OUTRAS NOTÍCIAS
“Não está nada fora da mesa”, disse o primeiro-ministro britânico Rishi Sunak a
Volodymyr Zelensky quando o Presidente ucraniano pediu caças F-16. De visita a
Londres, Zelensky discursou no Parlamento, foi recebido por Carlos
III e a mensagem foi clara: tudo fará para receber aviões modernos do Ocidente. Siga aqui em direto os desenvolvimentos da guerra na
Ucrânia. Em Paris, Zelensky pede a França e à Alemanha “armas que virem o
jogo” e encontra-se hoje com Georgia Meloni. Especialistas do Institute
for the Study of War defendem no seu último relatório que a ofensiva russa em
Luhansk já começou. Zelensky em Bruxelas: visita simbólica ofusca discussão sobre migrações e economia.
Um balão, que pode ter estoirado parcialmente as relações entre os Estados
Unidos e a China, foi rebentado no sábado passado por um caça F-22 caindo
no Atlântico, ao largo da Carolina do Sul. Os chineses, país de onde veio
atravessando o Pacífico e sobrevoando os Estados Unidos durante uma semana,
chamaram-lhe “equipamento civil” para investigação meteorológica, os americanos
chamaram-lhe balão espião. O secretário de Estado norte-americano Antony Blinken descreveu a ocorrência a mais de 150 diplomatas de 40
países. Pequim acusou Washington de aproveitar a ocasião para denegrir a
China. Mais um capítulo de espionagem que vai fazer história. Blinken
alega que a China tem uma “frota” de balões de vigilância que tem usado para
sobrevoar os cinco continentes.
Um dos cinco polícias americanos que espancaram Tyre Nichols até à morte tirou
fotografias ao lado do corpo brutalmente sovado para partilhar com outros
agentes da polícia e uma mulher sua conhecida.
Netflix acabou ontem com a partilha de contas (em casas diferentes)
Hoje é dia de greve: a CGTP-IN marcou o “dia nacional da indignação”
fazendo do país palco de várias greves e plenários num protesto que vai dos serviços públicos às empresas e setor
social. Prevê-se que haja escolas a fecharem.
Por cá o emprego vai nos máximos e o desemprego nos mínimos:
pode concluir-se que o mercado de trabalho nacional resistiu à guerra e à
inflação. A recuperação do turismo teve um papel fundamental. A revisão da lei laboral está concluída.
Quer saber o que vai acontecer ao fundo de pensões da Caixa Geral de
Depósitos? Leia este descodificador.
Os acidentes com trotinetes são os campeões dos traumatismos
cranio-encefálicos e há uma petição para que o uso de capacete passe a ser
obrigatório.
Amnistia Internacional denuncia a “selva urbana”
que alberga migrantes em Portugall.
Futebol feminino: Federação Portuguesa de Futebol propõe equiparação de salários de homens e mulheres.
(Esperando que os restantes setores vão atrás, digo eu)
Ouro e prata nos europeus de ciclismo, uma dose dupla de medalhas para
Portugal.
FRASES
“Claro que há falhas. As condições são eveidentes. Não é possível estar
preparado para um desastre desta dimensão”, Recep Tayyip Erdogan,
Presidente da Turquia em visita à província de Hatay, a zona a sul com maior
taxa de mortos pelos dois sismos seguidos de magnitudes de 7,8 e ,75
“[Os sobreviventes além das 72 horas] tendem a ser pessoas mais novas que
tiveram a sorte de encontrar ou uma bolsa entre os escombros ou alguma forma de
acesso a elementos necessários como ar e água”, Christopher Colwell, especialista
em medicina de emergência da Universidade da Califórnia em declarações à
Associated Press
“Trabalhamos com a História para desenvolver práticas descolonizadoras”, Gabrielle
Miller, arqueóloga subaquática que dirige um programa no Centro de Estudo da
Escravatura Global da Smithsonian Institution de Washington ao Expresso
“A cultura é, nas suas várias funções, um mecanismo muito poderoso para a
formação de comunidades de pertença. Nós pertencemos porque partilhamos uma
cultura”, Pedro Adão e Silva, ministro da Cultura ao JN a propósito dos
“Diálogos de Sustentabilidade”
PODCASTS A NÃO PERDER
"Zelensky
tenta meter o pé no acelerador da adesão... Mas UE não quer". A Comissão
Europeia e o líder do Conselho Europeu foram a Kiev para uma inédita cimeira
UE-Ucrânia num país teatro de guerra. Zelensky prepara-se para retribuir e
deslocar-se a Bruxelas. Qual o significado destas movimentações? Será que a
adesão ucraniana ao clube europeu vai acelerar? Uma conversa de Martim Silva
com Sandra Fernandes, da Universidade do Minho, no Bloco de Leste
https://expresso.pt/podcasts/bloco-de-leste/2023-02-08-Zelensky-tenta-meter-o-pe-no-acelerador-da-adesao.-Mas-UE-nao-quer-97d23987
PSD
capturado pelo Chega. Que fazer com a extrema-direita? André Ventura
discursou na convenção do Chega a falar de uma "luta de civilizações por
uma Europa cristã", essa "Europa corrupta" onde a
extrema-direita tem crescido, dizendo que lhe "revolve as entranhas"
comparar a emigração portuguesa com a imigração que vem para Portugal. Três
pressupostos, explicados na Comissão Política, bastariam para o PSD
rejeitar qualquer tipo de conversa futura com o Chega, mas a liderança da Luís
Montenegro não abandona a ambiguidade, quando faltam sete meses para as
eleições na Madeira
https://expresso.pt/podcasts/comissao-politica/2023-02-07-PSD-capturado-pelo-Chega.-Que-fazer-com-a-extrema-direita--33505967
De médico e de louco todos temos um
pouco? Uma viagem pela História da Medicina com Germano de Sousa. Henrique
Monteiro e Lourenço Pereira Coutinho convidam o médico e professor
universitário para uma conversa em A História Repete-se em redor da
História da Medicina. Do Antigo Egipto à medicina do amanhã, passando pelas
naus dos navegadores portugueses onde raramente embarcavam especialistas em
saúde
https://expresso.pt/podcasts/a-historia-repete-se/2023-02-08-De-medico-e-de-louco-todos-temos-um-pouco--Uma-viagem-pela-Historia-da-Medicina-com-Germano-de-Sousa-824eefc6
O QUE ANDO A OUVIR
A produção de podcasts do Expresso ainda a propósito da comemoração dos 50
anos, merece horas de escuta. Recomendo o podcast Liberdade para
Pensar dos meus colegas Cristina Figueiredo, Ângela Silva e Paulo Baldaia. Um episódio dedicado aos primeiros destes 50
anos (1973) intercala com outro sobre os mais recentes (2023) e assim
suecessivamente todas as próximas semanas até perfazer 50. Convidados de luxo,
debate, História e histórias surpreendentes. De caminho, para ir ouvindo, tenho
de reserva os 50 podcasts gravados por todos nós que, ano a ano,
destacam os acontecimento que mais impacto tiveram neste período em Portugal: 50 Anos de Expresso.
Fim do Curto deste início de final de semana, que começa já amanhã com a
edição impressa do Expresso à venda nas bancas. Até lá, respire fundo e siga
24/7 expresso.pt o sítio onde trabalhamos para si.
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